No livro de Rute, encontramos o relato inspirado contando-nos a história dessa jovem mulher e enaltecendo as qualidades do casal Rute e Boaz. Ela, mulher estrangeira que se auto-naturalizou israelita. Ele, grande empresário de Belém.
Dentre seus bem-sucedidos negócios, Boaz possuía fazendas de produção de cereais. Ele negociava com os comerciantes argutos, como também habilmente lidava com os espertos atravessadores.
Mesmo com tantas ocupações, Boaz tomava tempo para ir, na época da sega, até às fazendas acompanhar de perto a colheita e conhecer cada um dos seus muitos segadores e empregados. Costumava saudar a todos, tratando-os com gentileza e cortesia, diferentemente de alguns orgulhosos senhores que sequer cumprimentam seus servidores; nem lhes dão ouvidos. Deveria soar muito agradável para aqueles empregados a costumeira saudação: “o Senhor seja convosco.”
Boaz conhecia até os pobres e estrangeiros que respigavam em suas terras. Por isso, certo dia notou que havia gente nova na respiga e perguntou: “Quem é esta moça?” O capataz deu-lhe informações detalhadas sobre a nova respigadora. (2:6 e 7). Falou-lhe que a novata lhe dissera – “deixa-me colher”, indicando claramente que não queria participar da respiga sem estar devidamente autorizada. O capataz notou esse detalhe e o contou a Boaz.
Deferências e cuidados
Ao tomar conhecimento de quem ela era, Boaz ordenou aos segadores que a tratassem com bondade e deferência. Ele mesmo dirigiu-se a ela dando-lhe as boas vindas e oferecendo-lhe boas condições para o trabalho (2:8 e 9). Além disso, elogiou-a pelo que estava fazendo em favor da sogra e da família do falecido, como também pediu ao Senhor uma bênção para ela, com bonita retórica, até meio poética (2:11 e 12). Rute respondeu a Boaz com firmeza, mostrando-se respeitosa e reconhecida.
Na hora do almoço, Boaz convidou-a para comer, e ele mesmo serviu-a com generosas porções. Ela comeu comodamente sentada, sem pressa, até fartar-se e ainda sobejou.
Rute trabalhou nos campos de Boaz até o final da sega. A idosa Noemi preocupava-se com Rute. “Quando eu morrer, como ficará essa minha jovem?”, pensava Noemi.
Então ela explicou para Rute como eram os costumes e leis dos israelitas quanto a casamentos e heranças. Noemi ficou na expectativa: “Será que Rute aceitará agir de acordo com os costumes e leis do povo de Israel?” Rute ouviu-a atentamente. Aliás, essa era uma das grandes virtudes de Rute – ouvir! Depois de ouvir as orientações, Rute poderia recusar-se alegando ser ridículo tomar as iniciativas. Afinal, no paganismo, onde fora criada, ela havia aprendido a obedecer as ordens masculinas sem questionar. E, mesmo que se atrevesse a falar, ela não seria ouvida nem suas idéias aceitas, pelo contrário, seria punida.
É um tratamento que comprime a alma feminina, a faz murchar e sentir-se frustrada, diminuindo sua auto-estima e o gosto pela vida. Mas na verdade, é este o intuito do sistema social dos pagãos até mesmo nos dias de hoje. O objetivo é manter impune e livre a supremacia e o autoritarismo masculinos, mesmo às custas da anulação da mulher, que no seu conceito vale menos do que um objeto.
Sem preconceitos
Rute, porém, sentia-se livre deste pre-conceito, pois havia se auto-naturalizado israelita antes mesmo de deixar sua terra. Ela declarou: “O teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.” Tudo muda para melhor na vida de uma pessoa, quando ela diz ao Senhor Jesus: “Tu és o meu Deus”. Jesus atende o convite, tornando-Se o Senhor da alma. Ele vem ao íntimo do ser e realiza poderosamente uma transformação tão maravilhosa, completa e perfeita, que não deixa traumas, nem sentimento de culpa e nem a sensação de perda por não continuar praticando os acariciados erros antigos.
Naquele momento, Rute estava vivendo esta experiência transformadora em sua vida, e ao ouvir as instruções, ela mostrou mais uma vez à sua sogra que havia assumido totalmente a cidadania israelense. Ela se dispôs a enquadrar-se aos costumes do seu povo escolhido, e às leis do seu novo país. Ela disse à sua sogra: “Tudo quando me disseres farei.”
Naquela noite, Boaz estaria na eira acompanhando o peneiramento da cevada. Rute se preparou e corajosamente foi cumprir sua parte do projeto. Imagino que, em sua expectativa, Rute não adormeceu, mas ficou vigilante. Mais tar-de, Boaz acordou e percebeu a presença de uma mulher aos seus pés. Assustado e surpreso, indagou: “Quem és tu?”
