De acordo com o autor, o livro que foi aberto pelo Cordeiro seriam as Escrituras Sagradas, ou seja, a Bíblia com toda a história da humanidade até o fim de todas as coisas

Pois bem, o livro do Concerto, que era guardado no lugar santíssimo, ao lado da arca, era a Bíblia da época do tabernáculo do deserto e do Templo de Salomão. Ali se desenvolviam os princípios enunciados nos Dez Mandamentos que, por sua vez, seriam ampliados, com o passar dos séculos, no Cânon de todas as Escrituras Sagradas. O Apocalipse foi considerado o livro mais judaico do Novo Testa-mento, pelo fato de tomar emprestado símbolos do antigo Testamento, tais como as doze tribos de Israel, os 24 anciãos, o Cordeiro, os móveis do templo, etc., e aplicá-los à nova dispensação. De igual maneira, o livro da lei, que es-tava ao lado da arca (Deut. 31:26), símbolo do trono de Deus, era a Bíblia do povo de Deus durante seu período nômade no deserto. Em outras palavras, o livro de Moisés pode ser visto como tipo ou símbolo da Bíblia que os cristãos possuem hoje, e que, por sua vez, é o seu livro da vida ou herança (S. João 5:24 e 39; 6:63; cf. Deut. 30:14-16), graças à transferência testificada no Novo Testamento, e efetuada pela mor-te de Jesus (Heb. 9:15-18; cf. Apoc. 22:6, 7, 14, 18 e 19, etc).

Neste contexto, é significativa uma citação de Ellen White: “Ali, em Sua mão aberta, está o livro, o rolo da história das providências de Deus, a história profética das nações e da igreja… e a história de todos os poderes governantes da Terra’’ (MR, 984). Percebe-se na Bíblia a história do passado e do futuro profético, incluindo o de todos os impérios anunciados até o fim do mundo, que culminam com Roma em sua fase pagã-cristã. E o que os profetas recebem para escrever é escrito em harmonia com um livro celestial modelo (cf. Dan. 10:21; Deut. 32:34). A Bíblia será, efetivamente, segundo Ellen White, o livro mediante o qual os santos julgarão o mundo durante o milênio. “Em união com Cristo julgam os ímpios, comparando seus atos com o código — a Escritura Sagrada” (G. C, 666; PE. 291).

A própria cena de abertura de um livro selado, em si, tem que ver com uma situação que requer a intervenção de um tribunal. Os livros selados eram abertos em ocasiões de julgamento, quando se impugnava o documento aberto. Por isso, Ellen White diz que as declarações de renúncia à herança que os dirigentes judaicos fizeram quando entregaram Jesus à morte, revelaram sua escolha. “Sua decisão foi registrada no livro que João viu na mão dAquele que está sentado no trono, o livro que nenhum homem podia abrir. Essa decisão aparecerá diante deles em todo o seu caráter vingativo, no dia em que o livro for aberto pelo Leão da tribo de Judá.” Isso ocorrerá na segunda vinda de Cris-to, quando o filho do homem Se assentar no trono de Sua glória (ver DTG, 688 e 689). Destas declarações se pode deduzir que o livro não ha-via sido selado antes da morte de Cristo, e que a abertura dos selos tem que ver com o juízo final.

Depois de descrever o dia em que os livros serão abertos no juízo, ela acrescenta: “O quinto capítulo de Apocalipse precisa ser cuidadosamente estudado. Ele é de grande importância para aqueles que terão uma parte ativa na obra de Deus para estes últimos dias… A menos que façam uma mudança decisiva, serão encontrados em falta quando Deus pronunciar juízo sobre os filhos dos homens. Transgrediram a lei e quebrantaram o concerto eterno, e receberão de acordo com as suas obras.” — Testemonies, vol IX, pág. 267.

