Nascido em Fortaleza, CE, em 1957, o Pastor Robson Moura Marinho é fruto de um lar adventista e recebeu sólida educação cristã. Concluiu a Faculdade de Teologia, em 1978, no ENA, tendo cursado dois anos também no IAE. Fez o mestrado entre 1985 e 1988 e, atualmente, estuda o doutorado no IAE, campus central.

Iniciou suas atividades pastorais como obreiro bíblico em Fortaleza, assumindo de-pois o distrito de Iguatu, CE. Foi diretor de escola em São Luiz, MA, e em Fortaleza. Retornou ao ministério pastoral, assumindo o distrito de Monte Castelo, na capital maranhense, onde permaneceu por três anos e meio. Durante um ano, liderou a Igreja Central de Fortaleza, sendo posteriormente nomeado departamental J.A. e de Educação da Missão Costa-Norte, de onde foi para a Casa Publicadora Brasileira, como redator. É casado com Rosênia Cerqueira Marinho e tem duas filhas: Ronísia e Rosilei. No momento, pastoreia a igreja do IAE, campus de São Paulo, onde recebeu o editor de Ministério para a seguinte entrevista:

MINISTÉRIO: Pode precisar em que momento ou circunstâncias sentiu-se chamado para ser um pastor? concretizei a decisão, dedicando os poucos dons que tenho a Deus e ao ministério. E Lhe sou muito agradecido por este privilégio.

PASTOR ROBSON: Bem, até quando ingressei no segundo grau, meu pensamento era cursar Arquitetura. Por volta do segundo ano, comecei a sentir uma impressão muito forte no sentido de que deveria servir a Deus como ministro. Passei um ano refletindo e orando muito. Finalmente concretizei a decisão, dedicando os poucos dons que tenho a Deus e ao ministério. E Lhe sou muito agradecido por este privilégio.

MINISTÉRIO: Qual é o segredo do sucesso pastoral, para o senhor?

PASTOR ROBSON: O sucesso no ministério não depende de alguém revolucionar o programa da igreja. Desde cedo, percebi que na igreja alguns departamentos funcionavam e outros não. Então, ao ingressar no ministério, já tinha a idéia de que se pudesse encontrar uma maneira pela qual todos os setores funcionassem, isso já representaria uma boa pista para solução de inúmeros problemas. Assim tenho procurado fazer; não procurando inovações, mas buscando fazer funcionar o que já existe. Isso requer a colocação de pessoas certas nos lugares certos, treiná-las, apoiá-las e dotá-las dos recursos necessários.

MINISTÉRIO: Nesse caso, o papel da Comissão de Nomeações também é funda-mental.

PASTOR ROBSON: Para mim é um momento-chave da administração de uma igreja. Eu passo geralmente o ano inteiro pensando em quais pessoas poderiam assumir a liderança de certos departamentos, notadamente aqueles como Escola Sabatina, Ação Missionária, Jovens, etc., entre outros. Não creio que a Comissão de Nomeações deva funcionar como uma loteria. Alguns criticam o gesto de se levar a essa comissão alguns nomes para serem sugeridos, mas eu quero dizer que nunca dirigi uma Comissão de Nomeações sem ter uma lista de nomes de pessoas que avaliei durante o ano, dando-lhes oportunidades para se desenvolver. Isso não significa imposição. Algumas vezes a comissão apresenta outros nomes, que são aceitos. Mas, eu até diria, que isso representa cinco por cento dos casos. O pastor tem condições de observar o potencial das pessoas que podem ajudar.

Motivação é manter o potencial desafiado.

MINISTÉRIO: O que significa pastorear uma comunidade quantitativa e qualitativamente tão expressiva, como a igreja do IAE?

PASTOR ROBSON: É um desafio muito grande. Tanto no sentido administrativo, como pastoral. Trata-se de uma comunidade intelectualizada e isso exige mensagens bem preparadas. Mas, outro dia li que motivação é manter o potencial desafiado. Então, quanto maior o desafio, maior a motivação para fazer o melhor possível. Tem sido uma experiência positiva de aprendizado constante. A carga de trabalho é grande, mas os recursos humanos correspondem plenamente. A igreja aqui conta com pessoas preparadas para quaisquer áreas de ação.

