“Eu queria falar sobre o meu filho”, disse a mãe com profunda preocupação. “Sabe, pastor, não sei o que fazer com ele. Perdemos o controle sobre ele. Não quer colaborar com nada em casa, dorme o tempo todo, ou fica ouvindo música com aquelas coisas no ouvido. E agora, para complicar mais, nega-se a acompanhar-nos para as reuniões. Diz que não se interessa mais por nada. Por favor, ajude-me!”
Aí está o pastor diante de uma situação para a qual ainda não tem saída. Decide ter uma entrevista com o garoto. No dia marcado, encontram-se frente a frente, na sala pastoral. Tenta dar algumas orientações para que pense mais em seus pais, e procure acompanhá-los à igreja. Sugere que se integre ao grupo de jovens, mas fica horrorizado quando ouve as acusações que faz à sua família. Dá mais alguns conselhos, pondo a mão no ombro do rapaz, e encerra o encontro.
É claro que nenhuma mudança acontecerá como resultado dessa entrevista. Simples-mente porque o pastor não dispunha de outros elementos, além de sua atitude estereotipada e paternalista.
Não é fácil trabalhar com adolescentes; porém, fazê-lo é um desafio emocionante e sem dúvida compensador. A sociedade de consumo descobriu que os adolescentes são um tremendo mercado potencial de música, roupas, drogas, diversões, carros, motos, eletrodomésticos, etc. Os movimentos revolucionários têm em suas fileiras um grande número de adolescentes, capazes de dar a vida por suas idéias.
A adolescência como etapa da vida é um tanto desordenada, porque busca a auto-afirmação, o encontro da própria personalidade, compondo-se de várias fases. Hoje, devido às modernas formas de vida, estima-se que seu início aconteça entre 12 e 13 anos, prolongando-se quase até os 24.
Por razões didáticas, limitaremos nossos comentários ao período da adolescência propriamente dita, ou à sua primeira fase: a do crescimento físico-biológico, das adaptações e das grandes controvérsias, que termina por volta dos 17 anos. Ao lado disso, indicaremos algumas condições de liderança pastoral, que possibilitem uma tarefa produtiva.
Líder qualificado
Quem quer que trabalhe com adolescentes necessita possuir certas qualidades especiais, que tomarão mais frutífero o trabalho realizado. Um pastor, ou qualquer outro líder, que não pondere as atitudes estereotipadas de adulto para com um adolescente, com certeza fracassará em sua tarefa. Algumas condições devem ser levadas em conta:
• Preferencialmente, um casal deve trabalhar com adolescentes. Assim poderá ser-lhes apresentado um modelo heterossexual sem distorções. Quando apenas uma pessoa assume a tarefa, ela poderá enfrentar problemas em virtude de não poder relacionar-se profundamente com outro sexo, dificultando, dessa forma, o desenvolvimento heterossexual do adolescente.
• O líder necessita ser solidamente amadurecido, pois será visto como modelo.
Amor, flexibilidade e paciência são indispensáveis. Amor para aceitar o adolescente como ele é, e envolver-se constantemente em cada atividade. Paciência para recomeçer tudo de novo, se necessário; dar-lhe outras oportunidades de recuperação e, mais importante, ouvir suas confissões. Flexibilidade para aceitar as constantes mudanças. Sem isso, o jovem perceberá que não é aceito, mesmo que lhe seja dito o contrário.
O líder precisa conhecer o adolescente, suas características físicas, sociais e emocionais; suas formas de pensar, seus ideais e especialmente seu código de comunicação.
Deve possuir preparo para saber quais são as necessidades, os ideais e conflitos do adolescente, bem como os meios de solucioná-los.
Livrar-se dos clássicos estereótipos da adolescência, tais como: “o adolescente é perigoso ou está em perigo”; “só pensa em sexo”; “é um indivíduo sem adaptação”; “é um objeto perdido na idade adulta”. Em muitos casos o adolescente já incorporou esses estereótipos em si mesmo.
Não desenvolver uma atitude paternalista ou diretiva, mas apresentar-se como alguém com quem o adolescente pode interagir com confiança. Isso facilitará o intercâmbio de idéias, expressão dos problemas pessoais, familiares ou sociais.
O líder deve possuir empatia. Essa qualidade é essencial para se trabalhar com êxito.
Além e acima de tudo isso, o líder necessita possuir o amor de Cristo. Se ele é um jovem, poderá fazer o trabalho com mais facilidade. Porém, se é um veterano, talvez encontre dificuldades, pois não lhe será fácil mudar suas atitudes e maneira de pensar, para que possa entender e vivenciar as atitudes e os pensamentos de um adolescente.
Esta fase é um período de crise, que leva à procura de um novo equilíbrio da personalidade. Como esse processo acontece dentro de uma sociedade mutável, nós enfrentamos dois problemas: a crise da adolescência na sociedade em que está inserida, e a crise da sociedade da qual todos participamos. O pastor deve considerar tais elementos, a fim de poder entender o adolescente em sua totalidade. As características desumanizantes e liberais da sociedade impedem que o adolescente administre o conflito num plano institucional e social. No entanto, a Igreja, como comunidade, deve oferecer um meio estável, moderado e humanizante, através do evangelho de Cristo.
