Eliseu foi chamado por Deus para continuar o trabalho que Elias havia iniciado. A mensagem de Elias era de condenação e juízo, chamando o rei e o povo ao arrependimento. Enquanto isso, Eliseu estava incumbido de uma obra diferente. Sua missão era pacífica e devia ensinar ao povo o “caminho do Senhor”.
Como profeta, deveria exercer um tipo de liderança que lhe permitisse entrar em contato com o povo. Para isso, seria preciso viver no meio do povo, conhecer sua vida, sentir seus problemas, fracassos, ansiedades, sofrimentos e partilhar as lutas do dia-a-dia. Sendo necessário conquistar-lhes a confiança a fim de poder ajudá-los.
Através de uma maneira segura e bondosa de tratar com as pessoas, logo Eliseu estava conseguindo seus objetivos. Durante seu ministério realizou muitos milagres, trouxe muita alegria ao povo, ajudou os necessitados e viveu sempre rodeado pelos “filhos dos profetas”, que, ao que tudo indica, eram seus alunos ou aprendizes. E foi esta vida ativa no reino que lhe granjeou a confiança e logo trouxe respeito e admiração.
Eliseu tomou-se conhecido e respeitado entre os filhos de Israel, pois sua vida de consagração dava claro testemunho do Deus a quem servia. Como mensageiro, cumpriu fielmente o seu trabalho e, assim fazendo, exerceu poderosa influência sobre a vida de muitas pessoas. Ellen G. White comenta a seu respeito: “O espírito de bondade que habilitou Eliseu a exercer poderosa influência sobre a vida de muitos em Israel é revelado na história de sua fraternal relação com a família de Suném.”1 Eliseu estava onde estavam as pessoas, influenciando-as para o bem, a fim de que se aproximassem mais e mais de Deus e passassem a amá-Lo ainda mais.
Influência marcante
A Bíblia nos apresenta Eliseu como um incansável e constante trabalhador, que jornadeava de um lado para outro do reino, ministrando ao povo a mensagem do Céu. Não era um eremita vivendo em solitário isolamento, mas um ativo trabalhador na seara divina.
Normalmente costumamos pensar em Eliseu e até o reconhecemos pelo título de “carros de Israel e seus cavaleiros” (II Reis 13:14), onde notamos uma certa tendência de realçar seu trabalho como estrategista político e militar da nação. Talvez esse título até queira dizer que ele valia por divisões inteiras numa batalha. Contudo, a sua influência vai muito além disso.
A maior homenagem prestada ao profeta vem de uma mulher rica da localidade de Suném, em cujo lar, muitas vezes, ele encontrou acolhida quando viajava de um lugar para outro e necessitava de um descanso. Na residência dessa família encontrava um pouco de tranqüilidade e podia recuperar as energias exauridas pelo intenso trabalho.
A mulher sunamita e seu esposo demonstravam-se amistosos para com o profeta. Chamou a atenção do casal a maneira diferente como se portava aquele hóspede. A simpatia demonstrada, a fala respeitosa, as atitudes pensadas e face bondosa de Eliseu o cativaram. Tamanha foi a impressão causada que a mulher referiu-se a ele como o “santo homem de Deus” (II Reis 4:9). Ele não foi reconhecido apenas como um bom pregador ou como um possuidor de profundos conhecimentos teológicos. Não foi sua aparência a razão da boa influência exercida, mas sua ligação com Deus. Sua vida testificava de sua intimidade com o Senhor. Eliseu era um “homem de Deus”.
Eliseu estava onde estavam as pessoas, influenciando-as para o bem, levando-as a se aproximarem de Deus, amando-O mais e mais.
Quão maravilhoso seria se a igreja pudesse olhar a cada pastor moderno com a mesma confiança e o mesmo respeito que a mulher sunamita devotava a Eliseu!
O mesmo Deus que dirigia a vida de Eliseu está à nossa disposição ainda hoje. O poder de Deus não se limita a pessoas ou épocas. Ele deseja tornar-nos mais semelhantes a Ele, e isso é possível agora. Necessitamos confiar nEle, sem reservas.
Bendita é a influência do pastor dedicado, cuja vida é consagrada a Deus, e traz ao povo não apenas sermões bem elaborados mas o exemplo humilde de uma vida com Ele.
Sabemos que não é fácil ser pastor, na atualidade. Os tempos mudaram, as pes-soas mudaram e a situação do mundo também mudou. E o ministro, o “homem de Deus”, precisa depender inteiramente de Cristo, mais do que nunca, a fim de que não seja enredado pelos sutis enganos do adversário. É somente em submissão completa a Deus que ele pode cumprir fielmente o trabalho para o qual foi chamado. O ministro sabe melhor que ninguém que está em jogo não apenas a sua salvação, mas a salvação de milhares de pessoas colocadas sob sua responsabilidade. Ele sabe que precisa trabalhar não por amor ao louvor terrestre, ou porque precisa ganhar o sustento, mas porque ama as ovelhas e deseja ajudá-las na caminhada para o Céu. O pastor não é um mercenário. Ele é um “homem de Deus”.
