Mesmo em territórios onde nunca houve uma igreja adventista do sétimo dia, tem havido leigos que iniciam a obra usando suas casas para o desenvolvimento de belas e dinâmicas igrejas. Estes leigos não têm sido poucos. Seu testemunho nos faz pensar no ilimitado potencial que existe em cada igreja local quando seu dirigente procura lançar mão do que está ao seu alcance: o lar cristão, escolhido por Deus desde os tempos bíblicos para servir a outros.

Poucas ferramentas são tão poderosas para edificar, fortalecer e principalmente multiplicar a Igreja de Deus na Terra como as células ou pequenos grupos que se formam e se desenvolvem na quietude dos lares dos membros da Igreja.

Embora os grupos pequenos, como princípio evangelizador, não possam ser mais antigos e embora o conceito básico não apresente nada de novo, é surpreendente descobrir quão pouco é aproveitado este sistema evangelizador que indubitavelmente é o mais econômico, o mais simples e o mais produtivo.

Mesmo em territórios onde nunca houve uma igreja adventista do sétimo dia, tem havido leigos que iniciam a obra usando suas casas para o desenvolvimento de belas e dinâmicas igrejas. Estes leigos não têm sido poucos. Seu testemunho nos faz pensar no ilimitado potencial que existe em cada igreja local quando seu dirigente procura lançar mão do que está ao seu alcance: o lar cristão, escolhido por Deus desde os tempos bíblicos para servir a outros e ganhá-los para a verdade.

Nestas páginas desejo dar testemunho de como Deus nos dirigiu ao usar os lares de nossos membros na igreja de Van Nuys, Califórnia, para ganhar nessa igreja de quarenta anos de idade a 350 novos conversos em apenas dois anos e alguns meses depois de iniciado este plano evangelizador por meio de grupos, e com perspectivas muito mais maravilhosas ainda para o futuro.

Por que tal êxito em Van Nuys? Foi por acaso? Ou será o resultado definido e seguro de haver posto em prática pela fé, sobrepondo-nos ao temor do fracasso, os princípios que Deus estabeleceu para Sua Igreja?

Uma das citações mais reveladoras do testemunho de Jesus diz o seguinte: “Em geral Deus não opera milagres para fazer Sua verdade avançar…. Ele age em harmonia com grandes princípios que nos são dados a conhecer, e compete-nos a nós amadurecer planos sábios, pondo em operação os meios pelos quais Deus há de produzir resultados certos.’’ — Serviço Cristão, pág. 228.

Confesso que esta citação muito me surpreendeu quando a li pela primeira vez, mas consegui entender que tudo o que Deus faz, é realizado por meio de princípios e leis, e de acordo com eles. A própria Natureza é governada por princípios e leis, e o fato é que tudo no Universo é sustido por princípios e leis. Por exemplo:

As Escrituras Sagradas estão baseadas em leis de interpretação. Se essas leis forem violadas, a Bíblia será mal interpretada, e haverá fracasso. A oração é uma ciência, diz o testemunho de Jesus. Se violarmos os princípios dessa ciência, Deus não responderá a nossas orações, e haverá fracasso. Ouvimos falar também da ciência de ganhar almas. Violar essa ciência é não ganhar almas e experimentar fracasso. Por isso, é-nos declarado: “Tem sido demonstrado… que, seja qual for o talento de pregação,… se não se ensina às pessoas como trabalhar, como dirigir reuniões,… como alcançar o povo com êxito, a obra será quase um fracasso.” — Testimonies, vol. 5, pág. 256.

É evidente que sucederá o oposto quando não se descuidam estas características que se tornam especialmente necessárias na organização de pequenos grupos na igreja. Quão importante é, portanto, procurar estudar e compreender a ciência de ganhar almas, pois, se for bem executada, sempre produzirá “resultados certos”. Deus nunca viola Suas próprias leis e princípios, mas opera por meio deles. “Em geral… não opera milagres para fazer Sua verdade avançar…. Ele age em harmonia com grandes princípios.”

Entre os princípios conhecidos, sem dúvida o mais fundamental é o do uso do lar como centro de evangelização.

