As questões levantadas sobre os 500 anos do descobrimento da América, comemorados em 1992, acabaram trazendo à tona alguns aspectos importantes para reflexão. Enquanto pensadores queimavam efígies de Cristóvão Colombo, em demonstrações politicamente corretas; o papa propositadamente passava por alto a inauguração do Palácio Memorial Colombiano, alta-neiramente construído em São Domingos; e réplicas das três naves de Colombo cruzavam os mares da Europa e da América, estudiosos aprofundavam-se nos motivos que respaldaram a histórica aventura.
Ao lado das corriqueiras explicações, tais como a busca de rotas comerciais e amor à aventura, novos motivos começaram a surgir. O mais significativo entre eles é de cará-ter religioso. E sobejamente conhecida a insistência de Colombo para que um sacerdote o acompanhasse, e onde quer que chegasse tratava de atribuir um nome religioso aos acidentes geográficos. São Salvador, por exemplo, foi a primeira ilha onde ele e sua tripulação aportaram. Montanhas e baías receberam nomes de outros santos católicos.
Todavia, bem menos conhecidos são o misticismo de Colombo, sua fascinação por profecias, e seu sonho de um reino mundial marcado pela justiça e piedade. Hoje sabe-mos que, embora uns poucos comerciantes apoiassem seu projeto, e o Rei da Espanha apreciasse a extraordinária contribuição que ele daria ao conquistar novas terras para o reino, foi o apelo religioso que finalmente conquistou o apoio da católica Rainha Isabel para suas idéias.
Qualquer pessoa que pesquisar o diário das naves de Colombo vai se deparar com as provas desta visão religiosa. Para ele, os nativos, completamente nus e vivendo precariamente, poderiam se tornar cidadãos do vindouro reino cristão. Esse era o alvo transcendente, superando mesmo a busca pelo ouro e pela prata.
Agora é possível compreender quão fortemente a visão mundial de Cristóvão Colombo dependia do pensamento de Joaquim di Fiore (1135-1202), expoente bíblico medieval, cujas interpretações proféticas ajudaram a identificar o chifre pequeno do livro de Daniel, como o papado. O ideal de Fiori, relacionado com um reino divino mundial, espelhava o pensamento de Agostinho, de um milênio terrestre de progresso espiritual. Essa visão foi transmitida a Colombo. Por conseguinte, ele via-se como um servo de Deus, designado para ser Seu agente na construção de um milênio sobre a Terra, à qual Cristo eventualmente retornaria para estabelecer-Se como Rei dos reis.
A importância da profecia para os adventistas
Como todos nós sabemos, não apenas existe uma discussão bíblica substancial de um reino porvir, mas também há um ensinamento acerca de um extraordinário período de mil anos, no qual o reino de Deus se tomará triunfante de fato. Histórica e teologicamente, os temas do Messias, do Remanescente Fiel, do Reino, do Juízo e da consumação de todas as coisas estão de tal maneira entrelaçados, que falar de qualquer um deles significa necessariamente considerar todos eles. São os tijolos da Escatologia judaica e cristã.
Para nós, os adventistas, eles penetram o coração de nossa identidade e missão. Mas, talvez alguém pergunte: Porventura, tais assuntos não desviariam nossa atenção de outros fundamentos, tais como, quem é Deus? Por que estamos na presente condição? Como Deus nos salva? Todos esses assuntos são componentes importantes da revelação, mas outros cristãos também falam a seu respeito. Nossa identidade aceita todos esses temas, mas os coloca numa moldura específica do tempo do fim; tão vital, que nela reside nossa verdadeira missão.
Sempre que negligenciarmos esta especial colocação, apenas repetindo os mesmos temas enfatizados por outros, depreciamos a razão da nossa existência. O evangelho não é apenas uma verdade eterna. É a verdade presente, especialmente quando apresentado no contexto da restauração final de todas as coisas à harmonia com o caráter de Deus.
Inserido no feixe teológico mencionado, nós encontramos o ensinamento do Milênio. Surpreendentemente, apenas poucas passagens das Escrituras fazem referência direta a ele, sendo a mais completa o capítulo 20 do livro de Apocalipse. Os evangelhos nada dizem a respeito, e Paulo o menciona apenas superficialmente. Temas correlatos, como o julgamento e a consumação final, aparecem na Bíblia, mas as passagens que tratam especificamente dos mil anos são poucas.