A receita do sucesso
Não foi por acaso que Eliseu foi chamado “homem de Deus”. Sua experiência como um profeta pode ajudar-nos em nossa vida espiritual. Aprendendo as lições legadas por seu bem-sucedido trabalho podemos também ser vitoriosos. Ei-las:
Em primeiro lugar, Eliseu possuía plena consciência de que havia sido chamado por Deus. Isso o impulsionava a agir confiantemente, certo de que Ele o estava dirigindo. Não admira que a confiança sentida contagiasse outras pessoas, que acabavam captando nas palavras e na maneira de agir do profeta a segurança e firmeza necessárias para agir em qualquer dificuldade.
Também necessitamos de tal convicção. Não podemos agir com timidez, como se fôssemos crianças amedrontadas. O temor do homem se transforma em armadilha. Precisamos afastar de nós a sugestão diabólica de que não fomos chamados por Deus.
Nenhum compromisso deve ser mais importante do que a comunhão com Deus. Sem isso, o pastor se toma como um poço vazio e sem vida.
Em segundo lugar, Eliseu experimentava íntima comunhão com Deus. Para ele, viver era Deus, respirar era Deus. Conhecia a Deus e Deus o conhecia. O resultado foi maravilhoso.
Deve haver a mais profunda comunhão entre o ministro e Deus. Caso contrário, tudo estará perdido. Não podemos ser negligentes aqui. Ninguém pode levar outros para além do ponto em que ele mesmo já chegou. Correndo de um lado para outro, preocupando-se apenas com aquelas coisas que podem ser vistas pelos homens e tendo raramente um encontro a sós com Deus, o ministro será apenas superficial. Nenhum compromisso deve ser mais importante do que a comunhão com Deus. Se tal experiência é negligenciada, o pastor se toma como um poço vazio e sem vida. As pessoas virão procurá-lo, mas nada acharão que possa saciar a sede da alma.
Em terceiro lugar. Eliseu era um homem batizado pelo Espírito Santo. Toda sua vida foi marcada pela presença constante do Espírito de Deus.
Conhecer apenas teoricamente a Palavra de Deus não é suficiente. Sem o poder do Espírito não haverá progressos. “Sem o Espírito de Deus, de nada vale o conhecimento da Palavra… Sem a iluminação do Espírito, os homens não estarão aptos para distinguir a verdade do erro, e serão presa das tentações sutis de Satanás”,2 diz Ellen White.
Mas, não necessitamos ficar desesperados. Ela mesma assegura que “todo obreiro que segue o exemplo de Cristo está apto a receber e empregar o poder que Deus prometeu a Sua Igreja para maturação da seara da terra. Manhã após manhã, ao se ajoelharem os arautos do evangelho perante o Senhor, renovando-lhe o voto de consagração, Ele lhes concederá a presença de Seu Espírito com Seu poder vivificante e santificador. Ao saírem para seus deveres diários, têm eles a certeza de que a invisível atuação do Espírito Santo os habilita a serem “cooperadores de Deus”.3
O quarto ponto a ser considerado é que Eliseu não ficava de longe, observando o que se passava com o povo. Ele era acessível a todos, e o estudo de II Reis 4:23 permite afirmar, como G. Von Rad, que “a população tinha o costume de vir de longe para ver o homem de Deus e para o consultar, por ocasião dos sábados ou das luas novas”.4 Assim deve ser hoje. O pastor “tem de viver com o povo, para conhecê-lo. Deve sentir as suas tristezas e levar as suas mágoas”,5 diz Roy A. Anderson. Foi assim que Cristo agiu.
Finalmente, Eliseu foi chamado “homem de Deus” por uma outra pessoa. Isso não pode ser passado por alto. O povo viu isso em sua maneira de viver. Por nossa maneira de falar, de pensar e agir estaremos sempre demonstrando com quem temos andado por mais tempo e a quem estamos servindo.
O “homem de Deus” não está em busca de fama, aplausos ou popularidade. Servir a Deus e auxiliar no trabalho de salvar o semelhante é o que realmente lhe interessa.
O verdadeiro ministro preocupa-se em servir por amor à Obra do Mestre, mesmo que isso lhe custe a própria vida.
Referências:
- 1. Ellen G. White, Profetas e Reis, págs. 229 e 230.
- 2. Parábolas de Jesus, págs. 408 e 411.
- 3. Atos dos Apóstolos, pág. 56.
- 4. G. Von Rad, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, ASTE, pág. 31.
- 5. Roy Allan Anderson, O Pastor Evangelista, pág. 492