Os adventistas não foram os únicos reformadores da saúde no século XIX. Nossa mensagem pró-saúde surgiu extraordinariamente pura de um ambiente de mitos e devaneios.

Josefa Hale, novelista popular e fornecedora de sugestões domésticas para mães de família de antes da Guerra, apresentava a seguinte receita em um livro sobre arte culinária: “Cheese de Porco — Escolha a cabeça de um porco pequeno… Salpique sobre ela, e sobre a língua de quatro leitões, um pouco de sal comum e uma pitadinha de salitre. Deixe repousar por quatro dias; lave-as e envolva em um pano branco; ferva-as até os ossos da cabeça se soltarem com facilidade; tire a pele tão completamente quanto possível. … coloque a pele em torno da lata (de conserva) e encha-a até aproximadamente a metade, de carne que foi bastante temperada com pimenta, pimentão e sal…. Deve ser comida com vinagre e mostarda, e servida como lanche ou jantar.”1

O reformador de saúde Russell Trail descreveu este esforço para fazer um porco morto parecer-se com um porco vivo, como “a perversão de toda a verdadeira delicadeza e refinamento”. Por ter encontrado outros livros de culinária igualmente insatisfatórios, Trail lançou o seu próprio livro Hydripathic Cook Book em 1853, e foi de livros como este que os adventistas obtiveram seus primeiros conhecimentos sobre culinária e nutrição com tendência para a saúde.

Os adventistas e o movimento da reforma pró-saúde

O pioneiro José Bates foi um exemplo dos reformadores da época. Abolicionista e pacifista, foi também advogado da temperança e vegetariano antes mesmo de ter ouvido falar de Guilherme Miller ou do sábado.2

Ellen White se voltou para os escritos dos reformadores da saúde em apoio às mensagens que recebeu em visão. Em 1865, a Sra. White terminou a exposição por escrito de sua principal visão sobre a reforma pró-saúde em Health: or How to Live (A Saúde: ou Como Viver). Aí, simultaneamente com seus próprios artigos, incluiu ela artigos escritos por outros reformadores da saúde que defendiam o que ela estava ensinando. Algumas vezes ela usou as palavras de outros reformadores em seus escritos,3 de maneira que é notável que seus escritos estejam livres como o estão, das mais questionáveis idéias dos reformadores pró-saúde, embora incluam alguns conceitos que os cientistas podem questionar hoje.4

J. H. Waggoner declarou que a mensagem adventista pró-saúde era singular, não só pelo que ensinava, como pela maneira em que foi dada “pelo método de escolha de Deus… mais claro e poderosamente apresentado”5

Orientação dietética dos primeiros reformadores pró-saúde

Quando os adventistas consultavam os reformadores pró-saúde de seu tempo, que orientação recebiam? A obra Lectures on the Science of Human Life era considerada a referência clássica entre os adventistas. O livro foi escrito em 1839, por Sylvester Graham. O exemplar dessa obra pertencente à Sra. E. G. White, pode ser visto na biblioteca White Estate.

Graham apresentou extensos argumentos em favor do regime vegetariano. Ele se demorou principalmente sobre o valor do pão, tendo dedicado 40 páginas do texto só a este assunto.Depois do pão, as frutas são mencionadas como o alimento mais apropriado para o homem, e Graham, ao contrário de alguns de seus seguidores, afirmava ainda que as pessoas saudáveis e vigorosas podiam digerir couve, pepino, alface e outros tipos de verduras.7

Graham advertiu contra todas as combinações artificiais e concentrações alimentares, quer animal ou vegetal, citando como exemplo o açúcar. A sacarina dos vegetais era nutritiva e salutar, ensinou, mas quando concentrada em xarope ou cristalizada em açúcar, era “decididamente prejudicial aos interesses fisiológicos do nosso corpo”.8 Com exceção do pão, Graham não dá nenhuma receita. Ele cria que os alimentos crus eram em geral melhores do que os cozidos.9

Em 1849, a falta de receita foi preenchida pelo Dr. William A. Alcott, um formado de Yale e prolífico autor da reforma pró-saúde, que incluiu um panfleto de 22 páginas, intitulado “Outlines of a New System of Food and Cookery”, repleto de receitas, em seu livro Vegetable Diet.10

