“A igreja, em todos os níveis, deve priorizar a implantação e consolidação dos pequenos grupos” 

A formação de pequenos grupos como base de esforço cristão, foi-me apresentada por Aquele que não pode errar” (Ellen White, Serviço Cristão, p. 72) Essa declaração de Ellen White é fundamental para a implantação de pequenos grupos na igreja adventista da América do Sul. Apesar disso, desde que foi estabelecido nesse continente, o sistema tem sido alvo de estudos, reavaliações e diálogo. Porém, um fórum realizado em Brasília, em novembro do ano passado, serviu para redefinir e aprofundar a caminhada rumo à consolidação dos pequenos grupos. 

Nesta entrevista, o pastor Jolivê Chaves, diretor de Ministério Pessoal da Divisão Sul-Americana, fala sobre os princípios que alicerçam a formação e o funcionamento dos pequenos grupos. Casado com a psicóloga Érica Chaves, com quem partilha a felicidade de ter dois filhos, ele está na DSA há pouco mais de dois anos, depois de trabalhar como pastor distrital e diretor de Ministério Pessoal no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e na União Sul-Brasileira. 

Ministério: Qual é a diferença entre igreja com pequenos grupos e igreja em pequenos grupos? 

Jolivê: Na igreja com pequenos grupos, eles são apenas um programa entre muitos outros. Uma igreja em pequenos grupos é aquela em que eles são a estrutura básica para cumprir as tarefas de pastoreio, cuidado espiritual dos membros, desenvolvimento da vida em comunidade, ação missionária, entre outras. Na igreja em pequenos grupos, a maioria dos membros assimilou o pequeno grupo como estilo de vida. 

Ministério: Qual deve ser a relação entre os pequenos grupos e os departamentos da igreja? Quem deve servir a quem? 

Jolivê: Os pequenos grupos devem ser a base para mover a igreja e isso inclui os departamentos. Eles não anulam os departamentos, mas os ajudam a funcionar devidamente. Por isso, os departamentos da igreja e seus programas devem ser facilitado-res no desenvolvimento dos pequenos grupos, em vez de ser empecilhos ou concorrentes. Cada departamento deve ajudar os membros que estão sob sua responsabilidade a se envolverem nos pequenos grupos. E estes ajudarão os departamentos a alcançar seus objetivos para cada membro, no sentido de edificação espiritual, pastoreio e envolvimento missionário. O pequeno grupo é o caminho mais fácil para que os departamentos sejam efetivos na formação de discípulos. 

Ministério: De que maneira uma igreja com pequenos grupos pode ser transformada numa igreja em pequenos grupos? 

Jolivê: Em seu livro Como Reavivar a Igreja do Século 21, Russel Bur-rill diz que, antes que o ministério de pequenos grupos seja iniciado, primeiramente, a igreja precisa redescobrir a paixão pelos perdidos e sentir a necessidade de alcançá-los. Além disso, também necessita entender que todos os crentes são ministros; e que o pastor é o orientador e capacitador deles para o exercício do ministério. Durante o fórum de pequenos grupos, foi decidido que, nessa transição, devem ser dados os seguintes passos: 1) Que a igreja em todos os níveis priorize a implantação e consolidação dos pequenos grupos; 2) que o processo de mudança seja gradual e progressivo; 3) que, no plano de implementação e consolidação, os pastores trabalhem através de pequenos grupos modelos; 4) que a igreja mantenha a visão permanente de uma igreja em pequenos grupos, através da realização de fóruns, festivais, retiros espirituais, fornecimento de material, treinamento e testemunhos, e 5) que haja um esforço intencional e constante na busca pela multiplicação dos pequenos grupos.

Ministério: Qual é a estrutura de um pequeno grupo e quais são as funções de cada elemento?

Jolivê: O pastor é o líder distrital dos pequenos grupos e a peça-chave do processo. Ao pastor cabe preparar a liderança e a igreja para a transição, dirigir um pequeno grupo modelo, ministrar treinamento, providenciar e fornecer materiais. Cada igreja também deve ter um coordenador de pequenos grupos, que será o aliado mais forte do pastor na implantação e manutenção do sistema. Em uma igreja com vários pequenos grupos, é aconselhável que haja um supervisor para cada três a cinco deles. Esse supervisor apoiará e orientará os líderes dos grupos, através de visitas periódicas e de reuniões para avaliação. Finalmente, cada pequeno grupo deve ter seu líder, que é o responsável por fazer as coisas acontecerem durante as reuniões e fora delas. Sem um bom plano de capacitação semanal ou quinzenal dos líderes, o projeto fracassará. Também não podemos esquecer o anfitrião, a pessoa que cede a casa para o funcionamento do grupo. Essa pessoa deve ser amável, espiritual e hospitaleira.

