Quando seu marido ministro sofre grave depressão, como pode você ajudá-Lo?

Os cristãos — especialmente ministros — jamais deveriam ficar deprimidos.”

Mesmo que não aceitemos esta falácia, os ministros e suas esposas podem acreditar que ser servos de Deus e possuir o Seu Espírito Santo deveria tomá-los imunes. Quando vem a depressão, eles se sentem culpados, temerosos e mesmo em pânico.

Na experiência da minha família, com a de-pressão, descobri que “em todas as coisas (mesmo na depressão), Deus opera para o bem da-queles que O amam” (Rom. 8:28, NIV). Para nós, tudo começou no Dia de Ações de Graça…

As calorosas boas-vindas do professor do seminário e o aroma das flores envolviam-nos, quando ele abriu a porta de sua casa. Em meio à pressa de ajudar meus quatro filhos pequenos a tirarem seus casacos e botas, ele disse: “Logo no começo, quando você telefonou, esqueci de perguntar-lhe por que João não vinha. Ele precisou trabalhar?”

— Não, ele está no hospital — respondi. Diante de seu olhar perplexo, expliquei mais adiante: — Pensei que você soubesse: João teve que submeter-se a uma apendicotomia de emergência. O médico vai telefonar para mim após a operação.

A solidariedade brotou livremente, com a certeza de que um moço saudável como João se restabeleceria rapidamente.

Quando as aulas recomeçaram na terça-feira seguinte, meu marido, andando com cuidado, assentou-se em lugar costumeiro na sala de aulas. Poderia ter permanecido afastado de seu trabalho de meio período por alguns dias, mas ele não suportava faltar à escola. Ele estava competindo com alguém do segundo ano. Depois de ter viajado cerca de três mil quilômetros para ir ao seminário, ele tinha que fazer bonito!

Começa a depressão

Ao esforçar-se tão intensamente, ele se predispôs à depressão, e esta veio com rapidez alarmante. Dentro de três semanas ele deu entrada no hospital, pondo um fim a seus estudos de seminário. Seguiu-se então uma frustração que lhe abalou a saúde mental, envolvendo dois períodos de hospitalização no próximo ano e meio.

Quando se recuperou, João começou a reconhecer que, a despeito de seus problemas emocionais, “os dons de Deus e Seu chamado são irrevogáveis” (Rom. 11:29). Uma pequena igreja o chamou para ser seu pastor, e nossa família de seis pessoas foi residir na casa pastoral. Depois de aproximadamente quatro anos ali, ele aceitou um chamado para outra igreja.

Após um ano naquele distrito, meu marido precisou de cirurgia especial duas vezes em dez dias. Em poucos dias, ele procurou retomar suas atividades pastorais.

A fraqueza física e o abatimento pós-operatório são razoáveis e devem ser aguardados, mas ele os via como fracasso. Uma vez mais, experimentou aquele desânimo que leva à depressão. Seguiu-se outra hospitalização de vários meses, durante os quais ele se afastou da igreja. Estava convencido de que Deus ja-mais poderia usá-lo de novo no ministério.

A depressão em servos de Deus não constitui nada de novo. Moisés, Jó, Jonas, Elias, Davi e Saul todos a experimentaram. Os Salmos são fartos em referências à depressão.

Quando lê a respeito dos gigantes espirituais da fé, você percebe que muitos deles, entre os quais Martinho Lutero e João Wesley, lutaram com a depressão. C. H. Spurgeon escreveu que sabia “mediante a experiência mais dolorosa, o que significa a profunda depressão de espírito…” Em seu excelente livro Coping With De-pressão in the Ministry and Other Helping Pro-fessions, o Dr. Archibald Hart diz: “A depressão não respeita as pessoas, e sua presença não nega o poder de Deus nem o zelo da entrega de um pastor.”

De modo especial, os pastores são propensos à depressão. A própria natureza da profissão atrai os indivíduos conscienciosos de elevados ideais e desejo de ajudar a outros. Esse senso de responsabilidade para com os outros, e os inevitáveis desapontamentos, comuns ao minis-tério, podem constituir fortes fatores que contribuem para a depressão de um ministro.

