Muitos pastores concordam que sua primeira preocupação deve ser o cuidado da alma humana e da avenida dessa alma, que é a profunda fonte e origem de tudo o que nos torna humanos, ou seja, a mente. Segue-se, então, que os pastores não podem permanecer indiferentes à saúde mental dos membros de suas respectivas congregações.

Tenho ouvido dizer que uma pessoa possuidora de verdadeira e inabalável fé não deveria sofrer angústia mental; que se uma pessoa orar e confiar plenamente em Deus, ela poderá ficar livre de depressão, ansiedade e confusão emocional. Embora a oração e a fé sejam indubitavelmente parte de qualquer programa para boa saúde mental, às vezes podem não ser o bastante. Quando uma pessoa sofre alguma doença mental, sua habilidade para lidar com o recurso da fé fica comprometida. Os pensamentos podem se deteriorar em direção de intenções suicidas ou outros comportamentos autodestrutivos, que são profundamente incompatíveis com um sincero comprometimento espiritual já esposado.

Desordens mentais comuns

O fato é que problemas de saúde mental também atacam pessoas de fé. Embora os pastores de congregações não devam necessariamente praticar a psiquiatria, eles deveriam ter suficiente conhecimento, o mínimo para assistir de maneira eficaz aos membros que enfrentam problemas de saúde mental. Esses problemas são distribuídos em quatro extensas categorias, examinadas a seguir:

Depressão e alterações de humor. Esse tipo de desordem mental é o mais provável de ser encontrado. Algumas vezes as pessoas afirmam que sofrem depressão apenas quando são desencorajadas ou infelizes. Mas a depressão clínica é uma condição debilitante específica, que prejudica relacionamentos familiares, atividade profissional, apetite, sono, concentração, capacidade de tomar decisões, e o interesse sexual. Pode também gerar pensamentos suicidas.

Freqüentemente as pessoas relutam em buscar ajuda para vencer a depressão, imaginando que o problema não é tão grave, que são capazes de superá-lo sozinhas, ou temendo que abrir o coração representa expor sua fraqueza. Em tais situações, os pastores podem ser tentados a dizer-lhes simplesmente que elas devem animar-se, deixar de pensar em si mesmas, ou orar mais. Porém, insisto em que a depressão é coisa séria, que pode arruinar vidas e levar ao suicídio.

Algumas vezes, períodos de depressão são interrompidos por períodos de alta energia. Durante essa fase, a pessoa pode parecer estar bem, ou mesmo ótima. Ela pode se envolver tão maravilhosamente no trabalho da igreja e com a família, pode parecer tão completamente devotada a Deus, que seria estranho um pastor questionar isso. Mas nesse tipo bipolar de doença, desapontamento emocional e depressão inevitavelmente seguem-se à fase de energia. Um profissional da psiquiatria pode indicar uma medicação estabilizadora da extrema oscilação do humor.

Ansiedade. Esse tipo de desordem afeta pessoas que vivem cronicamente preocupadas com a dimensão das dificuldades de seu labor diário. Tais indivíduos podem se tornar excessivamente caseiros, incapazes de enfrentar o mundo ou viver em grupo. Podem desenvolver específicos, ilógicos, e muito debilitantes temores de coisas como micróbios ou multidões. Desordens como ansiedade incluem as desordens compulsivo-obssessivas, isto é, constante e repetido acariciamento de idéias inoportunas: compulsão para realizar tarefas que parecem aliviar a ansiedade, tais como lavar as mãos, limpeza excessiva, ou organização da vida numa forma particular e invariável, metódica; por exemplo, separar coisas no lixo antes que possam ser descartadas.

Desordens de pensamento. As que são encontradas com mais freqüência são esquizofrenia e as desilusões. Quem tem problemas de organização do pensamento pode interromper um assunto rapidamente, sem aviso ou causa, tornando difícil a conversação. Uma pessoa assim anda vendo coisas, ouvindo vozes, sentindo odores que não são reais, ou alimenta ilógicos temores de conspiração e perseguição. Esses problemas requerem invariavelmente ajuda profissional, e, tornando-se mais graves, demandam internação hospitalar.

É a natureza bizarra dos casos de desordem de pensamento que tem ajudado a gerar caricaturas comuns e brincadeiras a respeito das doenças mentais. Essa também é a razão pela qual as pessoas as vêm como doenças perturbadoras e assustadoras. Os pastores necessitam ser cuidadosos para não se tornarem desencorajados ao ministrar a pessoas com esse tipo de desordem. Embora o doente possa em algum momento dizer coisas sem sentido, o pastor pode ouvi-lo, responder e obter forças do amor bem direcionado e da sincera preocupação com a pessoa.

