Apenas os ministros que conhecem a Deus podem dar aquilo que as pessoas vêm buscar na igreja.

E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3).

Apresentamos muitas razões para ir à igreja — companheirismo, inspiração, culto. Todas estas coisas, porém, são destituídas de sentido em si mesmas. O que na realidade as pessoas desejam no íntimo de sua alma é encontrar a Deus ali. E depende em grande parte do ministro elas O encontrarem ali, pois em grande parte é o ministro quem determina a espiritualidade do culto. Bem-aventurado o ministro e a igreja que podem levar os visitantes a dizerem após o culto o que disse Jacó em Betei: “Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia…. Quão temível é este lugar! É a casa de Deus, a porta dos Céus” (Gên. 28:16 e 17).

Infelizmente, nem sempre as pessoas podem dizer isto de nossos cultos. A execução de um programa é muito bom, mas não substitui o “estar o pastor cheio do Altíssimo”, como disse uma idosa senhora escocesa, descrevendo o seu pastor.

Há uma coisa que se assemelha ao ateísmo da técnica — a crença de que podemos apressar o reino usando os métodos corretos, tentando alguns novos truques e dando tratos à bola. Lemos livros como Six Steps to Revival (Seis Passos para o Reavivamento) ou Five Simple Techniques for a Growing Church (Cinco Técnicas Simples para o Crescimento da Igreja), ou How to Achieve Translation in Seven Minutes a Day (Como Alcançar a Trasladação em Sete Minutos por Dia). Um céptico pode ser perdoado por sugerir que a igreja seria bem-sucedida na realização de tudo o que está fazendo agora, mesmo que não houvesse Deus nem Espírito Santo.

Mais do que de qualquer outra coisa, necessitamos de Deus. Como podemos levar outros Àquele a quem não conhecemos? Devemos ser capazes de dizer o que disse João: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que te-mos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida… o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo” (I João 1:1 e 3).

Pode um ministro não ser realmente um crente? Pode o ministro não conhecer realmente a Deus? Robertson de Brighton adverte contra “a influência insensibilizadora das coisas espirituais”. James Stewart explicou isto ao dizer: “Na verdade, poder-se-ia supor que a própria natureza do apelo do pregador garantisse uma irresistível fidelidade e consagração. Todas as coisas sagradas, porém, constituem uma espada de dois gumes; e embora as atribuições do ministério possam ser uma salvaguarda e uma panóplia, possuem também seus perigos peculiares, e se vingam daqueles que com elas lidam com indevida familiaridade… pois o temor e o assombro profético da presença da revelação de Deus podem muito facilmente transformar-se em mero tráfico mecânico das ordenanças da religião.”

Há uma grande e ávida busca da realidade. Em tudo que nos cerca — no ambiente, no entretenimento, na literatura, nas artes as pessoas vêem indício de falsidade. Elas estão de tal maneira acostumadas a isto que parecem dispostas a tolerar tal coisa mesmo na religião. Se a realidade sobre elas irrompe de forma inesperada, elas se sentem surpresas e fascinadas.

Robert M. Johnston Professor de Novo Testamento e Origens Cristãs e das cadeiras de Novo Testamento do Seminário Teológico Adventista da Universidade de Andrews, Berrien Springs, Michigan.

Stewart escreveu: “Não necessitais ser eloqüente, nem talentoso, nem sensacional, nem perito em dialética; deveis ser verdadeiro. Falhar neste ponto é falhar abismai e tragicamente. É prejudicar de modo incalculável a causa que representais.”

Como disse um dos meus colegas, um fogo descrito em palavras não aquece ninguém. Deveis ser verdadeiro. Deveis conhecer verdadeiramente a Deus.

Por mais devoradoras que possam ser as chamas de um fogo, elas não podem aquecer ninguém, caso sejam apenas descritas por meio de palavras. Precisamos sentir o fogo. O mesmo se dá com o Espírito Santo.

Como conhecer a Deus

Talvez o que eu disse tenha magoado algum de vós. Talvez estejais pensando: “Como posso conhecer a Deus? Não me recordo de ter-Lhe ouvido a voz, nem de vê-Lo ou prová-Lo. Não sei se O conheço.”

