O mundo assistiu horrorizado, no início deste ano, ao desfecho fatal do confronto entre um grupo de religiosos armados e oficiais da polícia americana. Os 51 dias do drama ocorrido na periferia de Waco, Texas, começaram na manhã de um domingo, 28 de fevereiro, quando cerca de 100 agentes assaltaram o Ramo Davidiano, determinados a confiscar armas portadas ilegalmente. O grupo atacado respondeu com tiros que vitimaram quatro policiais. Em seguida, o cerco culminou com a destruição do local de culto e de muitos de seus membros, num incêndio.

Escandalosamente, as pessoas que atiraram nos agentes federais faziam parte de uma organização religiosa. E, supostamente, deveriam ter “voltado a outra face”, não importando o que estivesse acontecendo. Repórteres de jornais referiram-se ao grupo como o “Ramo Davidiano dos adventistas do sétimo dia”. A preposição dos originou grande preocupação entre os adventistas. O que poderia a Igreja fazer para proteger-se da má interpretação que fariam do caso os ex-membros? E o que pode fazer qualquer Igreja para prevenir a proliferação das seitas?

Primeiramente, devemos esclarecer a diferença entre um culto1 e uma seita. Alguns repórteres da tragédia de Waco rotularam o Ramo Davidiano como um culto; outros o chamaram de seita.2 Essa confusão pode ser resolvida se compreendermos o processo de Secularização e seu relacionamento com a religião.

Religião e Secularização

A primeira emenda feita à Constituição dos Estados Unidos proibiu o Congresso de aprovar alguma lei estabelecendo uma religião ou impedindo seu livre exercício. Aprendendo da experiência europeia, o Congresso americano evitou uma religião estatal ou uma igreja estatal. O resultado disso foi o que Rodney Stark chamou de uma “economia religiosa” – o vasto mercado de diversos grupos religiosos competindo para atrair conversos e clientela.3 Essa “economia religiosa” deu origem ao “pluralismo religioso”, definido aqui como um grande número de grupos religiosos competidores, buscando suprir as necessidades espirituais de uma população diversa. No pluralismo religioso nenhum grupo domina em particular.4 Isso contrasta vivamente com outros países onde o monopólio religioso é uma realidade e o Estado favorece um grupo.

Frequentemente muitos sociólogos usam o termo “igreja” num sentido técnico para se referir à instituição religiosa dominante em um país, como a Igreja Católica Romana na Itália, Espanha ou Polônia. Em um mercado religioso pluralístico como os Estados Unidos, não existe uma igreja dominante, mas denominações competidoras.5

Quase todas as crenças religiosas começam como grupos ascéticos, conservadores em doutrina e comportamento. Com o passar do tempo, no entanto, elas se acomodam ao ambiente social e perdem seu antigo fervor. Essa mudança em direção ao mundanismo preocupou John Wesley. Compreendendo que um reavivamento religioso não poderia ser sustentado, ele observou: “Eu sinto que em qualquer lugar que as riquezas aumentem, a essência da religião decresce na mesma proporção. Portanto, eu não vejo como é possível, na natureza das coisas, que um reavivamento da verdadeira religião sobreviva por muito tempo. A religião deve necessariamente produzir indústria e economia, e elas acabam produzindo riquezas. Estas, por sua vez, geram orgulho, ira, e amor ao mundo em todas as formas. Como é possível que o metodismo, que é a religião do coração, deva continuar neste estado? Os metodistas crescem em todos os lugares, por sua diligência e economia. Consequentemente, crescem em bens. E proporcionalmente crescem em orgulho, ira, na concupiscência da carne, no desejo dos olhos e na soberba da vida. Assim, enquanto a forma de religião permanece, o espírito está rapidamente desaparecendo. Será que não há maneira de prevenir isso – esta contínua decadência da religião pura?”6

Wesley estava descrevendo o processo de Secularização no qual o sobrenatural declina em significado. Secularização dá origem ao secularismo, uma maneira de vida que nega a influência do sobrenatural na doutrina e no comportamento. Mas o processo de passagem gradual do sagrado ao secular é determinante para que o declínio espiritual dê origem ao reavivamento e formação de culto.7