Entre as poucas referências teológicas adjacentes, está aquela na qual Paulo menciona a ressurreição dos mortos “ao soar a última trombeta” (I Cor. 15:51-55). Embora ele não faça aí nenhuma menção sobre o retomo de Jesus, ocupando-se apenas do triunfo sobre a morte, claramente assume que a igreja de Corinto tinha conhecimento do que ele havia escrito aos tessalonicenses (I Tess. 4:13-18; II Tess. 2:1-12), onde a vinda de Cristo aparece como o evento central, em tomo do qual outros acontecimentos, como a ressurreição, estão agrupados.
Sabemos que Paulo dedicou 18 meses em Corinto, estabelecendo a congregação (Atos 18:11), e parece impensável que a verdade central da volta de Jesus não estivesse atrás do que ele diz aos cristãos Coríntios. Paulo se refere ao reino (Col. 1:12-14) e à nossa cidadania nesse reino como um dom de Cristo. Mas, em nenhum lugar ele faz qualquer ligação disso com um período específico de tempo.
O apóstolo Pedro leva-nos muito perto da descrição de Apocalipse 20 (II Ped. 3:1-13). Segundo a observação de eruditos, Pedro move-se numa linguagem já existente na antiga literatura judaica. Neste assunto, muitos críticos literários argumentam que ele, ou quem quer que tenha sido o autor da passagem, também foi dependente do apocalipticismo judeu. Como adventistas, rejeitamos essa idéia e tratamos o livro como um conteúdo revelado, embora Pedro tenha usado claramente certas figuras contemporâneas para apresentar a verdade de Deus. O mesmo se aplica aos paralelos da epístola de Judas.
Em II Pedro 3:8, encontramos duas referências a mil anos, ambas no mesmo versículo. No entanto, o propósito é claramente retórico e não histórico. Ao dizer que “para com o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia”, Pedro simplesmente acentua a verdade que Deus está acima do tempo, ao contrário da nossa experiência humana. Esse verso, entretanto, tem dado lugar ao surgimento de uma espantosa variedade de esquemas, baseados na alegação de que aqui o apóstolo dá a fórmula para a interpretação das muitas referências bíblicas feitas a dias, em muitos casos completamente fora de qualquer aparente declaração profética.
Um exemplo disso é a alegação de que os dias da criação devem ser interpretados como sete períodos de mil anos. Mesmo antes da Era Cristã, judeus apocalípticos brincavam com idéias semelhantes.
Pedro reúne dentro de uma passagem todos os elementos básicos para a descrição de João em Apocalipse 20. Mas o tratamento que ele dispensa é rápido, como se estivesse revisando uma série de verdades já conhecidas dos seus leitores. Essa passagem, entre-tanto, é uma ajuda significativa no sentido de integrar os elementos essenciais para a compreensão de Apocalipse 20.
Adventismo e pré-milenialismo dispensacional
É desnecessário revisar aqui detalhes de como a doutrina do milênio é tratada por outros grupos. Todavia, apenas de relance, lembramos que os pré-milenialistas argumentam que a vinda de Cristo inicia um período de mil anos, durante o qual Ele reina como Soberano. Os pós-milenialistas vêm o retomo de Cristo seguindo-se aos mil anos de paz, nos quais a Terra toma-se preparada para recebê-Lo. O problema desse conceito reside em determinar quando começa o período; questão que os pré-milenialistas resolveram estabelecendo o retorno Jesus Cristo como sendo literal.
Os adventistas do sétimo dia e os pré-milenialistas se separam justamente na confluência da nossa compreensão sobre o que ocorrerá durante o milênio. Em contraste com as idéias de um reino terrrestre, nós aceitamos a conclusão a que chegaram Pedro e João, isto é, a de que com o aparecimento de Cristo sobrevirá a destruição massiva da Terra bem como a ressurreição dos santos. Esse acontecimento toma o planeta inabitável e, Conseqüentemente, um apropriado lugar para o confinamento de Satanás. Para os apóstolos Paulo e Pedro, especialmente o primeiro, a ressurreição é imediatamente seguida da ascensão dos santos, os quais, segundo o Apocalipse, “viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Apoc. 20:4). Portanto, é num reino celeste que os santos passam o milênio.
