O autêntico culto adventista mantém um equilíbrio entre a pregação e o louvor, ambos alicerçados na fé na Palavra de Deus.

Os adventistas do sétimo dia consideram Apocalipse 14:6 e 7 um texto chave acerca do culto de adoração: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o Céu, a Terra, e o mar, e as fontes das águas.’’ Essa passagem afirma que há uma nova e particular característica, para a celebração do culto na igreja do fim dos tempos, envolvendo dois aspectos principais. Essa característica tem a ver com o senso de urgência que vem através do entendimento de que a igreja realiza seus cultos de ado-ração num contexto de crise escatológica. Os dois maiores enfoques são a pregação e o louvor, ambos elementos vitais no autêntico culto adventista do sétimo dia. Enquanto o senso de urgência provê motivação tanto para o louvor quanto para o ser-mão, um equilíbrio entre a pregação e o louvor é necessário para que não haja um distorção no culto. O louvor de uma congregação é sempre uma resposta à voz de Deus apresentada na Bíblia e no sermão. Deus fala; Seu povo responde.

Pregação e Louvor

O autêntico culto adventista está centralizado na pregação e no louvor, não admitindo dicotomia entre proclamação e adoração. O equilíbrio entre o sermão e o louvor é assegurado pela exposição da “doutrina do evangelho, tristeza pelo pecado, arrependimento e confissão”1, dentro do contexto de um culto regido pela ordem, disciplina e dignidade.2 A pregação bíblica expositiva é, talvez, a melhor forma de tratar com o emocionalismo, fanatismo e subjetivismo no culto. Tal espécie de mensagem “organiza nosso mundo interior, define nossa identidade, julga nossas atividades, autoriza nosso testemunho, enaltece as promessas de Deus em Jesus Cristo, oferece o próprio dom de Jesus Cristo, e evoca nossa liberdade como ‘pessoas’ para aceitar ou rejeitar a Deus”? Quando a Palavra de Deus tem precedência sobre a resposta humana, não existe problema de equilíbrio do culto de adoração.

Qualquer tendência que não posicione a pregação como ato central do culto adventista está em desarmonia com Apocalipse 14:6, porque a experiência humana nunca deve ocupar o lugar da Palavra de Deus no culto — nem mesmo uma “suave sensação de êxtase”.4 É em resposta à Palavra de Deus lida e pregada que os pecadores redimidos louvam a Deus e o Cordeiro em atitude de adoração. É por isso que o louvor fica fora do seu devido lugar quando é apresentado logo no início do culto. A contrição, em resposta à voz de Deus ouvida através das Escrituras e da pregação, precede o louvor. Este é o clímax natural do serviço teocêntrico de culto, durante o qual as razões para as expressões de louvor foram primeiro bem estabelecidas pelas Escrituras e pelo sermão. Portanto, qualquer tendência de não apresentar o louvor como uma resposta apropriada à Palavra de Deus não está em harmonia com Apocalipse 14:7. Igual-mente, tal tendência também está em desacordo com o espírito do sábado, pois “sem que a observância do sábado revele nossos mais profundos sentimentos de louvor, não estaremos expressando todo o seu completo potencial”?

A pregação do Velho Testamento apontava para o ato salvador de Deus na história. A comunidade do Novo Testamento pregou e expressou seu louvor a essa atividade salvífica em Cristo. A pregação do Novo Testamento também aponta para o futuro ato final de salvação de Deus na história, a segunda vinda de Cristo. O Salvador — o único que nos redime do pecado, o nosso Senhor, que está assentado à direita do Pai e atua como Sumo Sacerdote, e Aquele que, ao completar Seu ministério celestial, retornará à Terra para buscar Seus filhos — é o centro da fé adventista. Cremos em Cristo. Como igreja, somos chamados o “corpo de Cristo”, e somos exortados a glorificá-Lo pela vida em harmonia com Sua vontade para com a Igreja (Rom. 12; Efé. 4:17; 6:18; Col. 3:1-4; 6; I Tess. 4:1; 5:11; Heb. 12:1-13 e 21; I Ped. 1:13; 5:11).

Conseqüentemente, em seu culto nos últimos dias, a Igreja responde à pregação do “evangelho eterno”, dando a Deus “glória”; dirigindo-se a Ele em oração, ouvindo atentamente Sua Palavra, cantando hinos de louvor, reafirmando a experiência redentora da graça através de uma vida de entrega e testemunho. As-sim, o culto, especialmente em adoração, revela a natureza essencial da experiência cristã. Uma renovada vida de louvor em resposta à Sua Palavra resultaria, naturalmente, de uma renovação tanto do louvor como do evangelismo.