MINISTÉRIO: Que diferenças existem entre liderar uma igreja como esta, e um distrito normal, no Campo?

PASTOR ROBSON: Honestamente, não creio que existam muitas diferenças. Talvez elas se concentrem um pouco mais no aspecto administrativo. Aqui, tenho que atender interesses da igreja, do colégio (envolvendo alunos, etc.), e da Associação, que espera o cumprimento do programa missionário. Mas as necessidades das pessoas são sempre as mesmas. O ser humano, quem quer que seja, é pecador e necessita de salvação. Todos necessitam do bálsamo que é Cristo, e, como membros da igreja, também necessitam ser motivados para a missão. Nesse sentido, todas as igrejas são iguais.

MINISTÉRIO: Falando em diversificação de interesses, como é possível conseguir-se a harmonia?

PASTOR ROBSON: Sem dúvida, é preciso ter sabedoria para ajustá-los. Mas esta-mos vivendo, aqui no IAE, uma fase muito boa, do ponto de vista administrativo. E aqui vai uma palavra de apreciação à administração do colégio com sua visão pastoral. O Pastor Nevil Gorski, diretor geral, apóia todos os programas do Campo. Algumas vezes existem conflitos, envolvendo datas, etc., mas tudo acaba sendo bem resolvido.

MINISTÉRIO: Como funciona a estrutura administrativa desta igreja?

PASTOR ROBSON: Possuímos 60 anciãos que realizam um bom trabalho de visitação. Um pastor auxiliar também ficava responsável pelo atendimento à comunidade externa. Recentemente, aceitou um outro chamado e ainda não temos substituto. Há também um pastor que atua como obreiro bíblico, atendendo interessados da classe bíblica. Durante dois dias, por semana, um conselheiro matrimonial, Dr. José Carlos Ebling, dá atendimento a casais com dificuldades. Tudo isso alivia tremendamente a nossa carga.

MINISTÉRIO: Como é o seu dia-a-dia de pastor do IAE?

PASTOR ROBSON: Em princípio, dedico as segundas e terças-feiras para as atividades administrativas e assuntos ligados aos vários departamentos. Quarta-feira é o dia de atendimento aqui na sala pastoral. Permaneço de plantão o dia todo e não há horário vago. Na quinta-feira, realizo visitas pastorais, dou estudos bíblicos, e atendo casos especiais para os quais houve solicitação. Sexta-feira é o dia de preparo para as programações de sábado. O domingo é dedicado à família. Mas essa agenda é passível de flexibilização, de acordo com a urgência do assunto e a necessidade das pessoas envolvidas.

MINISTÉRIO: Qual é a estratégia utilizada para evangelização dos alunos?

PASTOR ROBSON: A evangelização do internato não tem sido muito fácil, por não termos um pastor somente para o campus. No passado havia esse pastor exclusivo para alunos internos, mas agora há pastores distribuídos por cursos e que acabam absorvidos mais pelos alunos externos. Juntamente com o pastor auxiliar, temos ido aos dormitórios fazendo contatos com os alunos e atendendo os interessados que surgem. Alguns professores também dão estudos bíblicos e, muitas vezes, já nos apresentam os alunos prontos para o batismo.

MINISTÉRIO: Que tal a resposta da igreja às investidas missionárias?

PASTOR ROBSON: Como em todo lugar, há um grupo relativamente pequeno que se envolve. E que, obviamente, não chega a ser a maioria. Em nosso caso, não temos o culto de domingo, que é o culto evangelístico. Quarta-feira, somente os alunos assistem. Então aproveitamos o sábado para promover os programas, distribuir material e incentivar a participação.

MINISTÉRIO: No seu modo de ver, os resultados em batismos são satisfatórios?

PASTOR ROBSON: A igreja tem um alvo de 130 batismos por ano, e, graças a Deus, nos últimos dois anos chegamos a perto de 150. Neste ano, repetiremos o feito. Para uma igreja com características tão peculiares, isso é satisfatório.