As recomendações de Alcott continham algumas noções curiosas. O pão de primeira, ensinava ele, não devia ser feito com outra coisa senão a farinha integral e água. O pão de segunda, permitia a mistura de várias espécies de farinhas integrais, e somente se preferir pão de terceira, você poderá permitir que faça parte da receita o bicarbonato de sódio.11

Os grãos vinham depois no livro de culinária de Alcott. Eles podiam ser cozidos, assados, tostados, torrados ou “torrefeitos”. Ele incluía feijões verdes entre os grãos, mas os chamava de “os menos saudáveis”.12

Os bolos podiam ser feitos acrescentando-se manteiga ou óleo de oliva, juntamente com ovos ou leite, para as receitas de pão. Os pudins podiam ser “um pouco salgados, caso se deseje”, e algumas receitas permitiam melado, ovos, e mesmo açúcar ou uva passa.13

As tortas, como eram comumente feitas, eram “má combinação” “uma raça mestiça”, na maneira de ver de Alcott, mas ele estava disposto a fornecer receitas para tortas de abóbora, moranga e batata. Alcott concordava em que torta de maçã natural, feita tão natural como se fosse simples calda, não era objetável.14

Entre outros alimentos, Alcott gostava pouco, fosse de laranja, que era muito “fibrosa”;15 cebola crua, que era nociva; e repolho, que era “tolerável, mas muito fibroso e, Conseqüentemente, muito indigesto”.16

Das muitas raízes, ele considerava a batata a melhor. Ela pode ser preparada melhor, cozida; frita é a pior maneira. As raízes doces e aguadas — beterraba, cenoura branca, nabo, cenoura, são muito menos saudáveis do que as raízes farináceas e o rabanete; “belas como possam parecer, são quase inúteis”.17

Em 1856, Alcott publicou The Laws of Health (As Leis da Saúde), que a Sra. White também possuía. Ele repetiu aí muitos dos cuidados que Graham havia expresso e que iriam tornar-se padrão de recomendação na literatura adventista sobre alimentação: Os alimentos devem ser ingeridos com uma disposição alegre e bem mastigados. Não se deve comer mais de três vezes ao dia, com intervalos de seis horas, mas é preferível tomar duas refeições diárias; deve-se parar de comer enquanto ainda está com um pouco de fome. Nenhum alimento entre as refeições, nenhum líquido junto com as refeições, nem muitas variedades de alimento também em uma refeição, e parar com o açúcar, os condimentos e a carne, especialmente de porco.18

Alcott discutiu também a digestão e os sucos digestivos, embora não tivesse nenhuma noção da função específica dos vários sucos. Ele alimentava a curiosa idéia de que o alimento digerido penetrava na corrente sanguínea por meio de um grande tubo que o levava a um ponto próximo do ombro esquerdo e o vertia dentro de uma grande veia.19

Ele forneceu uma lista de alimentos considerados indigestos, ao menos para estômagos debilitados: carne gorda, manteiga, substâncias conservadas de várias espécies, ovos cozidos duros, pastéis de carne, casca de pastel, panquecas, sonhos, bolo confeitado e frituras. Os mingaus, sopas e caldos não podiam ser digeridos, uma vez que eram ingeridos sem mastigar e engolidos sem ser misturados com saliva. Os pepinos verdes, as uvas, tomates e pimenta eram “totalmente insolúveis e prejudiciais”. O sal contribuía para o escorbuto e outras alterações e por isso era “contrário à digestão saudável”.20 Alcott tinha também muito o que dizer sobre os perigos de doenças provenientes da carne e dos venenos de outros alimentos.

Quando Tiago White editou e publicou os panfletos do Health: or How to Live em 1865, incluiu a primeira coleção de receitas adventistas. As 12 senhoras adventistas de Battle Creek, que compilaram as receitas, deram, contudo, o crédito aos trabalhos anteriores, feitos por Russel e outros.21

New Hydropathic Cook Book de Trail era mais do que uma simples lista de receitas. Incluía material sobre digestão, bem como um catálogo quase exaustivo de alimentos vegetais.

