Através dos dons espirituais concedidos a cada crente, a Igreja cumprirá tudo para o que foi comissionada por Deus. Nutrição dos membros em cada congregação, pregação do evangelho em todo o mundo, e qualquer outra tarefa legítima será cumprida pela aplicação dos dons espirituais na vida de cada indivíduo.

Por que a Igreja Adventista do Sétimo Dia não tem desenvolvido uma compreensiva teologia de tão crucial aspecto da verdade? A questão é mais intrigante por causa de nossa crença oficial de que um daqueles dons, o de profecia, é uma importante marca de identificação da Igreja (Apoc. 12:17; 19:10). Este artigo busca explorar esse pouco discutido tema. A tese é que uma generalizada incompreensão sobre a distribuição do dom de profecia tem sido, pelo menos parcialmente, responsável por um frustrado ministério de nutrição entre os membros, o que, por sua vez, leva a um sério índice de apostasia (802.995 nos últimos cinco anos).

Crenças fundamentais

A despeito da conhecida antipatia a credos, as crenças fundamentais dos adventistas do sétimo dia foram descritas pela primeira vez, em 1930, por um grupo de quatro pessoas; M. E. Kern, F. M. Wilcox, E. R. Palmer e C. H. Watson. Embora jamais fosse votada por qualquer comissão oficial, a declaração foi impressa em 1931 no anuário denominacional (Yearbook). Nela estava incluso este parágrafo: ‘Deus coloca em Sua Igreja os dons do Espírito Santo, conforme enumerados em I Coríntios 12 e Efésios 4. … Esses dons operam em harmonia com os divinos princípios da Bíblia, e são dados para o aperfeiçoamento dos santos, a obra do ministério, a edificação do corpo de Cristo.”

Vinte anos depois, no anuário de 1951, foram adicionadas as seguintes palavras; “O dom do Espírito de Profecia é uma das marcas de identificação da Igreja remanescente. I Cor. 12:1, 28: Apoc. 12:17: 19:10; Amós 3:7; Oséias 12:10 e 13. Eles [os adventistas] reconhecem que esse dom foi manifestado na vida e no ministério de Ellen White.”

Qualquer que tenha sido a motivação para acrescentar essas palavras 36 anos depois da morte da Sra. White, o resultado é claro: a generalizada compreensão de que o ministério profético de Ellen White constituiu a manifestação do dom de profecia no fim do tempo.

Em 1981, o anuário publicou uma afirmação mais compreensiva sobre dotação espiritual. É dito em parte: “Deus concede a todos os membros de Sua Igreja, em todos os tempos, dons espirituais que devem ser empregados em amoroso ministério para o bem comum da Igreja e da humanidade. … De acordo com as Escrituras, esses dons incluem ministérios como fé, saúde, profecia. … Um dos dons do Espírito Santo é profecia. Esse dom é um sinal de identidade da Igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como a mensageira do Senhor, seus escritos são uma fonte contínua e autoritativa da verdade.”

Essa declaração afirma que membros leigos agraciados com o dom de profecia deveriam ministrar através desse dom; e que Ellen White ministrou e continua a fazê-lo, por seus escritos, através do mesmo dom. Para muitos adventistas isso é um enigma. Eles concluem que não pode haver essa dupla manifestação, e com pouca ou nenhuma reflexão relegam o dom apenas à Sra. White.

Tentando, nos últimos 25, anos ajudar os membros a descobrir seus dons, eu sei quão desconfiados eles se tornam quando confrontados com a possibilidade de também possuírem o ministério de profecia. “Isto não pode ser”, eles dizem, raciocinando que “este é o dom de Ellen White”.

Mas não haveria, porventura, alguma forma de conciliar os dois conteúdos da declaração feita em 1981? Tendo discutido esse tema com centenas de ministros adventistas em aulas do programa de doutorado no Seminário Teológico da Universidade Andrews, creio que o adventismo não tem abraçado a verdade que o dom de profecia é e sempre foi um dos mais disseminados dons do Espírito. E tem de ser assim, porque ele é um dos principais dons de nutrição (ao lado do dom de pastorear) com o qual Deus pretende construir a igreja e manter sua saúde espiritual.

O apóstolo Paulo torna isso claro em suas palavras dirigidas à congregação local de Corinto: “Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis” (I Cor. 14:1): “mas a profecia não é para os incrédulos e sim para os que crêem” (I Cor. 14:22); “porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados” (I Cor. 14:31); e “portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar” (I Cor. 14:39).