“O pequeno grupo não deve ser apenas um encontro social nem exclusivamente evangelístico”

Ministério: Que qualidades devem ter o líder e o coordenador de pequenos grupos?

Jolivê: Principalmente, devem ser pessoas caracterizadas por sólida experiência com Deus; homens e mulheres espirituais. Mas também precisamos considerar a disposição de servir, amor pela missão de salvar pecadores e a correta visão sobre os pequenos grupos. No caso do coordenador, é necessário que a pessoa tenha experiência anterior como líder. A melhor maneira de o pastor formar líderes de pequenos grupos é através do pequeno grupo modelo ou protótipo que ele mesmo deve liderar.

Ministério: Qual é a dinâmica sugerida para o funcionamento de um pequeno grupo?

Jolivê: No livro Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 195, Ellen G. White escreveu: “Que os pequenos grupos se reúnam à noite, ao meio-dia ou pela manhã. Que tenham períodos de oração para que sejam fortalecidos, iluminados e santificados pelo Espírito Santo… Quantos testemunhos serão compartilhados nesses períodos especiais quando estiverem buscando a bênção de Deus! Que cada um conte sua experiência com palavras simples.” Com base nessas palavras, temos sugerido a seguinte dinâmica: 1) Confraternização, que envolve recepção calorosa, diálogo amistoso e informal. 2) Adoração, em que estão incluídos louvor, oração e testemunhos. 3) Estudo relacionai e aplicativo da Bíblia, e 4) evangelismo, que inclui oração intercessora e execução do planejamento missionário do grupo. O programa não passa de uma hora e meia.

Ministério: Os aspectos missionário e relacionai de um pequeno grupo são indiscutíveis. O senhor consegue ver algum prejuízo em se destacar unilateralmente um deles?

Jolivê: Em primeiro lugar, precisamos entender o que a igreja considera ser um pequeno grupo relacionai. Ele não deve ser confundido com uma reunião social de pouco ou nenhum conteúdo bíblico. Trata-se de um grupo de pessoas que se reúnem para estudar a Bíblia, a fim de crescer em seu relacionamento com Deus, umas com as outras e com pessoas que ainda não fazem parte da igreja. A Bíblia está no centro de tudo e é usada para atender as necessidades pessoais, através do estudo aplicativo. Por outro lado, é bom entendermos que, se o pequeno grupo for apenas uma reunião para evangelismo, ele passará a ser apenas uma classe bíblica sem cumprir seu objetivo relacionai. A classe bíblica é essencial, mas não deve tomar o lugar do pequeno grupo. Ambos desempenham papel fundamental e harmônico no programa da igreja. Portanto, o pequeno grupo não deve ser apenas um encontro social nem exclusivamente evangelístico. Devemos manter o equilíbrio na ênfase dos dois aspectos, no contexto do discipulado cristão. O estudo da Bíblia deve ser direcionado ao atendimento das necessidades pessoais, de modo relevante e pertinente. Então, os participantes devem ser inseridos em uma classe bíblica para receber estudos doutrinários como instrução pré-batismal.

Ministério: E quanto ao evangelismo público: Como os dois sistemas podem se tornar mutuamente colaboradores?

Jolivê: Uma coisa deve ficar bem clara: evangelismo público e pequenos grupos não são atividades mutuamente excludentes, mas complementares. Um sistema serve ao outro. Sem essa combinação, o prejuízo será certo para ambos. A igreja deve inserir em seu planejamento essas atividades conjuntas. Os pequenos grupos devem servir de apoio e complemento ao evangelismo público. Como apoio, eles podem encaminhar interessados às reuniões evangelísticas e dar assistência a eles. Como complemento, devem empregar sua estrutura em favor da conservação dos novos crentes. Propomos ainda que os pastores façam evangelismo de colheita, tendo o pequeno grupo como base para a semeadura.

Ministério: Que estratégias podem ser desenvolvidas dentro do pequeno grupo, a fim de que cada membro possa encaminhar pessoas a Cristo?

