Como deveríamos lidar com as faltas dos outros? Muitas vezes a correção é descuidada ou contraproducente. O conselho dado neste artigo é tão necessário hoje como quando foi dado pela primeira vez em 1888. É a primeira vez que ele é publicado aqui.
As Escrituras falam claramente sobre a conduta a ser seguida para com os que erram: “Vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.”
Convencer alguém de seus erros é o trabalho mais delicado; pois, através do constante exercício, certas maneiras de pensar e agir se tornam a segunda natureza; por meio do hábito, cria-se o gosto moral; e é muito difícil àquele que erra, ver os seus erros. Muitos não enxergam em si mesmos faltas que são claramente discernidas por outros. Há sempre esperança de arrependimento e reforma em alguém que reconhece seus erros. Alguns, porém, são orgulhosos demais para confessar que estão errados, mesmo que os seus erros sejam claramente apontados e eles os vejam. De uma maneira geral eles admitirão que são humanos, sujeitos a errar; esperam, contudo, que os outros neles confiem como se eles fossem infalíveis. Tais confissões nada têm que ver com Deus.
“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça.” “O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” “Bem-aventurado o homem que continuamente teme; mas o que endurece o seu coração virá a cair no mal.” “Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.” “Conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.” “Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e Tu perdoaste a maldade do meu pecado.”
Recusando a correção*
Não é seguro fazer como Saul — agir contrariamente às ordens do Senhor, e depois afirmar: “Executei a palavra do Senhor”, recusando-se obstinadamente a confessar o pecado da desobediência. A teimosia de Saul tomou seu caso sem esperança. Vemos que outros lhe es-tão seguindo o exemplo. Em Sua misericórdia, o Senhor envia palavras de reprovação a fim de salvá-los, mas eles não aceitam ser corrigidos. Insistem em que não cometeram nenhum erro, resistindo assim o Espírito de Deus. O Senhor declara por meio de Samuel: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” O coração obstinado é assim representado pelo caso de Saul para advertir toda alma que está em perigo de agir como ele o fez.
É muito desanimador trabalhar em favor dessa classe. Se sua conduta errada lhes é apontada como sendo danosa tanto para eles mesmos como para outros, eles procuram escusar-se atribuindo a culpa às circunstâncias, ou deixando outros sofrerem a censura que lhes é devida. Enchem-se de indignação por alguém que os considera como pecadores. Aquele que os reprova é considerado como os tendo na conta de pessoas ruins.
Apressados em criticar
E, contudo, estes mesmos indivíduos que são tão cegos com respeito a suas próprias faltas, muitas vezes são apressados em perceber os erros dos outros, apressados em criticar-lhes as palavras e a condená-los por algo que eles fizeram ou deixaram de fazer. Não percebem que seus próprios erros podem ser muito mais prejudiciais à vista de Deus. Eles se assemelham ao homem representado por Cristo como procurando tirar o argueiro do olho do seu irmão, enquanto tinha uma trave no seu próprio olho. O Espírito de Deus toma manifestos e reprova, os pecados ocultos, envoltos na escuridão, pecados que, se acariciados, avolumar-se-ão e arruinarão a alma; aqueles, porém, que se consideram superiores à reprovação, resistem à in-fluência do Espírito de Deus. Em seus esforços para corrigir os outros, não manifestam paciência, bondade e respeito. Não revelam um espírito abnegado, a ternura e o amor de Jesus. Eles são mordazes, ríspidos e cruéis em suas palavras e sentimentos.
Toda crítica desalmada feita aos outros, toda idéia de estima própria, é “o estender do dedo, e o falar vaidade”. Este erguer o eu com orgulho, como se fôsseis sem defeito, e a magnificação das faltas dos outros, são ofensivos a Deus. É o quebrantamento de Sua lei: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” “Sede uns para com os outros benignos.” Não temos nenhum direito de retirar nossa confiança de um irmão por causa de alguma notícia má, de alguma acusação ou suposição de erro. Freqüentemente são feitas denúncias por aqueles que são inimigos de Deus, aqueles que estão fazendo a obra do inimigo como acusadores dos ir-mãos.
Alguém não tão atento quanto ele deveria ter sido às palavras de Cristo: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, permitiu que seus ouvidos não santificados ouvissem mal, seus sentidos pervertidos imaginassem de maneira errada e sua má língua transmitisse o erro. O homem não virá falar francamente com muitos que imagina estarem em erro, mas irá a outros, e sob o disfarce da amizade e simpatia pelos que erram, lançará dúvidas. Muitas vezes ele concorda abertamente com aquele a quem às ocultas procura prejudicar. As suposições são apresentadas como fatos, sem se fazer à pessoa acusada como faltosa uma exposição clara e definitiva de seus supostos erros e sem lhe conceder uma oportunidade de responder às acusações. Isto é totalmente contrário aos ensinamentos de Cristo. Esta é a maneira sutil pela qual Satanás sempre trabalha.
Aqueles que fazem tais coisas, assentaram-se como juízes por admitir maus pensamentos. Aquele que toma parte nesta obra, comunica a seus ouvintes uma medida de seu próprio espírito de trevas e descrenças; suas más suspeitas semeiam na mente as sementes da amargura e da desconfiança para com aquele a quem Deus incumbiu de fazer certa obra. Se acham que alguém cometeu um erro, eles tomam isso, ampliam-no e o transmitem a outros, e as-sim muitos são levados a levantar suspeita contra seu próximo. Eles observam avidamente tudo o que é errado, e fecham os olhos e são inca-pazes de apreciar tudo o que é louvável e justo.
