Prestar atenção às respostas enviadas por sua audiência, habilita o prepador a comunicar da melhor maneira a Palavra da vida

Para muitos pregadores, a pregação é simplesmente uma oportunidade para falar. Eles falham ao não reconhecer que os pregadores efetivos necessitam ouvir atentamente os ouvintes. Pode ser que Deus esteja lhe dizendo alguma coisa, através daqueles que ouvem o sermão. Todo ouvinte fornece valiosas respostas durante o sermão, e pregadores inteligentes aprenderão a ouvir atentamente essas respostas, a fim de se conectarem mais efetivamente à congregação.

Resposta verbal

Em alguns cenários culturais, a resposta verbal espontânea dos ouvintes, durante o sermão, não é apenas aceita, mas encorajada. Por exemplo, o componente principal da pregação afro-americana pode ser descrito como o processo de “chamado e resposta”, ou “chamado e retorno”. Esse processo requer resposta verbal de uma congregação participativa. Henry Mitchell sugere que “se a tradição da pregação negra é única, então essa unicidade depende em parte da unicidade da congregação negra que fala ao pregador como parte natural do culto”.1

Essa resposta verbal se torna uma poderosa dinâmica. Acrescida ao tradicional “amém”, ela inclui expressões tais como “Senhor, ajude-nos!”; “esclareça este ponto!”; “Sim, está correto!”, entre outras. Com essas respostas verbais, que são mais que mero reconhecimento superficial ao pregador, os ouvintes realmente pregam de volta para ele. Mitchell nota que “muitos pregadores de qualquer cultura deveriam alegremente receber tais estímulos e até apoiá-los”.2

De fato, quando estou pregando, sou estimulado pela reposta verbal refletida. Em certa ocasião, enquanto eu pregava em uma grande igreja, uma parte da congregação se mostrava particularmente mais responsiva. Senti-me tão ligado a esse pequeno grupo de adoradores que era preciso ter cuidado para não ignorar o restante dos ouvintes.

Às vezes, o pregador até pode fazer uma variedade de apelos para conseguir resposta verbal. Por exemplo, ele pode sugerir: “Alguém quer dar um testemunho?”, ou: “posso ouvir ‘amém’?” Quando ocorre comunicação verbal entre o pregador e os ouvintes, as duas partes devem ficar mutuamente atentas. Essa resposta pode ajudar o pregador a conectar-se mais efetivamente a seus ouvintes.

O pregador também pode encorajar a resposta verbal construindo um diálogo dentro do próprio sermão. Um modo de fazer isso é preparar a mensagem como uma conversação entre duas ou mais pessoas diante da congregação. Os participantes podem ser o pregador, especialistas no tema abordado e representantes da congregação.

Experimentei essa forma interativa certa vez em que preguei sobre relacionamento familiar saudável. Três adolescentes, um casal e um conselheiro familiar se juntaram a mim, na plataforma, para uma discussão ao vivo. O impacto desse sermão foi profundo. A congregação se ligou totalmente e foi envolvida de tal forma que não seria possível com um monólogo.

Alguns pregadores têm buscado aumentar a resposta verbal dos ouvintes, adicionando tempo para discussão no fim da mensagem. Os ouvintes podem ser divididos em pequenos grupos com líderes indicados antecipadamente, e cada grupo discute questões levantadas durante o sermão. Em seguida, a congregação se reúne novamente para ouvir os relatórios dos grupos e terminar o culto. Outra opção pode ser dar oportunidade para algum ouvinte que deseje esclarecer alguma dúvida. O pregador deve reconhecer o problema, esclarecê-lo e, então, continuar a pregação.

O modo mais interativo de pregação deve envolver discussão livre entre o pregador e os ouvintes, a respeito do significado e das implicações de uma passagem da Escritura ou tema bíblico. Os ouvintes poderiam ser encorajados a estudar um texto durante a semana e, no culto do fim de semana, apresentar perguntas relacionadas ao texto. Evidentemente, devem ser estabelecidos critérios para a discussão, como, por exemplo, número de perguntas por indivíduos, limitação do diálogo ao tema estudado, entre outros; tudo com o objetivo de preservar a ordem e a espiritualidade do ambiente. Essa forma de pregação interativa não apenas encoraja o estudo pessoal das Escrituras, mas também envolve os ouvintes no próprio sermão.

Resposta não-verbal

Junto com a sugestão de procurar ouvir as respostas verbais de seus ouvintes, os pregadores necessitam ouvir também as respostas não-verbais. Mesmo na forma convencional de pregar, em que apenas uma pessoa fala, os ouvintes inevitavelmente comunicarão respostas não-verbais. Esse tipo de resposta inclui expressões faciais, gestos com mãos e braços, postura corporal, posição e vários movimentos de corpo, pernas e pés.

