Como um pastor enfrentou uma surpreendente acusação.

Os tratamentos com choques elétricos no cérebro são algumas vezes úteis no tratamento de uma doença mental, especialmente a depressão. Eles são usados como um último recurso para forçar os impulsos do pensamento já enraizado, passando a uma nova forma de pensar e um novo equilíbrio na vida.

Esta terapia de choque foi exatamente a que recebi em uma tarde quente de domingo. Não me sentia deprimido. Não me encontrava em uma clínica, diante de um terapeuta segurando um instrumento ameaçador. Ocorreu quando estava indo para casa, voltando de uma reunião campal, com minha esposa, Elaine, e nossa filhinha. Enquanto eu dirigia, passando pela Usina Nuclear de Hanford, Elaine lançou uma bomba. Virou-se para mim e disse: “Steve, você está tendo um caso e estou sofrendo por isso”. Quando olhei para seus olhos sérios, quase saí da estrada.

“Não tenho intimidade com qualquer outra mulher”, eu disse.

“Sim”, ela retrucou. “Você tem. Tenho-o visto frequentemente com ela e estou com ciúmes.”

Fiz uma revisão mental. Que estava ela querendo dizer? Eu era zeloso a tal ponto de levar alguém comigo quando tinha que fazer uma visita a uma mulher.

“Você está falando sério”, eu disse após um longo silêncio. “Isso é uma acusação, uma incriminação. Você crê nisso? Alguém disse alguma coisa a você?” O silêncio encheu o carro, exceto por uns soluços abafados. Ela apanhou um lenço.

“Ninguém falou nada comigo sobre isso. Eu estive apenas observando”, ela disse finalmente. “O caso que você está tendo é com uma mulher. É a mulher descrita por João em Apocalipse – a Igreja.”

Senti um alívio momentâneo. “Ufa! Pensei que você estivesse se referindo a um caso real com uma pessoa de fato”, respondi.

“Ela é uma mulher real e uma verdadeira ameaça a nosso lar”, Elaine replicou.

Procurei assegurar-lhe de meu amor, de que ela era a primeira em minha vida, mas meus esforços foram em vão.

Continuamos silentes ao longo do percurso. Senti-me molestado por não poder convencê-la de que ela era muito importante para mim. Sinto-me pesaroso quando não posso resolver as coisas imediatamente. “E agora, Senhor”, pensei. “Ela está certa?”

O Espírito Santo falou-me. Comecei a ver em uma nova luz. Pensei sobre como Elaine havia repetidamente tentando chamar a minha atenção. Eu sempre estava ao telefone ou saindo em disparada para alguma reunião importante. Ela continuou sinalizando, mas eu estava “ganhando” almas. Meus motivos eram sinceros. Desejava ver a vinda do Reino, mas havia negligenciado nosso relacionamento.

“Elaine”, reiniciei a conversa, “vou começar a ter um dia livre por semana. Vou…”

Elaine me interrompeu: “Não, não me diga o que você vai fazer. Você é semelhante a um alcoólatra. Já ouvi essas promessas antes. Não quero ouvi-las de novo”.

Cheguei em casa com os olhos vermelhos e desencorajado. Naquela noite apresentei ao Senhor a minha dor. Eu estivera sobrecarregado no acampamento, assumindo as responsabilidades de dois ministros que não haviam aparecido para ajudar. Não houve tempo para conversar com Elaine. Estive tão ocupado fazendo o trabalho do Senhor, e assumi que nosso ótimo relacionamento sempre seria o mesmo. Poderia nosso amor estar morrendo? Poderia ele se esgotar e enrijecer-se?

A dor tornou-se mais intensa para mim nos dias que se seguiram. O Senhor me mostrou meu desequilíbrio. Havia posto a Igreja em primeiro lugar; Deus em segundo; e minha família por último. Humildemente entreguei todo o meu trabalho na igreja ao Senhor. A paz inundou-me. A insegurança e o temor haviam me levado a uma sobrecarga de trabalho para Deus – 70 a 80 horas por semana. Sentia-me esgotado.

Uma contemplação prolongada do Calvário começou a mudar minhas prioridades. Entreguei a Jesus minha carga de estudos bíblicos. Estranhamente, uma a uma, nos meses seguintes, as pessoas foram concluindo seus estudos. Normalmente eu estava exasperado, mas agora via que Deus me sujeitou a fim de que Ele pudesse iniciar a edificação à Sua maneira. Ele livrou-me do papel de salvador. Agora quero que Ele me mostre como, quando e onde ministrar. Tenho um dia livre por semana, e passo algum tempo diariamente com minha família.

Efésios 5:25 tornou-se um novo texto para mim. A alegria entrou em meu lar. Contrariamente ao que eu temia, a igreja prosperou. Tornei-me um homem feliz. Finalmente, aprendi a colocar as prioridades em seu devido lugar: Deus, a família e, então, o trabalho. Exatamente assim.

Tratamento de choque! Necessitava precisamente disso. Deus usou uma esposa de oração para me ajudar. Obrigado, Elaine!

STEVE HUEY