O estudo dos livros proféticos da Bíblia pode ser uma experiência deveras estimulante para aqueles que a realizam com cuidado e zelo. Esses livros são, muitas vezes, postos de lado sob a falsa desculpa de serem demasiado difíceis, excessivamente técnicos, e até desinteressantes.

A principal razão da dificuldade na leitura de um livro de profecia, deve-se ao fato de o leitor não estar familiarizado com os vários aspectos do cenário do mesmo. Como cristãos, temos fixado nossas esperanças quanto à vida presente e futura em três grandes fatos da fé: “a crença na existência de Deus, a Bíblia como sendo o Livro de Deus e Deus falando por intermédio de Seus profetas. Ele nos deu este Livro – a Bíblia”.1

Mas há uma urgente necessidade: a do estudo da parte profética da Bíblia, um assunto olvidado por muitos. Diz Ellen G. White: “Muitos há que não compreendem as profecias referentes aos nossos dias e precisam ser esclarecidos”.2

Ao estudarmos um livro escrito por um profeta, é muito necessário que tenhamos uma imagem mental do autor do livro, seu ambiente familiar, seu caráter e sua história pessoal. Tomaremos como exemplo o profeta Isaías, deixando que seu testemunho pessoal nos possibilite uma imagem mental a seu respeito que permita uma melhor compreensão dos seus escritos.

Seu nome

O nome de Isaías é deveras significativo, pois é composto de duas palavras hebraicas Yesha’ – Yahu, que significam “O Senhor é Salvação” ou “Jeová Salva”.

“Este é o tema da mensagem de Isaías: que a salvação é recebida somente pela graça e pelo poder de Deus.”3 Duas palavras favoritas ao longo do livro foram traduzidas por “Ele salvará”. Certamente recebeu esse nome por desígnio divino.

Sua posição entre os profetas

Isaías é considerado o maior dentre todos os profetas escritores. Sua profecia é uma das mais longas. É o profeta mais citado no Novo Testamento. Basta conferir as seguintes referências: S. Mat. 4:14 a 16; 8:17; 12:17 a 21; S. Luc. 4:16 a 21; S. João 1:13; 12:38 a 41; Atos 8:18; Rom. 9:27 a 29; 10:16 a 20; 15:12.

Ele foi um dos responsáveis pelas reformas radicais, introduzidas pelo Rei Ezequias, e atuou em épocas de crise nos reinos de Israel e Judá. “Foi o maior profeta e príncipe dos videntes do Velho Testamento. Insuperável na dicção, no brilho das mensagens, na versatilidade, beleza de estilo e amplitude profética.”4 Exerceu o ministério profético por muitos anos e, segundo Ellen G. White, “durante sessenta anos ou mais ele permaneceu diante dos filhos de Judá como um profeta de esperança”.5 Grande parte de seu livro está em forma poética.

Época em que viveu

Já no primeiro versículo do livro, aprendemos que a maior parte de seu ministério público teve lugar no reinado de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá. No período desses reis houve grande prosperidade política, principalmente nos dias de Uzias, que pode ser considerado “o mais próspero que Judá conhecera desde Salomão”.6

O período era de grande riqueza, luxo, arrogância, segurança carnal, opressão aos pobres, decadência moral e culto formal. “Não havia integridade, não havia princípio, não havia religião… Os israelitas insurgiram-se contra os israelitas como canibais (Isa. 9:19), mostrando uma barbárie que teria sido chocante entre pagãos.”7

Isaías foi contemporâneo de Amós, Oséias e Miquéias. A época e circunstâncias por eles vividas foram basicamente as mesmas. Época excessivamente marcada por forças assírias, prestes a invadir as terras de Judá, apostasia e perversidade de seu povo, e uma condição social corrupta e injusta. Isaías era homem indicado para ser porta-voz de Deus num momento assim.

Seu caráter

Era ousado, valente, absolutamente sincero. Mostrava-se rigoroso e intransigente quando a ocasião exigia, mas seu coração era também temo e bondoso. “Nenhuma classe escapou às suas acusações severas: reis, oficiais, sacerdotes, o povo em comum e até as mulheres (Isa. 3:16 a 26). Não fez distinção. Apenas cumpriu o dever que recebera de Deus.”8

Quando chamado por Deus à missão profética, pensou em abandoná-la devido à resistência que teria de enfrentar. Porém, ao contemplar a visão da Glória Divina (Isa. 6), sentiu confirmada a comissão que lhe fora outorgada por Deus. Era homem de grande espiritualidade e fé. Não havia lugar em sua vida para o mundanismo e a dúvida. Via os homens e as coisas do ponto de vista divino e à luz da eternidade. Era gênio em muitos aspectos, devido a seus talentos como poeta, estadista e orador.

