Uma das complicações que incapacitam muitos a compreenderem o último livro da Bíblia, é o desconhecimento com relação ao santuário, seus serviços e os aspectos simbólicos ou proféticos destes em relação à obra de Cristo no tabernáculo celestial, já que os fatos mais significativos que Jesus nos revela no Apocalipse estão relacionados com Sua obra naquele lugar: intercessão, juízo e erradicação do pecado.
Não podemos esquecer-nos de que o santuário do Antigo Testamento, e seus serviços, eram algo semelhante a um espetacular e majestoso audiovisual daquilo que faria Cristo em favor de nossa redenção, e de Sua intercessão nos Céus, e dos aconteci-mentos finais do grande conflito cósmico entre o bem e o mal. A epístola aos Hebreus é muito eloqüente a respeito. Conservando esse contexto em mente, ser-nos-á mais útil e interessante a descoberta de que praticamente em cada capítulo do Apocalipse há referências a elementos do santuário. Vejamo-los brevemente:
Nos capítulos 1 e 2, fala-se dos candeeiros (1:20; 2:1 e 5). Em Apoc. 3:12, faz-se referência ao templo de Deus. É interessante notar que no capítulo 4 se fala do trono de Deus (4:2), que no santuário era representado pela arca, e diz que diante dele ardiam sete lâmpadas (4:5). No capítulo seguinte se faz referência ao Cordeiro que parecia morto (5:6), e não podemos esquecer que este símbolo aparece pelo menos 26 vezes no livro. No sexto capítulo, faz-se alusão ao sangue ao pé do altar (Apoc. 6:9; Lev. 4:7; 17:11; Deut. 12:23; Gên. 4:10) durante o período do quinto selo. No capítulo sete, encontramos outra das inúmeras referências ao Cordeiro (7:17) e, no oitavo, fala-se do altar de incenso (8:2 e 3). Nesse mesmo capítulo, faz-se referência aos quatro cantos do altar de ouro (8:2 e 3), e no décimo primeiro aparece o templo ou santuário com seu átrio (11:1, 2 e 19). No capítulo 12, temos uma referência indireta, ao falar-nos dos mandamentos de Deus (12:17), já que os Dez Mandamentos estavam dentro da arca, como símbolo da base do governo de Deus. No capítulo seguinte, fala-se do Cordeiro (13:8), acontecendo a mesma coisa no quatorze (14:1, 4 e 10), onde também se menciona o templo (14:15 e 16) e o altar (14:18). O templo é mencionado novamente nos dois capítulos seguintes (15:5, 6 e 8, e 16:1) e o Cordeiro reaparece em 17:14 e 19:7 e 9. O capítulo 20 apresenta o cumprimento do dia da expiação, e no 21 é-nos mostrado o tabernáculo de Deus com os homens (21:3), o Cordeiro (21:9, 14, 22, 23 e 27) e Deus co-mo o templo (21.22). Finalmente, Apoc. 22:1 e 3 volta a falar-nos do Cordeiro.
Torna-se claro que uma tão grande abundância de elementos do santuário, distribuídos por todo o livro do Apocalipse, não pode ser interpretada como mera casualidade; e, a menos que conheçamos e interpretemos de maneira adequada a mensagem que em forma de símbolo Deus nos revela no santuário, corremos o risco de interpretar mal algumas das verdades mais solenes da “revelação de Jesus Cristo’’ (Apoc. 1:1). Ilustremos, resumidamente, com alguns exemplos:
Apocalipse 14:6, 7 e 12 revela-nos que “vinda é a hora do Seu juízo’’ e descreve o remanescente fiel nesse tempo como “os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus’’. Aqueles que entendem a revelação do juízo que nos ensina o dia da expiação do santuário, estão em condições de entender a profecia de Daniel 8 e 9, e isto lhes permite identificar cronologicamente o momento em que começaria esse juízo, quando surgiria na Terra o remanescente fiel. O desconhecimento ou a falta de com-preensão dos serviços do santuário, torna incompreensível uma mensagem tão significativa como a dos três anjos.
Outro exemplo: a ordem de ceifar a Terra — a messe — que representa os justos (14:14-16) e a outra, ilustrada com a vindima e o lagar da ira de Deus, que representa o castigo dos ímpios (14:17-20), saem do “templo, que está no Céu’’ (14:15 e 17). Uma correta interpretação da simbologia do santuário nos fornecerá a chave para interpretar essas solenes revelações.
Tendo em mente que o Apocalipse nos foi revelado por meio da linguagem dos símbolos (Apoc. 1:11 e 12), e que o método cristão de interpretação das Escrituras deve ser aquele em que a Bíblia se interpreta a si mesma (II Pedro 1:19; S. Luc. 24:25-27), é lógico concluir que as abundantes referências apocalípticas a elementos do santuário deveriam estimular-nos a estudar essa simbologia bíblica, o que nos capacitará a captar com mais nitidez “a revelação de Jesus Cristo’’.
E. G. WHITE