Mas vós sereis chamados sacerdotes do Senhor, e vos chamarão ministros de nosso Deus; comereis as riquezas das nações, e na sua glória vos gloriareis” (Isa. 61:6).
Nesse verso, o profeta Isaías refere-se aos israelitas, que seriam conhecidos como ministros, ao transmitirem o conhecimento de Jeová aos gentios. As palavras do profeta me falam, numa aplicação pessoal. Elas me dizem que o pastor deve ser conhecido como ministro de Deus, por sua fidelidade e lealdade à missão salvadora. E mais: por sua vida coerente com essa missão – sua conduta, sua aparência, sua conversação e fidelidade aos princípios. O pastor deve ser conhecido na vizinhança, na igreja, na comunidade onde vive, e mesmo entre os próprios familiares, como um ministro de Deus.
Na realidade, não é fácil ser um ministro de Deus. Num mundo tão degradado pelo pecado, ser um atalaia é viver na presença de Deus, em contínua comunhão com Ele. Num mundo caracterizado pelo ódio, pela vingança e pela violência, é imprescindível, para um ministro, amar, ser manso e humilde. Numa sociedade imoral, um mensageiro do Céu precisa ser puro. Num mundo governado pelo apetite depravado, os ministros de Deus devem ser exemplos da Reforma de Saúde. Num mundo onde predomina a ambição pelo poder e ganho material, há necessidade de pastores consagrados, desprendidos, satisfeitos com o sustento e a função, concedidos por Deus em Sua sábia providência.
Quase imperceptivelmente podemos estar sendo influenciados pelo desejo de supremacia que rotula os homens deste mundo. Um pastor pode desempenhar seu ministério na igreja, com aparente sucesso, sem o verdadeiro propósito de servir a Deus, mas esperando ser contemplado com uma “promoção” pela liderança. Um departamental ou administrador podem estar atuando valorosamente sem pensar no avanço da Obra, mas olhando um cargo superior. Temo que isso esteja se tomando normal entre nós. O desejo de “promoção”, acalentado por uns, e o medo da “queda”, abrigado por outros, têm produzido em nossas fileiras ministeriais uma submissão servil ao instrumento humano e pouco serviço autêntico para Deus.
O pastor necessita, antes e acima de tudo, ser cristão. Seguidor e discípulo de Cristo. “O verdadeiro ministro não fará coisa alguma que venha amesquinhar seu sagrado ofício. Será circunspecto em seu comportamento, e prudente em toda a sua maneira de agir. Trabalhará como Cristo trabalhava; procederá como procedeu Cristo” – Obreiros Evangélicos, pág. 17.
Jesus, o exemplo de comunhão
Cristo foi um pastor maravilhoso. Um modelo ministerial. É inspirador meditar na Sua postura como um ministro de Deus. Nada havia em Sua vida que contribuísse para “amesquinhar Seu sagrado ofício”.
A comunhão íntima de Jesus com Seu Pai é-nos um exemplo destacado. Ele começava cada dia com Deus. Vivia com Deus. “Sua felicidade encontrava-se nas horas em que estava a sós com Deus e a Natureza. Sempre… afastava-Se do cenário de Seus labores, e ia para o campo, a meditar nos verdes vales, a entreter comunhão com Deus… O alvorecer frequentemente O encontrava em qualquer lugar retirado, meditando, examinando as Escrituras, ou em oração. Dessas horas quietas voltava para casa, a fim de retomar Seus deveres e dar exemplos de paciente labor” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 78.
Uma vez, cercado pela possibilidade de “promoção”, com que lhe acenaram algumas pessoas, fugiu para o recôndito da oração: “Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-Lo para O proclamarem rei, retirou-Se novamente, sozinho, para o monte” (S. João 6:15).
Antes de chamar os discípulos, Jesus passou a noite em oração (S. Luc. 6:12 e 13). Num momento sério, de escolhas tão significativas para a Sua missão, buscou submeter-Se ao conselho do Pai, em longos momentos de comunhão.
Quanto da vontade humana tem predominado em decisões envolvendo chamados ministeriais! Às vezes Deus quer chamar e os homens tentam dizer “não”. Noutras vezes Ele não quer chamar e os homens tentam dizer “sim”. Bem faríamos em seguir o exemplo do Supremo Mestre, permitindo que as iniciativas providenciais de Deus determinem o rumo nestas questões tão delicadas e decisivas para a Sua Obra. Mesmo em momentos humanamente repulsivos, como a crucifixão, Ele humildemente Se submeteu ao Pai: “não seja como Eu quero, e, sim, como Tu queres” (S. Mat. 26:39).
Pregador modelo
Jesus falava com poder. Todos se maravilhavam com os Seus ensinos, porque Ele falava com autoridade. “Eu falo das coisas que vi junto de Meu Pai…” (S. João 8:38), disse certa vez. Até Seus inimigos, profundamente impressionados, confessaram: “Jamais alguém falou como esse homem” (S. João 7:46).