Trail incluiu umas poucas instruções em favor do cozimento de carne como um compromisso com “os apetites presentes” e “o estado degenerado da sociedade”.22 Sua seleção de verduras, grãos e frutas foi muito maior do que a de Alcott, e ele não teve, no conjunto, os preconceitos de Alcott contra certos vegetais.

O princípio fundamental da filosofia de Trail sobre nutrição era que todo nutriente mineral é formado pelos vegetais, daí serem os alimentos animais inferiores, porque eram derivados e tinham probabilidade de ser impuros. Trail entendia que o corpo era formado de vários ele-mentos químicos, 13 dos quais devem ser obtidos de nosso alimento. Todavia, isto proporcionou pouca ajuda na escolha dos alimentos, uma vez que Trail cria que esses elementos se achavam inteiramente distribuídos de maneira intensiva no reino animal e vegetal, de maneira que as pessoas sempre obtinham o suprimento suficiente.23

Trail abrigava também a noção de que apenas uma quantidade bem pequena de água era necessária — a que provinha do regime alimentar correto. Ao contrário de Alcott, Trail dispensava elevada consideração ao lugar das fibras no regime alimentar. Pensava, contudo, que elas fossem nutritivas, e rejeitava a noção de que elas estimulavam a ação dos intestinos.24

Conselhos dietéticos para os primeiros adventistas

De meados de 1860 em diante, os adventistas tiveram ao seu alcance conselhos de autores adventistas sobre digestão, nutrição e culinária. Os próprios conselhos de Ellen White davam alguma orientação, e os outros também faziam coro. Em geral, seus conselhos diziam que os alimentos deveriam ser comidos em estado tão fresco, natural, não adulterado e simples quanto possível.

Por volta do fim do século, John Harvey Kellogg já estava dividindo os alimentos em gorduras, hidratos de carbono e proteínas, embora usasse termos diferentes. Ele ainda tinha conceito limitado a respeito de coisas tais co-mo exigência de proteínas. Ele possuía um leve conceito do papel de certos minerais, mas nada sabia, naturalmente, sobre vitaminas.

Na ausência de conhecimento sobre como o corpo utiliza o alimento, outro critério era usado para determinar a conveniência deste. Em todo esse período, o perigo das doenças provenientes da alimentação cárnea e de produtos animais, avolumou-se grandemente. Perto do fim do século, Kellogg prestou uma grande contribuição com respeito à adulteração e à contaminação dos alimentos. Anteriormente, a digestibilidade e o fato de os alimentos serem ou não estimulantes, eram critérios importantes. Em 1868, o livro Hand Book of Health, de J. N. Loughborough, salientava que os alimentos muito estimulantes causavam um consumo muito maior de energia vital e, à semelhança do álcool, deixavam o corpo deprimido.25

As gorduras, tais como a manteiga e os óleos de origem animal, segundo Loughborough, eram também concentradas e impuras, eram só levemente nutritivas e eram difíceis de digerir.26 Merritt Kellogg cria também que as gorduras e os óleos não continham os elementos apropriados para a construção dos tecidos vitais.27

Nenhum dos livros adventistas consultados, sobre regime alimentar, recomendava nozes até o fim do século XIX. A Sra. White não as incluiu em suas listas resumidas de alimentos aceitáveis (“frutos, grãos, nozes e verduras”) senão perto do fim de sua vida, quando sua principal preocupação era advertir contra o uso indiscriminado de nozes.

Os adventistas e o uso da carne

A distinção mais fundamental no regime alimentar adventista foi a que se estabeleceu entre os vegetais e a alimentação cárnea. E produtos animais como o leite, manteiga, queijo e ovos receberam apenas sanção ligeiramente mais forte.

Os dois principais argumentos de Loughborough contra a alimentação cárnea: que esta é mais estimulante e mais causadora de doenças do que os produtos vegetais — era usada extensivamente em todo o século XIX pelos adventistas; e o argumento anatômico, especialmente quando considera os dentes — os dentes humanos não são como os dentes dos carnívoros — também receberam grande ênfase.