Então o vidente de Patmos impulsiona nossa compreensão para os eventos que se seguem. Os ímpios são destruídos no “lago de fogo preparado para o diabo e seus anjos”. Posterionnente vemos uma Nova Terra “em que habita a justiça”.
Finalmente, todo o Universo está em harmonia com Seu criador. O trauma do pecado passou e as portas estão fechadas para o mal. Começa a eternidade, e Deus habita com Suas criaturas. Esta figura constitui-se a mais perfeita compreensão da visão adventista do mundo. Depois da tempestade de fogo, os redimidos pela cruz experimentam uma intimidade com Deus que alcança a plenitude de suas capacidades. Aí, em um ambiente perfeitamente novo, nós nos tomaremos abertos ao ilimitado desenvolvimento da inteligência, ao perpétuo crescimento através da aternidade. Nessa visão, a mensagem adventista é única.
Vale a pena lembrar que, durante o milênio, serão realizadas as atividades de investigação e vindicação, primeiro do cará-ter e das ações de Deus; depois, dos redimidos que afinal refletem perfeitamente Seu caráter. Eles olham Seu semblante, e se sentem* bem-vindos. E cada questão humana está resolvida.
Como sabemos, o significado de certas palavras depende do momento. A palavra “fundamentalista”, por exemplo, passa por uma transição. Em lugar de sua antiga aplicação, ligada a pessoas dedicadas, sérias e caracterizadas pela piedade, não raro está relacionada a extremistas que a utilizam para alcançar objetivos questionáveis.
Semelhantemente, a palavra “milenialismo” adquiriu novos parâmetros. Em lugar de uma simples referência ao ensinamento bíblico do período dos mil anos de paz, hoje ela abarca a totalidade de assuntos relacionados com os eventos finais. De alguma for-ma ela se tomou uma sessão da Escatologia. Como tal, ela focaliza sobre uma criação de diagramas destinados a expor os eventos finais. Freqüentemente toma um formato dispensacional, demandando uma construção racional que, semelhante a campos magnéticos, pode organizar e integrar numerosas fagulhas teológicas soltas.
Em seu nível mais baixo, o milenialismo trabalha com elementos claramente suspeitos, tais como numerologias, especulações, e bem específicas predições construídas sobre cordas elásticas de lógica, estendidas como teias de aranha entre dados pouco consistentes. De tudo isso recende algo como um repugnante odor. Nesse ponto, alguns se afastam da sã doutrina, gerando uma nova hermenêutica que se aplicada a outras passagens da Bíblia produziría figuras grotescas. O estabelecimento de um simbolismo apocalíptico, fruto do milenialismo deformado, de qualquer forma, leva uma máscara de “quase respeitável”, especialmente diante de olhos despreparados.
Interpretações pós-milenialistas
Antes da confrontação do desafio que o deformado milenialismo nos apresenta, faríamos bem em traçar seus antecedentes, mesmo em poucas palavras. Podemos começar com as especulações judaicas do período intertestamental.
No grupo dos produtos literários, os quais nós chamamos de apócrifos e pseudepígrafos, escritos entre a morte de Esdras e o segundo século a.D., encontramos uma série completa do que pode ser chamada especulações messiânicas. Essencialmente, esses materiais descrevem um período de glória utópica que teria lugar com a vinda do Messias. As idéias apresentadas provêm o cenário do pensamento popular a respeito do Messias entre as pessoas às quais Jesus ensinava, incluindo os próprios discípulos.
O livro intitulado IV Esdras é um bom lugar para começar. De acordo com esse trabalho pseudo-epigráfico, o Messias seria revelado e estabelecería um reino terrestre no qual Seus súditos prosperariam e regozijariam durante 400 anos. Em seguida, o próprio Messias e todos os seres humanos morreríam, retomando a Terra ao silêncio primitivo. Então, ocorreríam uma ressurreição e um julgamento, após o que teria lugar o paraíso terrestre na Jerusalém restaurada. O exato por quê de tal seqüência não é mencionado.
Toda sorte de variações sobre este tema aparece em outros livros e especulações rabínicas. No Talmude, nós aprendemos que os dias do Messias durariam 40 anos, ou 70 anos, ou três gerações. Alguns optam por 400 anos, outros por 365 anos, sete mil ou dois mil anos. Com freqüência, a idade de ouro, seja qual for sua extensão, é apresentada em termos de exuberante prosperidade material, casas, terras, abundante colheita de frutos, mesas sobrecarregadas de iguarias, satisfação de todo impulso sensual e triunfo sobre os inimigos. Atualmente rotulada de milenarismo, tal descrição foi transplantada para o milênio pelos cristãos do segundo século.