Se as palavras de Paulo são verdadeiras, podemos nós assegurar o dom de profecia entre os leigos na congregação local e, ao mesmo tempo, preservar o único e distintivo ministério de Ellen White? Isso é algo que podemos afirmar, porque um compreensivo envolvimento leigo em nutrir espiritualmente e testemunhar nunca será completamente entendido até que compreendamos a múltipla distribuição do dom de profecia.

O ensino bíblico

Tal como outras epístolas do Novo Testamento, a carta aos romanos tem duas seções: doutrina e deveres. E Paulo usualmente faz a ligação entre essas duas grandes divisões com a palavra “portanto”, ou algum termo equivalente, como é o caso do início do capítulo 12; “Rogo-vos, pois, irmãos…” Depois do desenvolvimento do ensino sobre a justificação pela fé, Paulo apresenta uma aplicação lógica. Uma vez que temos experimentado a alegria da salvação pela fé, tendo morrido para o eu e sido ressuscitados para uma novidade de vida, como novas criaturas, somente então podemos iniciar a vida de ministério.

Há grande intencionalidade no uso da expressão “rogo-vos, pois, irmãos” em Romanos 12:1. Elas introduzem a apresentação de Paulo sobre os dons espirituais. Todo aquele que se une à família de Deus, em virtude da justificação pela fé, é dotado para o ministério. Cada um recebe dons e habilidades para ministrar em favor do Senhor Jesus, e esses dons enquadram-se em duas principais áreas: nutrição e testemunho. Romanos 12 nomeia vários ministérios que alguém pode esperar encontrar numa congregação local. Eles incluem serviço, ensino, exortação, liberalidade, liderança, misericórdia, hospitalidade e profecia (Rom. 12:9-13).

Ao ler o sentido claro dessa passagem, não há possibilidade de separar profecia dos outros dons que, segundo Paulo indica, operarão através dos membros da congregação local.

Na primeira carta aos Coríntios, há duas listas de dons. A primeira apresenta dez dons, incluindo profecia (I Cor. 12:8-10). A segunda lista de dons, no fim do capítulo, enumera oito dons e novamente inclui profecia (I Cor. 12:28). O significado é claro quando lemos todas as listas de dons formuladas por Paulo nas cartas aos romanos, efésios, e na primeira endereçada aos Coríntios. Toda congregação local espiritualmente saudável terá pessoas ministrando através dos dons, incluindo o de profecia.

Paulo usa uma ilustração para ensinar sobre os dons espirituais em três passagens do Novo Testamento, nas quais ele discute amplamente o assunto. Ele compara a Igreja ao corpo humano. Embora alguns órgãos sejam indispensáveis ao corpo, nem todos são vitais. É possível viver sem uma orelha, sem um olho ou sem um pé. Sem o coração, porém, o corpo morre. Semelhantemente, os dons de profecia e evangelismo são essenciais. Sem eles a congregação morrerá.

Por exemplo, a utilização que alguém fez do dom de evangelismo no passado não é suficiente para a Igreja hoje, embora ela possa usar a herança deixada na forma de sermões impressos, modelos e técnicas de apelo, etc. Também a utilização do dom de profecia, feita no passado, não é bastante para a nutrição completa da igreja mundial hoje. Necessitamos e podemos experimentar manifestações contemporâneas múltiplas desses dons.

Três esferas

Isso nos leva de volta à questão: se a congregação local necessita de pessoas que utilizem seu dom de profecia (como era o caso dos primeiros cristãos em Corinto, Éfeso e Roma), como nós compreendemos o dom de profecia de Ellen White na Igreja mundial? É óbvio que, num sentido, essas são manifestações do mesmo dom: noutro sentido, são muito diferentes.

Inicialmente, devemos dizer que todo dom do Espírito Santo é apropriado para seu propósito. Embora os dons sejam dados a seres humanos pecadores, finitos, eles são completamente apropriados para seu propósito divinamente estabelecido. Mais de uma década atrás, eu via o dom de profecia como operando em três esferas de influência. Primeira, houve os “homens santos de Deus” que escreveram as Escrituras. Segunda, eu creio que Ellen White foi capacitada por Deus com o dom de profecia (e muitos outros dom igualmente importantes). E terceira, creio que, hoje, como em qualquer outro período da história da Igreja, homens e mulheres são dotados pelo Espírito Santo para exercer o dom de profecia/nutrição da congregação local.