Os evangelistas do Novo Testamento relataram como Jesus usou este método em Sua evangelização. (Ver S. Mat. 13:36-52;

S. Mar. 9:33-50; 10:10-12; S. Luc. 7:36-50.) E foi às casas que Jesus enviou os doze (S. Mat. 10:11-13) e também os setenta (S. Luc. 10:5-7).

No livro de Atos, há nove referências de que os cristãos adoravam nas casas. Na Igreja de Jerusalém havia uma mescla de adoração no templo e nas casas (Atos 2:46).

O conceito do uso dos lares para nutrir a vida espiritual e para evangelizar impregnou a experiência dos cristãos do Novo Testamento. Fala-se da igreja na casa de Lídia (Atos 16:40), da igreja na casa de Priscila e Áqüila (Rom. 16:3-5), da igreja na casa de Ninfa (Colos. 4:15) e da igreja na casa de Filemom (Fil. 2), etc. É belo notar que aqueles que fizeram da igreja seu lar, também trouxeram a igreja ao seu lar.

No Antigo Testamento também se registra o princípio da organização em grupos como algo a ser seguido para a bênção da Igreja (Gên. 7:1; 9:8 e 9; Núm. 2 e 3; Jos. 4:12; 13:1 e 7; Neem. 3; Dan. 1:3-7).

De modo muito especial, porém, é em Êxodo 18 que se mostra como Moisés recebeu Providencialmente instruções a respeito da maneira de organizar uma igreja, e que ele logo pôs em prática para que cada indivíduo recebesse melhor cuidado.

Este princípio de concentração, seletividade ou como queiramos chamar ao princípio dos grupos pequenos, é tão eficaz como as leis que regem o Universo, e onde quer que seja posto em prática, produzirá resultados certos.

O exemplo de Jesus é, porém, o que mais me impressiona. Ele é o Pastor dos pastores, e sabe como organizar para evangelizar. Embora viesse com fome e sede de salvar o mundo inteiro e com a determinação de que nada e ninguém O desviaria de Sua sagrada missão, nem por isso começou a percorrer grandes distâncias para propagar Sua mensagem. Que fez o Born Pastor? Concentrou-Se num pequeno grupo e conviveu com os seus componentes por três anos e meio, a fim de torná-los algo mais que membros de igreja; isto é, discípulos.

Não consta que Jesus tenha batizado multidões quando esteve aqui na Terra, mas adestrou tão bem a Seus discípulos que um deles ganhou mais de três mil pessoas num só sermão. A solidez da experiência que Jesus lhes transmitiu possibilitou que o Espírito Santo os usasse de um modo nunca visto até então.

Essa espécie de maturidade é a conseqüência lógica de haver convivido com Jesus por três anos e meio nesse pequeno grupo original.

É impressionante notar como se modifica a vida do discípulo em formação e do que está ensinando a ser discípulo. O dirigente do grupo vive isto cada dia, cada semana e cada sábado com os membros de seu grupo.

O apóstolo Paulo foi outro que evidentemente chegou a dominar a vida do discipulado. Demonstrou-o com a experiência que teve com Timóteo. É notável que quando se tornou imperativo que Paulo fosse a Corinto por causa de problemas que afligiam a igreja, para ele era a mesma coisa ir pessoalmente solucionar esses problemas ou enviar a Timóteo em seu lugar. A Bíblia descreve-o assim: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores. Por esta razão vos mandei Timóteo,… o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo Jesus, como por toda parte ensino em cada igreja.” I Cor. 4:17.

Estou certo de que Timóteo se sentia à vontade com a comissão que havia recebido, pois se imbuíra, mediante os ensinos do grande apóstolo, do conceito do discipulado, que persiste em cada grupo na igreja. Por isso Paulo pôde dizer-lhe com toda a autoridade: “E o que de minha parte ouviste,… isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.” II Tim. 2:2. De maneira que Paulo ensinava a Timóteo para que ele ensinasse a outros, que por sua vez ensinariam a outros, e assim por diante.

Este é o princípio que concatena o desenvolvimento progressivo e a multiplicação da igreja.

