Que pontos em comum possuem entre si o marxismo e o adventismo? Usando as palavras do apóstolo Paulo, eu diria: “muitos, e de muitas maneiras’’. E, embora não seja o propósito deste artigo examinar as “muitas maneiras’’ nas quais eles se assemelham, tomaremos dois significativos relacionamentos que podem ser incluídos nos “muitos” pontos semelhantes.

O marxismo é um movimento escatológico que reflete uma grande porção de conteúdo cristão. Ele começa como um movimento com uma missão global de anunciar uma era de paz e igualdade social, por meio da pregação de sua própria versão de “boas-novas”. De início, deve ser posto bem claro que a razão pela qual o marxismo odeia o cristianismo é que em lugar de serem oponentes, são rivais. Possuem seus próprios profetas, suas próprias escrituras, seus rigorosos códigos de ética, bem como sua própria visão escatológica do planeta Terra.

O marxismo sempre esteve competindo com o cristianismo na disputa pela mente humana. Sempre lutou pela vitória, através de sua própria visão do “grande conflito”.

Gerações de jovens idealistas sempre ficaram entusiasmados pela mensagem essencial marxista, ou seja, a de que todos devem fazer “tudo o que puderem em favor do bem-estar geral da sociedade”. Assim, os indivíduos colocariam o máximo na panela coletiva, enquanto tirariam dela apenas o necessário. Na sua melhor interpretação, esse conceito está bem próximo do coração da ética cristã e judaica.

Uma razão por que Kari Marx desprezou o cristianismo é que ele o viu como um caminho inadequado para a bem-aventurança milenar. Pior! O cristianismo foi uma enganosa mentira. Prometeu a verdade, mas tornou-se uma decepção. Por exemplo, em vez de operacionalizar os valores cristãos, o cristianismo Ocidental, diz Marx, enalteceu a sobrevivência da lei do capitalismo, e tornou-se um instrumento de controle das massas, nas mãos dos poderosos. Por conseguinte, Marx considerou o cristianismo o “ópio do povo’’ — uma maneira de levá-lo a engolir o remédio da opressão. Para ele, o cristianismo tornou-se o anticristo.

Marx e seus seguidores descobriram sua própria “verdadeira filosofia’’ — sua própria religião, suas avenidas para a salvação, e sua própria estrada para o reino milenar. Suas crenças impeliram missionários através de todo o mundo. Por essa razão, o marxismo não deveria ser visto como um sistema econômico, mas como uma filosofia escatológica na qual o socialismo econômico foi um aspecto essencial.

A escatologia marxista foi construída sobre a filosofia de George Wilhelm Friederich Hegel, especialmente a sua tríplice dialética, cuja filosofia histórica seguia uma progressão através da oposição de forças contrárias. Isto é, a cada ideia ou tese deveria contrapor-se uma outra, formando uma antítese. O resultado disso seria uma nova resolução ou síntese. Essa nova síntese deveria, por sua vez, tornar-se uma tese que seria contrariada por uma nova antítese, que formava uma nova síntese, e assim por diante. Para Hegel, a História era progressiva e dinâmica. Ela fluía do ponto A para o B, para o C, etc.

Todavia, Marx, em sua adaptação do Hegelianismo, estabeleceu que a dialética poderia ter um fim. A síntese final culminaria com a ditadura do proletariado, quando os ideais de igualdade social seriam finalmente concretizados em todo o mundo, seguindo-se um tempo de paz e prosperidade para todos. A era do opressor passaria para sempre. O reino milenar marxista seria estabelecido.

A falha marxista

Mas esse sonho escatológico falhou. Por quê? O que havia de errado com esta fórmula do tempo do fim?

Essa não é uma questão fácil de responder. Antes de iniciar meus estudos doutorais, sentindo uma certa frustração com a igreja e minha própria vida pessoal, afastei-me do ministério e estava determinado a deixar também a igreja e o cristianismo. Mas eu necessitava de uma resposta para a vida. Assim, dediquei-me ao estudo das filosofias sociais. Fiquei então fascinado pelas doutrinas revolucionárias que estava absorvendo. Eram teorias muito bonitas, estruturadas sobre os melhores valores humanos.

Mas ao fim de alguns anos de estudos, fui forçado a enfrentar uma dura questão: “É tudo tão bonito; mas por que não funciona?’’

Minha resposta é que o espírito socialista revolucionário, marxista ou não, não leva em conta a verdadeira natureza da humanidade e o problema do pecado.

