O mundo dá mostras de fadiga social, política e econômica. Diante de nós, cumprem-se rapidamente os sinais da volta de Jesus, e esse acontecimento sempre é apresentado como condicionado à conclusão da missão de pregar o evangelho. Que deve fazer a Igreja diante de tal constatação?

Parte da história da Igreja primitiva mostra que a resposta a essa pergunta é simples. Refiro-me aos dias que sucederam à morte de Cristo. Decepcionados com a humilhante morte de seu Senhor, os discípulos entregaram-se ao desapontamento e desânimo, pois “quando Jesus foi crucificado, eles não creram que ressurgisse” (Atos dos Apóstolos, pág. 25). Estando eles reunidos no cenáculo, Jesus lhes apareceu e com palavras animadoras os resgatou da decepção, dando-lhes uma missão. Persistiu, porém, um vazio, pois não bastava a convicção do dever; necessitavam de poder para fazer o evangelho penetrar o coração de pessoas arraigadas no pecado e no erro.

O materialismo crescente, a crueldade das classes dominantes, as barreiras lingüísticas e o exclusivismo religioso dos judeus criavam obstáculos humanamente intransponíveis ao evangelho. Mas, apesar de tudo, os discípulos tinham uma missão e não podiam fracassar.

O exemplo israelita

O desastre na tentativa de tomada de Ai, muitos anos antes, ilustra bem o perigo diante do qual os discípulos agora se encontravam. Após a destruição de Jericó, os israelitas, cheios de confiança própria e desconsiderando os desafios, partiram com um pequeno exército para tomar aquela cidade. Poderia ter sido uma grande vitória, mas não foi assim. Eles, no dizer de Ellen White, “deixaram de compenetrar-se de que somente o auxílio divino lhes poderia dar êxito” (Patriarcas e Profetas, pág. 521).

Nessa e em outras muitas ocasiões, o povo escolhido provou o gosto amargo de confiar em si mesmo. A história não poderia repetir-se com os discípulos de Cris-to, e para que isso não ocorresse, eles “precisavam receber o dom celestial” (Atos dos Apóstolos, pág. 31). Jesus não os deixou sair apressadamente, sem a capacitação do Espírito Santo. A ordem foi dada: “Eis que envio sobre vós a promessa do Meu Pai, permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Luc. 24:39).

Só Cristo pode enviar o poder do Espírito Santo. Nossos olhos devem dirigir-se a Ele, e nEle devem concentrar-se todas as nossas esperanças.

Para um mundo que vive apressado, a ordem “permanecei, pois na cidade”, pode soar um convite à inatividade, mas era uma atitude absolutamente necessária para o sucesso da comissão evangélica. A grande questão levantada na segunda parte do verso é a condição para o recebimento do Espírito. Está claro que tal condição é basicamente ligada à comunhão mantida com Jesus. Através dessa comunhão, os discípulos colocaram-se exatamente onde precisavam estar para que a promessa neles se cumprisse.

Não vejo possibilidade do Espírito San-to ter sido derramado sobre os discípulos, se estes, na qualidade de ministros, estivessem afoitamente envolvidos em negócios seculares e não tivessem permanecido em comunhão com Cristo. É através dessa comunhão que O contemplamos, “e em Sua contemplação será esquecido o próprio eu” (Caminho a Cristo, pág. 45). Quando o eu é esquecido, negam-se alvos particulares, abrindo-se, em lugar do egoísmo, a solicitude pelo bem da Igreja. Os discípulos precisavam passar por essa experiência, a fim de terem o sucesso garantido na missão que lhes fora confiada.

A comunhão com Cristo é, para nós, arautos da verdade, tão indispensável quanto foi para os discípulos, e embora estejamos inevitavelmente envolvidos no corre-corre da vida, não podemos esquecer que Jesus nos chama à parte, desejoso de estar conosco. É através dessa ligação vital que se abrirão os canais para a nossa unção no Espírito Santo.

Todos os recursos disponíveis são nada, sem o poder do Consolador. Todos os métodos não passam de frios esquemas, sem a Sua direção. Tentar concluir a Obra sem o Espírito é candidatar-nos ao fracasso.

Poder do alto

Após apresentar-nos a Jesus como a fonte do cumprimento da promessa do Espírito, e a comunhão com Ele como a condição para a sua concretização, a última parte do verso de Lucas implica uma séria advertência: “Até que do alto.” A tendência de apegar-nos aos recursos humanos, desprezando o poder que vem do alto, é reprovada pelo Céu. Nossa força vem do alto. É inútil buscá-la aqui embaixo.

Todos os recursos disponíveis são nada, sem o poder do Consolador. Todos os métodos não passam de frios esquemas, sem a Sua direção. Tentar concluir a Obra sem a Sua capacitação é candidatar-nos ao fracasso. Não podemos inverter a ordem das prioridades, sob pena de pagarmos um elevado preço: “a ausência do Espírito é que toma tão destituído de poder o ministério evangélico. Pode possuir-se erudição, talento, eloqüência ou qualquer dom natural ou adquirido; mas, sem a presença do Espírito de Deus, nenhum coração será tocado, pecador algum será ganho para Cristo.” {Testemunhos Seletos, vol. III, pág. 212). É-nos dito ainda: “Os que se acham vazios do Espírito Santo não podem ser atalaias fiéis so-bre os muros de Sião; pois estão cegos quanto à obra que deve ser feita, e não dão à trombeta um sonido certo.” {Mensagens Escolhidas, vol. III, pág. 57).

“O que precisamos é o batismo do Espírito Santo. Sem isto, não estamos mais habilitados a sair ao mundo do que estavam os discípulos depois da crucifixão do Senhor.” {Mensagens Escolhidas, vol. I, pág. 411).

Neste momento decisivo da História, restanos uma saída vitoriosa. Através da comunhão com Cristo, estaremos colocados exatamente onde o Espírito Santo pode nos ungir, pois, somente assim podemos ter sucesso na finalização de nossa tarefa missionária.