Por meio de sua aceitação da evidência de boatos, o inimigo obtém grande vantagem nos concílios e nas reuniões de comissão. Aqueles que deveriam permanecer ao lado do direito, se soubessem o que significa isso, têm-se revolvido nos poços lamacentos das más suspeitas, pois são desviados do caminho pelas conjeturas de alguém em quem têm confiança. Suas orações são impedidas, paralisada sua fé, e os pensamentos maldosos, as suspeitas perversas, vêm fazer sua obra de desunião entre os irmãos. Deus é desonrado e almas são postas em perigo.
O benefício da ausência de dúvida
Quando se faz esforço para apurar a verdade com respeito ao assunto os que foram apresentados como errados, os acusadores freqüentemente relutam até mesmo em conceder ao acusado o benefício de uma dúvida quanto à fidedignidade das más informações. Eles parecem determinados a considerar as coisas exatamente como relataram, e tratam o acusado como culpado, sem dar-lhe a oportunidade de explicar ou relatar a verdade do caso. Quando há o manifesto espírito de tão feroz determinação para tomar um irmão ou irmã um ofensor, e não se pode fazer os acusadores verem ou sentirem que sua própria conduta foi repreensível, o que mostra isto? — Que o poder degenerador do inimigo esteve sobre eles, e seu caráter refletiu-lhe os atributos.
Satanás bem sabe que todos os seus esforços, juntamente com os de seus anjos e os dos homens maus, são, todavia, impotentes, quando opostos ao dos fiéis e unidos servos do Grande Rei, embora sejam poucos. A fim de vencer o povo de Deus, Satanás operará sobre os elementos do caráter que não foi transformado pela graça de Cristo; ele fará com que estes se tornem o poder controlador da vida. A menos que essas pessoas se convertam, sua própria alma se perderá, e outros que olham para eles como homens guiados por Deus serão destruídos juntamente com eles, porque se tomaram igualmente culpados. Satanás se esforça para despertar desconfiança, inveja e ciúmes, levando os homens a questionarem aquelas coisas em que deveriam crer para benefício de sua alma. Os desconfiados interpretarão mal tudo. Eles considerarão um átomo um Universo, e um Uni-verso um átomo. Se se permitir que seu espírito prevaleça, este desmoralizará nossas igrejas e instituições.
Falar mal de outro às ocultas, deixando a pessoa acusada na ignorância da falta que lhe é atribuída, é ofensa aos olhos de Deus. Que aqueles que se tem dado a esse trabalho se arrependam diante de Deus, confessem seu pecado e depois cultivem a tenra planta do amor. Cultivai as graças do Espírito, cultivai a bondade, a compaixão para com os outros, mas não mais trabalheis do lado da questão do inimigo.
Antes de darmos crédito à má notícia, deveríamos ir à pessoa que está sendo acusada de erro e perguntar, com toda a brandura de um cristão, se aquelas afirmações são verdadeiras. Umas poucas palavras expressas com bondade fraternal podem mostrar ao inquiridor que as informações eram totalmente sem fundamento, ou que o mal foi grandemente exagerado.
E antes de passar o julgamento desfavorável a respeito de outro, devereis ir à pessoa que considerais errada, falar-lhe dos vossos receios, com a própria alma sujeitada pelo compassivo amor de Jesus, e verificar se não pode ser dada alguma explicação que afaste vossa impressão desfavorável.
Amor, o aglutinador
Cristo orou para que Seus discípulos fossem um como Ele é um com o Pai. Então cada um que se diz filho de Deus deveria fazer esforços individuais no sentido de responder a essa oração e empenhar-se por essa unidade. Quando esta existir, os seguidores de Cristo serão um povo santo e poderoso, unido em amor. Se, contudo, permitirdes que o amor desapareça da alma e aceitardes as acusações dos agentes de Satanás contra os filhos de Deus, tornar-vos-eis servos do pecado e estareis ajudando o diabo em sua obra.
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria. A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
“Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.” O que é mentir contra a verdade? É afirmar crer na verdade, enquanto o sentimento, as palavras, o comportamento estão representando os atributos de Satanás e negando a Cris-to. Suspeitar mal, ser intolerante e rancoroso, é mentir contra a verdade. A verdade é sempre pura em suas realizações, sempre bondosa, e respira uma atmosfera celestial não misturada com o egoísmo.
Se alguém na igreja deseja ser mestre, imaginando-se chamado para instruir os outros, que mostre suas aptidões para a posição, não só pe-lo fato de professar, nem apenas em seus discursos, mas em espírito e atos. Que não haja nenhumas ruins suspeitas, nenhum crédito a falatórios e transmissão da história a outros, enquanto ele não procura da melhor maneira possível saber os fatos da parte do acusado. Sua conversação deve ser em mansidão e sabedoria.
Os que se deleitam em criticar seus irmãos, orgulham-se de sua superior sabedoria em discernir no caráter manchas que outros não foram capazes de descobrir; mas “a sabedoria que do alto vem é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. Ora o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz”.
Aqui, apresenta-nos o apóstolo os frutos da religião pura e sem defeito. Os frutos daquela sabedoria que não vem do alto, são também claramente apresentados. Não quereis, prezado ir-mão e irmã, considerar esses frutos, tão opostos em caráter e tendências, e determinar a espécie de espírito que estais alimentando. Que o Senhor possa abrir os olhos do nosso povo para verem claramente de que lado estão. Os bons frutos são sem parcialidade e sem hipocrisia. Quando a graça de Cristo habita no coração, há palavras e atos de bondade, de tema compaixão de uns para com os outros, não apenas por uns poucos que vos louvam e favorecem. O fruto da paz se manifesta na paz daqueles que exercitam a paz. Cristo conhece o espírito que acariciamos. A Fiel Testemunha diz: “Conheço as tuas obras”. Não se ocultam dEle os pensamentos do coração. E por nossas palavras e atos se-remos julgados no último grande dia.