A função da depressão

Em certo grau, a depressão, da mesma forma que a dor, faz parte normal da vida. Aceitamos o fato de que a dor tem uma função: alerta-nos para a presença ou a possibilidade de uma situação de perigo para a nossa saúde. Deixamos, porém, de ver que há na depressão função semelhante. Alerta-nos ela para um problema que precisa de atenção. A depressão não é mal maior do que a dor. Na verdade, força ela a pessoa estressada a sair da situação de estresse e reconquistar a energia. Faz parte da vida, e ninguém dela escapa completamente.

Causas da depressão

Um problema na química do organismo, tal como o mau funcionamento dos neurotransmissores ou um desequilíbrio hormonal ocasionado pela menopausa, puxa o gatilho de algumas depressões. Tais depressões respondem bem a medicação. Outra causa física podem ser os efeitos colaterais sedativos de certas drogas.

Além das causas físicas e espirituais, existem as causas emocionais e psicológicas. As perdas, como morte, divórcio, separação, podem trazer depressão. A perda de emprego ou a falta de estima-própria também podem contribuir.

Algumas pessoas adquirem espécies de pensamento patológico. Estes hábitos e comportamentos são difíceis de mudar. A pessoa pode necessitar de ajuda profissional para reconhecê-los e interromper-lhes o domínio.

No Salmo 77:1-9 (NIV), o salmista Asafe expressa muitos dos sintomas da depressão: recusa-se a ser consolado (v. 2, ú. p.); sente-se abatido (v. 3, ú. p.), sofre de insônia (v. 4, p. p.); retrai-se (v. 4, ú. p.); concentra-se no passado (v. 5); tem muitas interrogações e dúvidas (vs. 7 e 9).

Talvez você já tenha observado estes e outros sintomas em seu esposo. Alarmada com o seu comportamento não característico, você fica pensando naquilo que pode ou poderia fazer. As sugestões que seguem, baseiam-se na experiência de nossa família.

Lutando contra a depressão

  • 1. Ajuda de outros. Esta é importante, especialmente se você está interessada em seu estado mental e mesmo em sua segurança. Peça conselho ao médico de sua família. Ele pode querer pessoalmente ver o seu esposo, ou recomendá-lo a um especialista. A partir do momento em que é muitas vezes difícil a uma pessoa deprimida tomar decisão, você poderá ter que marcar a entrevista por ele. Procure ser descontraída quanto a isto; ele pode sentir-se aliviado pelo fato de a decisão ter sido tomada em seu lugar.

Após ser marcada a entrevista, o obstáculo seguinte que você enfrenta é fazê-lo chegar ali. Ele pode resistir tenazmente ir ao médico, por medo (“talvez eu esteja realmente louco”) ou constrangimento (“sou um pastor — supõe-se que não tenho problemas emocionais”). Isto pode exigir firmeza e planejamento criativo (co-mo convidar um amigo para andar de automóvel com você).

  • 2. Considerar as necessidades da igreja. A comissão da igreja deve ser informada do problema, caso a depressão seja realmente grave. Se seu pastor estiver incapacitado, será necessário algum arranjo temporário para ocupar o púlpito. Seja franca com eles.

O pastor deprimido pode achar que sua responsabilidade para com a igreja é um fardo intolerável, e pode arrazoar que deveria renunciá-la. Procure evitar que ele tome uma decisão importante e irrevogável enquanto está deprimido. Não posso expressar isso de maneira mais forte: Nunca tome uma decisão irrevogável durante a depressão. A renúncia pode momentaneamente alçar a nuvem da responsabilidade; na realidade, porém, é apenas bandagem numa perna quebrada. Caso deva vir a ocasião na qual se torne necessária a renúncia, esteja certa de que se trata de uma decisão cuidadosamente estudada; não uma decisão tomada por uma mente anuviada pela depressão.

  • 3. Perigos da depressão. Não acredite no adágio: “Aquele que fala em suicídio, jamais o tentará”. Isto não é verdade, como o podem atestar as famílias de muitos suicidas “bem-sucedidos”. Mas procure não descontrolar-se, se ele expressar pensamentos suicidas. Se ele continua a considerá-lo, mas os guarda para si mesmo, isto pode ser perigoso. Permita que ele fale com você a respeito, e assegure-se de mencioná-lo a seu médico, pois seu marido poderá não contar a ele.
  • 4. Comportamento emotivo. Você não pode fazê-lo voltar ao comportamento normal, revelando suas próprias emoções instáveis. Irritada como possa sentir-se, não lhe diga que o abandone. Se ele pudesse, certamente o faria — a inutilidade da depressão profunda é por demais dolorosa para ser algum dia um estado voluntário.

