Que é política? Ela pode ser definida como a arte de governar e ditar leis e regulamentos, com o fim de manter a tranqüilidade e a segurança pública, a ordem e os bons costumes. Nesse sentido, podemos falar de política de Estado, política educativa, política empresarial, política familiar e também política eclesiástica.

Nossa filosofia de política deve estar baseada em princípios estabelecidos nas Escrituras Sagradas expressados nos seguintes textos: Dan. 2:21; 5:21; 4:17; Mat. 22:16; João 19:11; Atos 5:28 e 29; Rom. 13:1 a 7 e 17; Tito 3:1; I Tim. 2:1 a 3; II Ped. 2:13 a 17.

A idéia prevalecente nessas passagens bíblicas é a mesma enfatizada por Jesus, no sentido de “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mat. 22:18 a 21). O apóstolo Paulo insta com os cristãos a que se submetam à ordem constituída (Rom. 13:1 a 6). Lembremo-nos de que a carta aos romanos foi escrita em algum momento entre os anos 57 e 58, época em que Nero governava o Império.

Devemos, pois, nos sujeitar à autoridade constituída (Tito 3:1). E, em I Ped. 2:13 a 16, está escrito que devemos nos sujeitar a toda autoridade. Paulo, aconselhando a Timóteo, afirma que devemos orar pelas autoridades (I Tim. 2:1 e 2).

A Bíblia contém exemplos de homens leais a Deus, que atuaram em governos do mundo colaborando para o bem-estar da comunidade. José serviu no Egito, como primeiro-ministro. Daniel, nos reinos de Babilônia e Medo-Pérsia. Neemias e Esdras atuaram na Pérsia.

Os melhores cidadãos de um país deveriam ser os cristãos e, entre os cristãos, os adventistas deveriam ser um exemplo de amor à pátria e de colaboração para seu engrandecimento, com o melhor de suas forças, bem como para o bem-estar da comunidade nas áreas da educação, da saúde, da assistência social, em todos os níveis permitidos e possíveis.

Em caso de conflito com os princípios bíblicos e as exigências políticas, a posição a ser tomada está bem definida nas palavras de Jesus – “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” – e no exemplo de Pedro: “… Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus”; “… Antes importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 4:19; 5:29).

“Jesus mandou aos Seus discípulos que em vez de se opor às ordens das autoridades, deveriam fazer mais do que se requeria deles. No possível, deveriam cumprir toda obrigação, além do que exigia a lei do país”, diz Ellen White no livro O Maior Discurso de Cristo, pág. 62.

O cristão e o voto

Como deveria o cristão se relacionar com o processo político de votar? A resposta parece clara. O cristão deve ser um bom cidadão. Tem a obrigação de fazer a sua parte para ter um bom governo. E a única maneira de tomar isso possível é através do voto.

Os adventistas nem sempre concordaram com essa posição. Nos anos imediatamente após 1844, muitos entre eles achavam que não deveriam se envolver com política. Sendo que Cristo estava voltando naqueles dias, não havia necessidade de buscar ocupar cargos eletivos, muito menos votar. Alguns pensavam que seus esforços em política não resultaria produtivo. Nada mudaria. Se todas as indicações proféticas apontavam para uma deterioração cada vez maior do mundo, não seria necessário votar.

Outros ainda argumentavam, defendendo a idéia de marginalização política em virtude do lugar ocupado pelos Estados Unidos no quadro profético. Um voto errado confirmaria a formação da imagem da besta, pensavam eles. Um voto certo retardaria o cumprimento da profecia. Então, o melhor que se poderia fazer era deixar de votar.

No entanto, em 1859, uma eleição municipal em Battle Creek forçou os primeiros adventistas a olharem todos os lados da responsabilidade cristã para com a sociedade e o governo. Em 1865, a Associação Geral recomendou o seguinte: “Em nosso julgamento, o ato de votar, quando exercido a favor da justiça, da humanidade e do direito, é em si mesmo correto, e, muitas vezes, altamente apropriado. Mas recriminamos qual-quer participação de espírito partidário.” (Review and Herald, 23/05/1865).