Carnes limpas e imundas

Os adventistas nada teriam que ver com porco, senão nos aspectos bíblicos não fisiológicos. “Cremos que há mais base em que repousar (proibição do porco) do que a lei cerimonial da antiga dispensação”, escreveu Uriah Smith. “Pois se assumimos a posição de que aquela lei ainda vigora, devemos aceitá-la toda, e então teremos mais em nossas mãos do que podemos facilmente dispor.”28

Não deveria ser tão surpreendente, pois, saber que alguns dos nossos pioneiros, entre os quais Ellen White, algumas vezes comeram alimento imundo, como ostra.29 Eles não achavam que estivessem sujeitos a qualquer injunção bíblica contra alimentos imundos.

Os adventistas e outros reformadores pró-saúde, porém, falaram vigorosamente contra o porco. Alcott insistia em que o porco causava a lepra e outras enfermidades da pele, como o fez Trail.30 Ellen White confirmou a idéia,31 embora em 1858 ela não condenasse o comer a “carne de suíno”.32 Kellogg podia descrever um porco nos termos mais repugnantes e revoltantes, e fez isto em grande medida.33

Os reformadores pró-saúde e os produtos animais

As observações dos reformadores sobre produtos animais — leite, manteiga, queijo e ovos, em geral lhes desencoraja o uso, sem uma rigorosa fiscalização.

Sylvester Graham afirmava que o leite era elogiado por quase todo escritor que falava sobre regime alimentar como sendo “uma das espécies de alimento mais nutritivo e saudável que o homem podia usar”34, mas oito anos de pesquisa sobre o assunto lhe haviam abalado a confiança nessa crença amplamente defendida.35

Trail também tinha uma sombria concepção do leite. Em sua Hydropathic Encyclopedia ele diz que o leite “leva à irritação dos rins, ou produz desassossego e sono difícil, com agitação, e secura ou mau gosto na boca”. Mesmo assim, considerava o leite azedo, o soro de leite coalhado, inofensivo, embora não melhor do que água.36

Hygienic Family Physician de Merritt Kellogg discutia o leite apenas ao falar de “alimento para crianças”37, e o Hygienic Cook Book, de 1875, que John Harvey Kellogg provavelmente tenha editado, dizia que o leite de vaca é melhor para as crianças do que para adultos, por causa de certas alterações nos órgãos digestivos que o leite ocasiona “e toda espécie de nutriente do sangue” objetável.38

Além disso, o livro de culinária de 1875 dizia que era provável que o leite estivesse “carregado dos produtos de doenças”, especialmente febre tifóide.

A advertência de Kellogg sobre o leite parece ter acompanhado o desenvolvimento científico dos tempos. Em 1886, o químico Soxhlet, que desenvolveu a pasteurização, recomendou ferver o leite que as crianças tomavam.39 Kellogg advertiu seus leitores a fazerem isso no ano seguinte. Não foi senão em 1892 que se realizou a primeira-contagem bacteriana do leite comercializado, nos Estados Unidos, mas Kellogg já estivera advertindo seus leitores durante anos, das bactérias do leite. Somente em 1910 foi definitivamente estabelecida a relação entre a tuberculose nos animais e as crianças. Kellogg já havia falado do perigo da tuberculose em 1887.

A digestibilidade, a adulteração e as doenças foram de novo o principal assunto, quando estes escritores voltaram sua atenção para o queijo. Graham permitia apenas um pouco de queijo, e que não tivesse mais de três meses de idade, para homens robustos que trabalhavam, pois o queijo velho de qualquer tipo era freqüentemente adulterado pelo acréscimo de uru-cu e mesmo arsênico, para dar-lhe uma aparência agradável e cremosa.40 Alcott apresentava essas mesmas objeções. Trail dizia: “O queijo fresco não é muito objetável, mas o queijo velho e forte é uma das coisas mais prejudiciais e indigestas que existem.”41

A manteiga também obteve apreciação inferior. Graham sugeria evitá-la completamente. Ela agravava as doenças de toda espécie, dizia ele, e prejudicava as crianças e os jovens mais do que os adultos.42

Alcott cria que ela fosse uma das piores coisas a penetrarem no estômago humano, depois da gordura de porco, e se ela “não chega a causar a lepra, como a gordura de porco”, certamente causaria todas as outras espécies de enfermidades.43 Trail a considerava difícil de digerir, apenas levemente nutritiva e “capaz de produzir ácidos repugnantes no estômago”.44 Fresca e ligeiramente salgada, ela era inócua, mas derretida ou cozida era um “alimento mui-to deletério”. Trail, da mesma forma que todos aqueles escritores, recomendava creme doce como substituto.45