Deus não defenderá a ninguém que, em associação com os opositores de nossa fé ou com os nossos próprios irmãos, manifesta para com eles um espírito rude e acusatório. Os que isto fazem, podem parecer possuidores de zelo pela verdade, mas são sem entendimento. Ser indelicado e denunciatório e alimentar pensamentos maldosos e julgamento rude e severo, jamais constitui o fruto daquela sabedoria que procede do alto, mas é certamente o fruto de uma ambição não santificada, tal como a que causou a condenação de Jesus.
A linguagem do cristão deve ser suave e circunspecta; pois sua sagrada fé pede que ele revele Cristo ao mundo. Todos aqueles que habitam em Cristo, manifestarão a bondade e a cortesia perdoadora que Lhe caracterizou a vida. Suas palavras serão palavras piedosas, de eqüidade e pureza. Possuirão a mansidão da sabedoria, exercitando o dom da graça de Jesus. Serão prontos e dispostos a perdoar e procurarão ardentemente estar em paz com seus ir-mãos. Apresentarão aquele espírito que desejam seja exercido para com eles por seu Pai celestial.
O amor ao poder vem do diabo
O inimigo tem estado em atividade, procurando controlar os pensamentos, as afeições e a visão de muitos que se dizem guiados pelo espírito da verdade. Muitos nutrem pensamentos maliciosos, invejosos, ruins suspeitas, orgulho e um espírito ameaçador que os leva a fazer obras que correspondem às dos ímpios. Possuem o amor à autoridade, ao desejo de supremacia, da elevada reputação, uma disposição para censurar e vituperar os outros. E o manto da hipocrisia lhes é lançado sobre o espírito ao chamarem isto de zelo pela verdade.
Aquele que franqueia o coração às sugestões do inimigo nas ruins suspeitas e inveja, freqüentemente interpreta mal esta má inclinação de ser específico em descobrir culpa e motivos errôneos em outros: ele considera isso como um precioso dom que lhe foi concedido, e persuade parte de seus irmãos, com os quais deveria estar em harmonia. Ele se coloca no trono do juízo e fecha o coração contra a pessoa que supõe tenha errado, como se ele próprio estivesse fora do alcance da tentação. Jesus Se afasta dele, e o deixa andar nas faíscas de seu próprio incêndio.
Que ninguém mais se glorie contra a verdade, pretendendo seja sua atitude uma conseqüência necessária da descrença em corrigir os erros e permanecer na defesa da verdade. Tal sabedoria tem muitos admiradores, mas é o fruto de um coração que necessita ser regenerado. Seu originador é o próprio Satanás. Não deis vós mesmos, como o fazem os acusadores dos outros, crédito ao discernimento; pois vestis os atributos de Satanás com as roupagens da justificação. Apelo para vós, meus irmãos, para que purifiqueis de todas estas coisas que maculam, o templo da alma. Elas constituem raízes de amargura.
Quão verdadeiras são as palavras do apóstolo. “Onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.” A pessoa que dá rédeas soltas a pensamentos maldosos e à conversa prejudicial, seja numa instituição ou na igreja, pode despertar as piores paixões do coração humano; e muitas vezes o fermento agirá até que tenha permeado todos os que com ele estão associados.
O inimigo de toda a justiça obtém a vitória, e o resultado de sua obra é tomar sem nenhum efeito a oração do Salvador para que Seus discípulos fossem um como Ele é um com o Pai. Enquanto os homens e as mulheres são cegados por suas idéias errôneas do que constitui o caráter cristão, o fermento da maldade, que existe em seu próprio coração natural, está ativamente em operação; e existe tamanha maldade e dureza de coração, e são acariciados tal preconceito e ressentimento, que Satanás ocupa o trono do coração e Cristo é excluído. Então o demônio e seus anjos exultam.
A verdadeira sabedoria
A sabedoria que vem do alto não leva a resultados tão danosos. Ela é a sabedoria de Cristo — “primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos”. Aqueles que manifestam esses frutos, colocaram-se a si mesmos do lado de Deus; sua vontade é a vontade de Cristo. Eles crêem na palavra de Deus e obedecem a suas claras injunções. Não consultam seus sentimentos, nem exaltam suas próprias opiniões acima das alheias. Prezam os outros mais do que a si mesmos. Não se esforçam obstinadamente para levar avante seus próprios intentos, sem levar em conta a influência que seus planos exerçam sobre outras almas, preciosas aos olhos de Deus. Para que possa haver unidade e paz em nossas instituições e na igreja, nossas acalentadas idéias e preferências devem ser sacrificadas. Nenhum princípio da verdade divina deve ser, de modo algum, sacrificado, mas nossas tendências pessoais, hereditárias e cultivadas, devem muitas vezes submeter-se. Homem nenhum é perfeito, nenhum sem defeito.
Pergunto-vos, meus irmãos e irmãs a quem estas linhas são dirigidas, estais alimentando um espírito fácil de ser implorado? É vosso costume olhar para a conduta dos outros de acordo com uma perspectiva branda e razoável, eximi-los de qualquer erro como quereis ser desculpados? ou vos esforçais por exaltar o eu, e fazer parecer que vossos irmãos e irmãs es-tão errados? Perguntai-vos a vós mesmos se, uma vez em seu lugar, fareis melhor do que eles o fizeram. Estais prontos a responder à oração de Cristo ao colocardes a vontade em obediência à Sua, a fim de que a paz e a harmonia da igreja sejam mantidas?
Sei que não tem sido este o espírito que muitos têm nutrido. Oh! quantos têm estado inteiramente dispostos a rebaixar os outros e justificar-se a si mesmos. Eles têm defendido sua conduta, quando aos olhos de Deus estavam errados, claramente contrários à palavra de Deus, e está registrado contra eles nos registros celestiais, para ali permanecer até que se arrependam e confessem seu erro. A verdadeira sabedoria é cheia de misericórdia e de bons frutos. Há muitos fanáticos no mundo que imaginam ser perfeito tudo aquilo que a eles se refere, enquanto apontam falhas nos motivos e princípios dos outros. Não desejais ver estas coisas como realmente são?