Ao respondermos às experiências de louvor, permaneçamos no equilíbrio, não adotando posições extremadas que poderão prejudicar uma genuína renovação do culto. Consideremos, por exemplo, a posição que afirma que, por estarmos vivendo no dia antitípico da expiação, o louvor seria inapropriado. A contrição é importante parte do culto, mas se ela vem enfocada de modo a negligenciar o louvor, o culto tenderá a se tornar distorcido. As boas novas do per-dão dos pecados e a promessa do breve retorno do Senhor são, certamente, causas de alegria entre o povo de Deus e podem legitimamente ser expressas em louvor. Este é um ponto claro: quando alguém entra em contato com novas idéias acerca do louvor, uma cuidadosa consideração, investigação e análise são requeridos para que não apareçam os extremismos.

Culto de Celebração

Uma expressão muito usada hoje é “culto de celebração”. No passado, alguns pastores usaram “celebração” em referência ao culto de adoração, porém hoje, infelizmente, a expressão está se convertendo num termo carregado — tão carregado que algumas pessoas têm ficado alarmadas por seu uso e logo imaginam todo tipo de demônios ao ouvi-lo. Mas o conceito de celebração com alegria é encontrado através de toda a Bíblia (êxo. 10:9; Mat. 26:18; Lucas 15:24; Apoc. 4; 5; 11:10). Honestidade e objetividade requerem que evitemos acusações desinformadas acerca do termo e daqueles que o usam. Embora reconheçamos os motivos elogiáveis dos pastores atraídos pelo culto de celebração, o conceito não pode ser aceito por uma congregação adventista sem um cuidadoso exame. E tal investigação deveria ser baseada nos sólidos princípios litúrgicos e não em deturpações e descaracterizações.

Um ano atrás, assisti a um culto de celebração numa igreja adventista do sétimo dia. Três elementos compunham a liturgia: louvor, oração e sermão. Louvor e pregação requereram a maior parte do tempo. Durante o segmento de louvor, os líderes juntaram-se à congregação nos cânticos de louvor contemporâneos, com as palavras projetadas na tela, durante cerca de 20 minutos. No decorrer desse período, não vi nem ouvi qualquer coisa que pudesse ser considerada herética ou satânica. Entretanto, eu não me senti tocado, pelas seguintes razões:

  • 1. O culto apresentava um caráter de entretenimento. O local não era um santuário, com arquitetura que destacasse o púlpito ou a mesa da comunhão, mas um auditório cujo principal enfoque era um amplo palco. Nessas condições, era natural que os participantes atuassem mais co-mo atores do que como líderes do culto de adoração. O cenário e a música, ainda que preparados com esmero e bom gosto, tornavam o aplauso algo perfeitamente natural. Entretenimento religioso de boa qualidade tem o seu lugar, mas não durante um autêntico culto adventista.
  • 2. O culto possuía um enfoque subjetivo. As emoções eram tocadas num nível superficial, o que acontece no caso de um entretenimento, e não no nível mais profundo, através da pregação da lei e do evangelho. Tive a impressão de que a maioria do auditório tinha a sensação de que o culto estaria sendo prestado a Deus se eles se sentissem bem tanto em relação ao aspecto litúrgico quanto em função deles próprios.              
  • 3. O culto pareceu valorizar, como seu principal elemento, a expressão de louvor. O louvor precedeu o sermão e permeou cada parte que era apresentada ou falada. Entretanto, no autêntico culto adventista, o louvor é apenas um dos mui-tos elementos que contribuem para uma equilibrada e completa experiência. Tornar o louvor o principal elemento é produzir um desequilíbrio no serviço do culto, desvalorizando outras partes vitais como confissão, contrição, gratidão, pregação, ensino, ordenanças, testemunho, dedicação e sacrifício em dar e servir.
  • 4. Louvor muito no início do culto. Ele deve ser sempre uma resposta à Palavra de Deus, lida e pregada. O pecador redimido louva a Deus, o Pai, que é o Criador, e o Filho, o Redentor. A experiência humana nunca deve tomar o lugar da Palavra de Deus num autêntico culto adventista.
  • 5. A Música sacra contemporânea dominou o culto. Em razão de tenderem a tocar apenas as emoções superficiais, as músicas sacras contemporâneas nunca podem tomar o lugar dos tradicionais hinos da Igreja. Elas nunca conseguem produzir os mesmos resultados que esses hinos obtêm. Os hinos do hinário adventista Cantai ao Senhor surgiram no seio de uma comunidade cristã que lutava pela sobrevivência num ambiente hostil. Os grandes hinos, antemas e corais da igreja fortalecem a convicção e a fé, além de tocarem as emoções num nível mais profundo.