Os melhores cidadãos de um país deveriam ser os cristãos e, entre os cristãos, os adventistas deveriam ser um exemplo de amor à pátria e de colaboração para o seu engrandecimento.

O maior probl-ma que os cristãos enfrentam ao votar é a falta de onisciência. Mesmo que votem inteligente e conscienciosamente, podem cometer enganos. Todavia, isso é verdade em todas as áreas da vida. Deveriam os cristãos agir unicamente quando têm absoluta certeza de que estão certos? Se fosse assim, até mesmo a Igreja paralisaria, porque humano algum é infalível. Muitos deixariam de fazer alguma coisa, com medo de errar, enquanto Satanás e suas forças ocupam todo o campo com suas estratégias.

Ao votar, como em qualquer outra atividade, o cristão deve buscar sabedoria divina, e então fazer o seu melhor. Além da obrigação, votar é um direito patriótico do cidadão. O cristão não deveria encará-lo superficialmente, tampouco ser apático.

Ellen White diz o seguinte: “O Senhor quer que Seu povo enterre as questões políticas… Não podemos com segurança votar por partidos políticos, pois não sabemos em quem votamos … Deixai essas questões em paz … É um engano de vossa parte o ligar vossos interesses com qualquer partido político, dar o vosso voto com eles ou por eles.” (Obreiros Evangélicos, págs. 391 a 393).

Tais declarações não excluem a obrigação de votar. Pelo contrário, condena o voto indiscriminado. Ao votar, deve o cristão levar em conta as qualificações do candidato e não o partido ao qual pertence. Quando votamos inteligentemente, estamos assumindo uma responsabilidade de colocar alguém num cargo público. É oportuno lembrar que as questões políticas não devem ser levadas para dentro da igreja.

O cristão no governo

O crente não apenas deve votar em boa consciência, mas também pode ocupar cargos públicos. Nesse sentido, duas declarações de Ellen White merecem cuidadoso estudo. Lemos, no livro Educação, pág. 262: “Muitos jovens de hoje, que crescem como Daniel no seu lar judaico, estudando a Palavra de Deus, e aprendendo as lições do serviço fiel, ainda se levantarão nas assembléias legislativas, nas cortes de justiça, ou nos paços reais, como testemunhas do Rei dos reis.” Essas testemunhas não têm ação limitada a apresentações ocasionais em favor de problemas específicos. Na realidade, inclui participação em decisões legislativas.

Diz mais a Sra. White: “Querida mocidade, qual é o alvo e propósito de vossa vida? Tendes a ambição de educar-vos para poderdes ter nome e posição no mundo? Tendes pensamentos que não ousais exprimir, de poderdes um dia alcançar as alturas da grandeza intelectual; de poderdes assentar-vos em conselhos deliberativos e legislativos, cooperando na elaboração de leis para a nação? Nada há de errado nessas aspirações.” (Mensagens aos Jovens, págs. 36 e 37).

Essa declaração foi feita durante uma palestra de Ellen White, dirigida aos professores e estudantes do Colégio de Battle Creek, em 15 de novembro de 1883. Na ocasião, ela continuou explicando as circunstâncias nas quais é próprio aceitar responsabilidades públicas. Mencionou que não devemos nos contentar com realizações mesquinhas, mas lembrou que “o temor do Senhor está na base de toda verdadeira grandeza”. E que “devemos conservar a solidez e pureza de imaculado caráter cristão, mantendo todas as exigências e interesses temporais em sujeição aos reclamos mais elevados do evangelho de Cristo”.