Soa muito bom para os idealistas de visão cor-de-rosa dizerem que todos devem colocar o máximo que puderem e tirar o que necessitam. Todavia, na prática, as pessoas tiram o máximo possível, e colocam o mínimo possível. Assim, o socialismo marxista falhou.

Mas ele foi estruturado sobre uma boa doutrina, pelo menos em parte. Muitos fanáticos conservadores americanos ficam chocados quando se voltam para o Céu e encontram um Deus atuando como socialista. Ele não pode ser um capitalista.1 O vigor funcional do capitalismo está baseado sobre a compreensão da verdade do egoísmo humano — conseguir tudo o que seja possível, a expensas de outrem. Esta doutrina está apelando ao povo comum, enquanto o capitalismo age em uma sociedade pecaminosa, mesmo sendo pesadamente regulado pelo socialismo que o impede de ser excessivamente brutal. A força motriz do capitalismo é maximizar lucros à custa do trabalho. Isto é uma espécie de sobrevivente da doutrina da economia adaptada que alcançou seus dias de glória na mesma época do darwinismo e do socialismo darwinista.

Na verdade, nem capitalismo nem socialismo funcionam em um mundo caído. O socialismo necessita ser apoiado por incentivos capitalistas para fazer o povo trabalhar; enquanto o capitalismo necessita ser suavizado pelo humanitarismo socialista. O problema real para o capitalismo, é que enquanto ele capta os princípios econômicos de cunho espiritual, atua com instrumentos materiais — subestima a natureza humana e os efeitos do pecado. Não atingiu o alvo do problema humano e, assim, falhou clamorosamente. O marxismo falhou em não levar em conta o obstinado poder dos interesses, tanto de líderes como de liderados.

A falha e o adventismo

Há um outro grande ponto de semelhança entre o marxismo e o adventismo: a tentação de menosprezar a influência da natureza humana pecaminosa e dos interesses pessoais. Eu não disse ignorar, mas menosprezar.

A esta altura, deveríamos dizer uma palavra a respeito da visão que o adventismo tem de si mesmo como uma força remanescente profética, na História do mundo. Semelhante ao marxismo, o adventismo encontra suas raízes, e propósito, na esperança de um brilhante porvir; movendo-se para o fim da História humana e anunciando o estabelecimento do Reino de Deus — a solução final, a síntese dialética final. Tal objetivo também impulsiona missionários aos confins da Terra.

Há, no entanto, uma grande diferença escatológica. No marxismo, o reino será estabelecido através do esforço humano. O adventismo, naturalmente, com sua visão bíblica, não pode acatar esse ponto de vista, acerca do fim da História. A solução adventista não é humanística, mas deística. É o esforço de Deus, não o da humanidade, que resultará no estabelecimento do reino. Mas, nesse ponto, a Teologia adventista se torna frequentemente pouco clara. Afinal, não está Deus dependendo de que a Igreja pregue as três mensagens angélicas, incluindo o evangelho eterno “a toda nação, tribo, língua e povo” (Apoc. 14:6)? E não é o último grande sinal do tempo do fim, a pregação deste ‘‘evangelho do reino … a todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (S. Mat. 24:14)? Não têm os adventistas crido que a vinda do Senhor aguarda a fidelidade de Seu povo remanescente dos últimos dias na Terra?

Resumindo, não temos nós, como adventistas, de alguma forma feito com que uma solução divina dependa de uma realização humana? E se é assim, não estaríamos nós com a tendência de enveredarmos pela falha que destruiu o milenarismo marxista? Eu não estou dizendo que a Teologia adventista do sétimo dia está errada, ou que devemos parar nossas atividades missionárias, mas estou sugerindo que nós deveríamos reexaminar o passado, o presente e o possível futuro do adventismo.

Isto nos leva de volta ao estágio de Secularização da Igreja a respeito do qual já escrevi nesta revista, edição jan./fev. de 92. Naquele artigo mostrei que as igrejas, iniciam como um movimento reavivamentista, amadurecem, mas sucumbem a um processo de Secularização. Assim, repetidamente através da História, nós encontramos que movimentos de reavivamento e reforma, outrora vitais, se transformaram em denominações que estão frequentemente preocupadas com a manutenção de sua própria existência e suas tradições. O artigo também aponta que há forças sociológicas posicionadas contra a continuidade da reforma vital, tornando impossível a que movimentos religiosos mantenham sua intensidade original e determinação missionária.

