Quando o pregador vai além da mera preleção moral, ética ou social, e apresenta a Palavra de Deus, os adoradores crescem com ele
Como parte do culto de adoração, o sermão deve ser nada menos que um encontro entre Deus e Seu povo, no qual o pregador, ao expor as Escrituras, torna-se o porta-voz divino. Um consagrado ministro, um pregador cheio do poder do Espírito Santo, é um conduto através do qual Deus confronta a humanidade. No plano divino, o sermão não é simplesmente alguma coisa boa, feita por um homem bom. Não é meramente uma palestra teológica ou bíblica. Não é um comentário sobre eventos correntes. Através do sermão, Deus Se revela alcançando-nos e apelando para tomada de decisões que têm conseqüências eternas.
Paulo escreveu a Timóteo: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela Sua manifestação e pelo Seu reino: prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (II Tim. 4:1 e 2).
“Nessas incisivas e fortes palavras, toma-se patente o dever do pastor de Cristo. Ele tem de pregar a ‘palavra’, não as opiniões e tradições dos homens, não fábulas aprazíveis ou histórias sensacionais, para mover a imaginação e despertar as emoções. Não deve exaltar-se, mas, como na presença de Deus, colocar-se perante o mundo a perecer, e pregar a palavra. Não deve haver nenhuma leviandade, nenhuma frivolidade, nenhuma interpretação fantasiosa; o pastor deve falar com sinceridade e profunda seriedade, como uma voz vinda de Deus a expor as Sagradas Escrituras. Cumpre-lhe oferecer aos ouvintes aquilo que é de maior interesse para seu bem presente e eterno.” – Obreiros Evangélicos, pág. 147.
Pregação é a transmissão de uma mensagem que se origina em Deus e é transmitida por ordem de Deus. E isso é possível apenas tendo como base a Palavra de Deus, a Bíblia. Por conseguinte, quando é desempenhada no poder divino, e na presença do Senhor, a pregação não somente tem seu ponto de partida em Deus, mas também tem nEle o seu fim ou objetivo.
Daí a importância de mais este conselho de Ellen White: “Prega diretamente da Palavra, fazendo com que ela fale a todas as classes. Seus argumentos convincentes são as palavras do Antigo e do Novo Testamentos. Não busca palavras que meramente impressionem as pessoas com a sua erudição, mas esforça-se para deixar que a Palavra de Deus lhes fale diretamente com expressões claras e distintas. Para que alguém recuse aceitar a mensagem, tem que recusar a Palavra.” – Evangelismo, pág. 204.
Ponte entre Deus e o homem
Na adoração, certamente, existe o diálogo entre a Palavra de Deus e a palavra do homem, entre Deus e o homem, entre o homem e o próximo. A pregação é completa quando a Palavra de Deus encontra ressonância no homem, a quem ela é dirigida. Por isso a pregação é a ponte que une Deus e o homem. É a dinâmica da adoração que o profeta Isaías descreve no capítulo seis do seu livro. É o chamado de Deus e a resposta do homem; a confissão humana e o perdão divino. É a proclamação da Palavra e a dedicação do adorador; a comissão ao serviço e a promessa de poder para o cumprimento da tarefa. É a pregação que confere à adoração um existencial contemporâneo e se relaciona com a vida dos adoradores. A pregação é o veículo por excelência para a transmissão da graça divina, que vem como resultado da adoração.
Há lugares privilegiados com um lindo templo, edificado com uma arquitetura perfeita e adequada, onde a igreja segue uma liturgia expressiva com instrumentos magistralmente executados e um coral inspirador. Contudo, não há o homem que fale em nome e sob o poder do Deus vivo, daí resultando o declínio espiritual da congregação. Ser um pregador é a mais alta vocação a que um homem pode ser chamado. E somente através do Espírito Santo é que podemos cumpri-la. “A pregação da Palavra não será de nenhum proveito sem a contínua presença e ajuda do Espírito Santo.” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 671.
Existem alguns pastores que pensam e até se vangloriam de saber fazer muitas outras coisas, melhor do que pregar. Será uma grande ajuda para esses pastores a lembrança de que em cada congregação pode haver leigos que os superam como administradores, financistas, relações públicas, entre outras habilidades. Mas há um lugar onde o pastor deveria ser único, a saber, o púlpito. Espera-se que o pastor, consagrado a Deus, seja o máximo na pregação. Por outro lado, reconhecemos que é muito mais fácil para alguém viver numa desenfreada correria, de um lado para outro, do que dedicar-se a ser um bom pregador da Palavra de Deus. Embora deva ser fiel e diligente na execução de todas as atividades requeridas pelo seu trabalho, nada deve impedir o pastor de se tornar um gigante da Palavra no púlpito.