Disse mais: “Como discípulos de Cristo, não sois impedidos de empenhar-vos em prossecuções temporais; mas deveis levar convosco a religião. Amparados pelos princípios religiosos, podeis atingir qualquer altura que desejardes.” É indispensável notar que o ato de “atingir qualquer altura”, deve ser amparado “pelos princípios religiosos”. Na continuidade da palestra, ela aconselhou: “Nunca, porém, cometais o tão grande crime de perverter as faculdades por Deus conferidas para praticar o mal e destruir a outros, disseminar a ruína moral e a corrupção.” Pelo contrário, nossas responsabilidades de-vem ser “amplamente aceitas, e fiel e conscienciosamente desempenhadas”.

Esse discurso de Ellen White foi publicado na Review and Herald, de 19 de agosto de 1884, e está compilado nos livros Fundamentos da Educação Cristã e Mensagens aos Jovens.

O que fica bem claro é o fato de que Ellen White não elimina a possibilidade de um bom adventista galgar postos oficiais eletivos. Ninguém toma lugar em “conselhos deliberativos e legislativos, colaborando na elaboração de leis para a nação”, se não for através do voto, elegendo-se. Assim foi no tempo de Ellen White e continua sendo até hoje.

Uriah Smith, pioneiro da Igreja Adventista e redator da Review and Herald por mais de 50 anos, num editorial, fala que o “Pastor William C. Cage tomou-se prefeito eleito de Battle Creek”. (R&H, 11/04/1882). É pena que não sabemos se foi ou não um bom prefeito.

Governantes bons e maus

A Bíblia tem alguns conselhos extraordinários sobre a questão de servir a um governo civil. Houve bons e justos governantes nos tempos bíblicos, mas também houve alguns que foram cruéis e injustos.

O verdadeiro estadista está muito longe dos políticos corruptos. Muitos homens nobres ocuparam posições de destaque no governo do mundo. Tanto os bons como os maus ocupam posições idênticas no governo. O que faz a diferença? Obviamente, é o homem que faz o seu cargo no governo e não o cargo que faz o homem.

José considerou sua posição no governo do Egito como o resultado direto da intervenção de Deus. Enquanto procurava acalmar o temor dos seus irmãos, disse-lhes: “Deus me pôs por Senhor em toda a terra do Egito … para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós” (Gên 45:9 e 5).

Daniel e seus três companheiros hebreus foram selecionados dentre os cativos da Babilônia para serem treinados e preparados tendo em vista posições oficiais do governo. Eles não rejeitaram as instruções. Daniel foi promovido pelo rei a “governador de toda a província de Babilônia, como também o fez o chefe supremo de todos os sábios de Babilônia”. E ele pediu que os seus três amigos tivessem posições com ele, o que o rei concedeu. (Dan. 2:48 e 49).

Os três companheiros de Daniel foram novamente promovidos em seus cargos oficiais, após a experiência da fornalha ardente.

O próximo governante de Babilônia, Dario, reconheceu a liderança de Daniel, fazendo-o um dos três presidentes de todo o reino (Dan. 6:2). Mais tarde, ele se tomou objeto de inveja e ciúmes dos outros dois presidentes e príncipes, porque Dario considerava tomá-lo o primeiro do reino. Foi jogado na cova dos leões. Passando no teste, satisfatoriamente, ele “prosperou no reinado de Dario” (Dan. 6:28).

Podem mudar os costumes e o tempo, mas o homem continua o mesmo. Todo tipo de corrupção existente hoje, Daniel já enfrentava na corte babilônica. Mesmo sendo acusado por uma máfia, um grupo de homens corruptos, que reconheceu não haver coisa alguma de que pudesse ser acusado, Daniel não recusou nenhuma responsabilidade civil quando foi chamado a servir no governo.

Mordecai, quando lhe foi oferecida a oportunidade de substituir Hamã, tampouco recusou. Algumas poucas gerações mais tar-de, Esdras e Neemias serviram em posições destacadas nos seus respectivos governos.

