Cristalizam-se nos pés os pontos de todas as Doenças? É a reflexologia um tratamento completo?

O paciente senta-se confortavelmente em posição reclinada, pés, tornozelos e membros inferiores descobertos e estendidos. Um reflexologista examina-lhe os pés e, ora com força, ora suavemente, pressiona e massageia a planta, primeiro de um pé, depois do outro. Presta to-da atenção a certos “reflexos” nos quais a sensibilidade revela “depósitos de cristais”, indicando uma “circulação lenta” em um órgão, em algum lugar distante, do corpo.

O reflexologista pretende restabelecer a circulação dos órgãos enfraquecidos ou enfermos. Supostamente, liberta as propriedades curativas da Natureza, encontradas no organismo, restaurando o equilíbrio e a saúde ao paciente.

Notamos hoje que se dá muito realce aos remédios naturais. Parte da atração da reflexologia está em sua base de ação supostamente “natural”. “Lembre-se”, diz um escritor, “[a reflexologia] é o processo da Natureza, e o processo da Natureza é o processo de Deus; e creio que com Deus ao seu lado você não pode errar”!1

Bem no início da história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Ellen White reconheceu a natureza Psicossomática de muitas doenças. “As enfermidades mentais prevalecem por toda par-te. Nove décimos das doenças de que padecem os homens têm aí sua origem.”2

Isto representa também um tema comum em reflexologia. “Sim, eles nos dizem que cerca de 80 por cento de todas as doenças de que sofremos hoje são decorrentes de tensão e emoções. Portanto, se nós, por meio de massagem compressora dos pés, somos capazes de aliviar a tensão e relaxar a pessoa, não estamos sendo usados como instrumentos nas mãos de Deus? E o importante com respeito a esta maneira de restaurar a saúde é que ela é muito superior às drogas, que nos anos posteriores deixam suas marcas.”3

Ellen White escreveu acerca do valor dos remédios naturais. “Ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino — eis os verdadeiros remédios. Toda pessoa deve possuir conhecimentos dos meios terapêuticos naturais, e da maneira de os aplicar… O uso dos remédios naturais requer certo cuidado e esforço que muitos não estão dispostos a exercer. O processo da Natureza para curar e construir, é gradual, e isso parece vagaroso ao impaciente.”4

A literatura da reflexologia expressa idéias semelhantes. “Vivemos numa sociedade dirigida por droga, e por isso nossa nação está em desordem hoje. Se a maioria dos médicos levasse os pacientes a abandonarem as drogas e a confiarem mais nos remédios naturais, acho que verificaríamos uma mudança maior em nossa nação, uma mudança para melhor… Se mais pacientes falassem com seus médicos sobre os remédios naturais e sua relação com o cuidado preventivo da saúde, acho que mais médicos empreenderam um esforço maior no sentido de praticar a medicina preventiva.”Para o reflexologista, contudo, remédio natural é uma massagem no pé, em lugar dos itens mencionados em A Ciência do Bom Viver.

Raízes antigas

A reflexologia tem raízes na antiguidade. Ela remonta à cultura oriental, e pode ter sido praticada cerca de 3000 anos A.C. ”O modelo básico de fluxo de energia é reconhecido em todos os ramos de cura natural — acupuntura, Shiatsu, terapia de área, reflexologia e terapia de polaridade.”6 O pai da reflexologia moderna foi o Dr. William Fitzgerald, que dividiu o corpo verticalmente em dez regiões, cinco do lado direito e cinco do lado esquerdo.

De acordo com o reflexologista, a massagem dos pés pode determinar a condição de todos os órgãos e levar a um correto diagnóstico da doença. Através da massagem dos pés, pode-se melhorar as funções de todos os órgãos do corpo. “A reflexologia dos pés é o estudo dos reflexos, no pé, que correspondem a todas as partes do corpo… A reflexologia é a prática excitante e eficaz que, conforme seu objetivo, visa estimular todo o organismo, incentivando o re-torno à hemóstase de um extremo ao outro de todos os complexos sistemas do corpo.”7

A descrição da base teórica da reflexologia continua: “Os reflexos nos pés são, na verdade, ‘reflexões’ das partes do corpo. Sua localização e relacionamento umas com as outras nos pés, permitem um modelo anatômico lógico que se assemelha bem de perto ao do próprio corpo. A premissa de que os reflexos dos pés correspondem à anatomia de todo o corpo, é simples: a imagem física real do corpo projeta-se sobre eles. Essa imagem é organizada com o uso da teoria da zona.”8

Os mecanismos são descritos assim: “Há condutos da energia que circula pelo corpo; cada órgão e músculo importante está ligado por uma rede de nervos a um pequeno ponto dos pés onde termina a energia… Formam-se depósitos cristalinos nas terminações nervosas. Ao se massagearem os pés, comprimindo-os com força, os depósitos se partem, estimulando todo o organismo a se manter ativo até sua máxima eficiência… A desobstrução das vias da energia resultou [sic] na restauração da vitalidade, do equilíbrio, no desaparecimento dos sintomas da doença, e na conseqüente restauração da saúde.”9

