O evangelismo não é completo se não leva pessoas a Cristo

Em Seu ministério em favor das almas, o que Jesus era contava muito mais do que o que Ele dizia. As decisões não eram feitas apenas por causa dos fatos que Ele apresentava, mas em virtude do tipo de homem que Ele era. Jesus ganhou os corações tanto através da apresentação da verdade, como pelo relacionamento. Ele identificava-Se com o povo. O êxito da persuasão evangelística está intimamente ligado ao conhecimento e à confiança em relação à verdade apresentada.

Mas os sentimentos podem ser positivos e negativos. E sentimentos negativos podem conduzir a decisões negativas. Assim, não apenas a mensagem e o mensageiro, mas o método é fundamental para a conquista de uma decisão positiva. A maneira como nós apresentamos a verdade afeta o resultado.

Como deveríamos agir quando mostramos a verdade? Uma passagem messiânica destaca todos os elementos necessários: “O Senhor Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba (método) dizer boa palavra (mensagem), no tempo certo, (quando deve ser dito) ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos. O Senhor Deus me abriu os ouvidos, e eu não fui rebelde, não me retraí’ (o tipo de pessoa que Jesus era, o mensageiro), (Isa. 50:4 e 5).

Mas alguns de nós não aprendemos.

“Eu estou tão entusiasmado com a verdade”, disse-me um irmão, “que eu tenho mostrado a gravação de sua palestra sobre a marca da besta aos meus familiares.”

A mensagem errada. No tempo errado. Da maneira errada. E, certamente, um retrocesso no relacionamento.

Devemos falar “a verdade em amor”, advertiu Paulo (Efés. 4:15). Este é o método de Deus – apresentar belas verdade, amorosamente, ao povo. As decisões são originadas no relacionamento interpessoal. A maior confiança gerada por alguém na mensagem, o profundo relacionamento estabelecido, redundará o mais provavelmente em uma decisão positiva.

Consideremos três aspectos indispensáveis no processo de conduzir pessoas à decisão por Cristo: as colunas do processo, o papel da vontade, e a linguagem do apelo.

As colunas

Acompanhemos a Jesus e observemos como Ele estabeleceu as principais colunas do processo da decisão: aceitação, crença e confiança.

1. Aceitação – Sem muito esforço mental, logo verificamos que Jesus aceitou homens e mulheres tais como eles eram. Trabalhou com eles nas condições em que Ele os encontrou. Não trabalhou por mudanças antes de estabelecer um relacionamento de confiança. É assim que O vemos agir com a mulher de Samaria. Construiu uma ponte de confiança, ao pedir-lhe um favor, quando Seus compatriotas nem mesmo ousariam cumprimentar um samaritano. À beira do Tanque de Betesda, Jesus satisfez uma necessidade física antes de buscar uma decisão. Com Nicodemos Ele consentiu num encontro noturno a fim de preservar a privacidade do ansioso fariseu.

Refletindo sobre esses contatos, é possível isolar os ingredientes da aceitação – concordância e aprovação.

Na busca de decisões, primeiro devemos detectar áreas de concordâncias, ainda que pequenas. Uma pequena concordância abrirá o caminho para outras maiores. Tentar levar alguém à decisão dizendo: “eu discordo de você” é fraturar um relacionamento antes que ele tenha tido tempo de estabelecer-se; e quebrar relacionamento significa conduzir a decisões negativas.

Quando espectadores criticaram Maria, acusando-a de “desperdiçar” unguento sobre Seus pés, Jesus elogiou-a por sua generosidade. Seu ato deveria ser lembrado através dos séculos. Ele falou dela, como símbolo de amorosa generosidade. Jesus felicitou o centurião, ao declarar: “…Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta” (Mat. 8:10). “Ó mulher, grande é a tua fé”, disse Ele, admirando-Se da mulher cananeia (Mat. 15:28). Repetidas vezes Jesus demonstrou aceitação das pessoas, concordando quando era possível fazê-lo, aprovando, felicitando e apreciando-as.

O Salvador encontrou maneiras de expressar aprovação até mesmo àqueles que O olhavam com reservas. Falando de um escriba que havia sido questionado pelo Mestre, Marcos diz: “Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus.” (Mar. 12:34). Jesus olhava um ponto positivo. E demonstrava aprovação. Não rejeitava alguém por suas atitudes e ações negativas para com Ele. Não agia como devendo ser aprovado antes de aprovar a outros. Não aparentava abalar-Se. Demonstrava genuína aceitação. Tentava concordar com as pessoas em tudo o que fosse possível. Procurava alguma coisa pela qual pudesse revelar apreciação, e, então, logo externava seu pensamento com sinceridade, tentando construir uma ponte de união. Lembre-se, aceitação é manifestada através de concordância e aprovação.