João escreveu sua primeira epístola para responder a tais perguntas. “Estas coisas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (I João 5:13). Esta epístola nos dá certas provas de que podemos aplicar nossa experiência a nós mesmos para saber se ela é verdadeira. Recomendo-vos esta pequena epístola.

Mas como podeis experimentar a Deus? Jesus disse: “Todo aquele que o Pai Me dá, esse virá a Mim; e o que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora” (João 6:37). Se Ele não nos lança fora, o que faz? Recebe-nos. E quando nos recebe? Quando vamos a Ele. E por que vamos a Ele? Porque o Pai nos deu a Ele.

Deus tem tantas maneiras misteriosas de atrair-nos para Si quantos são os indivíduos — e o Espírito Santo está em cada uma delas. Mas vou dar-lhes o meu próprio testemunho.

Era meu segundo ano em um colégio adventista. Estudei em escolas seculares até o primeiro ano da universidade, embora tivesse sido batizado na igreja antes de entrar na escola superior. Nenhum de meus pais era cristão; meu pai era ateu. Eu havia ouvido as doutrinas apresentadas pelo evangelista que me batizou, e procurei ser obediente a elas, embora tivesse cometido alguns deslizes. Parecia-me agora que embora eu conhecesse um pouco a doutrina e um pouco a lei, eu não conhecia a Deus.

No colégio, uni-me ao que eles chamavam de Cruzada do Evangelismo Pessoal; saíamos cada sábado e distribuíamos folhetos de porta em porta. Eu também assistia às classes bíblicas e às aulas de grego — em grande parte porque estava interessado em línguas. Além disso, havia a Semana de Oração — semana de reaviva-mento aguardada com ansiedade.

De alguma forma, pela primeira vez em minha vida, fui levado a ler a Bíblia por mim mesmo, e não como um dever de classe. Começando com o livro de Gênesis, passei pelo “fulano-gerou-a-fulano” e continuei pelos patriarcas até chegar a Moisés. O fato de que aqueles homens falaram com Deus e Ele lhes respondeu, impressionou-me. Era algo que eu jamais houvera experimentado. Desejei saber se Deus fala às pessoas dessa maneira agora.

Durante uma reunião de oração à qual eu pertencia, deixei escapar inadvertidamente a pergunta: “Algum de vocês já ouviu Deus falar-lhe?” A pergunta pareceu deixar as demais pessoas mudas, embora fossem homens bons. Mais tar-de fiquei sabendo que minha pergunta aumentara de tal maneira as dúvidas de um daqueles membros do grupo de oração que ele se tornou um descrente. Naquela noite, outro membro do grupo de oração colocou em minha mesa um pedaço de papel, dizendo-me que lesse 1 João 4:12. A mensagem desse verso: “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o Seu amor é em nós aperfeiçoado”, foi útil — mas não era bem o que eu tinha em mente.

Então o professor de Bíblia, a cuja aula eu estava assistindo, mandou-nos escrever o que entendíamos por justificação pela fé. Quanto mais eu pensava sobre o assunto, mais confuso me sentia. Eu não sabia o que era fé. Não consegui escrever tudo quanto devia no trabalho escrito, tendo solicitado ao professor que me permitisse trabalhar nele durante o feriado do Natal.

“Então o professor de Bíblia, a cuja aula eu estava assistindo, mandou-nos escrever o que entendíamos por justificação pela fé. Quanto mais eu pensava sobre o assunto, mais confuso me sentia.”

Naquele feriado não fui para casa. Fiquei totalmente só em meu quarto, no terceiro andar do dormitório Newton Hall. Do lado de fora da janela, a noite era cristalina, e havia estrelas por toda parte. O ar, estava agradável, e tudo estava tranqüilo.

Comecei a estudar a respeito de fé. Usei uma concordância para saber o que a Bíblia tinha a dizer sobre este elemento da vida cristã. E parecia que o Senhor estava dirigindo meu estudo, pois cada texto me preparava para o seguinte. Finalmente, minha pesquisa me levou à página 53 da antiga edição do livro Caminho Para Cristo, de Ellen G. White, a primeira página do capítulo intitulado “Fé e Aceitação”. Quando comecei a ler a página, alguma coisa me disse: Esta é a receita que você andava procurando. Leia devagar, e não passe para a frase seguinte enquanto não tiver feito o que manda a sentença que você está lendo.