MINISTÉRIO: O púlpito de sua igreja representa uma preocupação especial?

PASTOR ROBSON: A igreja do IAE é altamente exigente em relação ao púlpito. Diante de uma mensagem considerada imprópria ou fraca, a cobrança é imediata e forte. O povo está acostumado a ouvir bons pregadores. Até pouco tempo, estavam aqui os professores de Teologia. Mas ao longo do meu ministério, o púlpito sempre foi a prioridade número um, mesmo em igrejas menores. Não me lembro de ter assumido o púlpito num sábado sem estar devidamente pre-parado. Essa preocupação permanece. Para se ter uma idéia, gasto invariavelmente cerca de 15 a 20 horas no preparo de um ser-mão para a igreja do IAE, entre pesquisas, reflexão, e a própria redação da mensagem. Às vezes gasto até mais tempo. Nunca menos. Mas isso é uma necessidade indispensável. Na semana em que vou pregar, reduzo vários outros compromissos, para dedicar mais tempo ao preparo do sermão. O cuidado se estende também à escolha de outros pregadores. A igreja necessita de bom alimento espiritual.

MINISTÉRIO: O senhor acha que a Igreja está correspondendo às expectativas do jovem moderno?

PASTOR ROBSON: Embora reconheça que a Igreja esteja se esforçando bastante, acredito que ainda necessita fazer muito mais. É admirável o esforço dos departamentos em produzir material, mas a juventude está atravessando uma fase muito difícil. As pressões do materialismo e secularismo são muito fortes e, realmente, não é fácil oferecer um programa atraente a essa juventude. Aqui, temos buscado envolver os jovens do internato e os do externato, nas diversas programações. Então há uma soma de idéias que fortalece o conteúdo daquilo que procuramos oferecer aos jovens da igreja. No entanto, jamais devemos esquecer que a necessidade básica do jovem é Cristo. A igreja pode e deve ter atrações para o jovem. Mas o principal é encaminhá-lo a Cristo.

MINISTÉRIO: Qual o perfil de um pastor para os jovens?

PASTOR ROBSON: Esse perfil deve ter, em resumo, três características básicas: primeiro, o pastor deve ser cristão, para poder inspirar o jovem. O jovem precisa sentir que pode confiar no pastor, como um homem que se relaciona bem com Jesus. Ele gosta de que o pastor brinque, participe de atividades sociais ao seu lado, mas quer encontrar no pastor uma fonte de auxílio espiritual. Depois, deve ser amigo dos jovens. Ele pode até ser um bom pastor, e ao se aproximar dos jovens será bem recebido, por cortesia e respeito. Mas se não for amigo, os jovens não vão se abrir para ele. A terceira característica é coerência. O pastor tem de ser muito coerente. Mesmo que o pastor esteja se esforçando para agradá-lo, em alguns momentos, o jovem percebe facilmente a incoerência, em outras ocasiões, quando sente distanciar-se o apoio do pastor.

MINISTÉRIO: Entre as coisas que o jovem questiona às vezes, está a liturgia da igreja. Aí surge a questão do culto Celebration. Que acha disso?

PASTOR ROBSON: Eu tenho ouvido diferentes idéias e opiniões sobre o movimento Celebration. São críticas e elogios. Pelo que já ouvi e li, cheguei à conclusão de que o movimento surgiu como reação à frieza do culto tradicional. Com base nisso tudo, acho que devemos encontrar um ponto de equilíbrio. Nem a frieza tradicional, nem o exagero do Celebration. Precisamos ser afetuosos, atenciosos e carinhosos para com os visitantes e participantes do culto. Parece que esse envolvimento é um ponto forte do movimento. Podemos, sim, tornar nossos cultos mais alegres, com boa música, sermões de acordo com a realidade do dia-a-dia, mais vibrantes, dentro dos limites da ordem e da decência.

MINISTÉRIO: Qual o fato mais gratificante destes cinco anos de pastorado no IAE?