Demonstrar aceitação faz com que as pessoas fiquem à vontade para falar de si mesmas, sua casa, a cidade onde vivem, seu trabalho, sua família, seus negócios, suas ideias, seus compromissos, seus antecedentes, seus hobbies e esportes preferidos.

Jesus aceitou homens e mulheres onde eles estavam, e começou a construção de laços de amizade que posteriormente deveriam tornar-se pontes através das quais a verdade chegaria a suas mentes.

2. Crença nas pessoas – Esta é a segunda coluna básica do processo da decisão. Ninguém atrai uma pessoa com a qual não simpatiza. Ninguém simpatiza com uma pessoa que não lhe demonstra completa aceitação. Acredite que o indivíduo deseja sinceramente a verdade e quer seguir a Cristo. Creia que o interessado pode ser vitorioso, por Cristo e Sua Causa. Confie que essa pessoa é honesta e deseja fazer a decisão correta. Se você crê que as pessoas são endurecidas, irresponsáveis, inalcançáveis, sua atitude refletirá nas decisões que elas tomarão.

Num estudo feito pela Andrews University, entre mais de 8.300 adventistas de 320 igrejas da América do Norte, uma das mais significativas conclusões foi o fato de que as igrejas e os indivíduos que confiavam que homens e mulheres eram influenciáveis estavam crescendo mais firmemente.

Esse princípio de confiança também foi ilustrado por Jesus. Ele viu as pessoas não apenas como elas eram, mas como poderiam ser. Quando Ele olhava as mulheres, não as via como representantes de uma casta inferior da sociedade, mas como pessoas ofendidas e magoadas. Então as alcançava com Seu amor. Ele viu Pedro, não como um rude pescador falastrão, mas como um poderoso pregador. Em José de Arimateia, Ele não viu apenas um sofisticado e rico homem de negócios, mas alguém necessitado de encontrar a Pérola de Grande Preço. Jesus viu o centurião, não como um duro comandante militar, mas como um mestre que amava seu servo. Ele viu Nicodemos, não somente como um líder da oposição, farto de intolerância religiosa, mas como alguém que necessitava desesperadamente de um novo coração. Sim, Jesus viu o melhor nas pessoas. Ele acreditava nelas, e confiantemente esperava que tomassem a decisão de segui-Lo.

3. Confiança – Na tarefa de conduzir homens e mulheres a uma decisão por Jesus Cristo, é imperativo que atuemos confiantemente, como se fosse impossível falharmos e sermos desapontados. Espere sempre a pessoa fazer sua decisão. O povo frequentemente age da maneira como nós esperamos que ele faça. Já notou que quando sorrimos para alguém, esta pessoa também sorri para nós? Amizade gera amizade. Lealdade gera lealdade. Confiança gera confiança. Cristo acreditou nas pessoas e confiantemente antecipou uma resposta positiva. Ele ressaltou o melhor delas. Assim Suas expectativas foram preenchidas.

O papel da vontade

Uma senhora levou seu filho à sorveteria. Ali, foi recebida pelo vendedor com a pergunta: “Chocolate ou baunilha?”

“Você não tem outros sabores?”, replicou a mulher. “Já estou cansada desses dois.”

“Senhora”, suspirou o vendedor, “se você soubesse quanto tempo lhe toma para escolher entre chocolate e baunilha, certamente não desejaria outro sabor.”

Algumas decisões na vida não têm relativamente a menor importância, como escolher entre um sorvete de baunilha ou chocolate. Todavia, o poder da escolha é um dom de Deus. É absolutamente essencial que o ganhador de almas compreenda o lugar da vontade no processo da decisão. A vontade é a chave mestra da decisão.

O transatlântico Rainha Elizabeth pesa aproximadamente 85 mil toneladas. No entanto é guiado por um leme de apenas 65 toneladas. O leme, embora pequeno, comparado ao restante do navio, controla sua direção. A vontade humana é o leme da vida. Não é prerrogativa do ganhador de almas manipular a vontade ou forçá-la. Nós não conseguiremos êxito no trabalho de levar pessoas a Cristo enquanto não compreendermos a ação do Espírito Santo, relacionada com isto.