Outro autor, falando sobre reflexologia, explica o sistema: “As energias vitais do organismo circulam ao longo dos condutos, e podemos interceptá-las em uns 800 pontos do corpo… As mãos, bem como os pés, contêm ‘botões de reflexo’ que estão ligados a todos os órgãos e glândulas. Quando estes centros de reflexo são massageados, enviam uma onda estimulante de novo vigor a qualquer parte do corpo com a qual estão relacionados; imediatamente, e com efeitos parecidos com os que sentimos, procedentes dos medicamentos. Estamos corrigindo a falta de equilíbrio nesse fluxo primário e, desse modo, ajudando a natureza a efetuar a cura.”10

A reflexologia tem sido exercida por dedicados praticantes, que buscam com ardor uma participação junto aos praticantes de reconhecidas disciplinas do cuidado da saúde. Eles, porém, singularmente não têm conseguido prover qualquer evidência objetiva para sua teoria, que não seja a designação anedótica de benefício. Nas principais obras sobre reflexologia, a mais forte explicação dada é a declaração de que “os testemunhos provam as obras da reflexologia. Posso apresentar-lhes não apenas centenas, mas milhares, de cartas que recebo pelo correio, de pessoas de todas as partes do mundo, falando dos maravilhosos resultados obtidos por usarem o método simples de massagem reflexa”.11

Nenhuma evidência aceitável

Infelizmente, os testemunhos apenas, constituem evidência satisfatória. As pretensões básicas da reflexologia estão erradas. Os neurocirurgiões e os anatomistas assinalaram todos os ramos significativos, gânglios e sementes dos componentes do sistema nervoso central e periférico. As maiores concentrações de tecido nervoso aparecem no cérebro e coluna vertebral. Todos os dedos das mãos e dos pés, os braços, pernas e órgãos — na verdade, todos os pontos do corpo — têm uma representação no cérebro, não nos pés. Não existe nenhuma ligação de “reflexo” neurológico entre os pés e qualquer órgão principal do corpo.

Os neurocirurgiões e anatomistas não confirmam os ensinos da reflexologia, com respeito a estarem nos pés os pontos que determinam a existência de certas enfermidades do corpo humano.

As doenças que se processam nos vários sistemas orgânicos não produzem depósitos cristalinos nos pés. Os depósitos cristalinos ocorrem nos pés na doença da gota, na osteoartrite e em alguns outros casos. O diabetes, ataque cardíaco, retina solta, depressão, ou úlcera péptica não produzem cristais nos pés. O reflexologista, contudo, crê que qualquer doença ou função adversa em algum órgão do corpo, produz depósitos cristalinos em um ponto da sola dos pés. Os anatomistas, fisiologistas, psicoterapeutas, médicos e aqueles que se dedicam à ciência básica, demonstraram claramente que não é este o caso.

Mais alarmante ainda é a lista de enfermidades e estados que os reflexologista esperam tratar com o suposto benefício. Embora nenhum dano significativo possa ocorrer por se receber uma massagem dos pés em circunstâncias repousantes, se alguém confia de maneira indevida nesse processo e, dessa forma, evita consulta médica ou cirúrgica confiável, então a demora pode resultar em enfermidade ainda mais grave ou morte.

Uma lista parcial de condições físicas que a reflexologia diz tratar com eficiência, inclui convulsão, fratura do crânio, ataque cardíaco, diabetes, hipoglicemia, hiper e hipotireoidismo, asma, problemas dos rins, pedras na vesícula, doenças do fígado, incontinência da bexiga, hemorróidas, neurite, herpes-zoster, fibroma, artrite, alcoolismo, catarata e o resfriado comum. A lista de estados de saúde supostamente auxiliados pela reflexologia vai além da tratada por todas as várias disciplinas da medicina.

“Você não mais precisa viver com medo das denominadas enfermidades incuráveis”, diz um autor. “Nada é incurável — as doenças são o resultado do mau funcionamento das células e da imperfeição dos tecidos do corpo, devidos aos meios antinaturais de vida…. Pesquiso constantemente novos métodos de saúde natural e, quando encontrar um melhor do que os métodos positivos e simples da reflexologia, trarei esse método a você.”12

A reflexologia diz também influenciar a mente e o desenvolvimento da percepção extra-sensorial (ESP). “À noite, antes de deitar-se, tome um alfinete e lhe esfregue a cabeça suavemente na linha cruzada do dedo médio, começando no centro onde passa a linha vertical, esfregue em uma só direção. Se você esfregar do centro do dedo para o anelar ou quarto dedo, você sonhará com o futuro. Se você encostar a cabeça do alfinete levemente no dedo indicador na direção esquerda, você sonhará com o passado… Faça isso meia hora antes de ir para a cama… Estamos usando aqui massagem reflexa para ajudar-nos a desenvolver energia psíquica, capacitando assim a ter contato com ‘Percepção Cósmica’ e usá-la, e àquele Oceano Universal de Sabedoria que nos rodeia a todos.”13

Por suas antigas raízes místicas, a reflexologia muitas vezes contém também um pouco de panteísmo. “Vosso corpo é um instrumento ou veículo através do qual o princípio de vida, ou Deus, é expresso. Toda pessoa que anda na terra é Deus, ou a vida, em manifestação.”14

Todas as coisas possíveis?

