A simpatia é um ritmo secreto que estabelece a comunhão entre os sentimentos, sem causa perceptível, antecipando-se a qualquer reflexão sobre a conveniência da intimidade. E confiança de ser compreendido; é desejo de sê-lo. Simpatizar com alguém, equivale a entregarmo-nos nalgum projeto, sem temor à deslealdade ou à traição.
Há em todos os que trabalham, pensam ou cantam, um fundo comum de inclinações que, facilmente, podem vibrar em uníssono; e em todos existem diferenças pessoais inarmonizáveis. A capacidade de simpatia predomina entre os que compreendem as tendências homogêneas, e sabem cultivá-las em si mesmos e admirá-las nos demais, gozando em seu humano regozijo, sofrendo com sua humana dor. Os incompreensivos, que vivem investigando o inconciliável dos caracteres, para menoscabar as próprias arestas contra as alheias, não podem sentir simpatia nem despertá-la; estão condenados a semear a discórdia e a sofrer com ela.
Tudo quanto é humano pode provocar uma consonância moral; mas nem tudo merece a mesma simpatia, nem esta nasce igual ante motivos diferentes. A mais fácil é a simpatia física; a mais forte é a que assenta na comunidade de idéias. Deve ser espontânea e sem limites para que seja duradoura; colocar reservas a sua natural expansão, é matá-la. Desconhece barreiras; a língua e os costumes podem estimulá-la, se são idênticos; não logram, porém, obstruí-la por mais que difiram. A afinidade de desejos, de crenças, de esperanças aproxima os caracteres e faz com que simpatizem, transpondo a distância e o tempo. Por isso, consideram-se irmãos todos os que sentem a mesma ansiedade idêntica, auscultando com idêntico fervor otimista o porvir da humanidade.
Saber despertar a simpatia é um dom natural, raro e inexplicável; saber senti-la, é um fator decisivo da felicidade. Os homens inclinados a simpatizar com os demais são os melhores instrumentos da harmonia social. — José Ingenieros.