O crescente aumento de coma cerebral desafia os pastores a conhecerem essa condição inutilizadora, e a se tornarem competentes provedores de cuidado.

Vinte de maio de 1977. A manhã surgiu fresca e bela, embora um pouco cinzenta.

Com os dois filhos utilizando cintos de segurança bem apertados, ela saiu guiando pela via Interestadual 234, em Des Moines, Iowa. De repente, surgiu em seu caminho um enorme caminhão. Ela desviou o seu velho chevette para evitar uma colisão de frente, mas se chocou com a traseira do caminhão. Outro veículo grande surgiu da cerração e bateu em seu carro. O impacto feriu gravemente as crianças e reduziu a mãe a uma quadriplégica inútil. Uma jovem senhora vigorosa e ativa, com muita vida pela frente, tornou-se de repente uma comatosa, uma inválida vegetativa. Durante 14 anos, tudo o que se podia ver era um corpo, um olhar vago e uma invalidez total.

Como pastor, o que poderia eu fazer?

A pergunta é ao mesmo tempo relevante e urgente. A relevância decorre da própria natureza do nosso ministério — cuidar compassivamente daqueles que desesperadamente necessitam desse cuidado, transmitir o amor e o interesse de nosso Senhor a essas pessoas sofredoras. A urgência encontra-se nas estatísticas de hoje. Os acidentes de trânsito incapacitam a milhares de pessoas cada ano, deixando-as inválidas comatosas de cérebro prejudicado. Em um só dia, aproximadamente 10.000 norte-americanos repousam em coma prolongado.1

Fatos acerca do coma

A fim de atender com eficiência a pacientes comatosos, deveriam os pastores saber algumas coisas básicas sobre o coma. O “coma” ou “comatose” descreve uma síndroma mental caracterizada pela completa perda de consciência, que leva à falta de resposta aos estímulos externos. Esta condição pode ocorrer em resulta-do de qualquer das seguintes causas:

Concussão simples. Qualquer ferimento na cabeça, que produza mesmo um breve período de inconsciência, deveria ser atendido imediata e seriamente. Uma concussão simples pode lançar as sementes de um grande perigo um pouco mais tarde. Muitas vezes as complicações pós-concussão podem incluir uma alteração da personalidade, dores de cabeça persistentes, incapacidade para concentrar-se, explosões emocionais, ansiedade e alucinações.

Dano cerebral. Qualquer ferimento na cabeça tem o potencial para afetar o cérebro. Um ferimento que impede a chegada de sangue e oxigênio ao cérebro, ainda que por uns poucos minutos, pode levar a conseqüências desastrosas. Com a interrupção do fornecimento de sangue, o cérebro começa a atrofiar-se, e seus nêutrons não podem regenerar-se.

Ataques. Os acidentes vasculares cerebrais, causados por vasos sanguíneos rompidos ou bloqueados, que fornecem sangue ao cérebro, produzem ataques, os quais podem degenerar-se em coma e/ou morte.

Anormalidades metabólicas. Os tumores, epilepsia, hipoglicemia, alcoolismo agudo, a acidose diabética e condições como estas, podem causar deterioração da consciência, passando pelos estágios da letargia e entorpecimento até chegar ao coma.

Hemorragias intracranianas. A hemorragia no crânio pode produzir coágulos sanguíneos, os quais se não forem retirados imediatamente por meio de cirurgia, podem produzir coma cerebral.

Até poucos anos atrás, o tratamento do coma consistia princípalmente do cuidado do corpo do paciente, enquanto se aguardava fosse um milagre ou a morte. Os pacientes que permaneciam comatosos por mais de vinte e quatro horas eram considerados irreversíveis e se esperava que expirassem dentro de duas semanas.

Ao contrário, o pronto atendimento do coma promete maior esperança para o despertamento e recuperação dos pacientes comatosos. Um estudo recente menciona a recuperação satisfatória de 40% dos pacientes que haviam sido comatosos durante duas semanas.2 A “recuperação satisfatória” incluía a capacidade de vestir-se e alimentar-se, da pessoa, bem como de gozar certa medida de independência.

Qual é o segredo?

O Dr. John LaPuma, do Departamento Médico dos Hospitais e Clínicas da Universidade de Chicago, talvez tenha a resposta.3 Ele chama esse programa de tratamento de “enriquecimento ambiental”. Nesse programa, ele proporciona estimulação contínua máxima, calculada para produzir o despertamento e a recuperação do paciente. Ele insiste com os médicos, com o pessoal médico e com os membros da família para que entrem em contato com os pacientes comatosos e conversem com eles. Ele usa o rádio e a televisão para propiciar estímulo constante. Não admira que a técnica do Dr. LaPuma tenha resultado na recuperação total de pacientes comatosos.

Os pacientes recuperados, muitas vezes têm afirmado que ouviam e entendiam o que se passava ao seu redor durante o seu sono, embora não pudessem responder verbalmente. Uma paciente recuperada falou recentemente dos cinqüenta e três dias de tratamento impessoal de seu médico. Ela queria dizer-lhe: “Doutor, o senhor nunca me disse alô. Por que o senhor age como se eu não estivesse aqui?”4

Pelo fato de os pacientes comatosos muitas vezes ouvirem e entenderem o que se diz em sua presença, os que tratam deles estão instruídos a não dizer coisa alguma que tais pacientes não devam ouvir. A conversa descuidada ao pé do leito pode deixar um paciente ansioso ou preocupado.

Pastoreando pacientes comatosos

Conquanto a ciência médica já tenha feito muito para entender o trauma físico e mental que se acha associado aos pacientes comatosos, os pastores podem ainda desempenhar um papel importante ao lidar com esses pacientes e seus familiares. A dor é um dano pessoal; ela possui sua dimensão espiritual e clama por uma palavra de conforto, uma mensagem de esperança, uma certeza de paz. É nesse ponto que a função pastoral se torna significativa, sem se tornar intrusa. Sugiro cinco passos pastorais que podem ajudar, ao se lidar com pacientes comatosos.