Durante os anos sessenta, um declínio espiritual nas principais igrejas, avaliado pela queda na assistência e número de membros,8 aparentemente significou a perda de interesse religioso. Surgiu o movimento “Deus está morto” – ele mesmo, agora, definitivamente sepultado. As pessoas falharam em compreender que o interesse religioso não morrera, mas se transformara em crescimento das denominações conservadoras.9 Stark e Bainbridge sugerem que Deus simplesmente trocou de residência: “Os eruditos no coração da cristandade que proclamam a morte de Deus foram enganados por uma mera troca de residência. A fé vive no coração das seitas e denominações semelhantes, e na maioria das pessoas. Novas esperanças renascem no mercado da religião com o surgimento de cada novo movimento de culto. …

“Longe de marcar um afastamento radical na História e uma era de infidelidade, a Secularização é um antigo processo de transformação. Num ciclo infindável, a fé é reavivada e novas crenças nascem para tomar o lugar daquelas denominações que definharam e perderam o senso do sobrenatural. Através da Secularização, as igrejas reduzem suas tensões com o meio ambiente sociocultural, possibilitando o crescimento de cultos e seitas, e, em troca, a sua própria transformação.10

Para Stark e Bainbridge, a Secularização “não destrói a necessidade humana de religião”; pelo contrário, encoraja a experiência religiosa.11 Essa situação proporciona a entrada em cena de seitas e cultos, desde que “Secularização significa a transformação da religião, não sua destruição.”12 Quando a religião torna-se muito secular, cada reavivamento produzirá formação de seitas ou estranhas inovações religiosas vistas no contexto de cultos. Seitas e cultos são duas respostas bem diferentes à Secularização.

Seitas

Podemos definir uma seita como um grupo religioso que se diz a verdadeira expressão de uma fé religiosa tradicional, e cujos comportamento e crenças desafiam as normas da sociedade. Seitas são grupos separatistas, cismáticos, que “se apresentam ao mundo como algo antigo. Elas deixaram o ramo original, não para formar uma nova fé, mas para estabelecer a velha da qual a ramificação principal se afastou (usualmente por institucionalizar-se). As seitas se dizem uma versão autêntica, purificada e restaurada da fé que lhes deu origem. Lutero, por exemplo, não dizia estar liderando uma nova igreja, mas a verdadeira igreja, livre das incrustações mundanas.”13 O próprio cristianismo começou como uma seita do judaísmo.

Nós encontramos expressões de reforma em muitas organizações religiosas. Por exemplo, os adventistas do sétimo dia, surgiram depois que vários crentes se separaram das Igrejas Batista, Metodista, e outras principais denominações, para formar o movimento millerita que anunciou a vinda de Cristo para 22 de outubro de 1844. Depois do grande desapontamento, muitos adventistas se reanimaram e foram proclamar os ensinamentos bíblicos que outras igrejas haviam negligenciado.

Por causa das crenças que uma seita restaura, ela pode representar a grande expressão da fé original. Através dos anos, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem visto a si mesma dessa forma. E ela não é a única a alimentar tal visão. Para H. Richard Niebuhr, o aspecto denominacional de uma organização religiosa representa acomodação ao mundo; “a confissão de derrota de uma igreja e o símbolo de sua rendição.”14 Mas o verdadeiro povo de Deus jamais pode estar totalmente à vontade neste mundo, porque o evangelho permanece sempre em desacordo com ele (I Cor. 1:18-31). Assim, uma seita pode ser uma forma purificada de expressão religiosa, divorciada das influências da sociedade externa.

Cultos

Um culto, em contraste, é um novo movimento religioso que representa uma separação radical das tradições religiosas existentes. Algumas vezes uma seita torna-se “a fase inicial de uma religião inteiramente nova” um culto.15 Embora tenhamos dito que o cristianismo do primeiro século era uma seita do judaísmo, ele era um culto para várias religiões na Roma pagã, como o mitraísmo. Quer seja doméstico ou importado, um culto representa uma forma nova e diferente de expressão religiosa na sociedade.

