A primeira visão de Apocalipse (capítulos 1-3) descreve a ação pastoral de Jesus. João vê Cristo exercendo o Seu Ministério sacerdotal no lugar santo do santuário celestial e Se relacionando pastoralmente com as igrejas e seus dirigentes.

Enfoque pastoral

As outras séries de sete períodos do Apocalipse têm um caráter diferente. Os selos e as trombetas apre-sentam aspectos judiciais e velados, relacionados com a história da era cristã. Por outro lado, na visão das sete igrejas o enfoque é eminentemente pastoral.

Cristo Se dirige às igrejas com mensagens estruturalmente similares, sem olvidar as peculiaridades de cada congregação. (1) Antes de mais nada, é feita uma apresentação de Cristo; uma identificação dAquele que é capaz de satisfazer as necessidades individuais das igrejas. (2) Em seguida vem um elogio ou encômio, (3) uma repreensão, (4) um conselho ou advertência e (5) uma promessa. Essa é a dinâmica do ministério pastoral de nosso Senhor Jesus Cristo.

Cartas pastorais

No interior das igrejas, Cristo Se relaciona principalmente com Seus pastores. A ordem que João recebe em relação com cada igreja é “escreve ao anjo’’. A palavra anjo significa “mensageiro”, e é mais provável que se refira aos pastores e dirigentes das igrejas. Estes leriam as cartas e apresentariam sua mensagem à congregação. Cristo está no meio das igrejas e tem na mão os seus pastores.

Há, aqui, um tratamento “de pastor para pastor”. Cristo, como “Supremo pastor” (I Pedro 5:4) é sem dúvida o pastor exemplar. João O havia assim descrito no capítulo 10 de seu Evangelho.

O bom Pastor

Os pastores são convidados a imitar o bom Pastor. São colocados na direção das igrejas para estimulá-las, repreendê-las, aconselhá-las; para ajudar os crentes a descansarem nas promessas de Deus.

A responsabilidade pastoral de Jesus O impediu de omitir a indicação dos erros dessas igrejas. Há um “mas” no recado dirigido a cinco delas.

Apocalipse 2 e 3 traça o perfil de Jesus como Pastor exemplar; como o ideal que todo pastor gostaria de seguir.

Em suas mensagens pastorais às igrejas, Jesus mostra conhecer muito bem as congregações e seus membros. O Senhor diz “conheço as tuas obras”, e esse discernimento Lhe permite elogiar o bom e corrigir o mau. Entre o pastor e suas ovelhas existia um estreito conhecimento mútuo. O bom pastor “chama pelos nomes as suas próprias ovelhas” (João 10:3). Cristo diz “Conheço as Minhas ovelhas” (João 10:14) e de novo: “Eu as conheço” (João 10:27).

Jesus não louvava os homens, mas não deixava de exaltar as virtudes nobres, quando estas podiam ser concretamente fundamentadas. Seis das sete igrejas recebem algum tipo de elogio. Éfeso é louvada por seu perseverante labor e por sua firmeza de princípios; Esmirna, por sua riqueza espiritual. O Senhor exalta a fidelidade dos mártires de Pérgamo e o crescimento espiritual de Tiatira. Os poucos que podiam ser elogiados em Sardes receberam esse encômio, e os fiéis cristãos de Filadélfia se sentiram ainda mais motivados.

Contudo, a responsabilidade pastoral de Jesus O impediu de omitir a indicação dos erros dessas igrejas. Há um “mas” no recado dirigido a cinco dessas igrejas. Éfeso é censurada pela diminuição de seu amor; Pérgamo, por seu sincretismo religioso incipiente. Tiatira é reprovada por sua permissividade e apostasia, Sardes por sua decadência e Laodicéia em virtude de seu conformismo apático.

Jesus repreendia explicitamente quando era necessário, mas ninguém era deixado sem esperança. Por isso advertia, guiava e aconselhava. Foi um legado co-mo pastor, assessor e mestre. Recomendou que Éfeso fizesse uma pausa para avaliar sua experiência religiosa; que Esmirna não temesse coisa alguma, antes continuasse sendo fiel. À igreja de Pérgamo foi recomendada uma decidida mudança de rumo, e a Tiatira que retivesse a sua luz. Sardes foi admoestada a não se deixar morrer. Filadélfia devia reter sua experiência e Laodicéia, se mudasse radicalmente de atitude, deveria receber de Deus aquilo de que necessitava com urgência.

O Senhor não Se apresenta como um pastor distante. Não há profissionalismo e falta de afeição em Seu ministério. Identificou-se com a ortodoxia dos efésios, aborrecendo o que eles aborreciam. Conhecia por experiência a aflição e a extrema pobreza dos cristãos de Esmirna. Não ignorava o transtorno dos crentes de Pérgamo, nem colocou sobre os membros da igreja de Tiatira carga mais pesada do que eram capazes de suportar. Prometeu Sua companhia aos fiéis remanescentes de Sardes. Tornou notório o Seu amor aos obedientes de Filadélfia, como também pela duramente censurada comunidade de Laodicéia. À sua porta estaria o bom Pastor, sempre pronto, sempre disponível.

Jesus é a grande figura do Apocalipse. A imitação do Seu ministério é o anelante desejo de todo verdadeiro pastor.