“O que deveis compreender é a verdadeira força da vontade. Esta é o poder que governa a natureza do homem, o poder da decisão ou de escolha. Tudo depende da reta ação da vontade.”1 “Mediante o devido exercício da vontade, uma completa mudança pode ser operada na vida. Entregando a vontade a Cristo, aliamo-nos com o divino poder. Recebemos força do alto para nos manter firmes. Uma vida nobre e pura, uma vida vitoriosa sobre o apetite e a concupiscência, é possível a todo aquele que quiser unir sua vontade humana, fraca e vacilante, à onipotente e inabalável vontade de Deus.”2

Cada decisão que é feita, seja para comprar um aspirador de pó ou aceitar as verdades da Bíblia e tornar-se um cristão adventista, envolve quatro níveis básicos:

1. Informação. Decisões corretas jamais serão tomadas por um indivíduo sem que ele tenha informações igualmente corretas. Antes de comprar um automóvel, por exemplo, buscamos todas as informações necessárias. Examinamos as vantagens e desvantagens de diversos modelos, comparamos fatos como performance, consumo de combustível, conforto, custos de manutenção, etc. O nível de informação capacita-nos a reunir os fatos necessários à consumação de uma decisão inteligente.

Pedir uma decisão antes que haja informação adequada e suficiente cria barreiras na mente humana, e neste ponto a vontade fará uma escolha mais negativa que positiva. Portanto, no processo decisório, as seguintes questões são sempre necessárias: Há informações suficientes e adequadas para uma decisão? Estão as pessoas inteligentemente informadas sobre a decisão que eu estou lhes pedindo que façam?

2. Convicção. Depois de reunir informações, um indivíduo começa sentir o que parece ser a decisão correta para seu caso particular – o que ele realmente deveria fazer. Numa decisão por Cristo, uma consciência individual sugere: “Isto é o que eu creio que Deus deseja que eu faça. Creio que isto é a vontade de Deus. Se eu falhar em agir de maneira apropriada, estarei fora da vontade divina.”

Quando uma pessoa está convicta, pelo lado positivo existe o profundo senso do correto, ao agir apropriadamente; e, pelo lado negativo, há o profundo senso de culpa por não agir. Por outro lado, as decisões não são tomadas somente porque uma pessoa está convencida de que deve fazer alguma coisa. Alguns têm uma consciência tão sensível, que se eles estão decididos pelo senso do correto, mesmo importunados pelo senso do erro, tomarão a decisão certa. O próximo nível de decisão é crucial.

3. Desejo. No caminho do desejo, alguém escolhe baseado em seus próprios sentimentos, identificando não meramente o que deveria fazer, mas o que gostaria de fazer. Você pode levar água a um cavalo, mas não pode fazê-lo beber. Mas o sal pode.

Coloque um bloco de sal próximo à água, deixe o cavalo lambê-lo, e logo ficará tão sedento que desejará beber. O sal desperta a sede.

Como ganhadores de almas, somos o “sal da terra”. É necessário apresentar o evangelho às pessoas de tal maneira que elas não tenham apenas informação adequada, e tão convincente que sintam que devam fazer alguma coisa, mas que desejem fazê-lo. Através da Bíblia, Deus apresenta as alegrias do Céu, o terror do inferno, e Seu próprio amor como poderosos motivos para realçar nosso desejo.

4. Ação. Quando são realçados o desejo e a convicção, o indivíduo age. Assim, a chave para a tomada final de atitude é ir além da informação à convicção e desejo. J. L. Schuler coloca desta forma: “Desde que o conhecimento, a convicção e o desejo levam à decisão, os sermões, os estudos bíblicos, e o trabalho pessoal devem ser um artificioso entrelaçado dos fatores desejo e convicção a respeito do assunto tratado. Isso é necessário, para conduzir aos requisitos conhecimento, convicção, desejo de aceitação, decisão e ação. Quando nós analisamos certos textos, descobrimos que alguns estão especialmente designados para produzir conhecimento, outros para produzir convicção, e ainda outros para produzir desejo. E frequentemente alguns textos trazem em si os três elementos. Necessitamos focalizar sobre os textos que implantarão convicção, e ao mesmo tempo despertam o desejo de aceitar e seguir os princípios da Palavra de Deus, conforme apresentados no estudo biblico.”3

A linguagem do apelo

Evangelistas de sucesso são sensíveis ao uso da linguagem. O pseudo ganhador de almas agarra-se a frases religiosas escorregadias e clichês sem considerar as diferentes personalidades com as quais está trabalhando. Lembre-se: cada ouvinte tem uma disposição perceptiva. Use isso para ganhar essa pessoa. Ignore-a e deverá perdê-la.

Estudantes do comportamento humano colocam as pessoas em uma das três classes seguintes: visual, áudio e cinestética. Os visuais resolvem os problemas visualizando a solução através de quadros mentais. Por causa desse processo visual de análise do pensamento, essas pessoas respondem muito bem ao uso de slides, cartazes e diagramas. Elas são o tipo de pessoas que quando pensam nas férias, vêm-se a si mesmas deitadas na praia; mentalizam o forte brilho do sol na areia e na água.