Jolivê: De fato, o pequeno grupo é o lugar ideal para o desenvolvimento espiritual de cada crente e para envolvê-lo na missão, de acordo com os respectivos dons espirituais. Para isso, o líder do grupo, orientado pelo pastor e pelo supervisor, precisa ter um bom plano missionário. Esse plano deve ser suficientemente amplo, com várias opções de atividades internas e externas, a fim de que os vários dons sejam envolvidos. Na Divisão Sul-Americana, já está em prática o Ciclo de Discipulado, um projeto para a formação de discípulos que ajuda os novos membros a descobrir seus dons e ser envolvidos em algum ministério.

Ministério: Com certa frequência, ouvimos que é preciso “criar uma identidade adventista” para os pequenos grupos. O que está faltando em termos dessa identidade?

Jolivê: A igreja adventista do sétimo dia tem suas peculiaridades nos aspectos de estrutura, doutrinas e papel profético. Em relação aos pequenos grupos, temos orientação clara e suficiente. O que estamos tentando fazer é criar um modelo que seja compatível com nossa realidade, como igreja, e que esteja exatamente dentro da orientação que Deus nos deu a respeito desse assunto. Na literatura evangélica, há princípios e métodos gerais, comuns, que nos são úteis. Mas, não podemos simplesmente copiá-los sem considerar nossa realidade adventista.

Ministério: Desde sua implantação até agora, como o senhor avalia o sistema de pequenos grupos na Divisão Sul-Americana?

Jolivê: Já percorremos um longo caminho, com erros e acertos, e uma coisa está bem clara e definida: Continuaremos aprofundando a caminhada dos pequenos grupos, pois acreditamos que eles são essenciais para a igreja. Hoje, temos aproximadamente 63 mil pequenos grupos, e as Uniões estão trabalhando para que, neste ano, tenhamos 93 mil. Não temos dúvidas a respeito da legitimidade deste programa; estamos convictos da orientação de Deus. Temos nos reunido e tomado decisões comprometedoras, planejando um trabalho bem consistente, melhorando a cada dia no que tange a materiais de estudo. Queremos uma igreja que cresça integralmente e que seja eficiente na formação de discípulos. Queremos crescer muito mais do que temos crescido, tanto no sentido quantitativo como no qualitativo. Queremos plantar mais congregações, um povo mais comprometido, uma igreja mais espiritual e cada vez menos apostasia. Queremos o batismo diário do Espírito Santo, o derramamento da chuva serôdia para concluirmos nossa missão de pregar o evangelho. Tudo isso aponta para os pequenos grupos como base do esforço cristão. Temos observado que onde os pequenos grupos são fortes, a igreja está mais bem estruturada e crescendo mais consistentemente.

Ministério: Quais são as grandes metas da Divisão Sul-Americana, envolvendo os pequenos grupos em 2009?

Jolivê: Além da implantação de 93 mil pequenos grupos, como já mencionei, estamos trabalhando para abrir 600 mil lares adventistas, no dia 30 de maio, para receber familiares, amigos e conhecidos. Esse é o projeto “Lares de Esperança”. Cremos que muitos desses lares promoverão um pequeno grupo. Milhares de convidados serão encaminhados aos pequenos grupos, receberão estudos pelas duplas missionárias ou em classes bíblicas. Nossa meta é batizar 100 mil pessoas no fim do ano, por ocasião da semana da colheita que será realizada, via satélite, pelo pastor Mark Finley. Para o Brasil, a programação será realizada a partir de Brasília, durante os dias 14-31 de outubro. Nos dias 1-7 de novembro, ele pregará para os outros países da DSA, a partir de Cochabamba, Bolívia.

Ministério: O que o senhor espera dos pastores e anciãos?

Jolivê: Espero que todos nos unamos para fortalecer a implantação e consolidação dos pequenos grupos em nosso território. Creio que o pequeno grupo tem papel decisivo na escatologia, pois virá o tempo em que não mais poderemos nos reunir em templos, mas estaremos espalhados nos lugares mais distantes da Terra esperando a vinda do Senhor. Que possamos viver, desde agora, a experiência comunitária proporcionada pelos pequenos grupos e, finalmente, cresçamos em nosso relacionamento com Deus e sejamos usados por Ele na execução de Seu plano para o ser humano.