Kellogg fazia mais sérias objeções ainda à margarina, “um artigo totalmente falsificado”, que contém “grandes quantidades de banha de porco e sebo”, e muitas vezes “porções de carne, membranas e tecido muscular, provavelmente de cães e gatos doentes”.46

Graham considerava tudo o que dissera acerca do leite, aplicável aos ovos, embora também considerasse a estes mais “altamente animalizados” do que o leite. Se ao menos eles fossem usados crus ou só ligeiramente cozidos, seriam totalmente nutritivos e fáceis de ser digeridos. Mas considerava os ovos muito cozidos, por demais difíceis de ser utilizados pelo estômago sem opressão.47 As opiniões de Alcott eram semelhantes. Além dos ovos muito cozidos, Trail acrescentava à lista proibida os ovos fritos e as omeletas, declarando-os “atentatórios ao estômago humano”.48

Hygienic Cook Book de 1875 reiterava to-dos os argumentos — os ovos eram excitantes e estimulantes e, quando muito cozidos, ou fritos em gordura e comidos com pimenta e sal, muito indigestos. Por esse motivo, deviam ser excluídos também dos bolos e doces.49

O regime vegetariano adventista

Sem contínua pesquisa não podemos responder cabalmente à questão do que comem os adventistas vegetarianos. Podemos citar apenas o exemplo de Ellen White, que foi talvez mais rigorosa do que muitos adventistas, embora não tão rigorosa quanto outros. Ela sempre se considerou vegetariana, mas entre os anos 1870 e começo de 1890, ela ocasionalmente comeu um pouco de carne.

“Sempre temos usado um pouco de leite e algum açúcar”, escreveu a Sra. White em 1873,50 e é provável que ela tenha seguido essa prática em anos posteriores. Ela fez uso moderado semelhante de ovos. Embora tivesse falado de um tempo no qual o leite e ovos devessem ser deixados, ela dizia que os adventistas não deviam trazer prematuramente sobre si um “tempo de tribulação”, e lhes afirmava que Deus revelaria quando houvesse chegado a ocasião para deixar o leite, a manteiga e os ovos.51

Durante alguns anos, antes de se mudarem para Rocky Mountains em 1873, os White não usaram manteiga. Uma vez ali, porém, a Sra. White concluiu que na ausência de verduras e frutas, ela era menos prejudicial à saúde do que “bolos doces e confeitados”.52

Após sua visita ao Sanatório Santa Helena, em 1884, escreveu ela que “nem um pedacinho de carne ou manteiga” estivera em sua mesa desde que ela voltou.53 Depois, em 1894, disse ela: “Não comemos nenhuma carne, e não te-mos manteiga em nossa mesa.”54 A diferença entre “comer” e ter algo “sobre a mesa”, pode indicar que eles ainda usavam manteiga na cozinha, mas não a colocavam sobre a mesa para ser usada em grande quantidade ou como condimento.

Talvez a Sra. White usasse menos queijo do que carne. Ela admitia ter usado um pedacinho de queijo que foi colocado diante dela, quando hóspede, mas, disse ela, a família não “compra queijo, nem tem o costume de comê-lo”.55 Em 1901 ela explicou que havia “provado queijo uma ou duas vezes, mas que isto era diferente de tomá-lo uma artigo do regime alimentar”.56 Outros adventistas pareciam comer queijo mais livremente. Estava sendo vendido na tenda de provisão em uma reunião campal na qual o Dr. John Harvey Kellogg, recém-chegado ao local, o descobrira. O comerciante de secos e molhados do acampamento, disse ele, tinha permissão de um dos diretores do acampamento para vender o queijo. Kellogg comprou todo o queijo e o lançou no rio.57