A resposta não-verbal fornecida pelos ouvintes geralmente é mais confiável que a verbal. Uma pesquisa feita por Albert Mehrabian concluiu que 55% da comunicação abrangem expressão facial e linguagem corporal; 38% incluem o tom da voz, e, apenas 7%, as palavras.3 No caso de as respostas resultarem inconsistentes, isto é, se tanto as respostas verbais como as não-verbais não forem congruentes, Mehrabian afirma: “o comportamento não-verbal de uma pessoa tem maior peso que suas palavras, em se tratando de comunicação de sentimentos ou atitudes em relação a outra pessoa”.4 O comunicador efetivo estará atento às respostas não-verbais e aprenderá como decodificar essas mensagens silenciosas.

Muito da resposta não-verbal provavelmente será involuntária e inconsciente. Talvez, o indicador não-verbal mais notável da falta de envolvimento do ouvinte é ele cochilar durante o sermão. Alguns jovens abaixam a cabeça quase até os joelhos. Outros indicadores não-verbais típicos incluem movimento de pernas e pés, arrumação da roupa, manipulação de um chaveiro e ajustes posturais.

A linguagem corporal dos ouvintes nos fala se estamos sendo ouvidos e compreendidos

Já entre os sinais de envolvimento crescente estão a diminuição da distância, orientação corporal mais direta, maior expressão facial, postura corporal mais descontraída e atenta, bem como sinais de assentimento com a cabeça. Todo pregador se alegra quando vê os ouvintes sorrindo e balançando a cabeça.

O contato visual, ou a falta dele, também pode ser um indicador. Como regra geral, o aumento do contato visual entre você e seus ouvintes ocorre como indicador positivo de que você está efetivamente ligado a eles. Lembro-me de um jovem, numa igreja que pastoreei, que sempre se sentava nos primeiros bancos. Era evidente em suas respostas verbais e não-verbais que ele estava buscando fervorosamente um relacionamento íntimo com Deus. Enquanto ouvia o sermão, ele se dividia entre acompanhar atentamente a leitura da Bíblia e olhar o pregador. Seu contato visual dizia ao pregador que ambos estavam ligados. Hoje, ele também é pregador.

Entretanto, o contato visual não pode ser interpretado independentemente de outros avisos faciais. Por exemplo, se o ouvinte olha para você com olhos bem abertos, testa sulcada e um sorriso, isso aparentemente indica um sentimento positivo ou, talvez, um convite à interação. Se o ouvinte olha com expressão séria, mais provavelmente está sinalizando uma resposta negativa. Os sinais faciais são o canal pelo qual as mensagens emocionais verbais ou não-verbais são mais clara e freqüentemente enviadas. Calvin Miller observa que “a linguagem corporal nos fala não apenas se estamos sendo ouvidos, mas se estamos sendo compreendidos”.5

A resposta não-verbal pode variar, dependendo da cultura, embora também existam muitas semelhanças de movimentos expressivos entre todas as culturas, como sorrir e chorar. Piscar olhos e levantar sobrancelhas são sinais considerados indecentes entre alguns povos. Esteja atento ao seu contexto cultural, a fim de interpretar corretamente as dicas não-verbais de seus ouvintes.

Comunicação efetiva

Nem sempre seus ouvintes enviarão sinais verbais enquanto você prega, mas enviarão mensagens silenciosas – expressões faciais e linguagem corporal. Aprenda a ler essas mensagens silenciosas ou faladas, de modo que possa estar ligado efetivamente com eles. Os dois tipos de resposta podem levá-lo a mudar a rota do sermão, reafirmar um ponto importante, ou acrescentar alguma frase para melhor esclarecimento. O alvo é simples: Comunicar da melhor maneira a mensagem que deseja entregar à congregação.

Talvez você se pergunte: Como posso ficar atento a essas respostas e, ao mesmo tempo, acompanhar o esboço do sermão? É aqui que libertar-se dos seus manuscritos se torna ponto essencial para qualquer pregador que deseje ficar atento às respostas dos ouvintes.

Uma vez que você compreenda que a pregação envolve mais diálogo que monólogo, jamais ignorará a importância das respostas verbais e não-verbais. É assim que se tomará melhor pregador e será mais hábil para comunicar a Palavra da vida.

Referências:

  • 1 Henry H. Mitchell, Black Preaching: The Recovery of Powerful Art (Nashville, TN: Abingdom Press, 1990), p. 100.
  • 2 Ibid.
  • 3 Albert Mehrabian, Silent Messages (Belmont, CA: Wadsworth Publishing Company, 1971), p. 43.
  • 4 Ibid., p. 44.
  • 5 Calvin Miller, The Empowered Communicator: Seven Keys to Unlocking an Audience (Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1994), p. 184.