Precisamos refletir antecipadamente no que iremos dizer durante a prece, a fim de que ela não se torne mera formalidade

Um componente de suprema importância no culto de adoração é, sem dúvida nenhuma, a oração pastoral. Os pastores e pregadores em geral gastam boa parte do seu tempo, durante a semana, no preparo do sermão, com o objetivo de alimentar o rebanho do Senhor. Porém, qual o trato dispensado à oração pastoral? Quem será o escolhido para apresentá-la? Será alguém que desempenha, de fato, uma função pastoral na congregação?

Em muitas igrejas, se não na maioria, o pastor faz a oração invocatória e atribui a oração pastoral a qualquer outra pessoa. No entanto, se ela é realmente uma oração pastoral, por que não deveria ser feita por alguém que exerça função pastoral? Que bênção e estímulo resultariam se os irmãos ouvissem o seu pastor orando fervorosamente por eles!

A prática usual de o pastor fazer a oração invocatória e outra pessoa apresentar a oração pastoral é um costume que nem sempre aconteceu dessa maneira. Não sabemos quando mudou, nem se trata de uma tradição adventista. É possível que tenha se iniciado como uma tentativa de conferir mais solenidade e dignidade ao culto, ao tomar o pastor a iniciativa da invocação. Todavia, quando o pastor apropria-se dessa prece e atribui a oração pastoral a qualquer pessoa, observa-se uma inversão de papéis, diminuindo a importância da oração pastoral intercessória no culto solene.

Planejamento

Quando bem planejada, a oração pastoral pode ser uma das partes mais eficazes do culto público para muitas pessoas. Porém, jamais será o caso quando a encaramos como mera formalidade, efetuada simplesmente porque tem de ser feita. Ellen White opina que nada do que é sagrado, nada do que está ligado ao culto divino deve ser tratado com negligência ou indiferença.1

A oração pastoral “é uma oração em que o ministro, ou o que ora, se une com a congregação, tornando-se a voz do povo falando com Deus. A sua confissão pessoal deve ser também a da igreja. A sua gratidão pelas coisas espirituais e bênçãos materiais recebidas, também é a mesma da igreja. Não somente um deve ser encorajado a entregar a Deus a sua vida, mas toda a igreja deve sentir esse privilégio. Por isso, o uso do pronome pessoal ‘eu’ está inteiramente fora de lugar, principalmente na oração pastoral”.2

Por meio de cuidadosa preparação e reflexão, a oração pastoral pode ser um frescor e vitalidade, um fervor e relevância que formarão um novo elo entre os membros da congregação e seu Deus. A única maneira de evitar que essa oração se tome mera formalidade é dar atenção especial ao seu preparo.

A oração pública pode adequadamente abranger muitos aspectos, mas desejo chamar a atenção para seis itens: adoração, confissão, agradecimento, petição, intercessão e dedicação.3 É interessante planejar somente duas ou três frases curtas para cada uma dessas seis partes, a fim de que a oração não se tome longa e cansativa. A Oração do Senhor, por exemplo, trata de seis aspectos distintos, mas cada um deles é sintetizado numa frase bem curta. É possível tomar a oração inteiramente diferente, focalizando pontos específicos, ao invés de procurar abranger tudo de maneira geral, evitando assim a rotina e a monotonia. Deve-se evitar frases estereotipadas, ouvidas constantemente. É interessante orar por alguma coisa atual e típica das preocupações e necessidades congregacionais.

Adoração

A adoração cristã é primariamente a celebração dos atos de Deus manifestados em Jesus Cristo.4 É quando exaltamos o Senhor pela Sua grandeza, misericórdia, bondade e Seu amor. É uma boa ocasião para contemplarmos a gloriosa natureza de Deus e expressar adoração pelo fato de ter Ele enviado Seu Filho amado para morrer em nosso lugar.

Confissão

Depois de expressar nossa adoração a Deus, podemos volver-nos para um reconhecimento da nossa pequenez, indignidade e pecaminosidade. Como podemos pedir algo a Deus antes de Lhe fazermos uma sincera confissão? Ela deve ser incluída para lembrar-nos a realidade do pecado. A confissão deve ser específica o suficiente para tocar as pessoas na sua própria experiência e ajudá-las a ver claramente suas faltas. Mas não é preciso entrar-se em detalhes.5

“A confissão misturada com lágrimas e tristeza, que é o desabafo do íntimo da alma, encontra caminho para o Deus de infinita piedade. Diz o salmista: ‘Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito’.”6

Agradecimento

Nesta parte, o espírito de gratidão deve ser estimulado. Ellen White nos aconselha a ser mais agradecidos: “Não oramos demasiado, mas somos por demais tardios em dar graças. Caso a amorável bondade de Deus suscitasse mais ações de graças e louvores, teríamos incomparavelmente mais poder na oração.”7

Existem muitas coisas pelas quais poderíamos manifestar gratidão. Se observarmos, vários salmos terminam com louvor e gratidão. Devemos entender que somos alvo constante dos ternos e paternais cuidados de Deus, recebendo bênçãos imerecidas.