Embora o testemunho bíblico não apresente muitas evidências com respeito ao Selamento do livro da lei no mundo antigo, a Arqueologia indica que o costume de selar os documentos legais originais era muito comum. Yigael Yadin encontrou um rolo no deserto da Judéia, selado do lado de fora com sete selos, no qual cada selo tem a assinatura de uma testemunha. Esse documento legal não pode ser aberto antes de serem abertos todos os selos. É oportuno, de acordo com este contexto, ler passagens como Deut. 32:34, em relação com o juízo de Deus (cf. vers. 36; 31:26 = “testemunho contra ti”; Apoc. 11:3-6 = “testemunhas”; Ver S. João 5:45), onde se fala de um documento selado. À luz desta relação entre a assinatura e os selos em documentos legais, é curioso notar também que os que voltaram do cativeiro, depois de ler o livro da lei de Moisés, ratificaram sua promessa — alguma coisa mais do que uma simples assinatura — de permanecer fiéis ao livro do concerto (Neem. 9:38; 10:28 e 29, etc.). O fa-to de se dizer em outro lugar “liga o testemunho, sela a lei”, entre os discípulos do Senhor, constitui outra declaração indireta que fala do selamento do documento da lei, e que se aplica espiritualmente ao povo de Deus (Isa. 8:16).

Esse era o único livro que figurava ao lado da arca, do trono no lugar santíssimo (Deut. 31:26), costume seguido também pelos povos antigos, de pôr os documentos legais nos templos, aos pés dos deuses que ali habitavam. Era o livro que se dava ao rei como símbolo de autoridade quando era coroado (Deut. 17:18; cf. II Reis 11:12), e era objeto de especial estudo pelo povo, na Festa dos Tabernáculos do ano sabático que começava no Dia da Expiação (Deut. 31:10-13; Lev. 25:9-10). Quando foi estabelecido no lugar santíssimo, os anciãos e oficiais de Israel foram congregados em torno do Senhor em uma solene proclamação de juízo (Deut. 31:28; ver Êxo. 24:1-18; II Reis 23:1-3). Nesse caso, os anciãos não foram convocados em torno do Senhor para abrir o livro, mas co-mo testemunhas do lugar em que eram guardados para testemunhar mais adiante no juízo, quando a cortina que separava o lugar santo do santíssimo fosse aberta no dia da Expiação. Eles seriam testemunhas da fidelidade de Deus em cumprir tanto as bênçãos como as maldições contidas no livro do concerto.

Apesar destas evidências, não é preciso insistir em que o livro da lei no Antigo Testamento estava selado, para depois identificá-lo com o livro selado do Apocalipse. Os selos do Apocalipse revelam a espécie de testemunho que as testemunhas e discípulos de Jesus dão na dispensação cristã, em relação com o documento da recompensa que Jesus lhes confiou (Apoc. 1:8; S. Luc. 24:45-49, etc). O sétimo selo revela o testemunho dos sete anjos das igrejas, a respeito da resposta de Deus ao clamor dos santos. Mediante estas duas espécies de testemunho, o caráter de Deus e o de Seu povo são vindicados. A abertura do grande e original prova que o documento do herdeiro celestial, a Raiz de Davi, e o que foi escrito na vida de Seus discípulos, não se contradizem. Esta obra de vindicação O torna digno de receber o reino e todo poder nos Céus a na Terra, e de outorgá-los para sempre ao Seu povo (Apoc. 5:9 e 10).

As testemunhas do documento selado

Sendo que a visão do juízo não define claramente quem foram as testemunhas que assinaram o documento celestial, convém agora considerar mais cuidadosamente sua identidade. Uma falta semelhante de definição bíblica a respeito de a quem pagou Jesus o resgate de Sua herança, deu lugar a muita discussão através dos séculos. A única coisa que os escritores bíblicos salientam é que Jesus pagou o resgate a Seu povo, mas não definem a quem o pagou. A identidade das testemunhas, porém, pode ser deduzida do contexto e de outras passagens das Escrituras, embora a multiplicidade dos fatores que entram em relação com a herança celestial e com a natureza do livro, que é também um livro de vida e de destino e o livro do concerto, não permita assumir posições demasiado excludentes.

recompensa é o reino de Deus (S. Mat. 25:34), e tem suas dimensões: uma, espiritual, presente (S. Luc. 17:20 e 21; Rom. 8:14-17; Gál. 4:6 e 7; Efés. 1:11, etc.); e outra, literal, futura (S. Tiago 2:5; S. Mat. 7:21; Heb. 10:34; IS. Ped. 1:4; Dan. 12:13; Apoc. 21:7, etc.). O reino de Deus não se refere apenas à Terra Prometida, como a cidade celestial, a Nova Terra e o novo Éden. Esses aspectos materiais da recompensa não são concebidos como vazios. Envolvem o povo que será considerado digno de ali morar. Essa herança é do Senhor, porque Ele a adquiriu na cruz (S. João 17:24 = “aqueles que Me deste”; cf. Êxo. 34:9 ú.p.; Deut. 9:29; 32:9; Sal. 33:12; Zac. 2:12, etc.).

documento da herança é a Palavra de Deus (Deut. 28:30; S. João 5:24 e 39; 6:63, etc.), cujo original celestial é o modelo da cópia escrita pelos profetas na Terra (Deut. 32:34; Dan. 10:12). Por ser o documento legal original, é guardado selado para ser aberto apenas no tribunal (Apoc. 5), com o propósito de autenticar a cópia aberta que as testemunhas de Cristo levam na Terra (cf. Deut. 30:14), e que foi tão impugnada e ultrajada neste mundo (Apoc. 1:9; 6:9; 20:4, etc.).