Além da grande variedade de frutas e verduras, os White e outros adventistas comiam mui-tos outros alimentos. Kellogg produzia granola, um cereal seco para o desjejum, para seus pacientes do Sanatório de Battle Creek, e depois, em 1877, organizou a Sanitarium Health Food Company para atender a um mercado mais amplo com produtos tais como farinha de aveia, bolachas de farinha integral e fruta, e cereais de grãos integrais cozidos.58 Em 1896 ele começou a produzir Nutena, um substituto da carne.59 Produziu também um café de cereal feito de cascas de pão, farelo, melado e milho.60 Introduziu também o creme de amendoim na dieta americana.61 Sua invenção mais famosa, porém, foi o Com Flakes, que seu irmão Will transformou em um negócio multibilionário.4

Conclusão

A saúde foi sempre uma via por meio da qual os adventistas alcançaram o mundo e o atraíram. Talvez por isso, os argumentos religiosos e bíblicos tenham sido escassos nos escritos de Kellogg. A Review continha um artigo ocasional tratando do assunto, mas muitos dos conselhos dietéticos adventistas vieram através dos jornais e livros de Kellogg. A Sra. White, naturalmente, forneceu perspectivas religiosas, mas não escreve muito sobre regime alimentar nos anos 1870 a 1880, e seus escritos dos anos 60 às vezes já não eram impressos mais para o fim do século.

No final do século, a situação havia mudado. O ensaio de Milton C. Wilcox sobre “Mam’s Primitive and Best Diet” (A Primitiva e Melhor Dieta do Homem) realçou grandemente a perspectiva bíblica.5

Ele salientou a importância do alimento que usamos aos olhos de Deus: “Desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde” (III S. João 2); “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (I Cor. 10:31); e inúmeros outros textos. Ele chegou ao auge ao dizer que a boa saúde faz parte da santificação total do ser.

Retornando à dieta original do homem, ele traçou a história do regime alimentar através dos tempos bíblicos, terminando com um mapa que descrevia a história do regime natural de frutos e grãos do Éden, passando pelo regime cárneo de Babilônia e Egito, e depois chegando de novo, depois de 1844, a um regime ali-mentar de frutas e grãos na Segunda Vinda. O fazer, porém, com que a linha crescente após 1844 seja tão reta, íngreme e ininterrupta como a pintou Wilcox; ou se curve para fora, formando um platô, depois de mil anos ou mais, é algo para determinarmos. 