Às vésperas de seu 150º aniversário, o adventismo parece estar se movendo na mesma estrada com outros movimentos religiosos provenientes da Reforma Wesleyana. Cada um deles entrou num processo de Secularização que os colocou fora do seu curso missiológico, por volta dos 150 anos de existência. É de crucial importância compreender que nenhum dos grandes movimentos religiosos na História do Cristianismo escapou vitorioso desse processo. Nenhum interrompeu o processo da História. Nenhum, em termos marxistas, finalizou a dialética.

E por quê? A resposta parece achar-se, como eu sugeri em meu artigo anteriormente referido, na dinâmica da natureza humana, incluindo os problemas de motivações e interesses divergentes entre indivíduos e segmentos institucionais da Igreja. Esses problemas não apenas desviaram o marxismo e os movimentos tradicionais cristãos, mas podem Compreensivelmente desviar o adventismo. Pelo menos, eu não vejo razões empíricas para crer de outra forma, diante de uma igreja em vias de superinstitucionalizar-se, superburocratizar-se, e que está cada vez mais ameaçada pelo perigo de identificar-se com o reino do mundo.

Uma falha de percepção da obstinação da natureza humana e sua insuficiência diante de questões cósmicas, finalmente desfez o sonho marxista. Porventura, não existe a possibilidade de que essa mesma influência cobre seu tributo ao adventismo? Ou, colocando a questão de uma outra forma: têm os adventistas garantida a vitória final, exatamente da maneira como eles têm ensinado?

Provavelmente não. Uma das grandes falhas dos judeus do primeiro século foi a crença que o Deus dos Céus era algo dependente deles. Eles haviam cuidadosamente lido o Velho Testamento e corretamente concluído que a principal linha das profecias messiânicas ensinava que Cristo deveria vir como um poderoso rei na sequência do vitorioso Davi; que um milênio terrenal seria estabelecido e que os fiéis de todo o mundo viriam para Jerusalém prestar homenagem a Jeová; e que o Messias deveria conquistar os inimigos de Israel.

O ponto a ser lembrado é que os primeiros judeus tiraram conclusões corretas das profecias. De Isaías a Malaquias o tema de um Israel vitorioso e um milênio terrestre domina a literatura profética. Sob este ponto de vista, não surpreende que os judeus tenham rejeitado a Jesus chamado Cristo. Deve ser admitido que Jesus foi um Cristo que destoava da ênfase principal das Escrituras do Velho Testamento. Muitos de nós, se vivêssemos naquele tempo, teríamos chegado às mesmas conclusões, adicionadas à arrogância de que Deus era dependente do remanescente literal judeu.

Os judeus do primeiro século esqueceram-se de duas coisas: 1) a natureza humana, e 2) o direito de Deus ser Deus, a despeito das falhas humanas. Eles se esqueceram de que as promessas proféticas estavam inseridas em um relacionamento de concerto; um relacionamento que promete bênçãos se e apenas se o povo de Deus permanecer-Lhe fiel. Os judeus se esqueceram do grande se do concerto. “Se atentamente ouvires a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os Seus mandamentos que hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra’’ (Deut. 28:1). “Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus. .. então virá todas estas maldições sobre ti, e te alcançarão:” (v. 15).

Deus fizera tudo o que poderia ter feito por Seu remanescente, mas ele não Lhe respondeu em sincera lealdade. A natureza humana sobressaiu, e ele se esqueceu de que Deus era independente dele. Muitos judeus da Era do Novo Testamento criam que Deus dependia deles para o estabelecimento do Seu reino messiânico. “Se Israel guardasse dois sábados de acordo com as suas leis, seria redimido imediatamente”,2 criam alguns rabis. “Se”, criam outros, “Israel se arrepender algum dia, o Filho de Davi viria imediatamente. Se Israel guardar corretamente os sábados, o Filho de Davi virá imediatamente.”’

“Mas”, Jesus os advertiu, “vocês erraram o alvo. Não compreendem o significado de um relacionamento de concerto. Entretanto, Deus pode suscitar filhos de Abraão destas pedras, se for necessário”, parafraseando S. Mat. 3:9. Que Deus não depende de seres humanos, foi a mensagem de Cristo. Deus poderia ainda ser Deus. Poderia ainda agir independentemente, para alcançar Seus propósitos.