Li: “A medida que vossa consciência foi sendo despertada pelo Espírito Santo, vistes algo da malignidade do pecado, de seu poder, sua cupla, sua miséria; e o olhais com aversão.”

De fato, aquilo descrevia meu sentimento naquele instante.

“Sentis que o pecado vos separou de Deus, que estais cativos do poder do mal.”

Em verdade, sentia-me fora de sintonia com o Universo.

“Quanto mais lutais por escapar a ele, tanto mais reconheceis vossa impotência.”

Sentia-me em especial afligido com a procrastinação, e estas palavras eram adequadas.

“Vossos motivos são impuros; impuro é vosso coração.”

Aquelas palavras eram severas, mas vinham do Médico.

“Vedes que vossa vida tem sido repleta de egoísmo e pecado. Almejais então o perdão, a pureza, a liberdade. Harmonia com Deus, Sua semelhança — que podeis fazer para alcançá-las?

Sim, era isso o que eu desejava saber.

“Paz, eis vossa necessidade — o perdão, a paz e o amor celestes em vossa alma. O dinheiro não a pode comprar, não a consegue a inteligência, nem a sabedoria a alcança. Mas Deus vo-la oferece como um dom, ‘sem dinheiro e sem preço’. Ela vos pertence: basta que estendais a mão e a apanheis.”

Eu estava agitado. Sabia que alguma coisa grandiosa estava para acontecer.

“Diz o Senhor: “Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tomarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã”. “E vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo.”

Quando passei para a página seguinte, sabia que havia chegado a hora da verdade: “Confessastes vossos pecados e de coração a eles renunciastes.”

Eu ainda o não fizera, mas o fiz ali mesmo.

“Resolvestes entregar-vos a Deus.”

Eu o fizera. Mas não sentira nenhuma diferença.

“Ide, pois a Ele, e pedi-Lhe que vos lave de vossos pecados e vos dê um coração novo.”

Fiz isto, mas ainda não experimentei diferença nenhuma.

“Crede então que o fará, porque assim prometeu”.

Então aconteceu! Senti como se fora um calor percorrer todo o meu corpo, da cabeça aos pés, purificando-me. Era como se eu tivesse si-do banhado por uma luz pura.

Esta foi a maneira pela qual Deus falou comigo. E quando o fez, senti-me satisfeito. Não mais tive inveja de Abraão. Não mais duvidei. Deus era real.

Procurei continuar lendo, mas era inútil. Minha alma estava muito feliz; não podia sentar-me. Saí pelo dormitório, procurando alguém a quem pudesse contar o que havia acontecido. Não vi ninguém no terceiro nem no segundo andar, mas encontrei Ben no primeiro andar, em pé na porta aberta — meio inclinado contra o umbral da porta. Ben era o membro do grupo de oração, cuja fé fora abalada pela pergunta que deixei escapar. Quando lhe dei meu testemunho, ele contou-me o que aconteceu com ele. Deus age de várias maneiras misteriosas.

Sua maneira de começar com Deus pode ser diferente. Isto não importa. O importante é que haja um começo.

Cada pessoa pode ter sua maneira de começar com Deus, mas o que importa é que haja um início.

Como renovar sua experiência com Deus.

Quando Jesus tinha doze anos de idade, José e Maria O levaram para assistir à festa da Páscoa em Jerusalém. Ali, em virtude do entusiasmo da viagem, enquanto estavam tomando parte em um serviço religioso e estavam conhecendo outras pessoas, eles perderam o contato com Jesus. Ellen White comenta: “Pela negligência de um dia perderam o Salvador; custou-lhes, porém, três dias de ansiosas buscas o tornar a encontrá-Lo.” Em seguida, ela extrai uma lição: “O mesmo quanto a nós; por conversas ociosas, por maledicência ou negligência da oração, podemos perder num dia a presença do Salvador, e talvez leve muitos dias de dolorosa busca o tornar a achá-Lo, e reconquistar a paz que perdemos.” — O Desejado de Todas as Nações, págs. 71 e 72.

Devemos procurar conhecer ao Senhor. Isto, porém, não é suficiente. Importa manter a amizade. O relacionamento precisa ser alimentado. O fogo de ontem não nos aquecerá hoje.