Distúrbios da personalidade. Tais situações normalmente são difíceis de descrever em virtude das diferenças naturais entre as personalidades. Entretanto, todos nós conhecemos pessoas que têm constantes problemas de relacionamento, propensas a extremos emocionais e explosivos, ou buscam isolamento e evitam atividades sociais. Esses problemas de personalidade levam a dificuldades crônicas vocacionais e de relacionamento. Nos casos de depressão, ansiedade e desordens de pensamento, o doente vive em grande angústia; mas os distúrbios de personalidade são freqüentemente mais perturbadores dos amigos e da família que da própria pessoa.

Além da intervenção pastoral

Que deveríamos fazer quando nos deparamos com situações diante das quais o compassivo apoio pastoral não é o bastante?

O crente pode chamar o pastor para ajudar a resolver seus problemas, aplicando as realidades da fé através de práticas tais como a conversação pastoral, oração, e orientação escriturística. Isso pode oferecer um apoio vital e, todavia, não contribuir para a solução tão desesperadamente necessária. Crer que uma pessoa de fé não deveria ter problemas emocionais contribui para gerar culpa e ansiedade relacionadas com a obtenção de tratamento apropriado e efetivo. Nesse ponto, o pastor faz bem em considerar a recomendação de busca de ajuda com um profissional de saúde mental.

Os pastores algumas vezes ficam receosos de remeter seus paroquianos a um psiquiatra, tendo em mente a imagem antiquada do barbudo Freud que menosprezava a fé religiosa. De fato, profissionais de saúde mental que são ressentidos com a religião ou que poderia desafiar o compromisso religioso de um paciente são a minoria. Os bons psiquiatras e psicólogos apreciam das dimensões espirituais da vida de um paciente e compreendem o valor terapêutico da comunidade de uma igreja.

Eu até recomendo que os pastores façam amizade com alguns profissionais de saúde mental para os quais eles possam enviar seus paroquianos necessitados de ajuda. Os psiquiatras são médicos que podem prescrever medicamentos bem como desenvolver a terapia conversacional. Os psicólogos podem fazer testes de avaliação psicológica e terapia também através do diálogo. Assistentes sociais e conselheiros clínicos são especializados em família e terapia individual. Alguns deles também são treinados em especialidades como trabalho com crianças ou viciados.

Os profissionais de saúde mental, geralmente, estarão desejosos de trocar idéias com o pastor a respeito das abordagens efetuadas com o paciente. O pastor pode perguntar diretamente o que o profissional pensa sobre o elemento religião na vida do seu cliente, e, ao mesmo tempo, inquirir a respeito de qualquer área da sua especialidade e dos custos envolvidos. Deve o pastor manter um canal de comunicação aberto para uma consulta telefônica ao profissional, na ocasião em que está tentando fazer uma avaliação inicial do problema. Isso é muito positivo, especialmente quando um apropriado senso de coleguismo e camaradagem é cultivado com o profissional.

Se o pastor tiver êxito no encaminhamento de seu paciente, é importante continuar seu envolvimento com ele. Esse é o tempo quando ele mais necessita do amor e apoio pastorais. Alguns problemas de saúde mental são expressados através de concepções religiosas extremistas; e o pastor pode ser muito ajudador no processo de tratamento, provendo o necessário equilíbrio dessas concepções. Os profissionais de saúde mental consideram o seqüencial envolvimento do pastor muito importante, de modo que um relacionamento íntimo é ideal.

Ética e confidência

Seja muito cuidadoso quanto a interferir com o tratamento de seu paroquiano. Por exemplo, jamais recomende que ele deixe de tomar alguma medicação prescrita pelo psiquiatra, a menos que tenha a autorização deste, Uma atitude tal pode realmente prejudicar a saúde da pessoa. Caso o indivíduo em tratamento lhe exponha alguma coisa dita ou feita pelo médico que não lhe pareça correta, não aceite isso como verdade sem primeiro checar a informação. Ouça tudo com atenção, guarde as informações, e converse pessoalmente com o profissional. Alguns impulsos que o doente experimenta podem levá-lo a distorcer ou interpretar mal as palavras do médico.

Embora grandes avanços tenham sido dados no tratamento de doenças mentais sérias, há poucos casos de curas perfeitas. Alguns pacientes bipolares, depressivos ou esquizofrênicos, podem não responder parcialmente à medicação, outros podem não responder totalmente. Pacientes tratados com êxito podem sofrer recaída. Você, como pastor, talvez seja a pessoa em melhor condição para ajudar o paroquiano paciente a aceitar que um distúrbio emocional pode ser algo que ele carregará durante toda a vida, embora mantenha em seu coração a sólida esperança de que algum dia viveremos no perfeito reino de Deus, livres de enfermidades.

Finalmente, seja confidente. Mencionar, mesmo casualmente, a outro membro da igreja ou à comissão, que um irmão está buscando ajuda psiquiátrica, ou a natureza do seu problema, é no mínimo antiético. E destrói aqueles elementos de confiança tão críticos em todos os nossos relacionamentos pessoais e profissionais.

GEORGE F, GIBBS, Capelão do Hospital Harding, Worthington, Ohio, Estados Unidos