Nunca lhe diga, ainda que com lágrimas, quão difícil ele se está tornando para você. Isto apenas o faz sentir-se pior quanto a algo sobre que ele exerce pouco controle.

  • 5. Reafirmação. Por mais inteligente que ele seja, seu processo de raciocínio está agora anuviado. Reafirme-lhe repetidamente que ele irá melhorar. Você sabe que ele deseja! E necessita dessa reafirmação.
  • 6. Comunicação à igreja. Seja franca mas discreta com sua congregação. Não procure ocultar o problema. Tanto você como ele necessitam do seu amor, de suas orações e de seu apoio emocional. Você não deseja enfraquecer-lhe a utilidade a sua congregação, difundido assuntos que melhor seria que não fossem divulgados. Se no futuro você pretender ir para um novo distrito, procure ser sincera com eles com respeito a este episódio. Eles têm o direito de saber.
  • 7. Apoio de outros. Sua igreja poderá desejar ajudá-la. Não procure ser Supermulher. Aceite oferecimentos para cuidar de criança, fornecimento de alimento, levar ao médico ou limpar o caminho. As pessoas desejam apoiá-la. Incentive suas orações intercessoras.

Outras fontes de ajuda caem em duas categorias: conselheiros e livros. Cada pastor necessita de um pastor, de um mentor. Seu pastor-mentor pode encontrar-se na hierarquia de sua denominação, ou em um pastor mais idoso que lhe tenha conquistado o respeito por sua sabedoria, espiritualidade e afabilidade. Ele e seu médico podem ser fontes de orientação, energia e conforto enviados por Deus.

Leia um livro sobre depressão. Cuidado com os autores que consideram TODA depressão co-mo sendo um problema puramente espiritual. Embora não devamos excluir os ataques de Satanás, outros fatores também podem levar à depressão.

Causas físicas

No caso de meu marido, finalmente descobrimos que ele tinha hipoglicemia e não podia tolerar açúcar. O abalo da cirurgia enfraqueceu-lhe as reservas físicas. Depois, todos os “doces de simpatia” que preparava para ele, enquanto se achava hospitalizado, complicaram o problema. Após uma mudança para regime alimentar pobre em carboidrato e rico em proteína, sem o o uso de nenhum açúcar, toda a nossa família começou a notar uma grande diferença sobre como nos sentíamos!

Para que se formasse a “noite negra da alma” de João, combinaram-se os efeitos físicos da cirurgia e a hipoglicemia com seu temperamento perfeccionista. Suas expectativas pessoais, levadas irrealisticamente a exageros, lutavam com uma persistente tendência para subestimar-lhe as realizações. Sua mente se tornou o campo de batalha.

Agora, quinze anos após aquele último ataque de depressão, acabamos de comemorar festivamente o quinto ano em nossa atual igreja. Não se exclui a possibilidade de outra prostração. Agora, porém, que entendemos mais a respeito de suas causas, já não a tememos como uma ameaça oculta à nossa família e à igreja.

Vemos estes casos de depressão como uma “escola”, que ensina lições dolorosas, mas de valor. Sou um exemplo vivo dessas declarações: Deus pode e suprirá todas as minhas necessidades — espirituais, físicas, emocionais e financeiras; o Senhor leva meus fardos quando os entrego a Ele; e Ele dá paz em meio da agitação. (Devo admitir esperar que Ele não deixe de dar-nos um rumo reconfortante!)

Meu esposo aprendeu estas lições na “escola” da depressão:

  • * avaliar suas realizações mais realisticamente;
  • * reconhecer o perigo da falsa humildade;
  • * compreender melhor o estresse com o qual seu corpo e mente podem lidar;
  • * saber como a alimentação influencia a saúde emocional;
  • * “E”, diz ele, “aprendi que estar deprimido não é pecado!”

Como esposa de pastor, você desempenha melhor papel ajudando-o quando ele se tornar deprimido. Isto não é irremediável. Eu sei; estive nesta situação!

Verjannia Carman