Quando a comunicação é interrompida, a atividade organizada cessa e a organização desmorona. A comunicação é a substância das atividades de nossa Igreja, porque como tal devemos comunicar uma mensagem ao mundo: as boas-novas de salvação.

Muitos livros foram escritos sobre a comunicação. As Sagradas Escrituras também trazem abundantes conselhos, estabelecendo as bases divinas para uma correta comunicação dos seres humanos com seu Criador, e entre si. Uma das consequências do pecado, de maior transcendência e impacto negativo no ser humano, tem sido a perda do benefício de gozar essa comunicação fluida e direta com Deus.

Somente no livro de Provérbios encontramos mais de cinquenta passagens relacionadas com esse tema.

A origem de todas as coisas é encontrada no princípio, no ato da criação divina, segundo o livro do Gênesis 1:3: “E disse Deus…”.

Desde o princípio de nossa existência, nossa primeira atividade como seres humanos se resume a um ato de comunicação: o primeiro choro infantil, com o qual iniciamos a vida. Através do choro, comunicamos que estamos desconfortáveis, protestamos pela rápida separação daquele meio ambiente que durante nove meses nos acolheu.

Ainda no livro do Gênesis, capítulo 11, encontramos registrado um fato que ilustra a importância e a transcendência da comunicação. Os que desejavam esquecer a seu Criador e desprezar Seus conselhos e orientações, decidiram estabelecer-se em uma cidade na planície de Sinar, às margens do Rio Eufrates, estabelecendo ali uma organização, e colocar em prática o mais ambicioso projeto de obras públicas que até então fora empreendido: construção não somente de uma cidade que se converteria na metrópole de um império universal, mas também uma magnífica torre que deveria alcançar os Céus, como um monumento ao poder e à sabedoria de seus construtores, a fim de perpetuar sua fama através de gerações.

“Todo aquele empreendimento destinava-se a exaltar ainda mais o orgulho dos que o projetaram, e desviar de Deus a mente das futuras gerações e levá-las à idolatria” (Patriarcas e Profetas, pág. 113).

A construção da torre avançava. Já havia alcançado uma grande altura, e o povo regozijava-se em seu êxito. De repente, a obra que havia estado avançando foi interrompida e jamais foi terminada. Deus confundiu as línguas dos capatazes e obreiros. Isso produziu confusão e consternação. O projeto da Torre de Babel permanece, desde então, como um símbolo da ruptura da comunicação entre os homens.

Quando a comunicação é interrompida, a atividade organizada cessa e a organização desmorona. A comunicação é a alma das atividades da Igreja. Assim sendo, devemos comunicar ao mundo uma mensagem: o evangelho. Evidentemente, sem uma comunicação efetiva, nosso objetivo de compartilhar essas boas-novas jamais será alcançado.

Falta de comunicação

No dia 28 de janeiro de 1986, juntamente com milhões de outros espectadores espalhados ao redor do mundo, observamos o lançamento da nave espacial Challenger, transformando-nos em testemunhas oculares da maior catástrofe relacionada com as atividades espaciais. A conclusão a que chegou a comissão investigadora das causas do acidente, foi a de que tudo poderia ter sido evitado. A causa principal do desastre foi a falta de comunicação entre os dirigentes do programa e seus subalternos.

Pergunto-me, às vezes, se não estaremos corporativa ou individualmente empenhados em construções de “torres” (programas, planos e projetos), cujos propósitos se assemelham mais aos dos babilônios. Deus frustrou o propósito dos construtores da torre e colocou por terra o monumento de sua ousadia, de seu orgulho e loucura. Mas os homens hoje seguem o mesmo caminho. Há construtores de torres ainda em nossos dias.

Necessitamos de uma maior e mais eficaz comunicação. Somos todos membros de um só corpo (I Cor. 12:12). No entanto, devemos ser muito cuidadosos com certo tipo de “comunicação” que, na verdade, é uma interferência na comunicação harmoniosa. Refiro-me à crítica.

Três elementos

Para que haja u a boa comunicação, é necessária a presença de três elementos básicos: mensagem, transmissor e receptor. Em algumas vezes o transmissor pode sofrer alguma interferência e a mensagem não chega com a devida clareza ao receptor.