Necessitamos considerar quatro pontos adicionais a respeito de cultos e seitas. Primeiro, embora haja diferenças entre as duas coisas, elas não são ‘‘alternativas funcionais” à Secularização. Mais que isso, são respostas diferentes à Secularização em diferentes estágios do processo. “A formação de seitas é, em parte, uma resposta ao estágio inicial de debilidade nas igrejas convencionais. A formação de culto tende a surgir num estágio posterior, quando grande parte da população tem-se desligado de todos os laços denominacionais em direção às crenças predominantes.”16

Segundo, em virtude de que as seitas estão preocupadas com reavivamento, elas tendem a proliferar em áreas onde as religiões conservadoras são fortes. Os cultos, no entanto, tendem a surgir onde a Secularização exerce um efeito muito forte sobre a religião; áreas débeis em tradição religiosa.17

Terceiro, nem todo reavivamento resulta na formação de seita. Pode haver períodos ocasionais de reavivamento em uma organização, fazendo-a sair do abismo de declínio espiritual e secularismo. Os adventistas do sétimo dia têm experimentado muitos desses periódicos reavivamentos em regiões como a África, Ásia e América do Sul, e em campus de colégios nos Estados Unidos. O fato de que isso tem lugar em sociedades subdesenvolvidas e em campus de colégios não é coincidente. A mudança ocorre geralmente entre grupos que investem pouco no sistema prevalecente e, portanto, têm pouco a perder e muito a ganhar com uma mudança espiritual.

Finalmente, o quarto ponto; é possível a um grupo sectário originar um culto. Isso acontece quando os ensinamentos da seita não produzem um retomo “às verdades antigas”, e se tomam uma “nova luz”, desligando o grupo de suas conexões anteriores, resultando na emergência de uma “nova religião”.18 Isso foi verdade no caso de Jim Jones, cujo grupo começou como uma seita emocionalmente carregada, sendo ele mesmo ordenado depois de nove anos pelos “Discípulos de Cristo”. Esse grupo tomou-se um culto quando Jim Jones começou a olhar-se como um deus, levando a extremos de doutrina e comportamento.19 O mesmo aconteceu com o Ramo Davidiano, que começou como uma seita liderada por Victor Houteff e tomou-se um culto sob a direção de Ben Roden e, depois, David Koresh.

Seitas estabelecidas

Como foi dito anteriormente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma seita, na medida em que ela esteja mais e mais acomodada ao mundo – noutras palavras, mais e mais denominacionalizada, especialmente em áreas onde suas instituições, como hospitais e escolas, dominam. Nesses lugares usualmente surgem reavivamentos. Igrejas de negros e latinos tendem a ser mais sectárias – em choque com o mundo e separatistas – que as igrejas de brancos europeus e americanos. Isso, em parte, se deve ao fato de que a sociedade, com suas discriminações raciais e sociais, está em choque com pessoas de cor, que, em contrapartida, buscam refúgio na igreja.20 Dizer que a Igreja Adventista é uma seita não sugere algo negativo, mas reconhece como ela surgiu no cenário americano, seu crescimento e desenvolvimento, e suas crenças doutrinárias.

Por causa do seu crescimento numérico, sua presença institucional e organização global, a Igreja Adventista do Sétimo Dia mais especificamente reflete a topologia social de uma “seita estabelecida”. Essa categoria descreve melhor o adventismo porque o próprio termo – seita estabelecida – reflete uma dualidade, uma dinâmica tensão. William H. Swatos Júnior fala disso como uma “aparente contradição. … ‘Seita’ indica a rejeição do mundo, enquanto ‘estabelecida’ dá a conotação de aceitação do mundo”.21

Stark e Bainbridge afirmam: “A seita ideal declina de acordo com a intensidade da tensão ambiental, levando seus membros a se tomarem fugitivos.”22 Exemplo disso foi o que ocorreu com a Igreja primitiva, sob o judaísmo e o Império Romano, e sob a Inquisição espanhola. “A denominação ideal apoia-se em outro extremo, por assim dizer, de contínuo envolvimento sociocultural. As duas coisas são tão fundidas que é impossível pressupor uma base para choque.”23

Como um grupo ascético progride e torna-se uma seita estabelecida, transformando-se a sua maneira numa denominação, surgirão grupos cismáticos, ou o que os adventistas chamam de “organizações derivadas” ou “movimentos apóstatas”. São seitas que surgem da ramificação principal, nesse caso, a Igreja Adventista. Desde os primórdios, muitos grupos sectários ou derivados surgiram. Além de indivíduos como John Harvey Kellogg, A. T. Jones, D. M. Canright, A. F. Ballenger e Desmond Ford, houve grupos como o “Mensageiro” (1853-1854); “A Esperança de Israel” e o “Grupo Marion” (1858-1866); o “Movimento da Reforma – Alemanha” (1915); os “Adventistas do Sétimo Dia Reformados” (1916); os “Adventistas do Sábado Unidos” (1930); e o movimento “Vara do Pastor” (1929), o qual posteriormente tomou o nome de “Adventistas do Sétimo Dia Davidianos”.24