Introduzir estas sublimes qualidades místicas eternas em nós mesmos através da reflexologia, torna supostamente possível todas as coisas. “Podeis aprender a usar a totalidade das energias de vossa reflexão ESP, de maneira que possais conseguir o que desejais da vida.”15

Um livro sobre reflexologia diz que o rejuvenescimento se torna possível com a reflexologia, e cita até a Escritura em apoio. “Alguns dos antigos mestres muitas vezes falam de casos de rejuvenescimento, mas seus relatos não têm sido compreendidos. ‘Sua carne se reverdecerá mais do que na sua infância, e tornará aos dias da sua juventude.’ Quem enche a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a águia’ (Jó 33:25; Sal. 103:5).

“O corpo do homem é uma materialização dos gases invisíveis do ar, que se compõe de átomos eletrolisados e inteligizados. O homem corresponde em cor, número e vibrações ao sistema solar, no instante do seu nascimento. O homem (você) se corporifica em uma prisão de matéria, e a mente do homem é inseparável dos elementos cósmicos.

“Sua mente pode exercer, e exerce, controle sobre seu corpo, e, assim que você crê, há esperança para sua saúde ser restaurada, e você começa a usar os meios naturais dados por Deus para voltar os ponteiros do relógio; então ‘tua mocidade se renova como a águia’.’’16

No máximo, a reflexologia é uma fricção relaxante dos pés. Algumas pessoas podem gostar dos tratamentos da reflexologia e achar que recebem benefícios destes. Devemos observar, contudo, que as teorias da reflexologia conflitam com as verdades fundamentais da anatomia, fisiologia, psicologia, e o tratamento das enfermidades. Além disso, o uso da reflexologia identifica a pessoa com conceitos da natureza humana que colidem com a verdade cristã.

No começo da história adventista do sétimo dia, Ellen White advertiu contra estas disciplinas: “Estes instrumentos satânicos pretendem curar a doença. Atribuem seu poder à eletricidade, ao magnetismo, ou aos chamados ‘remédios de simpatia’, ao passo que, na verdade, são nada mais que veículos das correntes elétricas de Satanás. Por estes meios, lançam seu encantamento sobre corpos e almas de homens.”17

E quanto a todas as centenas e milhares que dão testemunho acerca dos benefícios da reflexologia? Podemos ignorar-lhes a experiência? Ellen White faz comentários a respeito dessa espécie de benefício ao dizer: “Aqueles que se entregam à bruxaria de Satanás podem vangloriar-se do grande benefício recebido dessa forma; prova isto, porém, que sua conduta é sábia ou segura? E se a vida tiver que ser prolongada? E se a conquista temporal dever ser assegurada? Valerá a pena, no fim, desatender a vontade de Deus? Todas estas aparentes conquistas se mostrarão, no fim, uma perda irreparável. Não podemos com a impunidade demolir uma única barreira que Deus erigiu para guardar Seu povo do poder de Satanás.”18

E quanto a todas as discordâncias entre a teoria da reflexologia e a ciência da anatomia e da fisiologia? Será a grande quantidade de evidência acumulada pela ciência desprezada em favor da desacreditada teoria da reflexologia? Ellen White fala sobre isso também: “Toda verdade, quer na Natureza quer na revelação, é coerente consigo mesma em todas as suas manifestações.”19

A teoria da reflexologia entra em conflito fundamentalmente com o grande acervo de conhecimento apresentado pelas mais diversas disciplinas científicas e de saúde.

  • 1. Maybelle Segai, Reflexology (Hollywood, Califórnia: Melvin Powers Wilshire Book Company, 1976).
  • 2. Ellen White, Testimonies, vol. 5, pág. 444.
  • 3. Segai, op. cit.
  • 4. Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, pág. 127.
  • 5. Segai, op. cit.
  • 6. Kevin and Barbara Kunz, The Complete Guide to Foot Reflexology (Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, Inc., 1982).
  • 7. Ibidem
  • 8. Ibidem
  • 9. Kaye and Matchan, op. cit.
  • 10. Mildred Carter, Hand Reflexology: Key to Perfect Health, (West Nyack, Nova Iorque: Parker Publishing Company, Inc., 1975)
  • 11. Ibidem
  • 12. Ibidem
  • 13. Ibidem
  • 14. Ibidem
  • 15. Ibidem
  • 16. Ibidem
  • 17. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 609.
  • 18. Ellen G. White, Testimonies, vol. 5, pág. 199.
  • 19. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 40.