Em cada uma dessas três esferas, o dom de profecia é perfeitamente apropriado para o propósito ao qual foi designado, mas pode haver significativas diferenças nesses propósitos, a depender da situação.

Em cada uma dessas três esferas de influência, o dom de profecia opera em quatro dimensões que são divergentes entre si, e quatro dimensões similares. Vejamos os fatores em comum:

1. Todos os que possuem o dom de profecia falam por Deus, porque esse é um dom espiritual de Deus para falar por Ele.

2. Todos ministram em harmonia com a definição bíblica de dom em I Cor. 14:3, ou seja, o único dom espiritual no Novo Testamento que é definido. Paulo diz que ele é dado para “fortalecer, encorajar e confortar”.

3. O dom de profecia raramente é envolvido com predição de eventos futuros. Há quem afirme que predição é mais o trabalho de um vidente do que um profeta. Comparativamente falando, há pouca predição do futuro nos livros da Bíblia, com exceção de alguns capítulos de Isaías, Daniel e Apocalipse. Mas isso constitui um percentual pequeno das Escrituras. Semelhantemente, o ministério de Ellen White raramente esteve preocupado com predição de eventos futuros, exceto os segmentos escatológicos de 0 Grande Conflito. E também representa um percentual mínimo de seus escritos. Na igreja local, pode não haver qualquer predição do futuro.

4. Os que têm o dom de profecia são completamente inspirados por Deus a cumprir Seus propósitos. Não podem ser parcialmente inspirados. Como resultado, nas três esferas, o ministério profético será apropriado para o propósito estabelecido. O Espírito Santo garante isso na medida em que os mensageiros sejam fiéis ao chamado.

Agora os pontos divergentes:

Duração. Por quanto tempo deve continuar o ministério profético de um indivíduo?

Há mais de três mil anos, os escritores bíblicos começaram a relatar os pensamentos que Deus lhes transmitiu. E o propósito do Senhor era que aquelas palavras continuem sendo a expressão da Sua vontade até o fim dos tempos. O ministério profético desses homens tem se estendido por séculos. Ao contrário, Ellen White surgiu no tempo do fim como uma mensageira especial, com seus escritos sendo relevantes até à vinda do Senhor. Este é um período muito mais curto; até aqui, um século e meio. Na esfera local, o dom opera por um período ainda mais curto; justamente os anos de existência cristã de uma pessoa, ou seja, algumas décadas ou menos.

Ouvintes. A quem o dom é ministrado? Foi o intento de Deus que os escritos bíblicos beneficiassem toda a raça humana. No que tange à Ellen White, ela ministrou à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Não é uma profetisa dos batistas, metodistas, episcopais ou mórmons. Ela é a profetisa dos adventistas. O que não significa que seus escritos não tenham validade para indivíduos de outras crenças, em algum momento. Mas ela é nossa profetisa, aceita por nós como tal. mas não pelo restante do mundo cristão ou não cristão. Esse é um foco mais limitado. No âmbito congregacional, temos, por comparação, um raio de influência muito menor ainda: a congregação local ou mais provavelmente um pequeno grupo dentro dessa congregação.

Propósito básico. Qual o objetivo de Deus em cada esfera de manifestação do dom profético? Os escritores bíblicos enunciaram os grandes princípios eternos sobre os quais é estabelecido o reino de Deus. Tudo na Bíblia, histórias, biografias, poesia, etc., contém esses princípios para guiar o crente e convencer o pesquisador. Ellen White contribuiu para a maturidade da Igreja Adventista, fazendo aplicações atuais desses princípios, levando os membros de volta às Escrituras -uma função formativa. “Pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor deu a luz menor para guiar homens e mulheres à luz maior”, ela escreveu (Evangelismo. pág. 257). Na igreja local, os membros excercem seu ministério fazendo aplicações locais e pessoais.

Símbolos. Na citação acima, Ellen White sugere dois símbolos apropriados para duas das esferas do dom de profecia. O primeiro símbolo é a “luz maior”, como o Sol, que é a Bíblia. Seus escritos são simbolizados pela “luz menor” como a Lua, que reflete a luz do Sol. A manifestação do dom de profecia na congregação local poderia ser simbolizada através da luz da vela.

Nesta altura, tudo o que nós temos é um modelo teórico. Mas os avanços no conhecimento acontecem através do desenvolvimento da teoria. Devemos testar a teoria. E ao fazer isso, encontramos três períodos da História como laboratórios: o Antigo Testamento, o Novo Testamento e os tempos modernos.