Pois bem. O reino de Deus, que é a herança, é outorgado à igreja de Cristo, e ao mesmo tempo ela mesma é considerada herança do Senhor. Por esta razão, os que são adotados como “filhos” no reino de Deus, são a herança do Senhor, e são ao mesmo tempo testemunhas dessa herança. Deus lhes confia Sua Palavra e os chama para ser testemunhas no tribunal, do valor ou preço pago por ela. Dessa forma, o testemunho que a igreja dá em suas várias épocas, tal como se acha revelado nos selos, mostra a extensão ou dimensão do domínio que o Senhor adquiriu com o Seu sangue. Pode-se inferir daí que as testemunhas que são ao mesmo tempo convidadas a fazer parte da herança e a receberem, elas mesmas, essa herança, segundo o documento que assinaram (cf. Neem. 9:38-10:29), revelam por seu testemunho se o preço pago pelo Senhor O leva a considerá-los como seus, Sua propriedade (I Cor. 6:19 e 20; cf. 3:16 e 17).

Os seis primeiros selos revelam a atitude que a igreja assume em seus diferentes períodos em relação com o documento que lhe é confiado: a Palavra de Deus. Tornam clara a fidelidade ou infidelidade manifestadas com respeito ao concerto feito com o Senhor que a resgatou. O sétimo selo, por outro lado, revela o testemunho celestial da fidelidade de Deus em cumprir as cláusulas do concerto. Os sete anjos que velam pelas sete igrejas, e que ao ser aberto o sé-timo selo se apresentam fazendo soar suas trombetas, e o anjo que junta incenso às orações dos santos, recapitulam no juízo a maneira em que o Senhor cumpriu Sua parte no compromisso estabelecido, relativo a Sua propriedade. Aí se revela como Deus tem cuidado de Sua herança, e castiga as nações que procuram destruir Sua igreja, tal como fora descrito nas benções prometidas a Seu povo por sua fidelidade aos mandamentos de Deus, segundo o livro da lei (Lev. 26 e 27; Deut. 28:30).

Os 24 anciãos e sua importância no juízo

Outra confirmação de que a cena apresentada em Apocalipse 4 e 5 é uma cena de juízo, pode ser vista na descrição dos 24 anciãos que estão sentados nos tronos em semicírculo, à maneira de sentar-se no conselho dos anciãos ou Sinédrio judaico, e a corte celestial de juízo descrita nas visões do Antigo Testamento. Como já analisei em pormenores em meu trabalho sobre os anciãos, nenhuma das outras proposições dadas na identificação dos anciãos responde de maneira acertada ao número 24, e ao fato de serem chamados anciãos. Em todas as cidades de Israel, havia tribunais compostos por 24 anciãos para julgar a Israel, e mesmo em Jerusalém, onde havia um grande Sinédrio composto por 72 anciãos, o número essencial era também 24, pois era composto de três pequenos sinédrios de 24 membros cada um. O tribunal dos anciãos, que aparece no Apocalipse, é composto de anjos de Deus que agem como o antítipo celestial simbolizado ou representado pelo conselho dos anciãos no Antigo Testamento.

Na teocracia judaica, o tribunal dos anciãos desempenhava suas funções civis e religiosas ao longo de todo o ano. Seu cumprimento na nova dispensação se dá em uma dimensão espiritual na instituição dos anciãos da igreja, e tem uma confirmação real e final no juízo celestial. O mesmo pode ocorrer com respeito à missão de juízo que Jesus legou a Seus discípulos, de ligarem ou desligarem da igreja os fiéis ou infiéis, de acordo com o testemunho que derem de sua fé (S. Mat. 16:19); 18:18; S. João 20:22 e 23; Atos 2:38, etc.). Esta missão da igreja será confirmada ou invalidada pelo tribunal celestial na revisão final de contas do tempo do fim.