PASTOR ROBSON: O que mais me gratifica aqui, e em todo o meu ministério, é poder acompanhar e trabalhar com algumas pessoas, adultos ou jovens, e vê-las sair da apatia para o envolvi-mento com a igreja. É claro que levar uma pessoa ao tanque batismal significa muito. Enche o coração de qualquer pastor. Mas o que, particularmente, me faz vibrar mesmo é ver pessoas desse tipo recuperar o entusiasmo e a alegria de participar. Restaurar a confiança na igreja e no ministério. Voltar a viver a alegria de redescobrir o verdadeiro relacionamento com Jesus. E desfrutá-lo plenamente.

MINISTÉRIO: Poderia citar uma experiência, que considera marcante, em seu trabalho ?

PASTOR ROBSON: Estou lembrando do caso de uma jovem com sérios problemas familiares. Fui procurado por uma pessoa da igreja, que me falou a seu respeito, pedindo ajuda para a jovem, que já se envolvera com drogas e mantinha relacionamentos bastante duvidosos. Procurei-a, tentando fazer amizade, convidei-a para nossos acampamentos, programas do Encontro J.A., e pouco a pouco ela começou a mostrar sinais de mudança. Dona de uma boa voz, logo foi convidada para cantar, o envolvimento foi crescendo e a transformação aconteceu. Hoje, ela participa como professora de uma unidade da Escola Sabatina. Para mim, são experiências assim que considero marcantes para meu ministério.

MINISTÉRIO: Que critérios deveriam nortear o relacionamento de um pastor com sua igreja?

PASTOR ROBSON: Eu entendo que a igreja pode ser liderada segundo dois modelos básicos: o modelo centralizador, onde o pastor dita as ordens e os membros obedecem de maneira automática. Isso funciona muito bem num quartel ou numa delegacia. Mas, atualmente, já não encontra respaldo numa igreja. Se no passado foi eficaz, não é mais o caso hoje. O outro modelo, poderiamos chamar de modelo empresarial, em que a igreja é uma empresa espiritual, e o membro é um cliente. Assim como as empresas seculares se empenham em conquistar seus clientes, a igreja deve também se esmerar para conquistar seus clientes espirituais – membros e visitas. Isso exige maior esforço, por parte do pastor, no sentido de ser cativante e procurar oferecer uma variedade de serviços que contribuam para o bem-estar do público. A igreja não deveria ser como algumas lojas onde só se encontra um determinado tipo de produto, mas como um supermercado, onde existe variedade. Aí, uma pessoa encontra o que desejar. Assim é a igreja. Toda pessoa deveria sentir-se bem ao procurar e encontrar nela aquilo que lhe faz bem. Em suma, o pastor deve fazer tudo para agradar a sua igreja. Nada de imposições, nada de “fazer média” com quem quer que seja, em detrimento de sua igreja. Ele deve servir à igreja.

A igreja não é um quartel, nem uma loja de um só produto. A igreja deve ser um supermercado de variedades.

MINISTÉRIO: Dê uma mensagem aos nossos leitores.

PASTOR ROBSON: Duas coisas: certa ocasião, li um pensamento, segundo o qual o risco do fracasso é o preço do sucesso. O pastor deve estar disposto a correr riscos, até de fracassar, mas deve empreender grandes coisas. Se tiver medo do fracasso, acaba não fazendo nada. A outra coisa é relacionada com minha visão a respeito do ministério. O ministério é um milagre da graça de Deus. Somos pastores dependentes dessa graça, portadores de falhas próprias da humanidade, mas aos quais Deus conferiu o privilégio de levar a outras pessoas a salvação de que nós mesmos carecemos. Isto só é possível através de um milagre divino. É um milagre Deus conduzir Sua Obra na Terra, preparar um povo para a volta de Jesus Cristo, através de homens imperfeitos como nós. Esta realidade deve infundir-nos um sentimento de dependência dEle, em todas as nossas ações. Nada é feito ou conseguido por nós mesmos. E por isso também devemos ser-Lhe constantemente agradecidos.