Fundamentalmente, a experiência de fazer discípulos que depois farão outros, e conseguir amadurecer um cristão até esse nível de produtividade, é a essência do sistema de grupos na igreja — algo que se consegue satisfatoriamente quando se usa o lar como centro de evangelização. Este conceito, que se encontra delineado na Palavra de Deus, é o que temos procurado pôr em prática na igreja de Van Nuys.

Como se consegue desenvolver um plano no qual os lares dos membros se transformam em igrejas que buscam fazer discípulos? Em primeiro lugar, cumpre destacar que é muito importante que a igreja perceba que seu pastor é um discípulo. Esta característica lhe dará a indispensável autoridade para o desenvolvimento do plano, pois ele desempenha um papel de importância estratégica num programa dessa envergadura.

Tenho lido e analisado o que os especialistas em crescimento de igreja têm visto. Eles nos asseguram que o pastor que por incompetência, indolência ou medo do fracasso delega a direção de um programa como este a um colega assistente, para não dizer a um leigo, dirige-se diretamente ao fracasso. Portanto, em cada seminário que tenho realizado em relação com este assunto, quando surgem perguntas sobre isto, sempre aconselho que os próprios pastores de distrito assumam a dianteira, para que as igrejas às quais ministram saibam que eles constituem o eixo central do plano e que tanto os dirigentes dos grupos como os anciãos que supervisionam, trabalham todos sob o conselho e a direção do pastor.

A seguir, desejo realçar os dez passos-chave e fundamentais que pusemos em prática em Van Nuys. Como é óbvio, neste artigo não há espaço para os pormenores. O básico é o seguinte:

1. Encontrar um núcleo de cristãos consagrados que constituirão os discípulos do pastor aos quais ele procurará adestrar e equipar como se o seu ministério consistisse nisso. Diz o testemunho de Jesus: “Não deve ser o objetivo do obreiro apresentar uma grande lista de sermões que haja pregado; mas, que tem ele feito na obra de salvar almas, de preparar obreiros?” — Medicina e Salvação, pág. 301. (Grifo acrescentado.)

2. Escolher os grupos geograficamente. Oito a doze membros.

3. Ver que cada membro tenha um cargo de responsabilidade no grupo. Por exemplo: diretor, assistente, secretário, tesoureiro, secretário missionário, telefonista, diácono, portador de luz, representante da Escola Sabatina, representante da Sociedade dos Jovens Adventistas e representante da Voz da Profecia. (Estes são os cargos usados em Van Nuys.)

4. Fazer uma descrição dos deveres e responsabilidades de cada cargo. Quando fizemos isto em Van Nuys, cada grupo multiplicou sua eficiência.

5. Receber relatórios prestados pelos dirigentes dos grupos e dos anciãos, que são os supervisores dos dirigentes.

6. Desenvolver grupos de grupos que formam uma congregação que se reúne periodicamente. Isto cumpre um propósito vital.

7. Estabelecer o território missionário que cada grupo procurará trabalhar semanalmente. A igreja de Van Nuys tem conseguido dar quase 500 estudos bíblicos por semana. Cada pessoa faz a sua parte. O primeiro batismo após o início do plano foi de 82 pessoas. Mais indivíduos foram batizados num só dia do que em qualquer dos quarenta anos de existência da igreja.

8. Desenvolver duas estratégias: uma  para ganhar membros e outra para conservá-los na igreja. Em Van Nuys cada estratégia tem 12 pontos. Meu alvo é ver que os dirigentes cheguem sempre a ser mestres destas estratégias.

9. Ter periodicamente seminários de adestramento, desafio e inspiração para dirigentes e anciãos. Cada grupo realiza anualmente suas próprias conferências. No ano passado, só um grupo ganhou 26 pessoas. Esta é uma festa anual que não pode faltar. O treinamento para isto é delicado, mas tem muito valor.

10. Propor que cada membro do grupo faça um pacto em relação com o seu grupo. Isto funcionará melhor se for precedido por um sermão sobre o significado e a importância dos pactos.

Em Van Nuys foi muito importante não mesclar estes grupos com as classes da Escola Sabatina. Ellen G. White falou muito do conceito de grupos e também da Escola Sabatina, mas nunca o fez em conjunto. É evidente que Deus tem em mente que haja grupos na igreja separadamente das classes da Escola Sabatina.