Os áudios, por sua vez, estruturam seus pensamentos modelando ao redor do som. O esposo ouve a esposa lhe falando, o patrão gritando, as crianças cantando. Eles não se pintam sentados à sombra ou esticados na praia, quando em férias, mas ouvindo música suave através do rádio, e o som da prancha de surfe deslizando sobre as ondas. Seu sentido predominante é a audição.

Os cinestéticos centralizam seus pensamentos ao redor do toque. Eles relacionam a bondade com abraços, apertos de mão, etc. Pensando nas férias, imaginam o calor do sol infiltrando-se no corpo e a hilaridade do mergulho no frio oceano.

Naturalmente, as pessoas não caem única e exclusivamente em uma dessas três categorias. Mas cada um de nós tem uma forte tendência a operar primariamente dentro da esfera de uma das três. Quando tratando com um indivíduo que  as coisas, o meio mais efetivo de aproximação não será um gravador tocando belas músicas, mas um projetor de slides, filmes, ou aparelho de videocassete.

Conhecedor das diversas personalidades que O rodeavam, Jesus demonstrou habilidade para alcançar as pessoas de diferentes maneiras.

Quando conversando com os que eram orientados visualmente, Ele pintou quadros em ricos matizes para ilustrar Sua mensagem. Falou do pastor saindo para encontrar sua ovelha, do homem procurando um tesouro no campo, o pai do pródigo correndo para seu filho com as faces banhadas de lágrimas. Quando O ouviam, as pessoas viam a mensagem do evangelho em cenas panorâmicas diante de si e sentiam as cordas da alma tocadas para uma resposta positiva.

Ao falar com Nicodemos, Jesus usou um apelo em áudio. Conhecendo seus antecedentes como fariseu, seu costume de ouvir a leitura da lei, Jesus disse: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai” (João 3:8). Jesus sabia que assim como Nicodemos podia ouvir o som do vento desfolhando árvores em meio à tempestade; assobiando ao redor de sua casa, ele podia ouvir o chamado do Espírito Santo em seu coração.

A mulher junto ao poço, mesmo tendo vários maridos, ainda não havia sentido o toque do amor. Jesus sabia exatamente como alcançar o coração daquele pobre ser. Apelou-lhe com base nos sentimentos. Simplesmente disse: “Dá-Me de beber”. Ela sabia o que era sentir sede, acostumada como estava a andar pelas poeirentas estradas de uma terra desértica. Assim Jesus usou a impressão do sentido cinestético para conduzi-la à força e vitalidade do evangelho. “Aquele que beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede” (João 4:14).

Semelhantemente, devemos usar os três modos de aproximação, para os três tipos de pessoas que certamente estão no auditório. É sábio começar apelando aos três sentidos, e então, eventualmente, focalizar sobre o que aparenta ser predominante.

Quando falo a indivíduos orientados visualmente, enfatizo a mensagem numa cena pictórica. Por exemplo: “Imagine Jesus sobre a cruz, por você, os cravos traspassando-Lhe as mãos e o sangue escorrendo da fronte. Como você pode ver em Seus olhos, há algo mais importante do que entregar sua vida a Ele?”

Para aqueles enquadrados no tipo áudio, eu ligo a mensagem ao sentido do som: “Ouça Cristo lhe chamando hoje”; “Escute a voz de Jesus dizendo-lhe: Vinde benditos de Meu Pai…”.

Se o ouvinte é um cinestético, minha conversação deve ser na direção de algo como: “Ao entregar sua vida a Cristo, receberá aquela paz saudável, aquela alegria interior desejada pela humanidade de todos os tempos. A paz que tanto almejou, será sua.”

Jesus criou cada indivíduo diferente do outro. As pessoas crescem num ambiente próprio. A variedade de antecedentes requer uma variedade de formas de aproximação. Você deve sair de si mesmo e entrar nas necessidades e nos anelos dos outros – identificando-se com sua conformação perceptiva. Deixe que Deus o afine com as percepções de outras pessoas. E veja os resultados se multiplicarem.

Referências:

1. Ellen G. White, Caminho a Cristo, pág. 47, Casa Publicadora Brasileira, 1989, Tatuí, SP.

2. —————-, A Ciência do Bom Viver, pág. 176,

Idem, 1990.

3. J. L. Shuler, Securing Decisions – II, pág. 1, citado por Mark Finley, Decisions: Persuading Peoples for Christ, pág. 17, GCSDA, Centro de Educação Contínua, 1984.

MARK FINLEY, Orador do programa Está Escrito