Em virtude da falha do remanescente judeu, Deus alterou Suas promessas escatológicas e colocou em ação o plano messiânico número dois. Esse plano estava entretecido em passagens tais como Isaías 53 e Salmo 22, as quais não foram nem mesmo percebidas como sendo messiânicas. O plano número dois não apresentava a vitória de um judeu, mas um servo sofredor e rejeitado;4 um Messias a quem os judeus não poderiam reconhecer, em virtude de sua fixação na própria vitória e na suposta dependência de Deus deles mesmos e de suas ações. Assim, embora eles ensinassem uma doutrina biblicamente correta, a primeira vinda de Jesus surpreendeu aqueles estudantes das profecias. Eles foram passados por alto, e Deus suscitou a Igreja Cristã para completar a missão dos judeus no mundo.

Natureza condicional do concerto

A Igreja Cristã é também um povo do concerto. O povo de Deus do Novo Testamento ainda está num relacionamento baseado no se/então das promessas de Deus. Ainda necessita lutar contra a fragilidade e o egocentrismo da natureza humana. Deve ainda reconhecer o fato de que Deus pode ser Deus e agir independentemente para conduzir a um fim os negócios do mundo, em Sua própria maneira, se a Igreja perder sua integridade missiológica.

Eu gostaria de sugerir que como adventistas nós deveríamos conservar nossos olhos abertos para a possibilidade de que Deus tenha um plano número dois para o fim da Era Cristã, assim como aconteceu na primeira vinda de Cristo. Necessitamos atentar para a possibilidade de que mesmo nossa observância do concerto não tenha feito Deus dependente da fidelidade humana. Segurança profética reside na absoluta certeza do primeiro e segundo adventos de Cristo, antes que em qualquer secundária promessa a respeito desses eventos, ou qualquer meio especificamente humano de conduzir-nos a eles.

Em meados de 1960, quando participava de um seminário, enquanto lia o livro Mensagens Escolhidas, encontrei uma passagem segundo a qual “Deus empregará instrumentos cuja origem o homem será incapaz de discernir; os anjos farão uma obra que os homens poderiam haver tido a bênção de realizar, não houvessem eles negligenciado atender aos reclamos de Deus.’’5 Geralmente nos fixamos apenas na primeira parte da declaração, negligenciando a linguagem se/então do plano número dois implícito na segunda parte. Ellen White disse mais: “Nada podemos fazer sem a bênção de Deus, mas Ele pode fazer Seu trabalho sem o auxílio humano, se assim escolher.’’6

“Há uma deplorável falta de espiritualidade entre nosso povo”, ela escreveu posteriormente, acrescentando que “a glorificação própria tornou-se comum entre os adventistas do sétimo dia, e a menos que a soberba humana seja abatida e Cristo exaltado, nós não estaremos, como um povo, em melhores condições de recebê-Lo em Seu segundo advento do que os judeus estavam na época da Sua primeira vinda.”7 Noutra declaração, ela sugere que a grande crise pode surpreender os adventistas do sétimo dia, como um ladrão,8 e ainda em outro lugar adverte que se a Igreja não é fiel a Deus, ela pode ser desviada de seu trabalho, “seja qual for sua posição”.’ Finalmente, uma lição tirada da História: “Por não haverem cumprido o propósito de Deus, os filhos de Israel foram abandonados e o convite divino foi estendido a outros povos. Se estes também se provarem infiéis, não serão da mesma maneira rejeitados?”10

Da perspectiva de Ellen White, Deus não fez qualquer garantia de imunidade à Igreja Adventista. “Na balança do santuário a Igreja Adventista do Sétimo Dia está sendo pesada. Ela será julgada pelos privilégios e vantagens que recebeu. Se sua experiência espiritual não corresponder às vantagens que Cristo, a um custo infinito, lhe outorgou, se as bênçãos que lhe foram conferidas não a qualificaram para fazer o trabalho que lhe foi confiado, sobre ela será pronunciada a sentença: ‘achado em falta’. Pela luz concedida, pelas oportunidades que lhe foram dadas, ela será julgada.”11

Assim, Ellen White aludiu à possibilidade de falha adventista. Em 1883, ela escreveu: “Devemos lembrar que as promessas e ameaças de Deus são igualmente condicionais.”12

Depois de encontrar insinuações como estas, de futuros escatológicos alternativos, nos escritos de Ellen White, eu comecei a ler a Bíblia em busca de uma visão escatológica neotestamentária que apoiasse isso e que, como o plano número dois do Velho Testamento, pudesse ser interpretada mais claramente ou até diferentemente, após a ocorrência dos fatos.

O primeiro texto que veio a minha mente foi S. Luc. 17:26-30: “Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do Céu fogo e enxofre, e destruiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do homem Se manifestar.”