É possível que eu não necessite lembrá-lo dos deveres espirituais — a leitura devocional das Escrituras, oração e meditação. Mas talvez necessite. Alguns podem realmente achar que todo estudo bíblico e teológico que fazem torna desnecessária a religião “extracurricular”. Nu-ma entrevista, Charles Swindoll disse por que suas devoções particulares eram importantes para ele. A primeira razão, segundo ele, era “ajudar a guardar-se contra uma mentalidade de compêndio quando me aproximo das Escrituras. Desejo manter meu coração aquecido, e destruir o cinismo que facilmente surge de uma espécie de estudo da Bíblia inteiramente acadêmico”.

Contudo, seria um grande erro pensar que sua conversa com Deus deva ser interrompida enquanto você faz seu estudo “acadêmico” ou profissional. Não pense que depois de você fa-lar o indispensável com Deus pela manhã, já pode dizer: “Até logo, por enquanto, Senhor — tenho que preparar um sermão sobre o livro de Gálatas. Eu O verei amanhã!” mantenha-se em contato com Deus o dia todo, e o estudo das Escrituras que você fizer, preparando-se para os sermões e estudos bíblicos, pode aumentar o seu conhecimento sobre Ele, sem interromper o seu relacionamento. Torne seu estudo, em si mesmo, um ato de adoração. Faça da recomendação de Paulo aos servos, seu moto: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, co-mo para o Senhor, e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo” (Col. 3:23 e 24).

Com ou sem motivo, seja no escritório, na igreja, no carro ou em casa, exercite a presença de Deus. Mantenha-se falando com Ele. Em tudo quanto for realizar, diga: “Senhor, não posso fazer isto se não me capacitares.” Quando fizer tudo o que executa porque O ama, você experimentará alegria — intensa alegria. Mesmo o trabalho cansativo lhe trará felicidade, pois você terá a Deus como companhia. E se você fizer tudo o que faz para Ele, Ele o ajudará, e o aceitará, e ao seu serviço.

Mas somos pó. Como José e Maria, nós nos esquecemos. Caso isso aconteça com você, o que fazer então?

Se você era animado e se tornou indiferente, lembre-se daquilo que o tornava animado, e faça outra vez. Gênesis 13:3 e 4 nos diz que Abraão fez isto justamente depois de ter experimentado uma derrota espiritual no Egito. Lemos que ele “fez as suas jornadas do Neguebe até Betei, até ao lugar onde primeiro estivera a sua tenda, entre Betei e Ai; até ao lugar do altar, que outrora tinha feito; e aí Abraão invocou o nome do Senhor.”

O processo de recuperação de Abraão inclui seu retomo a Betei, o lugar no qual havia experimentado uma calorosa amizade com o Senhor.

Todo cristão tem a sua Betei. Pode ser o cantar de um galo. Pode ser o ouvir de algum hino evangélico há muito esquecido. Pode ser um livro fortemente sublinhado. Pode ser o pico de uma colina. Pode ser a capela de um colégio. Para mim, é o Newton Hall. O Senhor faz vol-tar à minha mente a lembrança daquela noite límpida, e a lembrança dela me anima. E isto me faz reviver.

O que quer ou onde quer que seja, retorne a sua Betei. Volte, caso precise. Conheça a Deus. E continue a conhecer ao Senhor.

E se você sente aquela escuridão de alma que retorna constantemente a todo santo; se, apesar de tudo, você sente uma fase de aridez, não devem estas coisas separá-lo de Deus. Eis o mo-mento em que a fé mais tem significado. Continue por fé, não por vista. Quando você tiver ouvido a voz de Deus, poderá suportar o Seu silêncio. Esse silêncio pode ser necessário para lembrá-lo de sua dependência dEle.

Conquanto você não esteja certo se conhece a Jesus, tenha fé suficiente para entender que Ele o conhece. Não ore apenas quando sentir prazer; ore até você sentir prazer. Às vezes você pode apenas simular sua devoção. Não se preocupe. O Senhor a aceita. Os sentimentos são dados por Deus; cumpre-lhe exercitar a fé. O justo viverá pela fé, não pelo sentimento.

“E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”