Como pode ser notado, dos nomes desses vários grupos, e à semelhança da atitude de Lutero diante do catolicismo, e Guilherme Miller frente às igrejas protestantes nos anos 1830 a 1840, esses grupos não estavam necessariamente interessados em romper com a Igreja, mas em reformá-la. Cada um acreditava possuir “nova luz”, e ser a “versão autêntica, purificada e restaurada da fé”.

Ramificações davidianas

Os davidianos surgiram através de Victor Houteff, um búlgaro membro da congregação adventista do sétimo dia em Los Angeles. Em 1929 ele expôs seus ensinamentos numa classe da Escola Sabatina, da qual era líder. No ano seguinte, publicou um livro, The Shepherd’s Rod (A Vara do Pastor), nome que mais tarde identificaria o grupo. Por razões de espaço não podemos apresentar detalhadamente seus ensinamentos, neste artigo.25 Essencialmente o grupo cria que Deus iria restaurar o reino de Davi, do qual eles, os davidianos, eram o núcleo, depois de destruir os adventistas que rejeitaram a mensagem pregada por eles. “Os 144 mil deveriam ser os adventistas sobreviventes à destruição mencionada em Ezequiel 9.”20

Desligados da Igreja em 1930, Houteff e onze seguidores mudaram-se para Waco, Texas, uma área religiosamente conservadora, com cerca de 200 igrejas – a maioria fundamentalista. Ocuparam uma propriedade nos arredores da cidade e denominaram-na “Monte Carmelo”.

Em 1942, o grupo foi oficialmente denominado Davidianos Adventistas do Sétimo Dia, em virtude das regulamentações governamentais durante a Segunda Guerra Mundial. Houteff morreu em 1955. Ele não deixou sucessor, pois não esperava morrer. Mas, como é comum acontecer com novas seitas, grupos separatistas foram surgindo devido às discórdias doutrinárias.27 Em meio à confusão, a viúva de Houteff, Florence, assumiu a liderança do grupo.

Em 1959 ela predisse que Deus iria intervir na História e estabelecer o reino de Davi. Cerca de mil pessoas venderam todos os seus pertences e se reuniram no “Monte Carmelo” para aguardar a restauração do reino, mas a profecia falhou. Depois disso, surgiram muitos grupos derivados, mas, um deles, fundado por Benjamin Roden, o “Ramo Davidiano”, tornou-se o mais expressivo. Florence Houteff deixou oficialmente os Davidianos Adventistas do Sétimo Dia em 1962,28 e junto com outros grupos davidianos continuou a operar sem conexão com o Ramo Davidiano, em Waco.

A esta altura do processo de transformação da seita, os davidianos passaram a ser um culto, o Ramo Davidiano. Esse processo de transformação começa a ter lugar com o surgimento de grupos sectários, que adotam, não novos ou velhos ensinamentos, como fazem as seitas, mas radicalmente novos ensinamentos que fundamentalmente se chocam com a Bíblia, com o cristianismo básico e com o adventismo do sétimo dia. Ultimamente seus líderes olham a si mesmos como o Rei Davi e Jesus Cristo. Também exigem de seus seguidores o cumprimento de rígidas normas de comportamento.

Roden transferiu o centro do “Monte Carmelo” para o lugar onde houve o confronto, não muito longe do original. Dizia-se o Davi antitípico, e morreu em 1978. Sua esposa, Lois Roden, assumiu o comando e adotou um ensinamento com o qual ele jamais concordara – que o Espírito Santo era a parte feminina da divindade. Ela publicou uma revista chamada Shekinah, com ênfase na sílaba she (ela, em inglês). Também promoveu a ordenação de mulheres.