Dr. Ronald D. Graybill

  • 1. R. T. Trail, The New Hydropathic Cook Book (No- va Iorque: Fowlers and Wells, 1857), pág. 7.
  • 2. Godfrey T. Anderson, Outrider of the Apocalyp­ se (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publishing Assn., 1972) págs. 37, 38, 42 e 104.
  • 3. Comparar, por exemplo, Ellen G. White, Appeal to Mothers (Battle Creek: Steam Press, 1864), pág. 9 com James C. Jackson, The Sexsual Organism and its Healthful Management (Boston: B. Loverett Emerson, 1861), págs. 74 e 75, onde Ellen White usa nove para­lelos distintos do livro de Jackson. Tais paralelos são raros nos escritos mais antigos de Ellen White sobre saúde, mas existem.
  • 4. Ver Roger Coon, Seminar os Contemporary Issues in Prophetic Guidance (Washington, D. C. White Estate, 1986), págs. 10-14 para discussão de algum dos “problemas” apresentado por Ellen G. White.
  • 5. J. H. Waggoner, “Present Truth”, Review and Herald, vol. 28 (7 de agosto de 1866), pág. 77.
  • 6. Sylvester Graham, Lectures on the Science of Human Life, (Nova Iorque: Office of the Health Reformer, n. d.), págs. 517-547.
  • 7. Idem, págs. 540 e 549.
  • 8. Idem, pág. 547.
  • 9. Idem, págs. 513-516.
  • 10. William Alcott, Vegetable Diet (Nova Iorque: Fowlers and Wells, 1850), págs. 16 e 17.
  • 11. Idem, págs. 293-298.
  • 12. Idem, pág. 301.
  • 13. Idem, págs. 302-304.
  • 14. Idem, págs. 306 e 307.
  • 15. Idem, pág. 308.
  • 16. Idem, págs. 311 e 312.
  • 17. Idem, págs. 309-311.
  • 18. William Alcott, The Laws of Health (Boston: John P. Jewett & Co., 1860), págs. 122-196.
  • 19. Idem, pág. 109.
  • 20. Idem, págs. 111, 145, 149 e 150.
  • 21. James White, ed., Health: or How to Live, Núme-ro 1, (Battle Creek: Steam Press, 1865), págs. 31-51.
  • 22. Idem, pág. 206.
  • 23. Idem, págs. 19 e 15-26.
  • 24. Idem, págs. 29 e 41.
  • 25. J. N. Loughborough, Hand Book of Health (Battle Creek: Steam Press, 1868), págs. 184 e 185.
  • 26. Idem, pág. 189.
  • 27. M. G. Kellogg, Hygienic Family Physician (Battle Creek: Office of the Health Reformer, 1873), pág. 21.
  • 28. Uriah Smith, “Meats Clean and Unclean”, Review and Herald, vol. 60 (3 de julho de 1883), pág. 424.
  • 29. Ron Graybill, “The Development of Adventist Thinking on Clean and Unclean Meats”, E. G. White Estate, 27 de abril de 1981; o assunto é também discutido em Coon, págs. 20-22.
  • 30. Alcott, Vegetable Diet, pág. 258; Laws of Health, pág. 157; Trail, New Hydropathic Cook Book, pág. 44; Ellen G. White, Spiritual Gifts, vol. 4 (Battle Creek: Steam Press, 1864), pág. 146.
  • 31. How to Live, pág. 58.
  • 32. Testimonies, vol. 1, págs. 206 e 207.
  • 33. J. H. Kellogg, Pork (Battle Creek: Steam Press, 1897).
  • 34. Graham, Lectures (Nova Iorque, n. d.) pág. 422.
  • 35. Idem, págs. 508-510.
  • 36. Russell T. Trail, The Hydropathic Encyclopedia (Nova Iorque: Fowlers and Wells, 1873), pág. 422.
  • 37. M. G. Kellogg, Hygienic Family Physician, págs. 22 e 23.
  • 38. (J. H. Kellogg?), Hygienic Cook Book (Battle Creek: Office of the Health Reformer, 1876), pág. 10.
  • 39. Cummings, The American and His Food (Chicago: University of Chicago Press, 1941), págs. 92-94.
  • 40. Graham, Lectures (Nova Iorque, n. d.), pág. 507.
  • 41. Trail, New Hydropathic Cook Book, pág. 167.
  • 42. Graham, Lectures, pág. 506.
  • 43. Alcott, Vegetable Diet, pág. 258.
  • 44. Trail, New Hydropathic Copk Book, pág. 107.
  • 45. Ibidem.
  • 46. J. H. Kellogg, Home Hand Book, pág. 417.
  • 47. Graham, Lectures, pág. 510.
  • 48. Trail, Hydropathic Encyclopedia, pág. 422.
  • 49. Hygienic Cook Book, pág. 10.
  • 50. Ellen G. White ao Irmão e à Irmã Canright, 12 de nov. de 1873, Carta 1, 1873.
  • 51. Ellen G. White ao Dr. D. H. Kress e esposa, 29 de maio de 1901, Carta 37, 1901.
  • 52. Ellen G. White ao Irmão e à Irmã Canright, 12 de novembro de 1873, Carta 1, 1873.
  • 53. Ellen G. White ao Irmão e à Irmã…, 17 de fev. 1884, Carta 2, 1884.
  • 54. Ellen G. White à Irmã Clausen, 14 de junho de 1894, Carta 13, 1894.
  • 55. Ellen G. White ao Irmão e à Irmã Canright, 12 de nov. 1873, Carta 1, 1873.
  • 56. Ellen G. White, “Talk in the College Library”, 1º de abril de 1901, Ms. 43, 1901, pág. 11.
  • 57. Ellen G. White ao Irmão e à Irmã McCullough, 7 de setembro de 1893, Carta 40, 1893.
  • 58. Richard Schwarz, John Harvey Kellogg, M. D. (Nashville, Tenn.: Southern Publishing Assn., 1970), pág. 209.
  • 59. Idem, pág. 109.
  • 60. Idem, pág. 110.
  • 61. Idem, pág. 120.
  • 62. Ibidem.
  • 63. M. C. Wilcox, Flora and J. R. Leadsworth, The Natural Food of Man and How to Prepare It (Oakland: Pacific Press, 1899), págs. 5-44.