Nascido em 1932, em Mossoró, RN, no lar do casal José e Eulália Car­valho, o Dr. Jetro Fernandes de Car­valho passou a infância e juventude em várias cidades do Nordeste (Ma­ceió e Viçosa, AL; João Pessoa, PB; e Recife, PE), em virtude de seu pai ter sido um funcionário público federal. Estudou sempre em escolas públicas, e apenas um ano na Escola Adventista de Maceió. Formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Reci­fe, em 1956, especializando-se em Cirurgia Geral. Depois de trabalhar um ano no Hospi­tal Adventista Silvestre, e quatro anos no Hospital Adventista de Belém, retornou a Re­cife, em 1962, onde permaneceu até 1981. Então mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se encontra atualmente.

Foi diretor do Hospital Adventista de Be­lém, diretor e chefe de clínicas do Hospital Agamenon Magalhães, em Recife, superinten­dente da Golden Cross, diretor técnico de As­sistência Médica da Superintendência do antigo Inamps,. em Pernambuco. Além dessas atividades, também foi presidente do Lions

Clube Recife-Parnamirim, membro da Sociedade de Médicos Escrito­res, membro da Academia de Artes e Letras do Nor­ deste Brasileiro, membro do Colé­gio Internacional de Cirurgiões. É autor de contos e

poesias publicados pela Academia de Artes e Letras do Nordeste, e de vários artigos publi­cados pela Revista Adventista, Ministério, e pela Review and Herald.

Foi agraciado com o título de Cidadão do Recife, outorgado pela Câmara de Vereadores local, e com a Medalha do Mérito, Ouro, concedida pela Prefeitura Muni­cipal do Recife.

Membro atuante da Igreja em todos os lu­gares por onde passou, o Dr. Jetro partici­pou, juntamente com o Professor Frederico Gerling, do primeiro programa de televisão da Igreja Adventista, apresentado semanal­ mente na TV Universitária, em Recife. Atual- mente, além de ancião da Igreja de Botafogo, no Rio de Janeiro, é membro da diretoria da Federação dos Empresários Adventistas, FE.

De sua união matrimonial com Naara Pessoa Rodrigues, nasceram dois filhos: Kedma e Jetro Filho.

MINISTÉRIO: Há quanto tempo é an­cião, e em quais igrejas exerceu o cargo?

DR. JETRO: Há 35 anos venho exercendo a função de ancião de igreja. Atuei nas igrejas de Marambaia, em Belém; Central de Recife, e, atualmente, em Botafogo, no Rio de Janeiro.

MINISTÉRIO: Atuando há tanto tempo, alguma vez se sentiu cansado da função?

DR. JETRO: Não. Creio que não existe razão para alguém sentir-se cansado de ser um ancião, uma vez que considero isso uma vocação e não um cargo.

MINISTÉRIO: O que o senhor acha mais gratificante em ser um ancião?

DR. JETRO: Considero que a coisa mais gratificante no exercício do ancianato é a oportunidade de enxergar a igreja como um todo, e sentir cada uma de suas partes.

MINISTÉRIO: E quais, a seu ver, as maiores dificuldades da função?

DR. JETRO: Saber que podemos ajudar, mas que existem poucos dispostos a receber ajuda.

MINISTÉRIO: Como um líder voluntá­rio pode harmonizar afazeres particulares, assistência à família e atendimento à igreja?

DR. JETRO: Quando se procura colocar cada coisa em seu lugar, os conflitos dimi­nuem ou até se tomam inexistentes. Mas, na verdade, é freqüente ser prejudicada a assis­tência à família.

MINISTÉRIO: Como ancião, o senhor se sente devidamente assistido pela Associação Ministerial?

DR. JETRO: De um modo geral, poderia dizer que sim. A Associação Ministerial me envia a revista Ministry, que, para mim, é muito proveitosa. No entanto, minha melhor fonte de informações para o trabalho tem sido nossos livros, entre os quais, destaco primei­ramente a Bíblia, a literatura de Ellen White, Movement of Destiny, de Froom, Manual da Igreja, o Comentário Bíblico, etc. Também leio muito os escritos de Morris Venden.

MINISTÉRIO: Como o pastor e o ancião podem atuar como um dueto e não em duelo?

DR. JETRO: Pastor e ancião podem, e devem, atuar em harmonia, para o bem da igreja que lideram. Isso é possível quando ambos conhecem suas atribuições, quando colocam os interesses da Igreja acima dos seus próprios, quando se respeitam mutuamente e decidem fazer prosperar o ministé­rio um do outro.