Antigo e Novo Testamentos

Uma busca através de aproximadamente 400 referências a profetas ou profecia, no Antigo Testamento, revela cerca de 30 homens e mulheres categorizados como profetas ou profetizas. Apesar disso, muitos dos mais conhecidos entre eles não são chamados profetas, embora o ministério que realizaram para Deus tenha evidenciado a posse do dom. O Novo Testamento pega esse gancho e identifica outros 50 indivíduos do Antigo Testamento como profetas, incluindo Daniel, Jonas, Enoque e Davi.

Durante todos os séculos do Antigo Testamento, de todos aqueles a quem Deus chamou para exercer esse dom especial, apenas 38 pessoas são nomeadas explicitamente profetas ou profetizas. E dos escritores do Antigo Testamento, apenas 50 são realmente chamados profetas.

Este artigo já sugeriu que há três esferas nas quais o dom de profecia opera para benefício da Igreja Adventista hoje; escritores bíblicos, Ellen White, e congregação local.

Nesta altura, pode surgir uma questão: sabiam os escritores bíblicos a importância da sua influência? Provavelmente não. Se fosse assim, suas palavras poderiam presumivelmente ter sido redigidas em termos mais amplos, menos localizados. O que parece mais provável é que esses escritores reconheciam o chamado de Deus para transmitir Sua mensagem à nação de Israel. Mas foi a clareza e aplicabilidade universal dos princípios envolvidos que marcaram intrinsecamente seus livros, preservando-os e reconhecendo-os como um ministério profético da primeira esfera.

Os escritores do Antigo Testamento sabiam que eles eram chamados como profetas da segunda esfera, atuando também na terceira esfera. Isto é, eram seres humanos em contato com o povo entre o qual viviam, respondendo questões e satisfazendo necessidades individuais, bem como falavam por Deus à nação como um todo. Elias, por exemplo, não delegou a outra pessoa o atendimento a um operário que perdera um machado emprestado. Espontaneamente, ele resolveu o problema do trabalhador, embora o desfecho não fosse de significado nacional.

Inevitavelmente, baseado nos exemplos da História, há uma sobreposição das esferas do ministério de profecia, na qual a mais extensa incorpora a mais limitada, não o contrário. Ou seja, a primeira esfera inclui a segunda e a terceira. A segunda inclui a terceira; mas essa opera apenas sozinha.

Nos séculos do Antigo Testamento, aparentemente não foi necessário que mais de um profeta da segunda esfera exercesse o dom entre a nação inteira, todo o tempo. Nem sempre houve a necessidade de sucessão profética. Mas nos casos em que Deus indicou ser necessária uma imediata sucessão, isso tornou-se claro. Por exemplo, o episódio do manto de Elias sendo colocado sobre o sucessor Eliseu é baseado, pelo menos em parte, no conhecimento que Deus tinha dessa necessidade.

O relatório do Novo Testamento, cobrindo sete décadas, não contém a mesma quantidade de informações como o Antigo. Contém apenas umas 200 referências a profetas e profecias. E dificilmente alguma pessoa é mencionada como possuindo o dom de profecia, exceto umas oito, incluindo João Batista, Silas, Zacarias e Ana. Aparentemente, tal como nos tempos do Antigo Testamento, os profetas do Novo Testamento desempenharam uma função tão vital para a igreja que foram reconhecidos como exercendo o dom, sem que fossem necessariamente nomeados profetas, nos registros.

No fim do tempo

Que dizer a respeito dos últimos dias? Por ocasião do início do século 15, muitos indivíduos foram chamados a falar por Deus. Quando a Igreja experimentou as trevas depressivas da Idade Média, ela enfrentou a dupla tarefa de resgatar as verdades distorcidas, durante séculos de intromissão eclesiástica e individual, e partilhar o evangelho com multidões de descrentes. A sucessão incluiu Wycliffe, a Estrela da Manhã da Reforma, e Lutero, que ressuscitou as doutrinas da justificação pela fé e do sacerdócio de todos os crentes – crucial para o ministério dos dons espirituais.

Williams resgatou o símbolo da lavagem dos pecados no batismo por imersão. Calvino, entre outras coisas, reavivou uma forma de governo eclesiástico que restaurou a autoridade da congregação local. Wesley enfatizou os frutos de uma vida cristã metódica. Guilherme Miller recuperou a verdade da volta de Cristo. Cada um desses homens deu uma inestimável contribuição ao processo de restauração das verdades ensinadas por Jesus, de modo que, nestes últimos dias possa haver uma proclamação mundial da “fé que uma vez foi entregue aos santos” (Judas 3).