Sua história pessoal

Embora não se conheça muito a esse respeito, sabemos que era filho de Amós – não o profeta. Segundo o Talmude, esse Amós era irmão do Rei Amazias. E Ellen G. White afirma: “Isaías era da linhagem real, e foi chamado quando ainda jovem”.9

Seus escritos refletem que possuía um refinado intelecto, boa educação, conhecimento das Escrituras e da situação política da época. Era casado e tinha dois filhos. Sua mulher foi chamada de profetiza (Isa. 8:3). Seus filhos tinham os nomes de Maher-Sha-lal-Bas (Rápido-despojo-presa-segura, cf. Isa. 8:3) e Shear-Jashub (Um resto-volverá, cf. Isa. 7:3). Esses nomes peculiares se aplicam aos dois pontos básicos do livro: 1) os israelitas se recusam afastar-se da idolatria e do pecado e, 2) depois do castigo permitido por causa do seu pecado, Deus permitiria ao povo que voltasse à sua própria terra.

“Jerusalém foi o cenário principal de seus labores, chegou a ser orador da corte, conselheiro político, estadista da nação por muitos anos.”10

Uma antiga tradição (Talmude) narra que foi martirizado pelo Rei Manassés. Consta que foi serrado em duas partes, no meio de um tronco oco de árvore (Heb. 11:37). Ellen White, por sua vez, assegura: “Manassés derramou muito sangue inocente… e um dos primeiros a cair foi Isaías.”* 11

Sua mensagem

Anota tônica de sua pregação resume-se no castigo pelos pecados e a salvação pela justiça.

John Phillips escreveu: “Num momento sua mensagem é negra como o trovão. No seguinte, o arco-íris brilha.”12 É conhecido pelas profecias messiânicas (Isa. 53), e chamado por Ellen White de “profeta evangélico”. 13

O livro de Isaías apresenta-nos abundante material a respeito de Deus, Seus atributos, Seu caráter, Suas obras e Sua incomparável grandeza. Talvez, neste aspecto, seja o livro mais rico em toda a Bíblia, especialmente os capítulos 40 a 45.

Eis um exemplo de suas referências aos atributos divinos:

1. Deus Auto-Existente – Isaías 44:6; 46:10

2. Deus Auto-Suficiente – Isaías 44:24

3. Deus Eterno        – Isaías 40:28; 58:15

4. Deus Imutável – Isaías 46:3 e 4; 48:12

5. Deus Onisciente – Isaías 42:9; 46:9 e 10

6. Deus Sábio         – Isaías 40:13 e 14

7. Deus Onipotente – Isaías 40:26 a 31; 45:24

8. Deus Onipresente – Isaías 57:15; 66:1

Conclusão

O centro da mensagem de Isaías era o ensino do verdadeiro significado da religião e da verdadeira natureza de Deus. Nenhum outro falou e compreendeu tão bem a santidade e a grandeza de Deus, a pessoa e a missão de Cristo, e o propósito glorioso de Deus para Sua Igreja. Com justiça é considerado o Rei dos célebres profetas de Israel, e seus escritos, a obra mestra de todos os escritos proféticos.

Possivelmente, se fixássemos o objetivo de buscar esse quadro mental, isso serviria para despertar o desejo de conhecer os livros proféticos e, Consequentemente, receberíamos bênçãos advindas de tal estudo.

Possa a graça de Deus nos impulsionar a essa iniciativa.

Referências

1. Denton Edward Rebok, Crede em Seus Profetas, Casa Publicadora Brasileira, Santo André, SP, 1959, pág. 19.

2. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 194.

3. Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, SP, pág. 259.

4. Merrild F. Unger, Unger’s Bible Handbook, Grand Rapids, MI, EUA, Zondervan Publishing House, 1966, pág. 506.

5. Ellen G. White, Profetas e Reis, págs. 303 e 304.

6. J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1988, vol. 1, pág. 735.

7. John Brught, História de Israel, Edições Paulinas, São Paulo, SP, 1985, pág. 364.

8. Irving L. Jensen, Isaías e Jeremias: Estudo Bíblico, Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1987, pág. 32.

9. Ellen G. White, Profetas e Reis,, pág. 298.

10. SDBAC, R&H Publishing, vol. 4, pág. 125.

11. Ellen G. White, Profetas e Reis, pág. 371.

12. John Phillips, Exploring the Scriptures, Moody Publishing House, Chicago, 1965, pág. 131.

13. Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, pág. 43.

VOLNEY KÜHL, Diretor de Comunicação da Federação Catarinense