O ministro, como mensageiro de Deus, deve transmitir ao povo aquilo que ouve de Deus, nos momentos de comunhão aos pés de Cristo. Retórica, erudição e teologia são importantes, mas, as pessoas necessitam algo mais. Anseiam ouvir a mensagem de Deus, a suave e vivificante voz do Espírito Santo, através do pregador, orientando, nutrindo, enchendo-lhes de vida, paz e conforto.
É possível que esteja faltando poder em nossa pregação. Apresentamos uma série de estudos bem elaborados, mas a grande maioria continua impenitente. Os membros das igrejas queixam-se de sermões vazios, formais, destituídos de objetividade, clareza, significado e aplicação prática. Os mais antigos relembram, saudosos, os pregadores do passado. É a estranha falta da influência do Espírito Santo na pregação. Estamos transmitindo ao povo nossas ideias e nosso próprio saber, negligenciando falar de algo que tenhamos ouvido de Deus.
Exageradamente envolvidos com a azáfama ministerial, corremos o risco de não ter tempo para ouvir a voz de Deus cada dia. É possível que cheguemos ao ponto de somente estudar a Bíblia justamente quando vamos preparar um sermão, estudos bíblicos, ou a lição da Escola Sabatina. Quando João Batista pregava, as multidões de todas as classes tremiam e os corações ardiam com o senso da pecaminosidade, e anseio de salvação. Paulo, diante do Rei Agripa, falou movido com tanto poder que o orgulhoso monarca confessou que quase se tornara um cristão (Atos 26:28). Jesus pregava e ensinava o dia todo, e a multidão incansável em ouvi-Lo era tão misteriosamente atraída que se esquecia até de comer. Era o poder divino vivificando. Jesus, João e Paulo falavam daquilo que ouviam de Deus nos solitários momentos da comunhão diária.
Missionário modelo
Jesus era imparcialmente missionário. Manifestava bondade a todos. Era indistintamente atencioso e cortês, tanto para com judeus e gentios, bem como os odiados samaritanos. Viera “buscar e salvar o perdido”, e cada alma Lhe era extremamente preciosa. Sua visão evangelística era tão ampla quanto o Seu amor pelos perdidos. Seu exemplo nos inspira a alimentar uma incontrolável paixão pelas almas, quem quer que sejam, e onde quer que se encontrem.
Para Jesus, evangelizar não era apenas uma opção profissional, um meio para conseguir sucesso pessoal, ou uma pesada obrigação da qual tinha que desincumbir-Se. Era a paixão dominante de Sua vida. Tão acentuada, que sobrepujava até as Suas necessidades físicas: “A Minha comida consiste em fazer a vontade dAquele que Me enviou e realizar a Sua Obra” (S. João 4:34). Quando proferiu essas palavras, Jesus estava exausto de fome e sede, após longa jornada sob o sol do meio-dia. Mas “o cumprimento da missão para cujo desempenho deixara o Céu, fortalecia o Salvador para Seus labores, sobrepondo-O às necessidades humanas. Ministrar a uma alma faminta e sedenta da verdade era-Lhe mais grato que comer ou beber. Constituía um conforto, um refrigério para Ele. A beneficência era a vida de Sua alma” – O Desejado de Todas as Nações pág. 191.
Toda oportunidade para salvar alguém sempre foi muito bem aproveitada por Jesus. Exemplos como o encontro com Zaqueu em Jericó (S. Luc. 19); o perdão oferecido à Maria Madalena (S. João 8); e a entrevista com a mulher samaritana (S. João 4) demonstram que Ele jamais olvidou, mesmo cansado e desejando comer, a missão de Sua vida.
Esta é uma questão individual, que muitas vezes é delegada ao evangelista ou ao diretor missionário da igreja. Promovemos e motivamos os membros ao trabalho ativo, enquanto somos tentados a permanecer alheios, sobrecarregados com ninharias, negligenciando nossa responsabilidade de envolvimento pessoal com a missão.
Sempre existirá alguém ao nosso redor mais sequioso pela Agua da Vida do que pela água comum. Existem pessoas, em todos os lugares, ansiosas pela salvação. Aproximam-se de nós, constantemente, indivíduos carregando o cântaro vazio de suas vidas, os quais podemos encher com a transmissão da graça salvadora de Jesus Cristo. E devemos fazê-lo.
A missão é a mesma
Somos, neste mundo, missionários como Jesus. A missão que nos foi confiada, e que já poderia estar concluída, é a mesma missão salvadora de Cristo. Urge que sigamos o Seu exemplo, na comunhão com Deus, na dedicação à tarefa de salvar almas, e num viver coerente com a elevada significação do nosso chamado.
Seja qual for o aspecto ministerial em que estejamos envolvidos, somos uma continuidade do ministério missionário de Jesus.
Vivendo como Cristo viveu, trabalhando como Ele trabalhou, seremos Suas verdadeiras testemunhas e identificados como ministros de Deus.