Ligadas ao pensamento milenarista estavam as especulações a respeito de quando o Messias deveria aparecer. Alguns diziam que isso aconteceria depois de 85 jubileus, mas com uma desafortunada incapacidade de concordarem sobre quando começaria o primeiro jubileu. Outros pensavam ser depois de sete mil anos, uma derivação Obviamente tirada da narrativa da criação. Ainda outros optavam por cinco mil, dois mil, 600 anos; e o Rabi Akiba argumentava em favor de 40 anos.
O pseudo-epigráfico II Enoch apresenta o seguinte cenário: os sete dias representam mil anos cada um. No fim do sexto milênio o agente de Deus virá destruindo o vil opressor que estará governando por este tempo, e julgando os ímpios. Posteriormente virá o tempo da prosperidade messiânica. Necessitamos de pouca imaginação para traçar os mais consideráveis paralelos entre o dispensacionalismo contemporâneo e II Enoch. Depois de seis mil anos, como asseguram os dispensacionalistas, concluindo o “tempo dos gentios”, Cristo retomará para colocar por terra o espantoso tirano chamado anticristo e estabelecer o Seu reino. De fato, o plano dispensacionalista toma-se consideravelmente ampliado com detalhes adicionais.
Nem os primeiros cristãos da Era apostólica ficaram imunes. Irineu cita Papias, um antigo escritor que afirmava ter ouvido o apóstolo João pregar em Éfeso, mas cujos escritos infelizmente se perderam. De acordo com essa fonte, o retomo de Cristo introduzirá uma era de ouro na Terra, cheia de fertilidade e paz entre os homens de toda natureza. Isso é apresentado, como literal, não alegórico. Eusébio também menciona Papias ao dizer que, seguindo a ressurreição dos mortos, Cristo reinará pessoalmente sobre a Terra.
Justino Mártir argumenta que com a ressurreição dos mortos Jesus inaugurará o período de mil anos de paz, reinando na Jerusalém restaurada. Ele se baseia na declaração do Salmo 90:4: “Pois mil anos, aos Teus olhos, são como o dia de ontem que se foi, e como a vigília da noite.” O reino milenial será físico, centralizado em Jerusalém, e caracterizado pela posse de vida longa e prosperidade. Irineu introduz três anos e meio de reinado do anticristo, que então será destruído no lago de fogo. Os justos entrarão na experiência gloriosa do reino terrestre, sendo absorvidos gradualmente na natureza divina. O plano de Irineu mostra certo paralelo com a Escatologia mórmon, incluindo a aquisição da deidade.
Mas o materialismo crasso de tal reino ofereceu problemas aos pais da Igreja, com suas alegorizadas e espiritualizadas doutrinas cristãs. Entretanto, nos dias de Dionísio de Alexandria, nós o encontramos rejeitando a canonicidade do Apocalipse como um antídoto ao literalismo materialístico. Como resultado, por muitos séculos lutou-se muito, em vários lugares, para que esse livro fosse aceito como um legítimo livro da Bíblia.
Outros judeus e antigos pais da igreja também especularam bastante. O apocalipse judeu de Baruque, composto algum tempo entre 50 e 80 a.D., mistura quase todos os elementos do milênio com a vinda do reino messiânico, mas não estabelece período de tempo. A epístola cristã de Barnabé descreve seis eras do mundo, sendo a sétima um milênio de repouso, mas praticamente não faz conexão com Apocalipse 20. Mesmo os pagãos possuíam semelhantes teorias. Por exemplo, os zoroastrianos persas e os primitivos etruscos da Itália pré-romana acreditavam que a raça humana duraria seis mil anos. Jerônimo argumentava em favor de uma história mundial de seis mil anos, se-guindo-se um milênio sabático.
Foi Agostinho quem estabeleceu a teoria padrão sobre o milênio, que dominou a cristandade por quase mil anos. Para ele, o milênio é uma experiência espiritual que começa com o próprio Cristo. A primeira ressurreição é a conversão, e a segunda vinda acontece no coração dos crentes, não na História literal. Tal como a pedra que destruiu a imagem da visão de Daniel 2, a Igreja romana seria a grande montanha que enchería a Terra.