Não sois o que Deus deseja que sejais, nem o que devereis ser se já estivésseis salvos no reino do Céu. O convertedor poder de Deus deve penetrar-vos o coração e transformar vosso caráter antes que possais adornar o evangelho de Cristo com uma vida bem ordenada e uma piedosa conversação. Então, não mais haverá falatório prejudicial, nenhuma ruim suspeita, nenhuma acusação de nossos irmãos, esforço secreto algum para exaltar o próprio eu e diminuir os outros. Cristo reinará em vosso coração pela fé. Vossos olhos e língua serão santificados, e vossos ouvidos recusar-se-ão a ou-vir notícias ou insinuações más, venham de crentes ou incrédulos. Vossos sentidos, vossos apetites e paixões, estarão todos sob o domínio do Espírito de Deus. Não serão entregues ao domínio de Satanás, para que este os empregue na operação da injustiça.
Caixa de ofertas pelo pecado
Causam-se mais confusões e males pelo mau uso da língua, pela falta de domínio das palavras, do que por qualquer outra coisa. Que os membros de cada família comecem a operar junto a sua própria casa. Que se humilhem diante de Deus. Seria bom terem à vista uma caixa de ofertas pelo pecado, e um regulamento, com o qual todos os membros da família estivessem de acordo, para que aquele que falar mal do outro ou pronunciar palavras precipitadas, coloque ali uma oferta pelo pecado, de valor não inferior a dez cruzados. Dessa forma, todos estariam em guarda contra as palavras prejudiciais, que causam dano a seus irmãos, e muito mais a eles próprios. Homem algum pode, por si mesmo, dominar esse membro irrefreável — a língua; Se, porém, fordes a Deus com coração contrito em humilde súplica, com fé, Ele fará por vós a obra.
Com a ajuda de Deus, deveis pôr freio em vossa língua; falai menos, e orai mais. Jamais questioneis os motivos de vossos irmãos, pois como os julgardes Deus declarou que sereis julgados. Abri o coração à bondade, aos ditames do Espírito de Deus, aos alegres raios do Sol da justiça. Necessitais de um entendimento iluminado. Incentivai os pensamentos bondosos e as santas afeições. Cultivai o hábito de falar bem dos outros. Não permitais que o orgulho ou a justiça própria vos impeçam de fazer franca e completa confissão dos erros cometidos, se desejardes o perdão de Deus. Se não amais aqueles por quem Cristo morreu, não tendes o genuíno amor a Cristo. Vosso culto será uma oferta imunda diante de Deus. Se conservardes pensamentos indignos, fizerdes mau juízo de vossos irmãos e suspeitardes mal deles, Deus não vos ouvirá as orações auto-suficientes e que exalta quem as faz. Ao irdes aos que imaginais estarem cometendo erro, deveis ter espírito de mansidão, bondade, cheio de misericórdia e de bons frutos.
Que não se mostre nenhuma parcialidade para com uma ou mais pessoas que considerais prediletas, em detrimento de outros irmãos a quem não amais. Acautelai-vos ao máximo de lidar rudemente com aqueles que, imaginais, cometeram erros; enquanto outros, mais culpados e dignos de reprovação, e que deviam ser até repreendidos severamente pela conduta não cristã, são apoiados e tratados como amigos especiais. Em sua epístola a Tito, Paulo exorta os irmãos a estarem “preparados para toda a boa obra”; “que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda a mansidão para com todos os homens. Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Mas quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cris-to nosso Salvador”. A misericórdia e a graça de Deus para conosco são um exemplo de como devemos tratar os que erram. Quando aqueles que dizem crer na verdade humilharem o coração diante de Deus e obedecerem a Sua palavra, então o Senhor lhes ouvirá as orações.
Se vossos irmãos erraram, deveis perdoar-lhes. Não devereis dizer, como alguns têm dito, que deviam saber melhor: “Não creio que eles foram suficientemente humildes. Não acho que eles sentiram sua confissão.” Que direito tendes de julgá-los, como se pudésseis ler-lhes os pensamentos? A Palavra de Deus diz: “Se ele se arrepender, perdoa-lhe. E se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe.” E não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete — tantas vezes quantas Cristo vos perdoa.
Aqui é claramente descrito o dom gratuito de Deus ao homem. É o perdão gratuito de todos os pecadores, sem nenhuma retribuição equivalente da parte do homem. O Senhor apresenta estas lições, a fim de que o homem veja como deve tratar o seu semelhante — para que, como Deus por amor a Cristo perdoou seus peca-dos, perdoe ele a seus irmãos que erram. Afinal, se ele é um vitorioso, não será por causa de sua justiça própria, mas mediante a justiça de Cristo, e a grande tolerância, misericórdia e perdão de Deus. Caso não alimente a bondade, o amor e um espírito perdoador para com os seus irmãos, não pertencerá ao número dos que receberão o perdão de Deus.
A lição que Jesus deseja imprimir em Seus discípulos é que os cristãos não podem nutrir um espírito revanchista, seja em pensamento ou ação. A tendência de toda a obra de Cristo era contrariar os ensinos dos escribas e fariseus, que incentivavam a retaliação e a revanche.
Jesus ensina que o pobre não deve levantar-se contra aqueles que estão no poder, nem resistir-lhes a opressão, enquanto pronuncia uma terrível maldição contra os que oprimem o pobre. “Eia pois agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir.” Deus recomenda ao servo que seja fiel ao seu senhor, e a estar contente por amor a Cris-to; diz, porém, ao senhor que ele também tem um Senhor, que dele exigirá plena medida dos seus atos. “Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós.” Não recebemos o perdão porque perdoamos, mas co-mo perdoamos. A base de todo perdão consiste em que Cristo morreu; em que, enquanto ainda éramos pecadores, Ele morreu por nós. Arrependimento e fé são as condições de nossa salvação. Lição após lição é ensinada ao aluno da escola de Cristo, a fim de que ele possa aprender a confiar, não em seus próprios méritos, mas nos méritos da justiça de Cristo.