Há duas maneiras de interpretar essa passagem escatológica. A primeira é segundo a perspectiva divina, conforme refletida em Gên. 6:5. Falando dos dias de Noé, é dito: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado sobre a Terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração.” Desse ponto de vista, o comer, o beber e o casar-se tornaram-se degenerados sinais do fim dos tempos.

Mas há uma outra perspectiva em S. Luc. 17: a interpretação humana do que aconteceu nos dias de Noé e Ló. Seus contemporâneos estavam comendo, bebendo, casando, comprando, vendendo e construindo até o dia de sua destruição. Noutras palavras, a vida parecia correr normalmente. “Assim será também nos dias do Filho do homem.” Portanto, parece que nós deveríamos admitir pelo menos a possibilidade de que esse dia possa vir como um ladrão, para os modernos estudantes das profecias, se as condições do concerto forem desconsideradas.

Jesus advertiu: “… porque à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá.”

Esta hora é hoje e amanhã. É um tempo para o qual os adventistas podem não estar preparados, se não considerarem a possibilidade de um plano escatológico número dois.

Lições para o adventismo

O que podemos concluir de tudo isso? Bem, eu poderia até sugerir que o fim definitivamente acontecerá de um modo diferente daquele que os adventistas têm ensinado sempre. Mas, parece necessário concluir que devemos admitir a possibilidade de que, primeiramente, Deus pode colocar um ponto final nos eventos da História de maneira diferente daquela prometida, se as condições de fidelidade do concerto não forem cumpridas por Seu povo. Em segundo lugar, Deus ainda assim, reserva o direito de ser Deus; e, em terceiro lugar, Ele não é mais dependente do Israel espiritual, hoje, do que o era em relação ao Israel literal no passado.

Além disso, uma outra possível conclusão é que se o adventismo espera completar sua missão histórica, terá de lutar contra as forças sociológicas da História que finalmente levaram o marxismo ao fracasso, e afastaram outros organismos cristãos de seu curso missiológico, ao fim dos seus 150 anos. O fator humano, expresso em realidades tais como tendências seculares e de interesses que impedem uma reforma radical, de alto a baixo, na estrutura institucional e organizacional adventista; e motivações divergentes entre clérigos e leigos, somente podem ser superados mediante conscienciosos, heróicos e contínuos esforços por reforma e revitalização. E isso somente é possível através de uma entrega pela fé, diária, ao Deus do concerto.

O adventismo precisa assumir seu sentido individual e coletivo, se quiser manter o significado de sua existência.

E, se alguém perguntar: “O que acontecerá se o adventismo falhar em assumir o sentido de sua dependente, condicional e finita posição?” Então Deus ainda será Deus, tal como a natureza humana será natureza humana. Ele não está limitado em poder ou dedicação para executar Seus planos.

Referências

1. Nesse ponto é importante reconhecer que os termos “socialismo” e “capitalismo” são usados neste artigo como princípios econômicos abstratos desenvolvidos por filósofos de vendas. Portanto, o significado básico do capitalismo e socialismo não deve ser confundido com qualquer expressão presente ou passada daquelas filosofias na vida real.

Muitas pessoas têm conspurcado a distinção entre as práticas americanas e os supremos ideais do Reino de Deus. Tais pessoas devem ficar surpresas ao descobrirem que Deus não é americano, nem europeu, tampouco o chefe de uma democracia terrestre.

Os elevados princípios do Céu não devem ser confundidos com as necessidades econômicas e políticas de uma terra pecaminosa, na qual nenhum grupo ou pessoa pode confiar, e onde o pecado impulsiona indivíduos e nações à busca e satisfação de interesses deformados.

2. Talmude babilônico, Shabbath, 118 b.

3. Talmude de Jerusalém, Taanith, 64.

4. A presença de escatologias alternativas no Velho Testamento não nos leva a desprezar a necessidade do sacrifício substitutivo de Cristo, sob nenhuma forma. Esse sacrifício é central para o Velho Testamento, sendo primeiramente aludido em Gênesis 3 e 4; e posteriormente salientado nos serviços do santuário.

5. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 118.

6. _________________, Testimonies, vol. 5, pág. 736.

7. Ibidem, págs. 727 e 728.

8. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 414.

9. __________, Olhando para o Alto, (Meditações Matinais, 1983), pág. 125.

10. Ellen G. White, Parábolas de Jesus, pág. 304.

11. _________________, Testimonies, vol. 8, pág. 247.

12. ______, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 67.

GEORGE KNIGHT, Professor de História da Igreja na Andrews University Berrien Springs, Michigan