Mais tarde, perseguidores de dissidentes, como Bernardo de Clairvaux, justificaram o uso da força contra os cidadãos recalcitrantes, fundamentados no argumento de que eles estavam obstruindo o crescimento milenial do reino de Deus; por isso, os torturadores faziam às suas vítimas um serviço benevolente de amor, compelindo-as a se submeterem a um programa de criação do reino de Deus na Terra.
Com base nas premissas de Agostinho, esperava-se que graves acontecimentos acompanhassem a chegada do ano 1000. Nesse ano fatídico, o notavelmente corrupto Silvestre II assumiu o trono de Pedro. As tensões emergiram através da Europa, à medida em que a data se aproximava, especial-mente na França. Mas, nada de extraordinário ocorreu. Alguns alarmistas se agarravam avidamente a insignificâncias, vendo juízo final na conquista turca de Jerusalém, em 1009. Em 1033, tido como o milésimo ano da morte de Cristo, uma aguda fome grassou a então dispersa população da Europa. O fenômeno foi tido como um presságio de grande significado. Especialmente nos mosteiros e conventos eram promovidas calamitosas predições.
Em contraste, a hierarquia oficial do Vaticano colocou por terra o temor do fim do mundo ao redor do ano 1000. Em 998, o Concilio de Roma impôs ao Rei Roberto, da França, sete anos de castigo por uma particularmente dolorosa violação da lei canônica. O imperador alemão, Otto III, continuava ativamente planejando sua estratégia para futuras conquistas que restaurariam o velho Império Romano.
Com a aproximação do ano 1260, um rumor de excitamento correu a Europa, baseado na idéia da vinda de Cristo naquele ano, para suprimir qualquer poder anticristão esperado.
Hoje, estamos a quase dois mil anos do nascimento de Cristo. Tal qual no passado, novas ondas de especulações sobre o milênio são elaboradas em muitas denominações. Muitos líderes religiosos têm advertido contra especulações inconvenientes. Para traçar uma progressão do excitamento milenialista, uma nova sociedade acadêmica foi estabelecida em 1992, em Filadélfia, com o objetivo de registrar toda manifestação milenialista, para análise erudita do ponto de vista sociológico. A partir de agora, até 2029, todas as manifestações serão registradas.
Os adventistas e a especulação
Como era de se esperar, alguns adventistas do sétimo dia estão se envolvendo em várias tentativas no sentido de estabelecer uma cronologia dos eventos porvir. Nosso interesse no estudo das profecias toma-nos particularmente vulneráveis a especulações infundadas, como foi evidenciado no caso Waco e fenômenos semelhantes.
Através da nossa história, nós temos defrontado com a questão do estabelecimento de tempo, baseado em cálculos engenhosos, apesar das advertências bíblicas, e das repetidas afirmações de Ellen White de que não existe profecia bíblica de tempo após 1844, bem como as múltiplas advertências contra todos os esforços para predizer o tempo dos acontecimentos vindouros.
Torna-se necessário discutir a questão dos seis mil anos nos círculos adventistas. Geralmente os cálculos são elaborados sobre as declarações de Ellen White, as quais então são realçadas por um argumento lógico destinado a fornecer datas futuras.
Um vigoroso futurismo abre possibilidades para interpretações previamente excluídas, onde as profecias bíblicas foram explicadas numa maneira historicista, como os adventistas sempre têm feito. Em geral, esses novos intérpretes dizem que nosso método historicista era válido para o passado, mas as profecias fornecem novas informações sobre os acontecimentos futuros, quando recicladas dia-a-dia. Eles afirmam que algumas declarações um tanto enigmáticas de Ellen White encorajam as reinterpretações futuristas, e que as profecias fornecem nova luz.
Citam, com certa freqüência, a afirmação de que quando os livros de Daniel e Apocalipse forem completamente compreendidos haverá um reavivamento de grandes proporções entre nós. Eles oferecem essa completa compreensão e defendem que é sua rejeição, pelos eruditos, que impede o derramamento do Espírito.