Submissão

No Novo Testamento, aparece o que podemos chamar “o caráter da responsabilidade civil cristã”: “Todo homem se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus”. À luz dessa afirmação, “aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus”. (Rom. 13:1 e 2, Bíblia de Jerusalém). Nos versos seguintes, 3 a 5, Paulo continua dizendo: “os que governam incutem medo quando se pratica o mal, não quando se faz o bem. Queres então não ter medo da autoridade? Pratica o bem e dela receberás elogios, pois ela é instrumento de Deus para te conduzir ao bem. Se, porém, praticares o mal, teme, porque não é à toa que ela traz a espada; ela é instrumento de Deus para fazer justiça e punir quem pratica o mal. Por isso é necessário submeter-se não somente por te-mor do castigo, mas também por dever de consciência.”

A Igreja mostra seu patriotismo combatendo os vícios, a imoralidade, a poluição ambiental, sonora e televisiva. Ela pode influenciar na defesa da liberdade religiosa, da observância do sábado, e apoiar programas sociais e educacionais.

Pedro colabora com Paulo, afirmando: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como soberano; quer às autoridades como enviadas por ele, … porque assim é a vontade de Deus, … Tratai a todos com honra, amais aos irmãos, temei a Deus, honrai ao rei.” (I Ped. 2:13 a 17).

Tais palavras, tanto de Paulo como de Pedro, foram escritas justamente na sede do Império Romano, no tempo de Nero, por volta de 64 a.D. Apesar do despotismo de muitos governantes, das corrupções, a ordem bíblica é de respeitar as autoridades constituídas. O Seventh-day Adventist Bible Commentary diz que “nenhuma autoridade existe, exceto pela permissão de Deus e sob o Seu controle”.

Discutindo a campanha política que se avizinhava de 1880, num de seus últimos editoriais, Tiago White disse: “Nós como um povo, como adventistas, temos diante de nós um tema altamente absorvente e um trabalho da maior importância, no qual a nossa mente não deve divergir…

“É nosso dever adaptar a nós mesmos, tanto quanto possível sem comprometer a verdade, a todos os que estão dentro da nossa influência, e ao mesmo tempo permanecer livres das lutas e corrupções dos partidos.” (R&H, 11/03/1880).

Um mês antes da morte de Tiago White, os adventistas estiveram reunidos numa campal, em Des Moines, Iowa, durante a qual uma proposta foi colocada diante dos delegados: Ei-la: “Resolvido que expressemos nosso profundo interesse no movimento de temperança que está sendo executado em nosso Estado; e que devemos instruir todos os nossos ministros a usar influência em nossas igrejas e com o povo em geral, para induzi-los a fazer um esforço consistente, por um trabalho pessoal, votando na urna, em favor da emenda proibitiva da Constituição, cujos amigos da temperança estão procurando alcançar.” (R&H, 05/07/1881).

Ellen White, que também estava pre-sente, mas se retirara pouco antes do encerramento, foi procurada para dar sua opinião e conselho. Ela aprovou a resolução e jamais mudou sua posição. Num artigo escrito na R&H, um anos antes da sua morte, ela enfatizou a responsabilidade de cada cidadão exercitar toda in-fluência dentro de sua capacidade, incluindo seu voto, para a obra da temperança e virtude: “Enquanto não é sábio tomar-se envolvido em questões políticas, contudo, é nosso privilégio tomar nossa decisão firmemente em todas as questões relacionadas com a reforma de temperança…”

Ação da Igreja

Sendo que o membro da Igreja Adventista é uma pessoa completamente livre para fazer a escolha do candidato que desejar, cabe à Igreja o dever de orientar seus fiéis.

Ela tem a sagrada missão de demonstrar seu patriotismo através do combate aos inimigos do homem, tais como toxicomania, alcoolismo, tabagismo, prostituição, aids, pornografia, jogo, poluição ambiental, poluição sonora e televisiva, entre outros. A Igreja pode influenciar de maneira singular na defesa da liberdade religiosa, da observância do sábado, e também num amplo programa de beneficência social e educacional.

“Cumpre-nos reconhecer o governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar obediência ao mesmo como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera.” – Atos dos Apóstolos, pág. 69.