Ao ouvir essa pergunta, Rute não procurou evasivas do tipo “ah, sou sua empregada estrangeira, e estou aqui porque minha sogra disse isso e aquilo sobre as leis de Israel…” Não. Rute estava ali por sua própria resolução, após tomar conhecimento dos usos e costumes do povo de Israel, e não porque sua sogra determinou. Ela assumiu sua posição na sociedade israelense e pôde dizer com firmeza: “Sou Rute, … e tu és o remidor.”
Missão cumprida
E interessante notar que Boaz não criticou Rute por ter tomado a iniciativa, ou por ter ido vê-lo àquele hora da noite. Pelo contrário, deu sua palavra de apreciação por sua escolha (3:10). Boaz sabia o que deveria fazer como remidor, e acrescentou: “Vou fazer tudo o que me pede.”
Que alegria Rute deve ter sentido! Mis-são cumprida. E o resultado? “Vou fazer tudo o que me pede.”
A atenção e o carinho encontrados no tratamento de Boaz para com Rute, a moabita, são um exemplo a ser seguido pelos esposos.
E agora? Como voltaria Rute para casa sozinha, na escuridão da noite? Ambos eram tementes a Deus e tinham um bom nome a manter. Então eles decidiram que eles mesmos seriam os primeiros a preservar seus nomes limpos e ela ficou deitada aos seus pés até antes do amanhecer. Agora que tudo estava acertado, Rute deve ter adormecido tranqüila, mas não sei se Boaz conseguiu conciliar o sono naquela madrugada (3:14).
Graças a Deus por homens de caráter íntegro como Boaz, que mesmo em circunstâncias tentadoras, colocam acima de tudo o temor de Deus e o bom nome como filhos do Rei Celestial, e preservam seu caráter puro, e o de outrem também.
Final feliz
Antes do sol raiar, Boaz disse para Rute: “Dá cá o roupão que tens sobre ti.” Há uma tradução que diz “coloque sua capa no chão.” Rute poderia ter pensado algo como “ora, por que no chão? Vai sujar de terra e palhas.” No entanto o pronto atendimento até para coisas um tanto “estranhas” é mais espontâneo quando se confia. Na capa, Boaz colocou grande quantidade de cereais prontos para uso, e mandou de presente para Noemi, como que mostrando aprovação para as instruções que dera à Rute. (3:16 e 17).
Boaz então tomou as providências legais cabíveis, casou-se com Rute, e, segundo o relato, “foram felizes para sempre”. A maior felicidade do casal, todos nós sabemos, foi o fato de tornarem-se ambos avós do rei Davi. De sua descendência nasceu o Salvador do mundo!
Pastor, certamente você e sua esposa desejam que seu casamento perdure para sem-pre, cheio de amor e felicidade. Não seria o caso de observar as bem dirigidas atitudes de Boaz para com Rute?
Relembremos algumas:
- 1. Boaz, mesmo sendo tão ocupado, tomava tempo para falar com Rute (2:8, 11,14; 3:10 e 15). A comunicação fluente entre os dois é muito importante para o bom entendimento mútuo.
- 2. Boaz olhava para Rute quando falava com ela (2:10 e 13). Olhar no fundo dos olhos da pessoa amada, aproxima mais os corações.
- 3. Boaz elogiava as atitudes bonitas de Rute (2:11; 3:10 e 11). O elogio sincero, a palavra de apreciação, o reconhecimento, gratificam e animam a pessoa amada.
- 4. Boaz era sensível para com as expectativas de Rute e procurava prover-lhe condições e conforto (2:8 e 9). Essa atitude traz alegria e une mais os laços do coração.
- 5. Boaz convidava Rute para almoçar, sem pressa (2:4). Convites especiais, em datas comemorativas ou não, fazem a esposa sentir-se apreciada.
- 6. Boaz rogava bênçãos do Senhor para Rute (2:12). Orar e cultuar juntos alimenta o espírito e a alma.
- 7. Boaz não criticava as atitudes de Rute, antes a compreendia ((3:10 e 11). A crítica faz feridas nos corações, mas a compreensão constrói a solidez das afeições.
- 8. Boaz tinha uma conduta em público que preservava seu bom nome e o de Rute (3:11 e 14). O respeito mútuo promove a duração do relacionamento.
A sabedoria de Boaz alegrou e enriqueceu o relacionamento com Rute. Pense nisso, e ore para que o seu coração aceite e vivencie essa gratificante experiência.