Certa vez um soldado persa estava ocupado em deslustrar a reputação de Alexandre, o Grande, chefe supremo de seus inimigos. Um capitão que o ouviu, fez uma admoestação: “Soldado, você está sendo pago para lutar nobremente contra Alexandre, não para manchar sua reputação”. Do mesmo modo, fomos chamados para lutar com nobreza, em oração e com simpatia cristã, não contra a pessoa do nosso irmão, mas contra o que motiva seus defeitos.

Spurgeon usava, numa determinada ocasião, uma gravata longa, vistosa e colorida, muito de acordo com a moda na época. Depois da pregação, aproximou-se dele uma senhora, aparentemente muito devota, mas excessivamente preocupada em descobrir defeitos nos demais.

“Irmão Spurgeon”, disse ela, “trouxe minha tesoura, pois desejo encurtar essa gravata, muito mundana e demasiado longa para um pregador do evangelho”.

Imperturbável, o notável pregador respondeu: “Corte como quiser, senhora. Mas antes permita-me usar sua tesoura para cortar algo que a senhora tem, demasiadamente longo, e que produz um grande prejuízo ao seu testemunho cristão”. Diante da atitude surpresa da mulher, Spurgeon ordenou-lhe: “por favor, tire para fora sua língua”. A lição foi perfeitamente compreendida.

Dois tipos de crítica

Existem dois tipos de crítica: a construtiva e a destrutiva. Vejamos as características de ambas:

Crítica construtiva

* Acalma os ânimos exaltados e os ilumina.

* Apoia-se na razão e na lógica.

* Propõe soluções sérias mesmo que sejam difíceis.

* É formulada diante de quem tem autoridade para mudar a situação.

* É séria e usa linguagem virtuosa.

* Sempre tem conteúdo esclarecedor e não julga impiedosamente as motivações do próximo.

* Está inspirada no bem-estar de todos, mesmo no do criticado.

* Reúne toda informação possível e a considera com objetividade.

* Não pretende ser a solução do problema, nem a única que a possui.

* Estimula, constrói, corrige; é inspirada no amor cristão.

Crítica destrutiva

* Acende e exalta os ânimos e os ofusca.

* Apoia-se nas emoções e nas conjecturas.

* Propõe soluções fáceis mesmo que não sejam duradouras.

* É formulada diante daqueles que só podem exercer pressão por meio de descontentamento.

* É apaixonada e usa linguagem mordaz.

* Seu conteúdo gera dúvidas e desperta suspeitas nas motivações do próximo. Traz confusão.

* Está inspirada no interesse mesquinho e pessoal.

* Joga com informação tendenciosa e oculta as que não favorecem seus preconceitos; diz as coisas pela metade.

* Busca aparecer e se manifesta como a única solução do problema.

* Fustiga, destrói, é inspirada no ódio e na inveja.

Cristo nos deixou um conselho para quando estejamos sendo tentados em concentrar nossa atenção nas faltas alheias, descuidando nossos próprias imperfeições: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (S. Mat. 7:3).

Se desejamos concentrar-nos no desenvolvimento de nosso próprio caráter, estaremos tão ocupados que não teremos tempo para deter-nos nos defeitos alheios, com a cizânia do jardim do coração de nosso vizinho (II Tim. 2:15 e 16).

Concluindo, desejo ressaltar um pensamento da pena inspirada: “O segredo de nosso êxito na obra de Deus encontrar-se-á na operação harmoniosa de nosso povo. Tem de haver uma ação concentrada. Todo o membro do corpo de Cristo tem que fazer sua parte na causa de Deus, segundo a capacidade que Ele lhe deu. Temos que conjugar esforços contra as dificuldades e obstáculos, ombro a ombro, e unidos pelo coração.

“Se os cristãos agissem de comum acordo, avançando como um só homem, sob a direção de um único Poder, para a realização de um só escopo, eles abalariam o mundo” (Serviço Cristão, pág. 75).

DR. LUÍS SCHULZ, Diretor da ADRA na Divisão Sul-Americana