A exortação de Paulo à congregação de Éfeso certamente deve ser levada a sério pelos adoradores de hoje: “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração; dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai,’ em nome de nosso Senhor Jesus Cristo’’ (Efés. 5:19 e 20). A tentação hoje é se mover dessa ordem para as músicas e canções “pop’’. Necessitamos estar alerta contra a rejeição daquilo que é histórico na música da igreja, trocando-o pelos modismos dos coros de louvor contemporâneos. O ponto fundamental na música cristã é que ela não se resumia apenas à expressão emocional subjetiva numa apresentação de entretenimento, mas seu maior mérito era conduzir à confissão dos pecados e à fé, num ambiente de reverência e adoração. Tal qual muitos dos salmos do Velho Testamento, os hinos e cânticos da comunidade cristã dos tempos do Novo Testamento recordavam os poderosos atos do Senhor em favor da redenção da humanidade. O principal enfoque deve ser sempre sobre a exaltação de Jesus Cristo como Salvador e Senhor.

  • 6. A ordem da liturgia era diferente, mas apenas a mudança na forma do culto não produz reavivamento. O reavivamento segue a espécie de exame do coração que conduz à confissão, arrependimento e transformação da vida. E isso é possível não pela adoção de uma forma litúrgica desordenada, co-mo o culto de celebração, mas pela bus-ca nas fontes espirituais: as Escrituras Sagradas e o Espírito de Profecia. O reavivamento ocorre quando e onde há uma pregação descomprometida da Palavra de Deus, a pregação de todo o evangelho, e a rejeição do erro.

Resposta ao culto de celebração

Oculto de celebração pode ser nada mais do que um “cometa litúrgico”, deslumbrante no seu caminho para o desaparecimento, deixando apenas uma memória. Ainda surgem sérias questões acerca do fenômeno que cintila nos céus adventistas:

1. Aonde, afinal, isso nos levará?

2. Até que ponto se trata de uma forma de neopentecostalismo?

3. Quão longe estamos indo à procura de inspiração hoje em dia?

4. Já não é a inspiração encontrada na mensagem e na missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia?

5. O problema real estaria com a teologia que apóia o culto de celebração e fornece material para as pregações feitas nesse contexto?

Até agora apenas expressamos nossa reação ao culto de celebração. O que necessitamos é de uma resposta inteligente às questões mais básicas. Somos aconselhados, em face de pessoas que apreciam novas experiências de louvor envolvendo muito excitamento e movimentos físicos, a “não combater suas idéias nem tratá-las com desdém. Em vez disso, ofereçamos-lhes um exemplo do que constitui um verdadeiro serviço de amor no culto de adoração’’.6

O caminho certo não está na condenação nem do conservadorismo nem dos extremos carismáticos no louvor. Talvez, deveriamos ser gratos porque o culto de celebração está nos chamando a atenção para a nossa atrasada necessidade de renovação do culto de louvor em nossas igrejas. Não dar o devido louvor, segundo Apocalipse 14:6 e 7 ordena, tem criado um vácuo. Não deveriamos nos surpreender por aquilo que o vem preencher. Talvez Deus esteja dando à Igreja Adventista do Sétimo Dia uma oportunidade de responder mais completamente à mensagem do primeiro anjo, e começar a pensar mais seriamente na teologia adventista do louvor.7

Louvor Adventista Autêntico

Diferentemente das tradições luteranas ou episcopais, o culto adventista possui grande versatilidade. Sua liturgia é parte do legado da igreja livre e isso aumenta em vez de diminuir a responsabilidade pelo planejamento do culto que introduz o povo à presença de Deus, para ouvir a Sua voz e responder em louvor de modo apropriado.

Num espectro litúrgico que se estende desde as formas mais simples até as mais elaboradas, a Igreja Adventista do Sétimo Dia se posiciona numa linha entre as mais simples e as intermediárias. O culto adventista, mesmo nas mais famosas igrejas institucionais, com serviços de adoração formais e cuidadosamente planejados, não pode ser classificado como altamente elaborado. O que temos é uma igreja com liturgia simples, com base na estrutura e na ordem, porém fortemente marcada por um amplo espectro de variações.