Perdoar aos outros, essencial
As condições de salvação são apresentadas de várias maneiras, a fim de que se causem impressões eficazes sobre as várias mentes e que ninguém seja enganado. Abraão foi justificado pela fé, aquela fé que opera a obediência. Possam todos os que dizem crer na verdade pre-sente ser cumpridores da palavra que ensina claramente a necessidade de ser cultivado o espírito de perdão, indispensável ao nosso recebimento do perdão de Deus. O pecador que é perdoado e aceito por Cristo, perdoará espontânea, graciosa e completamente o seu irmão.
“Por isso o reino dos Céus pode comparse a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos; e, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos.”
Havia um homem de posição elevada ao qual fora confiada uma grande soma em propriedade. Ao ser, porém, feita a verificação de suas contas, ele foi considerado infiel; devia ao seu senhor dez mil talentos. Isto, de acordo com a mais baixa estimativa, corresponde a não me-nos do que quinze milhões de dólares. Quando o rei constatou a evidência da infidelidade do seu servo, ordenou que este fosse vendido, juntamente com sua mulher, filhos, casa, terras e tudo o que ele possuía, a fim de que fosse efetuado o pagamento. O infiel homem foi tomado de espanto ao ver-se diante da ruína, e implorou adiamento: “Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.” Mas seu senhor sabia que jamais poderia pagar a dívida. Ao mesmo tempo que o servo reconhecia a justiça da sentença contra ele, implorou misericórdia. “Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o, e perdoou-lhe a dívida.”
Que alegria aquela! Que alívio da sombra de sua conduta errada, que o envolvia como uma nuvem! Ele saiu da presença de seu senhor tendo a dívida totalmente cancelada. Ocorreram, porém, circunstâncias que revelaram o verdadeiro espírito daquele homem — se ele manifestaria o mesmo perdão e misericórdia que lhe foram demonstrados, ou se sua alegria e gratidão eram de natureza egoísta, e seu coração não estava enternecido.
“Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.”
Cristo ilustra aqui o espírito de egoísmo e de severidade que irmão exerce para com irmão. Ambos são humanos, ambos necessitados da misericórdia, paciência e tolerância. Mas aquele a quem Deus perdoou muito não perdoará uma pequena ofensa de seu semelhante. Mui-tos professos cristãos consideram aquele a quem julgam estar em erro como tendo um espírito insensível e implacável, fruto do orgulho, da suficiência própria e da dureza de coração; mostram, assim, que o grande amor de Deus em seu favor não é apreciado, pois não lhes amoleceu o coração.
Quando aquele homem, cuja grande dívida foi perdoada, encontrou outro a ele inferior em posição e ocupação, que não lhe devia senão uma pequena soma, encheu-se de ira e, com ameaças e violência, exigiu o dinheiro que lhe deviam. Então, quando o pobre devedor caiu a seus pés e usou exatamente a mesma oração que ele próprio proferira perante seu senhor, ele não usou de misericórdia. Acusou o homem de não querer pagar-lhe, e não atentou para suas súplicas e lágrimas. Aquele a quem tanto fora perdoado não perdoava nada. Reclamou seus direitos e, valendo-se da lei, afligiu o angustiado devedor, pondo-o na prisão.
Essa conduta desgostou aqueles que a testemunharam, pois eles sabiam toda a história de seu perdão, e levaram a notícia ao rei. Então a ira do rei se acendeu, e ele ordenou que o homem fosse levado à sua presença. “Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu igualmente ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?” e o seu senhor o entregou ao carcereiro até que pagasse tudo o que estava devendo.
Não considerarão aqueles cujos nomes estão nos livros do Céu, que dizem ser filhos e filhas de Deus, sua relação para com Deus e para com o próximo? Permanecerá nosso coração endurecido e destituído de simpatia, enquanto devemos depender tão completamente da misericórdia de um Salvador que perdoa os pecados? Pode alguma provocação justificar sentimentos desamoráveis, ou deveria levar-nos a abrigar ressentimento ou querer vingança? Podemos atirar a primeira pedra da condenação de um irmão, quando Deus nos está estendendo Sua misericórdia e perdoando nossos pecados contra Ele? Entrasse Deus em juízo conosco, nossa dívida se mostraria imensa, apesar de nosso Pai celestial nos perdoar a dívida. Os homens deveriam ser tratados por Deus, não de acordo com sua opinião a respeito de si mesmos, nem de acordo com sua confiança própria, mas de acordo com o espírito que revelam para com seus irmãos errantes. O espírito de dureza e severidade é o espírito de Satanás.
O espírito orgulhoso, uma vez acariciado, produz inveja, ruim suspeita e mesmo a revanche. Há perigo, portanto, de que as palavras ou atos sejam transformados em ofensas dolorosas e intencionais, e de que a pessoa que considerais como vos tendo feito uma injustiça seja tratada com frieza, indiferença ou desprezo. Todavia, o Senhor tem cuidado destas mesmas pessoas; os anjos de Deus os servem. Aquele que lê o coração pode ver neles mais genuína bondade do que naqueles que abrigam sentimentos doentios contra eles por supostos erros. “Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o, e, se ele se arrepender, perdoa-lhe.” Tratai-o, e a seus erros, como desejais que Deus vos trate quando O ofendeis. O amor não se regozija com o mal; não se vinga.
Nenhum traço pecaminoso
Seja vosso zelo por vós mesmos, mostrar por meio da boa conversação vosso trabalho com mansidão de sabedoria. Evitai toda palavra ofensiva, toda ação maldosa; sede corteses. Não escandalizeis a verdade pela amarga inveja e contenção, pois tal espírito é do mundo. Não sejam esses traços pecaminosos sequer mencionados entre vós.