Busca de identidade
Ao entrar na adolescência, o indivíduo enfrenta um problema – a perda do seu corpo de criança. Cresceu, perdeu a antiga agilidade, e está sempre cansado. Como às vezes não compreende o que aconteceu consigo mesmo, necessitará de muita paciência e compreensão. Deverá ser tratado como pessoa, e auxiliado, para que o grupo não o menospreze por causa das mudanças físicas, tiques, fobias e nervosismo tão característicos dessa fase.
O desconhecimento do corpo e a falta de agilidade podem ser superados com atividades esportivas e artísticas. O adolescente necessita de muita atividade e exercícios com o seu corpo, bem como aprender a expressar-se com ele. A ginástica, os esportes em grupo, natação e o atletismo ajudarão na for-mação física e na busca de identidade.
Algumas anormalidades podem acontecer com certa freqüência, mas o líder deve estar preparado para enfrentá-las. Durante essa fase, os juvenis freqüentemente sentem dores de cabeça ou estômago, puxam os cabelos ou roem as unhas. Entre os 12 e 14 anos, no caso das meninas, acontece a menarca. Ninguém precisa assustar-se demasiadamente porque uma menina se junta aos garotos em brincadeiras e jogos, e mostra pouca feminilidade; nem porque os garotos se juntam em grupos e se mostram hostis para com as garotas. São características próprias do período.
O menino tem dificuldades nos seus movimentos. Alguns são inquietos, possuem grande voracidade e não são muito íntimos da limpeza. Andam com o cabelo desalinhado e a roupa desarrumada. O pastor desses meninos e meninas precisa cuidar em orientá-los; sem dizer-lhes o que os pais constantemente dizem, para não fracassar em seu trabalho.
Os adolescentes gostam de usar uma linguagem diferenciada e, muitas vezes, incorreta. Parecem ter necessidade de se vestir uniformemente. Isso acontece porque não têm ainda uma identidade pessoal definida, e assim se identificam com a moda coletiva. Sentem-se parte de um grupo. Se a igreja não lhes oferece ajuda na busca de uma identidade positiva, vão procurá-la em outro lugar, na primeira esquina, onde possivelmente estarão homossexuais, drogados, assaltantes e delinqüentes. O jovem prefere ser mau do que não ser nada. Necessita de modelos, e é importante que a igreja ofereça modelos de líderes, inspirados em exemplos bíblicos, os quais serão imitados.
No começo da adolescência, as amizades são idealizadas e escolhidas dentro do grupo do mesmo sexo. Portanto, é muito importante que a escolha seja feita dentro de um grupo cristão. Também existe a possibilidade de atração pelo sexo oposto, surgindo uma repentina paixão. Na maioria dos casos essa paixão mantém-se passiva, embora a sociedade esteja incentivando, e até forçando, a iniciação precoce no amor e no sexo. Esse aspecto do desenvolvimento não deve ser perseguido e nem incentivado. Não é pecado que um adolescente goste de uma garota, e logo em seguida goste de outra, ou vice-versa. Trata-se de uma necessidade para seu desenvolvimento normal. Pais, pastores e líderes devem, entretanto, levantar princípios que funcionem como barreira à promiscuidade.
O adolescente está em luta porque “perdeu” os pais de sua infância. Aqueles que eram perfeitos e tudo podiam, são vistos agora como passíveis de engano. Conhecer isso é importante, para que o líder não se assuste nem se escandalize com as acusações que os filhos fazem aos pais. O pastor não deve se colocar no lugar do pai, como rígido controlador, mas apresentar-se como companheiro afetuoso e discreto, como uma ajuda na busca da autonomia do adolescente.
Identidade sexual
Durante a fase pré-adolescente, verifica-se um aumento qualitativo de uma pressão instintiva, que dá início ao desenvolvimento da função genital. Se o adolescente não recebeu instruções claras e precisas sobre a sexualidade, deverá receber exatamente neste momento de transição. Do contrário, ele as receberá na rua, ou através dos colegas na escola, de forma distorcida e deteriorada.
Se o líder não se acha um especialista neste campo, deve convidar alguém em melhores condições. Um médico por exemplo, se encarregaria dos aspectos físicos e biológicos, enquanto o pastor falaria sobre ética e moral sexuais. É bom lembrar que o adolescente vive uma fase de contestações, na qual até mesmo as orientações bíblicas podem ser questionadas.
Ao trabalhar com adolescentes, o pastor não deve colocar-se no lugar do pai, como rígido controlador, mas apresentar-se como amigo afetuoso e discreto.
A formação de grupos heterossexuais de adolescentes é uma premissa fundamental para o desenvolvimento da personalidade, pois lhe dará condições de estabelecer sua identidade sexual. Um grupo de garotos poderá ser prejudicial, pois acentuará características homossexuais. No entanto, um grupo misto deveria ser dirigido por um casal, para que cada componente possa ter seu modelo e confidente. Nenhuma atitude da parte do líder deve ser tomada no sentido de forçar a formação de tais grupos. Os próprios adolescentes tomarão a iniciativa.