Entretanto, é possível identificar alguns dos aspectos fundamentais do autêntico culto adventista:

1. Teocentrismo. Os adoradores adventistas do sétimo dia visam a Deus, não ao adorador como o ponto central. Dizer do culto que “ele não vem ao encontro de minhas necessidades’’, ou “dele não recebo nada” sugere que o adorador é o centro de atenções. O culto não é apenas uma porta de entrada numa miscelânea de atividades planejadas para suprir cada possível necessidade humana. Quando o enfoque principal do culto é mais o suprimento das carências pessoais do que a adoração a Deus, a Palavra de Deus é colocada sob o entulho do endeusamento humano. Conseqüentemente, o louvor perde o seu real valor. Certamente, Deus deseja que as necessidades humanas sejam supridas, mas a maior delas é estar na presença de Deus em fé e submissão. Porque “a maior dádiva que podemos receber é Deus”8, o suprimento de uma necessidade humana é um gracioso subproduto do culto teocêntrico. A responsabilidade pastoral requer que os ministros liderem suas congregações na experiência do mais elevado, mais importante, mais majestoso louvor.

  • 2. Centralização na pregação. No contexto da era do juízo, o culto deve centrar-se em torno da Palavra de Deus. “O verdadeiro profeta está voltado mais para a interpretação da natureza e ação de Deus do que no suprimento das necessidades e vontades do povo.”9
  • 3. Crença prática. Um ponto que caracteriza o culto adventista é encontrado no que cremos e pregamos. Não pode ser copiado nem da alta liturgia nem do culto carismático. Em seu lugar, nosso culto deve ilustrar nossas crenças, proclamar nossa missão de forma audível e visível, e tornar claro o motivo por que nos congregamos. Quando o culto não demonstra as crenças da igreja, quando o culto dá maior importância à celebração de eventos na história secular do que à história da redenção, tal culto é dúbio. A ambiguidade na liturgia não permite direção, tema ou unidade no culto.
  • 4. Louvor dentro de um contexto. O louvor dentro do contexto da pregação da Palavra de Deus coloca em cheque o emocionalismo e o fanatismo. O culto adventista deve manter-se livre de qualquer distorção. “Se trabalhamos para criar excitação do sentimento, teremos tudo quanto queremos, e mais do que possivelmente podemos saber como manejar. Calma e claramente ‘prega a Pa-lavra’. Importa não considerar nossa obra criar excitação.”10. Sentimentos e excitação não devem assumir “o domínio sobre o juízo calmo”.1 2 3 Mero ruído e gritos não são sinal de santificação, ou da descida do Espírito Santo.12
  • 5. Evitando os extremos. O plano de Satanás é tentar a igreja em direção a um dos dois extremos: emocionalismo ou frio formalismo; subjetivismo sem base objetiva ou objetividade sem reação subjetiva; pura emoção sem a Palavra ou a Palavra sem louvor. Quando o louvor se torna o único objetivo do culto, o extremismo se torna um perigo. Freqüentemente o sermão é relegado a um plano inferior, conduzindo-se ou a uma elaborada liturgia ou encorajando-se manifestações carismáticas com gritos, palmas e movimentos corporais. Se as multidões são atraídas para tais encontros, a igreja poderia até mesmo se convencer de que o aumento na freqüência seria uma evidência de crescimento e espiritualidade.

É preciso haver equilíbrio. O louvor expressado em cânticos e testemunhos é um dos elementos vitais numa equilibrada e completa experiência vivida no culto de adoração. Não pode tomar o lugar de outros elementos vitais, nem ser ofuscado por eles. O autêntico culto adventista deve apoiar-se numa estrutura de “liberdade disciplinada”13, sujeita a normas e condições derivadas da compreensão adventista da fé baseada em textos como Apocalipse 14:6 e 7.

A experiência do culto adventista pode sempre ser aperfeiçoada de tal modo que se aproxime muito mais do que deveria ser. Mas enquanto buscamos uma renovação no culto, façamo-lo conscientes da necessidade da inclusão dos elementos vitais. Que o autêntico culto adventista seja permeado pela característica da urgência em face da crise escatológica, e que haja sempre um equilíbrio entre os dois principais enfoques: pregação e louvor.