Certa feita, os discípulos vieram a Jesus com uma pergunta: “Quem é o maior no reino do Céus? E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos Céus. Portanto, aquele que se tomar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos Céus. E qualquer que receber em Meu nome um menino tal como este, a Mim Me recebe. Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em Mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar.” Os pequeninos aqui mencionados, que crêem em Cristo, não são as crianças de pouca idade, mas as criancinhas em Cristo.
Há uma advertência àqueles que egoisticamente negligenciam ou desprezam seus irmãos fracos; uma advertência aos que são implacáveis e exigentes, que julgam e condenam os outros, e que assim os desanimam. “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti: melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. E, se o teu olho te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti. Melhor te é entrar na vida com um só olho, do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno. Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque Eu vos digo que os seus anjos nos Céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos Céus. Porque o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido.”
Aqui, a obra de Cristo é claramente representada; e espera que Seus seguidores façam obra semelhante. Cumpre-lhes usar os talentos que Deus lhes confiou para salvar o que se havia perdido. Não é o santo, e, sim, o pecador, que necessita de compaixão, do mais diligente labor e do mais perseverante esforço.
As almas fracas e trementes, aquelas que possuem muitos defeitos e objetáveis traços de caráter, constituem especial encargo dos anjos de Deus. “Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque Eu vos digo que os seus anjos nos Céus sempre vêem a face de Meu Pai que está nos Céus.” Qualquer injustiça praticada contra eles, é como se fosse feita ao próprio Cristo. Identifica Ele com os Seus interesses o das almas que adquiriu por infinito preço.
Os anjos estão sempre presentes onde são mais necessários — junto àqueles que têm as mais renhidas batalhas a travar, cujas lutas são com eles mesmos, contra as próprias inclinações e tendências hereditárias, cujo ambiente familiar é o mais constrangedor. Não trabalharão os seguidores de Cristo ao lado de Deus? Não buscarão todos os que estão em nossas instituições a harmonia, a paz, a unidade em Cristo Jesus? Cooperará alguém com Satanás para desencorajar as almas que têm tanto contra que contender? Empurrá-las-á, por palavras e obras, para o campo de batalha de Satanás?
Jesus nos assegura que Sua vinda a nosso mundo teve o propósito de salvar aqueles que estavam perdidos, que estavam mortos em ofensas e pecados, aqueles que eram estranhos e inimigos de Deus. Negligenciarão ou desprezarão, pois, os muitos indivíduos aos quais revelou Cristo misericórdia e perdão, aqueles a quem Jesus está procurando levar para o lar, para Seu coração de infinito amor? A obra de Cristo é resgatar aqueles que se afastaram de Deus; deseja Ele que todo membro da igreja trabalhe juntamente com Ele em trazê-los de volta.
Se aqueles que, por serem sem misericórdia e implacáveis, colocam-se do lado de Satanás, tão-somente atentassem para a reprovação do Salvador e a ouvissem: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra”, erguer-se-ia qualquer mão? Não se fecharia toda boca? Estas palavras de Jesus aos fariseus, trouxe-lhes à lembrança seus próprios pecados. Um após outro, retiraram-se, sentindo-se condenados.
Correção sem o Espírito de Cristo
Irmãos e irmãs, se sois colaboradores de Deus, nenhuma desculpa existe para não vos esforçardes para ajudar, não só aqueles aos quais relutais em fazê-lo, mas os que necessitam de vossa ajuda para corrigir seus erros. Foi-me mostrado que muitos não têm o Espírito de Cristo. A obra, propriamente dita, que Ele lhes mandou fazer, não fizeram. E continuarão a negligenciar esta obra, a menos que o poder convertedor de Deus seja experimentado em seu pobre coração. Então eles enriquecerão em boas obras.
Assim ilustra Jesus a obra que transfere para aqueles que dizem crer em Seu nome: “Que vos parece? Se algum homem tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da que se desgarrou? E, se porventura a acha, em verdade vos digo que maior prazer tem por aquela do que pelas noventa e nove que se não desgarraram. Assim também não é vontade de vosso Pai, que está nos Céus, que um destes pequeninos se perca.”
Maravilhosa lição de misericórdia, tolerância, paciência e amor! As almas que perecem, desajudadas no pecado e sujeitas a ser destruídas pelas artimanhas e laços de Satanás, são cuidadas como o pastor cuida da ovelha do seu rebanho. Jesus representou a Si mesmo como estando familiarizado com Suas ovelhas. Ele deu Sua vida por elas. E Ele vai buscá-las antes mesmo que elas O busquem. Há mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.
Trabalhem os ministros e as pessoas de acordo com o plano de Deus. Troquem seu método pelo de Deus; então serão zelosos em encorajar e fortalecer o fraco, não os afligindo nem os levando a tropeçar por causa de um espírito intransigente, implacável, acusador.
Irmãos, necessitamos cair sobre a Rocha e ser feitos em pedaços. Então teremos no coração o enternecedor e suavizador amor de Jesus. Seguiremos o exemplo de Jesus, a Majestade do Céu, e o dos anjos; e não seremos como os fariseus, que eram orgulhosos, duros de coração e insensíveis. Deus não está desejoso de que mesmo os mais indignos e degradados se percam. Em que luz, portanto, podeis considerar qualquer negligência daqueles que necessitam de vossa ajuda?