MINISTÉRIO: O senhor acha que o ministério adventista corresponde às exigên­cias do mundo atual?

DR. JETRO: Nos artigos publicados na revista Ministry, eu percebo a preocupação de qualificar o pastor para os desafios do momento. A época presente coloca diante do pastor problemas inexistentes no passado, ou, no máximo, bem mais raros. O pastor tem a obrigação de ser um homem bem in­ formado e, infelizmente, os seus líderes nem sempre tomam providências concretas para que isso seja possível de forma permanente. Esse é um assunto que realmente precisa receber um trato carinhoso.

O pastor precisa estar preparado para enfrentar um mundo secularizado e em cons­tantes mudanças. A era da Informática, por exemplo, permite a construção de uma rede acessível a todos.

MINISTÉRIO: Quais são, em sua opinião, os maiores perigos que ameaçam o ministério?

DR. JETRO: O maior perigo que ameaça

o ministério é não manter um relacionamento pessoal com Cristo, e substituí-lo por atividades para Cristo. Outro perigo que posso mencionar é a tentação de aceitar a medio­cridade, revestindo-a de espiritualidade, de espírito promocional, entusiasmo inócuo, falsa vibração e aparência de ânimo. Esse perigo leva a outro, que é o da auto-suficiên­cia, responsável pelo atravancamento de se­ tores importantes da Obra, como a comunicação, o levantamento de fundos, o geren­ciamento de pessoal e de recursos, etc.

Para vencer esses perigos, o pastor deve primeiramente dedicar tempo à comunhão pessoal com Jesus. Também deve ter humil­dade para aceitar sugestões de leigos especialistas em áreas importantes da Obra. Finalmente, deve reconhecer que sua principal missão é apresentar Cristo de tal maneira que as pessoas se apaixonem por Ele.

MINISTÉRIO: Descreva o perfil de um pastor ideal.

DR. JETRO: O pastor ideal realiza-se na realização pessoal dos seus membros; cuida dos fundamentos da Igreja e motiva os mem- bros na construção da igreja dos sonhos de- les. Mostra sinal de maturidade, ao aceitar, sem retaliações, as divergências em assuntos não fundamentais. Transforma as boas idéias e os bons planos dos membros em seus próprios planos; dá aos membros um exemplo pessoal de comunhão com Cristo, procura estar bem informado para pregar sermões simples e poderosos, que possam ser enten­didos pelos iletrados e aceitos pelos pecado­res, conduzindo todos a Cristo.

MINISTÉRIO: Como o senhor vê a Igreja hoje? Está na direção certa, em termos de missão? Cumpre o seu papel na sociedade?

DR. JETRO: A Igreja, hoje, compreende melhor seu papel de hospital. Não é tolerante com o pecado, mas considera mais o pecador. Em termos de missão, sempre está na direção certa quando prega “Cristo e Este crucifica­ do”. Todavia, insiste em posições que impedem a utilização de todo o seu potencial.
De um modo geral, os membros não sabem dar estudos bíblicos, não conhecem as nossas bases doutrinárias e não têm prática de abrir a Bíblia e expor a Verdade. Deveriamos trans­formar as nossas igrejas em salas de aulas, com ênfase na doutrina e como apresentá-la. Que tal a Escola Sabatina dedicar um tri­ mestre por ano à preparação dos membros para sua missão? A Missão Global teria mais sucesso se o seu alvo fosse fazer de cada membro um obreiro bíblico.

MINISTÉRIO: A que o senhor atribui a ainda reduzida participação dos membros nas atividades missionárias?

DR. JETRO: Podemos enumerar algumas razões: Primeira, a falta de conhecimento da doutrina e de como apresentá-la, como foi dito anteriormente. Em segundo lugar, existe má compreensão das atividades missionárias, vistas ainda como encargo e não como realização pessoal. A terceira razão é má orientação. Há muita promoção de outras atividades sociais em detrimento de atividades missionárias. Quando a igreja se envolver mais em atividades missionárias, as outras atividades serão desenvolvidas necessariamente.

Finalmente, há certo desânimo por parte dos membros ao tomarem conhecimento de alguns vícios administrativos como, por exemplo, aumento do número de Associações e Uniões. Isso acarreta mais despesas com pessoal e instalações de escritórios, rebaixan­do o nível do pastor distrital, que acaba so­brecarregado e vítima de uma inversão na es­ cala de valores, segundo a qual ele é inferior aos departamentais e administradores.

MINISTÉRIO: Que meios o senhor acha que poderiam ser utilizados para alcançar­ mos as classes altas?