Nos grupos da igreja de Van Nuys nos concentramos a estudar exclusivamente sobre a essência da salvação e o discipulado. Hoje a igreja de Van Nuys, já por mais de um ano, é a única igreja, entre aproximadamente 130 igrejas da Associação, que realiza dois cultos cada sábado para acomodar todos os seus membros e visitas que aumentam cada semana.

É possível que à primeira vista este plano de trabalho pareça ser mais complicado do que é na realidade. No entanto, é elaborado para ganhar anualmente centenas de pessoas. Pessoalmente, empreguei mais de mil horas de trabalho, pesquisa e muita oração, antes de começar esta obra em Van Nuys.

Ao ver os resultados, com prazer teria investido dez mil horas mais. Ganhar almas nunca foi fácil. Mas o trabalho realizado de todo o coração e usando os princípios que Deus nos deu produz êxito seguro. O plano causa um impacto na igreja, incentiva todo membro a dar-se conta, desde o começo e durante o desenvolvimento do plano, de que todo dirigente só dirige servindo e todo verdadeiro servo só serve dirigindo. Este desenlace ocasiona a multiplicação, pois assim como o corpo se desenvolve mediante a divisão e multiplicação das células, o corpo de Cristo também se desenvolve com a divisão e multiplicação de suas células ou grupos pequenos.

Você sabia que as dez maiores igrejas do mundo tornaram-se desse jeito através de grupos pequenos? Tenho a documentação no meu arquivo.

Recentemente, estive na Coréia, a fim de ver a maior igreja do mundo (400.000 membros). Foi um seminário memorável no qual também tive o privilégio de partilhar o que Deus está fazendo na Igreja Adventista e por seu intermédio. A igreja da Coréia tem mais de 22.000 grupos. “É a maior igreja do mundo, e também, pela organização de grupos, a mais pequena”, disse o seu pastor, Paul Yonggi Cho.

Quando assisti a um dos cultos de oração, na quarta-feira à noite, com tristeza tive que admitir que havia mais pessoas presentes em um dos cultos de oração que a totalidade dos membros adventistas de minha Associação, que é uma das maiores do mundo.

Reconheço que as igrejas protestantes ganham pessoas com mais facilidade, mas o fato é que há milhares de igrejas protestantes, e nenhuma delas cresceu tanto como a da Coréia ou como as outras nove maiores igreja do mundo. Por quê? Porque estas estão operando por meio de princípios, e os princípios sempre funcionam, não importa quem os ponha em prática.

Quando estive presente nesse enorme santuário lá em Seul, vários pensamentos me vieram à mente. Pensei que a maior igreja do mundo nos pregava um sermão no qual somos lembrados de que o ser humano é terminantemente religioso e que, como tal, responde à beleza da Palavra de Deus, não importa quem a leve à porta do incrédulo. Pensei também como é penoso que aqueles que não têm a verdade estejam aproveitando isto e os princípios de evangelização estabelecidos para ganhar a multidões, enquanto entre nós ainda há tantos que não querem usar esses princípios.

Ainda é tempo. Deus nos manda usar os lares de Seu povo para pescar homens e para crescer. E é evidente que, em vez do anzol, Ele deseja que usemos a rede, retornando aos conceitos originais das doutrinas apostólicas.

Quando Jesus alimentou os cinco mil, a Bíblia diz que primeiro também os dividiu em grupos. Teria sido para estar seguro de que ninguém ficasse sem comer?

Estão os membros de nossas igrejas todos bem alimentados? Os que abandonam a igreja se acham debilitados. Por que razão? Será que se perdem entre o tumulto, sem que notemos que estão ficando sem comer?

Oxalá que com nossas congregações bem organizadas e alimentadas saiamos usando os princípios que Jesus ensinou e praticou, levando a liberdade a todo escravo, e recordando sempre que Ellen G. White nos advertiu: “A formação de grupos pequenos como base do esforço cristão foi-me apresentada por Um que não pode errar.” — Serviço Cristão, pág. 72.

MIGUEL A. CERNA FILHO, associação do Sul da Califórnia, Divisão Norte-Americana