Muitos de vós sois voluntariosos, orgulhosos, duros de coração e condenadores, quando ao contrário todo o coração deveria ser despertado para imaginar maneiras e meios de salvar as almas. Vós vos afastais de vossos irmãos porque eles não falam e agem para agradar-vos, quando, à vista de Deus, sois mais culpados do que eles. Não buscais aquela unidade que Cristo suplicou que existisse entre irmãos. Que impressão causam essas desavenças, essas emulações e porfias em vossas famílias e vossos vizinhos, naqueles que não crêem na verdade? “Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” Quantos de vós não têm o coração não santificado e, conquanto sensíveis a qualquer reprovação, tomais os outros um ofensor por uma palavra? Quantos não pronunciam palavras que não podem produzir união, mas tão-somente pesar e desânimo? Quantos não dão motivo para ira e estão, eles próprios, irados sem causa?
Norma para evitar divisão
Jesus, o Redentor do mundo, estabeleceu regras para evitar divisões tão desagradáveis; mas, quantos de vós, em nossas igrejas ou em nossas instituições, têm seguido as orientações de Cristo? “Se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra se-ja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.”
Quando alguém vai ao pastor ou a homens que exercem posição de confiança, com reclamações a respeito de um irmão ou uma irmã, perguntem eles ao relator: “Cumpriu você as normas deixadas por nosso Salvador?” e, se ele deixou de pôr em prática qualquer aspecto dessa instrução, não dêem ouvidos à sua queixa. Recusai-vos a aceitar uma informação contra vosso irmão ou irmã na fé. Se os membros da igreja forem inteiramente contrários a estas recomendações, eles se tomam assunto de disciplina da igreja e devem ser postos sob a censura da igreja. Este assunto, tão claramente ensinado nas lições de Cristo, tem sido passado por alto com estranha indiferença. A igreja tem negligenciado totalmente este trabalho, ou o tem feito com rudeza e severidade, ferindo e magoando almas. Devem-se tomar medidas para corrigir este espírito cruel de crítica, de julgamento dos motivos de outra pessoa, como se Cristo tivesse revelado ao homem os pensamentos de seus irmãos. A negligência em fazer corretamente, com sabedoria e graça, a obra que deveria ter sido feita, tem deixado igrejas e instituições fracas, indiferentes e quase sem fé em Cristo.
Jesus acrescenta à instrução estas palavras: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu.” Essa certeza de que depois de as instruções de Cristo terem sido seguidas à risca as decisões da igreja serão ratificadas no Céu, dá um solene significado à ação da igreja. Não se deveria dar nenhum passo apressado para eliminar nomes dos livros da igreja ou pôr um membro sob censura, enquanto o caso não tenha sido examinado, e plenamente obedecida a norma bíblica.
As palavras de Cristo mostram quão necessário é serem os oficiais da igreja isentos de preconceito e motivos pessoais. A menos que esteja inteiramente santificada, purificada e destituída de parcialidade e preconceito, a mente humana está sujeita a cometer graves erros, fazer mau juízo, lidar de maneira rude e injusta com as almas que são o preço do sangue de Cristo. A decisão de um julgamento injusto, porém, não será de nenhum modo considerada nas cortes dos Céus. Ela não tornará culpada a pessoa inocente, nem lhe alterará em nada o caráter diante de Deus. Tão certamente como os homens que estão em posição de responsabilidade se tomam elevados em sua própria estima, e agem como se fossem senhores sobre seus irmãos, eles tomarão muitas decisões que o Céu não pode ratificar.
Embora seja grande a confiança que repouse sobre qualquer homem, em que pese a autoridade a ele concedida por sua posição, não pense ele que pode, por essa razão, condescender com suspeitas, desconfiança, pensamento mau e maledicência, porque é covarde demais para falar claramente com seus irmãos e irmãs, e corrigir fielmente quaisquer erros existentes. Sua posição e autoridade dependem de sua ligação com Deus, do discernimento e sabedoria que ele recebe do alto.
Sejamos cuidadosos quanto a proferir sentença de condenação sobre alguém por quem podemos estar alimentando antipatia, porque ele não aceita nossas idéias, pois a pessoa que setenciarmos trará descrédito sobre nós mesmos e causaremos mais dano a nós do que àquele a quem condenamos. Cristo quer que Sua igreja seja forte em união. Agradeçamos a Deus porque não precisamos ser julgados de acordo com o finito discernimento do homem, que é muito sujeito a se perverter.
“Também vos digo que, se dois de vós concordarem na Terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por Meu Pai, que está nos Céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles.” Lembrai-vos, há uma testemunha em cada assembléia, Aquele que sabe se vossos pensamentos são santos, bondosos, temos e semelhantes aos de Cristo; ou são inclementes, sem amor e satânicos. Sobe ao Céu um relato de vossas palavras e de vosso espírito, e do resultado de vossa conduta. Não vos podeis permitir ser descuidados e desatentos neste assunto.
“Deixando pois toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações, desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo; se é que já provastes que o Senhor é benigno.” “Irmãos, não vos queixeis uns contra os outros, para que não sejais condenados. Eis que o Juiz está à porta.” O homem não pode ler o coração do homem. Seu julgamento é constituído de aparências, e estas muitas vezes são falsas. Deus lê as intenções e propósito do coração. Nada façais às ocultas; sede claros como o dia, verdadeiros para com vossos irmãos e irmãs, lidando com eles como quereis que Cristo trate convosco.
Queixosos habituais
Muitos que estão em nossas igrejas e instituições não são santificados pela verdade que professam. Tivessem eles o Espírito de Cristo, não comentariam pequenas fragilidades, mas ocupariam a mente na contemplação do amor de Jesus. Necessitam de discernimento espiritual, para que não se tornem joguete das tentações de Satanás. Não deveriam, portanto, es-tar continuamente em busca de coisas das quais se queixar. Fosse a instrução que Cristo deu, seguida no espírito que todo verdadeiro cristão deveria ter — se cada um, quando ofendido, fosse ao membro ofensor e procurasse com bondade corrigir o erro, com ele falando em particular sobre sua falta — muitas experiências dolorosas seriam evitadas. Muitos, porém, recorrerão a todo tipo de expediente, de preferência a cair sobre a Rocha, Cristo Jesus, e ser despedaçados. Todo expediente dessa espécie deve falhar.