Como nesta etapa verifica-se um aumento da energia sexual, o pastor necessita desenvolver uma programação que lhes ajude a sublimar essa energia, canalizando-a para outras atividades, físicas e esportivas. Mas existem outros tipos que podem ajudar, como a arte, trabalhos manuais e a intelectualização. Sempre haverá alguns que adotam atitudes puritanas, rejeitando tudo o que esteja vinculado à música, aos esportes e à recreação. Mostram-se demasiadamente preocupados com a alimentação e acordam cedo. Tudo isso para mortificar a carne. Nada há de errado em tais atitudes, mas não são normais na adolescência. Nesse caso, o adolescente envolvido deverá ser orientado a viver normalmente em relação aos de sua idade.
As faculdades intelectuais dos adolescentes se desenvolvem mais rapidamente do que imaginamos, e cedo começam a discutir temas abstratos como amor, amizade, casamento, política e liberdade. Espera-se que o líder tenha bom conhecimento desses assuntos, para tratar com eles numa perspectiva bíblica, oferecendo literatura de interesse. Esta é uma ocasião que não deve ser desperdiçada, na qual temas básicos para a vida podem ser debatidos sob um enfoque bíblico.
Um dos pontos interessantes é o gosto por ser igual ao grupo a que pertence. Tal atitude protege o jovem de suas ansiedades. Sendo igual ao grupo, estará protegido da ridicularização, e assim estará de bem consigo mesmo e com o próprio grupo. É preciso ter cuidado para não dividir o grupo. Por exemplo, um garoto que começa a se afastar porque está ficando gordo e tem medo de ser ridicularizado, passará a ter uma vida solitária, que lhe trará futuramente sérios problemas de relacionamento. O papel do líder é integrar o grupo.
Outra situação que o adolescente encontra para regular suas tensões instintivas é a masturbação, muito freqüente entre meninos e meninas. Como diz Paul-Eugéne Charbonneau, em seu livro Adolescência e Sexualidade, a porcentagem de adolescentes que iniciam sua puberdade masturbando-se é extremamente elevada. Porém necessitamos ter em mente que não é porque um grande número de pessoas fazem uso de uma determinada prática que ela deva ser considerada normal. À medida em que se desenvolve o amadurecimento heterossexual, esse problema deve ser superado. Sempre que for possível, ele deve ser tratado de forma individual, com oferecimento de ajuda de acordo com as necessidades, sem levar ao ridículo ou aumentar a inibição.
O desenvolvimento físico e intelectual de um jovem exige que se proporcione uma série de atividades que sejam construtivas para ele. O lugar onde são realizados os encontros deve possibilitar a prática de vários esportes. Se a igreja não oferece condições, que seja providenciado outro lugar. Na medida do possível, durante os jogos deverão ser criadas condições para que garotos e garotas participem juntos da mesma atividade, proporcionando assim, maior integração entre ambos os sexos.
Como apreciam também aventuras, os acampamentos serão sempre bem aceitos pelos adolescentes. Além de saídas em grupos para passeios ou trabalhos comunitários. Se houver possibilidade, um conjunto musical, vocal ou instrumental poderá ser um bom motivo para ter os adolescentes envolvidos em alguma atividade. Uma biblioteca com livros que atraiam seu interesse também é importante.
Cristo é sempre muito bem aceito pelo adolescente; desde que seja visto na vida dos pais e dos líderes.
Finalmente, a adolescência é uma fase em que Jesus Cristo será muito bem aceito, desde que o cristianismo seja vivido pelos pais e pelos líderes. As decisões tomadas nessa fase perduram por toda a vida.
Sugestões finais
Após estas considerações, achamos por bem sugerir algumas coisas, conforme segue:
Realização de estudos, conferências ou reuniões, onde sejam discutidos temas interessantes como amizade, amor, política, vocação, liberdade, autoridade, justiça, namoro, casamento, sexualidade, guerra, democracia; enfatizando o ponto de vista da Bíblia sobre todos esses assuntos, como solução para os problemas do ser humano.
Realização de classes sobre o desenvolvimento sexual do homem e da mulher. Nessa ocasião, os participantes deverão estar separados por sexo, principalmente se forem pré-adolescentes, o que lhes dará mais liberdade de expressão.
Criar condições de participação dos adolescentes em algum serviço de orientação vocacional.
Evangelização. Esse é um dos trabalhos mais difíceis de ser feito, se o líder não for espontâneo e dedicado.
O pastor, ao trabalhar com adolescentes, poderá ver em cada um deles a consolidação de uma personalidade firme, de um caráter nobre, que sem sombra de dúvida estará sendo formado para a eternidade. O líder que proporcionou as condições favoráveis para tal amadurecimento estará então recebendo as bênçãos e recompensa do trabalho realizado. O trabalho não é fácil, mas Deus pode conceder sabedoria para realizá-lo.