Pregação é insubstituível
Lamentavelmente, há um descontentamento bem difundido consoante à pregação. Há queixas relacionadas a sermões fracos no conteúdo e na apresentação. Os membros das igrejas estão preocupados com a qualidade dos sermões que estão ouvindo. Eles amam e respeitam seus pastores, mas desejam que estes preguem melhores sermões; que sejam realmente pregadores da Palavra que alimenta e sustenta.
O que poderia ser feito para melhorar essa situação? Aqui oferecemos algumas sugestões:
Devemos decidir, de uma vez por todas, que não existem substitutos para a pregação. É bem verdade que os dirigentes ou as comissões que avaliam o trabalho do pastor nem sempre estão a par da qualidade sua pregação. Conhecem as habilidades promocionais do pastor, suas aptidões como comunicador e administrador. Nos relatórios mensais não há um item de avaliação da qualidade dos sermões, mas apenas da quantidade deles. O pastor pode até ser bem-sucedido em diferentes áreas e pecar como pregador. Um dos grandes momentos na vida de um pastor adventista é quando ele se põe diante de sua congregação para apresentar a Palavra de Deus. Nada, absolutamente, deveria impedi-lo de se tomar um grande pregador. Essa é uma santa ambição.
Deveriamos estar dispostos a pagar o preço de nos tomarmos bons pregadores. Qual é esse preço? Longas horas de estudo exaustivo e meditação na Palavra de Deus; horas gastas em escrever, esboçar, memorizar, praticar e viver o sermão. Durante todo o tempo, em tudo o que fazemos, devemos estar preparando o sermão. Sob quaisquer circunstâncias, as mais diversas possíveis, o pregador deve estar constantemente pensando no que vai pregar. Isto é a sua vida.
Precisamos descobrir em que consiste realmente uma boa pregação. Alguns pastores são bem fluentes, e com pouco trabalho alcançam o objetivo desejado. Podem ajuntar alguns poucos textos, ilustrações, citações, e apresentar um sermão, sem muito esforço. Contudo, bem analisados, tais sermões não passam de repetições banais, clichês irrelevantes. Logo fica evidente a vacuidade de sua apresentação. Há outro tipo de pregação que se ocupa da exposição de normas moralistas, notícias correntes, problemas sociais, histórias engraçadas; tudo muito interessante, mas não é sermão.
Quatro itens na pregação
Uma boa pregação realmente é a exposição da Palavra de Deus, com o propósito de enaltecer a Cristo, levando os ouvintes a aceitá-Lo. Somos instados a pregar “de maneira tal que as pessoas possam aprender as grandes idéias e extraiam o minério precioso contido nas Escrituras” (Evangelismo, pág. 169). Esse tipo de sermão é mais que repetições superficiais de idéias comuns. Deve revelar uma intimidade real com a Palavra de Deus e Seu autor. Quando o pastor fala no momento do culto, isso deve ser pregação da Palavra. Em outra ocasião qualquer, ele pode fazer discursos e palestras. Não pregar a Palavra no momento do culto é uma falha indesculpável.
Seria apropriado que os pregadores lessem freqüentemente o capítulo 40 do livro de Isaías. Ali o profeta pergunta: “Que hei de clamar?” A resposta divina conduz então ao que realmente é a pregação. Quatro pontos mencionados naquela porção bíblica devem ser encontrados em cada sermão:
• Pregar sobre a transitoriedade da vida e a eternidade (Isa. 40:6-8).
• Pregar sobre o primeiro advento de Cristo, para tirar o pecado e produzir reconciliação.
• Pregar sobre a segunda vinda de Jesus, o reino de Deus e o juízo final (v. 10).
• Pregar consolação (v. 1), esperança, certeza e segurança em Deus (v. 11).
Nossa pregação deveria estar de acordo com as necessidades dos ouvintes. Parece que muitos pregadores estão respondendo perguntas que o povo não está fazendo. Há pregadores tão cheios de teorias teológicas que se esquecem completamente das necessidades de sua grei. Falam do que apenas interessa a eles, sem a preocupação de alcançar os ouvintes. Como resultado, os ouvintes logo mudam de canal, deixando-os falando ao vento. Pregadores novatos ou experientes devem saber comunicar-se com os ouvintes. Sempre devem ter em mente que toda exposição da Palavra, todo sermão pregado em um culto, deve ser a mensagem de Deus que supre alguma necessidade humana.
Lições sempre atuais
O que apresentamos a seguir é parte de um artigo escrito pelo Pastor Robert Pierson, ex-presidente da Associação Geral, já falecido. Embora tenha sido publicado há aproximadamente 40 anos, as lições que encerra são extremamente válidas para nossos dias.
“Naquela manhã de sábado, a grande congregação achava-se reunida para o culto. Era uma de nossas grandes igrejas. O presidente da Associação estava designado para falar no culto divino. Ele havia trabalhado muitos anos no campo missionário e, sendo meu amigo, eu aguardava com desusada ansiedade sua mensagem inspiradora e interessante.