DR. JETRO: Já possuímos o melhor meio – o programa Está Escrito. Quando a Igreja como um todo acordar para o potencial que esse programa oferece, veremos uma enxurrada de conversões nas classes altas. Precisamos eliminar todos os obstáculos que impedem o avanço do Está Escrito. Todos, pastores e membros, precisam contribuir mais, promover o programa em sua ci­ dade, prestar a devida assistência aos interessados, enfim, transformar o Está Escrito no instrumento missionário número um de sua igreja.

MINISTÉRIO: O senhor vê alguma ameaça à integridade doutrinária da Igreja?

DR. JETRO: Não. Nosso corpo de dou­ trinas é monolítico e obedece ao princípio do “tudo ou nada”. O número de membros convictos é tão expressivo que não há terreno propício à apostasia corporativa. Qualquer ameaça à integridade doutrinária só frutificará se os membros forem mantidos na ignorância. Se corrermos para conquistar o tempo perdido e instruirmos, com dedicação e perseverança, todos os membros, esta será a nossa melhor defesa.

MINISTÉRIO: A seu ver, qual é a maior necessidade da Igreja hoje?

DR. JETRO: A maior necessidade da Igreja hoje é de comunhão pessoal, íntima e per- manente com Cristo. Aí está o esconderijo da nossa força, do nosso ânimo e do nosso amor.

MINISTÉRIO: Que tal a participação feminina e de empresários nos negócios da Igreja, como ocorre atualmente?


DR. JETRO:
A participação feminina é inevitável, em nosso tempo. Se Jesus mandou que roguemos por mais obreiros na seara, como deixar de lado as mulheres? No passa­do, o concerto de Deus era com os homens através da circuncisão. Hoje, o batismo dá aos homens e às mulheres os mesmos direitos e privilégios.

Por outro lado, há como uma demanda re­primida nas mulheres. Quando elas tiverem oportunidade de usar seu potencial de amor pelas almas, de dedicação à missão e de zelo pelo seu papel de mulher, veremos, pela gra­ça de Deus, um crescimento acelerado da Igreja. Parece que muitos homens têm medo disso e ficam ciumentos.

O papel dos empresários nos negócios da Igreja é uma exigência do nosso tempo. Foi- se a época em que o pastor era um sabe- tudo, mas alguns aparentemente continuam com o mesmo medo dos fariseus: “tomarão o nosso lugar”. Pelo contrário, os pastores ficarão mais fortalecidos, quando se aperce­berem que a divisão de tarefas e delegação de responsabilidades farão com que a Igreja

cresça, e eles, pastores, serão cada vez mais necessários e importantes.

As mensagens de Apocalipse 14 são apresentadas por anjos e isso significa poder, força, inteligência, sabedoria, senso de oportunidade, adaptação ao tempo e às circunstâncias, qualidade e eficiência. Como não somos anjos, temos de somar dons, ha­bilidades e recursos. O ministério da igreja precisa ser mais sábio para usar os recursos humanos e materiais que estão à disposição, para que não fique obsoleto e, por isso, des­cartável.

MINISTÉRIO: Qual a doutrina bíblica que mais lhe fala ao coração?

DR. JETRO: A justificação pela fé em Cristo. Como pecador, só mereço a morte, mas Jesus me dá perdão, aceitação e vida eterna. Isso me tira toda a preocupação e ansiedade, e me infunde alegria, paz e segu­rança. Sei que Ele Se deleita em me prote­ger, cuidar, manter, defender e curar. Alguém sabe de alguma coisa melhor?

MINISTÉRIO: Com sua experiência, que conselhos daria a um ancião mais jovem?

DR. JETRO: Não queira ser o dono da igreja. Procure servir, apenas, onde e como for necessário. Ore, estude e medite, e logo a igreja vai saber que pode contar com você para a solução de todos os seus problemas.

MINISTÉRIO: Uma palavra aos pastores de sua Igreja.

DR. JETRO: Em primeiro lugar, minha homenagem aos pastores e suas famílias, que se dedicaram ao serviço do Senhor. Minha gratidão pelos conselhos e orientações que re­cebi ao longo da minha vida. Minha admira­ção quando os vejo enfrentar toda sorte de dificuldades para cumprir sua missão. Minha compreensão quando verifico que procuram ti­rar da fraqueza força, e das limitações a supe­ração de si mesmos, pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo, E, finalmente, meu entusias­mo quando permanecem firmes em sua voca­ção, apesar das lutas, aflições e carências. Que Deus os abençoe ricamente em seu ministério.