Algumas destas interpretações baseiam-se na teoria dos seis mil anos. Argumentos que remontam ao segundo século reapareceram, agora nos círculos adventistas, confundindo membros da igreja atacados por uma tempestade de publicações não oficiais. De acordo com informações catalogadas através do processo C D ROM, encontramos que durante seus 70 anos de escritora, Ellen White fez 43 referências aos seis mil anos e 42 relacionadas aos quatro mil anos, período anterior a Cristo. De fato, a cronologia bíblica é altamente complexa e mostra certa ambigüidade em relação a algumas ocorrências importantes. Um desses casos é a não muito clara situação da permanência israelita no Egito. A cronologia de Ussher estabelece 215 anos, mas outras evidências parecem favorecer o total de 400 ou 430 anos. Para Ussher, os seis mil anos acabarão em 1997.
Ellen White e a cronologia
Uma cuidadosa revisão das declarações de Ellen White mostra que ela não fez sérias tentativas para criar uma cronologia. Simplesmente citou os números de Ussher, anotando-os em sua Bíblia. A Sra. White negava-se a aparecer como uma autoridade em História. Tudo indica que ela seguiu a idéia de Ussher, quanto aos 215 anos de permanência israelita no Egito, até 1891. Depois, pareceu dividida entre 215 e 430 anos. Ja-mais foi taxativa em cronologia. Em 1913, ela escreveu que a Terra tinha “aproximadamente seis mil anos”. Noutras referências ela usa as expressões “aproximadamente seis mil anos” (nove vezes); “cerca de seis mil anos” (três vezes); “mais de seis mil anos” (duas vezes); “quase seis mil anos” e “acima de seis mil anos” (uma vez cada).
É inútil, portanto, projetar datas futuras a partir de algo que é caracterizado como “aproximadamente”. Um estudo sobre as 1.400 vezes que ela usou a palavra “aproximadamente”, revela que o significado sem-pre foi “perto de” ou “quase”. E jamais o termo foi aplicado em suas afirmações sobre os quatro mil anos.
O milenialismo adventista, compreendido num segundo sentido, pode ser bem ilustrado através do trabalho de Larry Wilson, cujas interpretações são bem explícitas e coerentemente distribuídas. Ex-pastor adventista e capelão, Wilson afastou-se do serviço denominacional, há alguns anos, para promover suas conclusões a respeito de profecias. O resultado é uma análise baseada em premissas futuristas, organização de predições bíblicas, apocalípticas, em 18 diferentes seqüências ou linhas proféticas, cuja sincronização está fundamentada no ciclo de 70 jubileus, contados a partir do êxodo (datado de 1437 a.C.) até o ano sabático em 1994, o qual ele sincroniza com o 70º jubileu.
Um estudo da seqüência estabelecida por Wilson fornece datas específicas. Ele começa com os Selos do Apocalipse, em 1884, alcança a descida da santa cidade, seguindo-se o milênio. De acordo com esse programa, as Sete Trombetas estão situadas no futuro, começando com o fim do 70º jubileu em 1994. Haverá uma forte chuva meteórica, possivelmente incluindo um impacto causado por um possante planetóide, resultando uma destruição cataclísmica da maior parte da terra.
Iniciando-se com o jubileu de 1994, os 1260 dias alcançam o fechamento do período de prova e os 1335 dias literais vão até a vinda de Cristo, 75 dias depois. Com todos esses problemas, o trabalho de Wilson é um dos mais acreditados entre os intérpretes adventistas, montados na crista do excitamento associado com os seis mil anos e os cálculos do jubileu.
Estabelecendo bases sadias
O que, como pastores, líderes, editores e professores, poderiamos fazer para desenvolver uma base sadia para interpretação dos eventos relacionados com os últimos dias? Consideremos as seguintes sugestões:
- 1. As especulações sobre o Milênio têm uma longa (e uniformemente enganosa) his-tória.
- 2. A hodierna e mórbida febre por novidades proféticas superficiais deve levar-nos a cuidadoso estudo da Bíblia e criteriosa escolha de pressuposições.
- 3. Sobre uma base prima facie, a tentativa de estabelecimento de datas é deficiente.
- 4. Ellen White firmemente endossa a interpretação historicista.
- 5. Apesar das aberrantes más interpreta-ções, o estudo profético é um componente válido e essencial de nossa mensagem. O interesse pelo estudo das profecias necessita ser despertado a partir de nosso púlpito e das nossas publicações, numa linguagem acessível ao povo. Editores e pastores, mais que ninguém, podem fazer isso acontecer.