Podemos classificar todos esses heróis como depositários da segunda esfera do dom de profecia, que deram uma contribuição da maior importância à congregação da Igreja mundial. Sem dúvida, a conseqüência natural do ministério dessas vozes proféticas foi uma vida espiritual saudável e crescimento do corpo de Cristo no tempo do fim.

Foi o ministério desses pioneiros o mesmo dos profetas dos Antigo e Novo Testamentos? Não exatamente, mas talvez seu trabalho seja comparável ao desses profetas. O ministério por eles desenvolvido transpôs os limites denominacionais e continuará através dos últimos dias na Igreja cristã como um todo, enquanto aguardamos a vinda do Senhor e pregamos o evangelho à última geração terrestre.

Duas explicações

Antes de concluir, duas observações breves, mas importantes, precisam ser feitas. Primeira, haverá algumas pessoas que permanecerão céticas a respeito da aplicação do dom de profecia na congregação local. Elas entendem que tal aplicação seria um abuso. Questionam que isso encorajará a mentalidade congregacionalista; pois algumas pessoas na igreja local poderão argumentar que a revelação profética lhes confere também autoridade doutrinária e estrutural superior à da Igreja institucional.

Entretanto, a mais recente declaração das Crenças Fundamentais da Igreja nega essa objeção quando estabelece o seguinte: “Deus confere a todos os membros de Sua Igreja em todos os tempos dons espirituais que devem ser empregados em amoroso ministério. … Esses dons incluem o de profecia.” E, se verificarmos bem o contexto, o apóstolo Paulo não poderia estar falando de nenhuma outra esfera senão a local, quando se referiu ao dom de profecia, em Romanos 12:6; I Cor. 14:1, 3-5, 22, 24 e 29. Depois de tudo, poderia ser extremamente perigoso nos mostrarmos tão preocupados com o abuso, e impedíssemos a manifestação autêntica do dom.

Segunda, o que pode alguém dizer sobre o assunto “inspiração” quando manifestado na igreja local através do dom de profecia? Um temor igual ao que foi anteriormente mencionado pode levar alguém a deixar de abraçar o dom oferecido por Deus. Ou seja, o medo de que alguém tome a revelação recebida e a coloque acima da autoridade da inspiração da Bíblia ou de Ellen White.

Mas em virtude de que não existe tal coisa como “inspiração parcial”, somente podemos concluir que uma pessoa é completamente inspirada por Deus para realizar um ministério específico. Na terceira esfera de aplicação do dom de profecia, o ministério é limitado à comunidade local, diferente do âmbito mais extenso da primeira e segunda esferas. Deus pode e equipa as pessoas para o ministério local. Esta é a própria essência da teologia dos dons espirituais: os crentes são capacitados e equipados para o ministério, e a saudável manifestação do seu trabalho não pode contradizer a essência do que foi comunicado através das duas primeiras instâncias.

Nutrição

Isso nos leva de volta à hipótese original. Se os membros da Igreja devem ser adequadamente nutridos, se os frutos do evangelismo devem ser preservados e engajados no serviço, então deve haver nutridores com o dom de profecia em toda congregação. Deve haver muitos deles, como foi o caso das igrejas de Corinto, Éfeso e Roma.

A Bíblia continua a nutrir aqueles que a estudam. Os escritos de Ellen White endereçados à sua Igreja, ou nossa Igreja, continuam a nutrir todos quantos os examinam ainda hoje. E as palavras faladas por alguns indivíduos em cada congregação local ao redor do planeta, devem ser aceitas como parte do propósito de Deus para nutrição da Sua Igreja. Essa terceira esfera de manifestação abrange pessoas piedosas escolhidas por Deus, dotadas por Deus e inspiradas por Deus, agraciadas com o dom de profecia, e exercendo-o para “fortalecer, encorajar e confortar” os membros de uma congregação.

A aceitação dessa realidade é a chave para nutrição da Igreja; de outra forma, a erosão de membros continuará acontecendo em muitas regiões do mundo. ☆

ROY NADEN, professor emérito de Educação Religiosa da Universidade Andrews, reside em Washington, Estados Unidos

O dom de profecia é e sempre foi um dos mais disseminados dons do Espírito.

O dom de profecia opera em três esferas: escritores bíblicos, Ellen White e igreja local.

Deve haver nutridores com o dom de profecia em toda congregação.