Com relação ao seu ministério intercessório, os anciãos figuram no juízo como testemunhas da aceitação de Deus às orações dos santos (Apoc. 5:8). O requisitório judicial do tribunal celestial, leva em consideração os votos sinceros de fidelidade feitos por todos os que solicitam ser considerados filhos de Deus. O fato de não receberem coroas mas já aparecerem possuindo-as (Apoc. 4:4 e 10), é outra evidência de que a visão não indica especificamente a convocação inaugural do concilio celestial, que tem por objetivo coroar o filho de Deus como o despenseiro divino dos dons espirituais de Seu povo. Na verdade, o antítipo celestial dos anciãos terrestres não podia receber antes de seu rei a coroa que os autoriza a exercer seu ministério antitípico no reino de Deus. Como Jesus, “o Sumo Pastor”, haviam já recebido esta coroa ao inaugurar-se o santuário celestial e seus serviços (cf. Apoc. 3:21; I S. Pedro 5:4).

“A representação simbólica nestes querubins, das formas mais signficativas e poderosas da criação animal, permite ver uma vez mais a relação do juízo com a criação.”

Em S. Mateus 5:22, Jesus menciona em Sua aplicação espiritual do livro da lei, que aquele que o viola será réu “no juízo” e “do Sinédrio celestial”, e finalmente, como conseqüência, “ficará sujeito ao inferno de fogo”. Muitas versões preferem traduzir por “concilio” em lugar de Sinédrio, por não poderem entender por que Je-sus fala de um Sinédrio na nova dispensação. A visão dos 24 anciãos em Apocalipse 4 e 5, destina-se a explicar melhor esta declaração de Jesus.

O louvor e a adoração no juízo

o fato de se salientar na visão de Apocalipse 4 e 5 a adoração e o louvor a Deus e ao Cordeiro, não enfraquece a idéia de juízo, pois era este justamente o propósito do juízo. Por exemplo, em Apoc. 4:11, salienta-se a dignidade dAquele que está assentado no trono, para “receber a glória e a honra e o poder”, algo que na verdade Deus sempre possuiu. Mas a corte é obviamente estabelecida aqui para reconhecê-lo como tal em relação com a impugnação de Seu caráter, que a rebelião e o pecado trouxeram, num contexto semelhante à descrição dada em Rom. 3:4: “Para seres justificado nas Tuas Palavras, e venhas a vencer quando fores julgado.” A razão apresentada é que Deus é o Criador, e, como tal, tem direito de julgar Suas criaturas. Isto é mais desenvolvido na mensagem do primeiro anjo, onde a chegada da hora do juízo convida à adoração (prosekunésate) do Criador, e a dar-Lhe glória (Apoc. 14:7 = dóxan; cf. Apoc. 4:11; 5:12 e 13: “dóxan; vers. 14 – prosekunésan = “adoração”). Isto é o justa-mente o que faz também o remanescente que teme a Deus ao terminar o período da grande tribulação, e iniciar-se o ministério do lugar santíssimo. Dão “glória (dóxan) ao Deus do Céu” (Apoc. 11:13 e 19). A quarta praga mostra que os homens que recusaram o chamado para darem glória a Deus por ocasião do juízo, não se arrependem nem mesmo com o castigo “para dar-Lhe glória” (Apoc. 16:9). Por outro lado, as hostes celestiais exclamam: “… demos-Lhe glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou” (Apoc. 19:7).

Em S. João 5:22 e 23, salienta-se de novo a relação entre o juízo celestial e a honra tributada a Deus e ao Filho. Mas o que chama a atenção nesta passagem, é que esta honra (timosi) concedida ao Pai e ao Filho, é dada quando o Pai confere o juízo a Seu Filho. O propósito exato desse juízo é que “todos honrem o Filho co-mo honram o Pai”. Essa honra (tim e n dada ao Filho e ao Pai, João iria ter a oportunidade de descrevê-la mais detidamente em seu último livro, em apocalipse, quando o Pai entrega ao Filho o livro do juízo e do reino, a Palavra de Deus (S. João 5:45; ver especialmente Apoc. 4:11; 5:9, 10, 12 e 13). Descrevendo a Jesus de pé, como em Apoc. 5:6, ao concluir Seu minis-tério no lugar santíssimo, e tendo em cima da cabeça o arco-íris que está em cima do trono (cf. 4:3), símbolo da misericórdia, E. G. White faz a seguinte declaração: “A graça e a misericórdia descerão então do trono, e a justiça tomará o seu lugar. Aquele por quem Seu povo tem esperado, assumirá Seu direito — o ofício de Supremo Juiz.” — R.H., 1º de jan. de 1889.