  • 1. Comece dando “orientação verdadeira”. Os pacientes comatosos podem ouvir e entender muito daquilo que se lhes diz, embora não sejam às vezes capazes de responder. Por isso, como pastor, fale com clareza aos pacientes, identificando nomes e interesses. Fale sobre coisas que interessem aos pacientes, na suposição de que eles as entendem. Evite dizer qual-quer coisa negativa aos pacientes.
  • 2. Lembre-se de que os pacientes comatosos atendem às técnicas de despertamento. O contato humano jamais perdeu a sua magia. Seu toque de encorajamento e interesse, um caloroso aperto de mão, um abraço para mostrar que você se interessa, um sorriso — tudo isso tem o seu valor na visita que você faz ao paciente comatoso.
  • 3. Robusteça a fé de seus pacientes. Uma visita pastoral, em alguma ocasião, deve ser uma oportunidade para fortalecer a fé, e a beira da cama de um paciente comatoso não é exceção. Palavras de confiança nos supremos propósitos divinos, leitura apropriada de textos bíblicos (por exemplo, Salmo 23; Isa. 43:2; Mat. 6:9-13; Rom. 12:12; 8:28; II Cor. 12) e o oferecimento de orações fervorosas, transmitem o interesse pastoral. Uma oração tal como a que vem a seguir, comunica força ao doente:

Querido Pai celestial: Sabes as preocupações que pesam sobre nosso coração neste momento. Podes dar a força correspondente ao nosso anseio. Necessitamos de Tua ajuda e de Tua esperança. Somos gratos pelo Teu amor, que não nos abandonará, e por aqueles cujos atos de amor nos animaram o espírito e aliviaram os fardos. Pedimos-Te que faças com que todas as coisas contribuam juntamente para o nosso bem e para glória Tua, Pai de amor. Tens os Teus planos para nossa vida e de nossos queridos, ó Deus. Entregamos nosso futuro em Tuas bondosas mãos. Em nome de Jesus. Amém.

  • 4. Aconselhe e conforte a família do paciente. Os familiares dos pacientes comatosos experimentam momentos de angústia e tensão. Além disso, eles têm que lidar com muitos pormenores, como esforços de apoio vital, prestação de cuidado de longo prazo, cuidado institucional, enfermagem do lar, etc. Os pastores precisam estar capacitados a aconselhar nessas áreas. Pode chegar também o momento em que o pastor precisa aconselhar a família a aceitar o impossível. Não é o preparo de uma família para enfrentar o sofrimento e a morte uma importante responsabilidade pastoral?
  • 5. Dê valor às oportunidades de instruir os incapacitados discípulos do Senhor. Com a evidência de que os pacientes comatosos respondem aos estímulos externos, e com uma fé que serve de apoio a toda esperança e ação cristã de que nada é impossível a Deus, que maravilhoso privilégio tem o pastor de transmitir esta esperança a um paciente que sofre!

Conte como Deus usou uma saudação amiga para despertar Jackie Cole de seu coma de quarenta e sete dias.5

Uma vez que o coma de Jackie se prolongava, seu esposo começou a acreditar que o tubo de oxigênio que mantinha sua esposa com vida, esta­ va impedindo-a de descansar. Após grande angústia, Harry Cole e seus filhos solicitaram à Corte de Baltimo­ re permissão para retirar o tubo de oxigênio de Jackie, a fim de que ela morresse. juiz Carrol Byrnes indefe­riu o pedido, alegando que Jackie ainda não estava “cerebralmente morta”.

Seis dias após a decisão do juiz, um amigo da família entrou no quarto do hospital onde Jackie estava. Conforme o seu costume, tomou na sua a flácida mão da enferma e, cordialmente, gritou para ela:

— Alô, Jackie!

Pela primeira vez em quarenta e sete dias. Jackie abriu os olhos e sorriu animadamente para todos os que estavam no quarto. Por meio daquela simples saudação, Deus fez Jackie voltar do seu prolongado sono e pôr os pés no caminho da recuperação.

Mais tarde, Jackie descreveu seu sono comatoso nestas palavras: “Eu despertava e, como que nada até à superfície, via alguém e depois caía de costas novamente, como se estivesse mergulhando na água. Certa vez, imaginei que estivesse vendo a Deus! Eu estava certa de que via a Deus. Senti-me como se estivesse sorrindo para Ele. Isto me trouxe uma boa impressão…. (Agora) me sinto como uma pessoa completamente nova. Tornei-me uma pessoa muito melhor do que era. Sou de muito mais fácil convivência e não me sinto infeliz por qualquer coisa. Sinto-me feliz por haver lutado tão arduamente para viver. Agradeço a Deus por estar com vida…”6

A miraculosa recuperação de Jackie Cole deveria animar os pastores e outras pessoas que dão atendimento, a continuarem seu ministério com ânimo e confiança. Deus dará fiel apoio ao serviço de amor de Seus administradores de cuidado. Para Ele “todas as coisas são possíveis” ( Mat. 19:26).

  • 1. Richard Ostling: “É errado interromper o fornecimento?” Time, 23 de fevereiro de 1987.
  • 2. Leah Wallach, “A Volta do Coma”, Omni, junho de 1986, pág. 18.
  • 3. “Falando com Pessoas em Coma”, Vogue, abril de 1988, pág. 166.
  • 4. Ibid.
  • 5. Joan Tattner Heilman, “A História Miraculosa de uma Sobrevivente de Coma”, Redbook, julho de 1987, págs. 90 ff.
  • 6. Ibid.