No ano de 1981, um ex-adventista, Vernon Howell, juntou-se ao grupo e logo tirou a liderança das mãos de George Roden, filho de Ben e Lois Roden, após um confronto armado. Howell trocou seu nome para David Koresh, pois acreditava ser o Davi antitípico e também uma figura de Ciro (Koresh, em hebraico), de quem a Bíblia diz que Deus iria “dirigir em todos os seus caminhos”, e que iria reconstruir a cidade de Jerusalém, libertando os cativos (Isa. 45:13).

Koresh também ensinou que ele era a encarnação pecaminosa de Jesus Cristo. E por isso somente ele poderia ter relações sexuais com as mulheres no acampamento. Adicionalmente, somente ele poderia abrir os sete selos do livro do Apocalipse. Koresh explorou seu vasto conhecimento das Escrituras para manipular os seguidores em seu próprio interesse.

Desejo de poder

Muito pode ser dito a respeito de Koresh, mas quatro coisas pelas quais ele tornou-se obsessivo levantam importantes questões. Por que a obsessão com os sete selos e a crença de que somente ele poderia abri-los? Por que a centralização de posses e controle absoluto do dinheiro? Por que a obsessão com o sexo promíscuo, sendo ele o único “privilegiado”? Por que a obsessão com canhões e poderosas armas de fogo?

Conquanto esses quatro fatores sejam em princípio muito diferentes, eles têm um importante denominador comum – poder. David Koresh, tal como muitos outros líderes de culto (Jim Jones, Charles Manson, etc.), era obsecado pelo poder. Todos nós desejamos poder; pois sem ele estamos desamparados. Nada é tão insignificante como uma existência sem poder. Mas o uso correto do poder está baseado na escolha, não sobre coerção. É assim que Deus utiliza o poder -sem violação do livre-arbítrio.29

Numa época de rápidas mudanças sociais e culturais, onde todos os valores parecem estar à venda, o resultado é sempre confusão espiritual. Algumas pessoas tornam-se vulneráveis a um líder de culto que se levanta proclamando ser o único a ter as chaves do futuro e dar significado à História e à vida diária. Quando esse elemento possui carisma, persuasão e profundo conhecimento da Bíblia, ele verte uma tremenda fonte de poder pessoal, atraindo prestígio, adulação e estima dos seus seguidores, muitos dos quais são neófitos na compreensão bíblica. Isso é o que está por trás da pretensão de ser o único que poderia abrir os sete selos do Apocalipse, uma complexa série de profecias não compreendidas por muitos cristãos.30

Nós vivemos em uma sociedade onde o dinheiro é tido como a grande fonte de poder. De acordo com o apóstolo Paulo, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (I Tim. 6:10). Por extensão, riquezas e posses materiais tomam-se uma fonte de independência e manifestação de vontade própria. Quando os membros se juntaram ao grupo de Koresh, toda forma de independência teve de ser abandonada, incluindo a aquisição de bens materiais. Privando os membros de influências exteriores, Koresh não apenas centralizou as riquezas nele mesmo, mas também controlou o grupo, fazendo-o dependente de si.

O sexo tem sido um dos mais fortes impulsos humanos e uma das mais violentas armas usadas contra mulheres. Basta refletir na prática de estupro como arma de guerra, utilizada contra as mulheres da Bósnia-Herze-govina, pelos sérvios. Unem essa fonte de poder ao conceito de que as mulheres devem ser absolutamente submissas ao homem, em todos os casos, ao ponto de que não tenham consciência individual. Koresh insistiu em que as mulheres o ajudassem, na qualidade de Cristo pecaminoso, a experimentar pessoalmente o pecado a fim de que pudesse salvar seres humanos pecaminosos. Fazendo assim, ele prometeu que elas seriam “rainhas no Céu”.31 A força total dos enganos deu a Koresh poder para controlar e manipular.

Em uma sociedade violenta como a nossa, a última fonte de poder reside na produção armamentista. A obsessão de Koresh por canhões nada mais foi do que a utilização da última forma de poder – a habilidade de infligir morte. No caso de Jim Jones, isso foi visto em seu poder de convencimento para levar pessoas à morte voluntária. Para Koresh, a pretensão de abrir os sete selos, controlar o dinheiro e as posses de seus seguidores, utilizar as mulheres com propósitos sexuais, além de ter um sofisticado arsenal, foram atos que cumpriram os quatro níveis de poder, cuja expressão derradeira é a habilidade de controlar a vida e a morte.