Petição

É uma tendência natural do ser humano pedir antes de agradecer. Somente depois de ter expressado gratidão, é o momento de pedir que Deus supra as nossas necessidades; assim como um filho se aproxima do pai, pedindo algo, tendo certeza de que será atendido. Não precisamos fazer uma longa lista de coisas, mas pedir-Lhe aquilo que é mais importante para hoje. Esse pedido pode ser algo sugerido pelo tema do sermão, ou alguma necessidade amplamente sentida pela congregação, ou parte dela. Pode ser um pedido de bênção para os filhos, ou de um mais profundo senso do dever e missão. Quaisquer que sejam, porém, os pedidos devem ser específicos e oportunos.

“Nosso Pai celestial está desejoso de derramar sobre nós a plenitude de Suas bênçãos. É nosso privilégio beber livremente da fonte de Seu ilimitado amor.”8

Cada igreja tem suas necessidades particulares, sendo apropriado orar por nós mesmos e nossas necessidades. Devemos lembrar, porém, que não podemos abranger tudo nesta oração.

Intercessão

Conquanto nossas orações devam contar nossas próprias necessidades, compete-nos ir além das preocupações imediatas e pessoais, a fim de orar pelos outros. Ao final desta parte, o orador roga pela unção do Espírito Santo na exposição da mensagem. Não se esqueça de orar também pelo pregador.

Dedicação

A parte final da oração pastoral é o momento da entrega. A congregação deve ser cuidadosamente colocada nas mãos de Deus. Cada adorador deve ter em mente a convicção da solenidade desse gesto que é cheio de significado e grandeza. “A oração só será efetiva se leva as pessoas a uma dedicação da vida. … Cada pessoa é encorajada a oferecer-se a si mesma a Deus como um sacrifício vivo, em todos os sentidos de sua vida.”9

“Cristo deseja fortalecer o Seu povo com a plenitude de Seu poder, de modo tal que por eles todo o mundo seja envolto numa atmosfera de graça. Quando Seu povo se entregar a Deus de todo o coração, este propósito se cumprirá.”10

Orando com o coração

Estas considerações acerca da oração pastoral constituem-se sugestões e se destinam apenas a servir de orientação; não como fonte de embaraço. Nenhuma pessoa deve ter a impressão de que suas orações estão sendo analisadas e julgadas. Devemos continuar sendo espontâneos e livres, orando de coração, lembrando que só a oração que realmente provém do íntimo será aceitável a Deus. Contudo, algum esforço deve ser feito para orarmos de maneira eficaz e judiciosa.

Algumas pessoas sentem necessidade de organizar por escrito a sua oração, a fim de apresentá-la devidamente em público. Não devemos criticar esse hábito, nem considerá-lo indispensável. O que é necessário é que reflitamos antecipadamente no que iremos dizer durante a prece, cuidando para que não seja apenas mera formalidade. É muito interessante que tenhamos memorizadas as partes constituintes da oração pastoral, conforme analisadas aqui.

Os ministros que desfrutam íntima comunhão com Deus na oração particular, transformando-a numa fonte de poder e paz em sua vida diária, constituirão um importante elo entre seu povo e Deus durante o período de oração no Culto Divino. Quando a oração se converte em adoração, avistamos Jesus pela fé e ficamos jubilosos por sentirmos que estamos em Sua presença.

Referências:

1 Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), vol. 2, pág. 193.

2 Home P. Silva, Culto e Adoração (São Paulo, SP: Gráfica do Instituto Adventista de Ensino, 1984), pág. 59.

3 Ibidem, págs. 139-141.

4 Miguel Angel Darino, La Adoración, Análisis y Orientación (Califórnia: DIME, 1992), pág. 39.

5 Horne P. Silva, Op. Cit., pág. 139.

6 Ellen G. White, Mente Caráter e Personalidade (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), vol. 2, pág. 456.

7 _______________, Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 110.

8 _____________, Caminho a Cristo (Santo André, AP: Casa Publicadora Brasileira, 1980), pág. 80.

9 Home P. Silva, Op. Cit., pág. 141.

10 Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 149.

Elcimal Loureno, Pastor da igreja central de Bauru, SP, Brasil