Disse Cristo: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” “Tomai sobre vós o Meu jugo”. Não quereis fazer isto? Não quereis tomar o jugo de Cristo? não quereis ser renovados no espírito do vosso entendimento e diariamente esforçar-vos por cultivar a humildade e a simplicidade semelhante à de uma criança; desejar ser o menor de todos e o servo de todos? Sem este espírito, nossa vida não está escondida com Cristo em Deus. A altivez que muitos manifestam é exatamente o oposto da mansidão e humildade de Cristo. Os que pensam em si mesmos como o menor e consideram a Jesus o maior, serão os maiores no reino do Céu.
Que todos os que esperam ver a Jesus como Ele o é, e tornar-se semelhantes a Ele, sigam-nO diariamente, a fim de que seu caráter seja modelado à Sua imagem. Quando nosso coração Lhe refletir a semelhança, não julgaremos injustamente; honraremos aqueles que Deus honra, e seremos extremamente circunspectos em espírito, palavras e ação para que não entristeçamos algum dos pequeninos de Deus. Aqueles que amam a Deus porque seus próprios pecados foram perdoados, manifestarão senti-mento de perdão para com os outros.
Abuso da disciplina
Ao se lidar com os que erram, não se deveria recorrer a medidas drásticas; medidas brandas, produzirão muito mais efeito. Depois de terem sido perseverantemente tentados, sem sucesso, os melhores meios, esperai pacientemente e vede se Deus não modificará o coração do errante. Até aqui, tem-se abusado da disciplina. Homens cujo caráter é muito defeituoso, têm-se proposto disciplinar os outros; e assim, toda a disciplina é levada ao desprezo. A paixão, o pre-conceito e a parcialidade, lamento dizer, têm encontrado bastante espaço para exibição, enquanto se tem negligenciado a verdadeira disciplina.
Tivessem aqueles que lidam com os que erram, o coração cheio do leite da bondade humana, que espírito diferente prevalecería em nossas igrejas! Que o Senhor abra os olhos e enterneça o coração daqueles que têm um espírito severo, não perdoador e intolerante para com aqueles que eles supõem que estão errados. Tais homens desonram sua profissão e desonram a Deus. Eles ferem o coração de Seus filhos e os impelem a clamar a Ele em sua aflição. Com certeza o Senhor julgará estas coisas.
Aqueles, porém, que são insensíveis, duros de coração, causam maior dano a si mesmos. São enganados por sua própria conduta. O egoísmo leva aquele que o acaricia a exagerar cada pe-quena ofensa, a dar grande importância a pequenos atos e a atribuir culpa a alguém que ignora estar praticando qualquer erro. Ele opera no coração não santificado a fim de criar o desejo de desprezar a todo que o não estima tanto, ou mostrar-lhe de quanta honra ele acha que é merecedor.
As lições que Cristo nos deu devem ser estudadas e incorporadas cada dia à nossa vida religiosa. Se não perdoardes aos homens as suas ofensas, “também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas”. “Quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém.” “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.”
Quando, em virtude de toda as suas transgressões, exerce o crente fé em Deus, crê que está perdoado porque Cristo morreu como seu sacrifício, torna-se tão cheio de gratidão a Deus que sua terna simpatia alcançará aqueles que, como ele, pecaram e necessitam de perdão. O orgulho não terá lugar em seu coração. Semelhante fé será um golpe mortal para um espírito vingativo. Como é possível a alguém que encontrou perdão, e que depende diariamente da graça de Cristo, afastar-se com indiferença, da-queles que são apanhados em falta, e revelar para com o pecador um espírito não perdoador? Todo aquele que tem verdadeira fé em Deus, submeter-Lhe-á aos pés seu orgulho.
Uma visão da bondade e misericórdia de Deus levará a arrependimento. Haverá o desejo de possuir o mesmo espírito. Aquele que recebe este espírito, possuirá claro discernimento para ver o que há de bom no caráter dos outros e amará os que (necessitam) da terna e compassiva simpatia do perdão. Vê em Cristo um Salvador que perdoa o pecado, e contempla com esperança e confiança o perdão de novo escrito contra seus pecados. Ele deseja que a mesma obra seja também realizada em favor de seus companheiros. A verdadeira fé traz a alma em afinidade com Deus.
Possa Deus apiedar-Se daqueles que estão vigiando, como faziam os fariseus, para descobrir alguma condenação em seus irmãos, e que se orgulham de seu discernimento extraordinariamente agudo. Aquilo que eles chamavam discernimento é crítica indiferente e satânica, agudeza para suspeitar e acusar as almas com má intenção, as quais são menos culpadas do que eles próprios. São, como o inimigo de Deus, acusadores dos irmãos. Seja qual for a posição e experiência dessas almas, necessitam elas de humilhar-se diante de Deus. Como podem elas orar: “Perdoa-me como eu perdôo os outros”?
“Com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós”. “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia.” Deus não concede perdão algum àquele cujo arrependimento não produz nenhuma humildade, e cuja fé não opera por amor para purificar a alma. Precisamos estudar o exemplo dAquele que era manso e humilde; que, quando era ameaçado, não ameaçava. O espírito vingativo não deve ser tolerado pelo verdadeiro cristão.
Os pais devem ensinar os filhos a serem pacientes quando ofendidos. Ensinai-lhes aquele preceito maravilhoso que está na oração do Senhor, de que devemos perdoar aos outros como desejamos ser perdoados. Aquele que possui o Espírito de Cristo jamais se cansará de perdoar. Rogo-vos que sejais cristãos da Bíblia. Manuscrito 11, 1888.
Ellen G. White.
* Todo os subtítulos foram acrescentados pelos editores.