“Os ponteiros do relógio do templo marcavam exatamente onze horas. Olhei, esperançoso, para a porta da sala pastoral, esperando que a qualquer momento se abrisse e os irmãos que tomariam parte na direção do culto se dirigissem para a plataforma. Somente cinco minutos depois das onze minhas esperanças se realizaram, e todos ocupavam seus lugares.
“As partes de abertura do programa do culto se fizeram normalmente. Todos os anúncios que constavam da agenda foram devidamente lidos, realçados, e ampliados até. Uma campanha que então se fazia ocupou completamente uns bons dez minutos. Mais uns poucos anúncios extras e lembretes foram feitos em boa medida. Levantaram-se duas ofertas – a de praxe e uma outra especial para uma causa, sem dúvida muito digna.
“Ao tempo em que essas partes se fizeram, o relógio da igreja nos lembrava de que eram onze horas e quarenta minutos. Comecei a tomar-me impaciente. Estava ansioso para ouvir o pastor falar. Mas para a minha aflição descobri que o fim ainda não chegara. Ainda outros diversos pormenores requeriam atenção – cartas de transferências, e um diácono que foi ordenado. Receei que o pastor não pudesse ser apresentado antes do hino final. Meus temores, no entanto, eram infundados, pois exatamente sete minutos antes das doze horas o culto foi entregue ao orador do dia. Homem de muito tato, o pastor pregou um sermão de apenas sete minutos, sem referência nenhuma ao atraso. Ambos os ponteiros do relógio do salão cobriam precisamente o algarismo doze quando ele se assentou.
“Senti-me roubado. Pessoalmente necessitava de toda a mensagem daquele pastor. Deixei a igreja com íntimos ressentimentos com as muitas partes apresentadas e que deixaram apenas sete minutos para o estudo da Palavra de Deus.
“Felizmente este fato verídico aqui descrito não é comum. Normalmente, como pastores, temos mais do que sete minutos para o nosso sermão do sábado. Contudo, em muitíssimas igrejas, muitas partes extras, excesso de apresentações especiais e anúncios dispensáveis estão prejudicando o tempo de exposição da Palavra. Muitas coisas, boas em si mesmas em ocasiões apropriadas, estão tomando os minutos que devem ser considerados sagrados para o estudo da Palavra de Deus.
“Visitar uma grande igreja em uma cidade constitui sempre júbilo para o pregador visitante. Tendo pregado muitas vezes em algumas delas posso falar de experiência própria. Numa dessas igrejas que conheço, o pastor é um dirigente consagrado e eficiente. Ele traz tudo bem organizado e antecipado para o culto divino. Todos os que vão tomar parte são disso notificados previamente. Não há atropelos de última hora. Cada pessoa que deverá subir à plataforma recebe um exemplar do programa de culto, ao entrar na sala pastoral após a Escola Sabatina.
“Nessa igreja o culto começa pontualmente. Nenhuma demora prejudica o sermão. No momento designado, os oficiantes tomam seus assentos na plataforma. Os membros acostumaram-se com essa pontualidade e se colocam em atitude reverente aguardando o início do culto. O pastor usa um boletim de anúncios muito atrativo. Contém os anúncios regulares para a semana e, desde que a congregação recebe o boletim e o lê, não julga necessário repetir o seu conteúdo. Em certas ocasiões, poderá haver anúncios especiais de última hora, ou necessidade de realçar alguma atividade também especial, porém normalmente o boletim semanal é suficiente, e no púlpito não são feitos anúncios. Ele pede que as matérias a ser anunciadas estejam no seu escritório até quinta-feira, com tempo de sobra para aparecerem no boletim.
“O desenvolvimento de nossos vários planos departamentais da Igreja tem seu lugar na agenda. Não os negligenciemos. Um bom sermão espiritual sobre a recolta ou a educação cristã pode ser uma parte do culto como um sermão sobre o novo nascimento. Colocando-se a devida moldura espiritual em nossos sermões, eles ficam qualificados para o culto sabático.
“Através dos anos, observei que várias campanhas podem ser promovidas com eficácia em outros momentos, que não os do culto. O culto do primeiro sábado do mês, normalmente dedicado às atividades missionárias, a Escola Sabatina, as reuniões dos jovens – tudo oferece excelentes oportunidades para realçar as atividades desses setores. Se planejarmos cuidadosamente, estas partes importantes não prejudicam o tempo que deve ser devotado ao estudo da Palavra de Deus, no culto de adoração.
“Deixemos Deus falar. Não Lhe abafemos a voz com outras coisas, boas e dignas de atenção em outras ocasiões. Demos ao pregador seu devido lugar no culto de adoração.”
Nada deve impedir que o pastor seja um gigante da Palavra
Horne P. Silva, D.Min., professor de Teologia, jubilado, reside em São Paulo, SP