João chora momentos antes porque não vê ninguém digno de abrir a lei da herança no juízo. Ele sabia que o Filho do homem havia vencido (Apoc. 1:18) e Se havia assentado com Seu Pai em Seu trono (Apoc. 3:21). Havia mais de 60 anos que isto acontecera, e João havia recebido um dos dons que Jesus concedeu a Sua igreja nesta ocasião inaugural, o dom profético, como prova de Sua aceitação pelo Pai (Atos 2:33; Éfes. 4:7-13). Mas agora está diante da convocatória celestial que deve vindicar aos santos heróis das igrejas, e se oculta de sua vista o único ser capaz de abrir o livro da herança. Um dos membros da corte celestial o consola então, comunicando-lhe o que todas as hostes celestiais também sabem, e é que Jesus, o Messias Filho de Davi, havia vencido e tomado posse de direito na inauguração de Seu ministério celestial, como Senhor e Cristo (Atos 2:36; Apoc. 12:10), virtual ou prolepticamente acima de todo e qualquer poder, seja no Céu ou na Terra (Apoc. 1:5-7; Efés. 1:19-23; Heb. 1:2). Sua mis-são passou então a ser, em grande parte, espiritual e sacerdotal, pois foi dado “para ser o ca-beça sobre todas as coisas” à igreja, enquanto esperava que “os Seus inimigos sejam postos por estrado dos Seus pés” (Heb. 5:5; 10:13). Mas a atenção de João é dirigida para mais além ainda, e contempla o momento em que o Filho de Davi (Apoc. 5:5) vai ser investido de fato, consumada ou acabadamente no fim dos séculos, assim como Davi, para reinar sobre o Seu povo e salvá-lo de Seus inimigos (Apoc. 20:4 e 6; 22:3 e 6), e receber literalmente por herança as nações, quebrantando-as com vara de ferro (Sal. 2:7-9; Apoc. 19:15).

No Salmo 122:4 e 5, lemos: “Para onde sobem as tribos, as tribos do Senhor, como convém a Israel, para renderem graças ao nome do Senhor. Lá estão os tronos de justiça, os tronos da casa de Davi.” Vê-se aí que não se considerava o trono típico do rei como único em relação com sua função de juiz, mas que são incluídos também os tronos de seus conselheiros, o tribunal mencionado em outras passagens bíblicas como “o conselho dos anciãos” (I Reis 12:6; Ezeq. 7:26; S. Mat. 27:1; 28:12, etc.), os quais eram estabelecidos em semicírculo. Nessa passagem, o louvor e o juízo estão juntos, pois o propósito do juízo é vindicar o caráter de Deus, tão discutido pela rebelião à vista dos anjos de Deus. O mesmo acontece em Apoc. 19:1-8. Os quatro querubins, os anciãos, os remidos e todos os seres celestiais louvam e adoram a Deus, porque os Seus juízos são manifestos (Apoc. 19:1-10).

Esta finalidade do juízo é de valor supremo, do contrário a tragédia do pecado não poderá ser erradicada para sempre. Os rabinos e os seguidores do Qumram, baseados em várias passagens do Antigo Testamento, deixaram vestígios da crença em que Deus julgará o mundo e Seu povo junto com os anciãos em Jerusalém.

À luz destas considerações, a conclusão óbvia é que a visão de Apocalipse 4 e 5 se refere ao juízo investigativo em relação com a visão de Daniel 7 e Apocalipse 11, e que a abertura dos selos e o soar das trombetas, têm que ver com uma recapitulação da história da igreja e dos juízos restritivos que Deus estabeleceu contra Seus opressores, em vista do juízo que agora é universal e final, definitivo. Uma recapitulação semelhante se vê na missão que Deus deu a Seus profetas no passado, antes de dar a sentença final em Seu juízo. Em muitos ca-sos, o profeta é transportado para eventos futuros, e contempla fatos ainda não ocorridos como se já tivessem acontecido (ver Isa: 53. Os sofrimentos do Servo de Yahvé; Isa. 45:1: Ciro; Isa. 47: juízo sobre Babilônia como algo atual, presente, etc.).