Os corpos queimados de aproximadamente 86 homens, mulheres e crianças deram o testemunho de que a força mais sedutora no mundo é o poder. É a coisa que os seres humanos mais desejam. E para possuí-lo, os mais hediondos crimes são praticados. David Koresh levou o apego ao poder às últimas consequências.

Referências:

1. Devido a que o termo culto possui tal conotação negativa no pensamento popular, alguns sociólogos preferem usar a expressão “novos movimentos religiosos”.

2. Ver artigos “Segredos do culto”, Newsweek, 15 de março de 1993; “Em nome de Deus”, Time, 15 de março de 1993; e “O Messias do mal”, People, 15 de março de 1993.

3. Rodney Stark, Sociology, 4ª edição; Belmont, Califórnia; Wadsworth Pub. Co., 1992, pág. 410.

4. O caso Waco, juntamente com outros atos extremistas religiosos ao redor do mundo, levanta novamente a questão da necessidade de se controlar ou não a religião. Ver Thomas Robbins, William C. Shepherd e James McBride, Cults, Culture, and Law: Perspectives on New Religious Movements, Chico, Califórnia; Scholars Press, 1985.

5. H. Richard Niebuhr, The Social Sources of Denominationalism, Nova Iorque, Henry Holt, 1929.

6. H. Richard Niebuhr, op. cit., pág. 70.

7. Rodney Stark e William Sims Bainbridge, The Future of Religion: Secularization, Revival, and Cult Formation; Berkeley, Califórnia, 1985.

8. Wade Clark Roof e William McKinney, American Mainline Religion: Its Changing Shape and Future, New Brunswick, 1987.

9. Dean Kelley, Why Conservative Churches are Growing, Nova Iorque, 1972.

10. Stark e Bainbridge, op. cit., pág. 529.

11. Ibidem, pág. 304.

12. Rodney Stark e William S. Bainbridge, A Theory of Religion, Nova Iorque, 1987, pág. 279.

13. Stark e Bainbridge, The Future of Religion, pág. 25.

14. H. Richard Niebuhr, op. cit., pág. 265.

15. Keith A. Roberts, Religion in a Sociological Perspective, Belmont, Califórnia, 1990, pág. 196.

16. Stark e Bainbridge, The Future of Religion, págs. 444 e 445.

17. Finke e Stark, The Churching of America, 1776 a 1990.

18. Stark e Bainbridge, A Theory of Religion, págs. 186 e 187.

19. Jeannie Mills, Six Years With God: Life Inside Rev. Jim Jones Peoples Temple, Nova Iorque, 1979.

20. Eric Lincoln, The Black Experience Into Religion, Nova Iorque, 1974; e The Black Church in the African-American Experience, Durham, 1990.

21. William H. Swatos Júnior, Intro Denominationalism: The Anglican Metamorphosis, 1979, pág. 12; Gary Schwartz, Sects Ideologies and Social Status, Chicago, 1970; e Malcolm BulI e Keith Lockhart, Seeking a Sanctuary: Seventh-Day Adventism and the American Dream, Nova Iorque, 1989.

22. Stark e Bainbridge, The Future of Religion, pág. 23.

23. Ibidem.

24. Seventh-Day Adventist Encyclopedia, Washington DC; R&H, 1976.

25. Muitos documentos foram publicados pelo Comitê de Defesa e Literatura da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, sobre os ensinamentos dos davidianos: The History and Teachings of “The Shepherd’s Rod”: The Story of the “Shepherd’s Rod” (1955); Some Teachings of the Shepherd’s Rod Examined (1956); Report of a Meeting and a Group of General Conference Ministers (1959).

26. Marc A. Breault, “Antecedentes sobre o Ramo Davidiano Adventista do Sétimo Dia de 1955 ao início de 1991”; manuscrito, 17 de abril de 1991.

27. The History and Teachings of “The Shepherd’s Rod”: The Story of the “Shepherd’s Rod”.

28. “Davidianos Adventistas do Sétimo Dia – A Vara do Pastor”, Seventh-Day Adventist Encyclopedia.

29. Caleb Rosado, “The Stewardship of power”, Ministry, julho de 1989.

30. Marc A. Breault, “Vernon Howell e os Sete Selos”, documento, s/d.

31. Ibidem, pág. 15.

CALEB ROSADO, Professor de Sociologia na Humboldt State University, Califórnia, EUA