São numerosos os textos bíblicos do Velho Testamento que afirmam serem os juízos de Deus acompanhados, na maioria das vezes, por sinais cósmicos. Um deles é o de Joel 2:30 e 31: “Mostrarei prodígios no céu e na Terra; sangue, fogo, e colunas de fumaça. O Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor.”

A referência do profeta Joel à vinda do “grande e terrível Dia do Senhor” não está relacionada, primeiramente à segunda vinda de Cristo, mas a um dos muitos “Dias do Senhor”, que significaram, na verdade, dias de juízo. Amós fala aos reis do norte que, embora eles pensassem que o Dia do Senhor era um dia de juízo para seus inimigos, esse julgamento viria sobre eles mesmos: “Ai de vós que desejais o Dia do Senhor! Para que desejais vós o Dia do Senhor? É dia de trevas e não de luz. Como se um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso; ou como se, entrando em casa, encostando a mão à parede, fosse mordido duma cobra. Não será, pois, o Dia do Senhor trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade?” (Amós 5:18-20).

O dia de juízo, de acordo com Joel, era. na verdade, um evento local, evidenciado pelo fato de que as pessoas que seriam encontradas a salvo dele eram residentes de Sião e Jerusalém (Joel 2:32). O julgamento das nações no vale de Josafá (Joel 3:1-3) refere-se a um evento ocorrido em um cenário local, chegando a um tempo relativamente próximo à época na qual a profecia foi comunicada.

Um exemplo de sinal cósmico acompanhado por juízo pode ser visto nas pragas que caíram sobre o Egito (Êxodo 10). Outro caso similar aparece no longo dia de Josué, no qual os israelitas foram habilitados a retribuir o julgamento sobre os cananeus (Jos. 10:12-14).

Nos dias de Débora e Baraque, os elementos da Natureza lutaram contra os cananeus. Naquela ocasião, a chuva enlameou de tal forma o vale de Jezreel, que as carruagens dos cananeus ficaram totalmente inutilizadas. Um interessante julgamento, de caráter positivo, ocorreu com o rei Ezequias, quando o retrocesso da sombra lançada pelo Sol, em dez graus, assinalou que ele deveria viver um período adicional de quinze anos (II Reis 20:8-11).

No Novo Testamento

Durante o período do Novo Testamento, aparecem os mesmos traços. Escrevendo a respeito da queda de Jerusalém, Ellen White disse: “Apareceram sinais e prodígios, prenunciando desastre e condenação. Ao meio da noite, uma luz sobrenatural resplandeceu sobre o templo e o altar.” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 29.

Jesus, em Seu sermão no Monte das Oliveiras, pregou sobre os sinais no céu. E colocou os sinais astronômicos “imediatamente depois da tribulação daqueles dias”. Em seguida, referiu-Se ao escurecimento do Sol e da Lua e à queda das estrelas (Mat. 24:29). A questão contextual é: a qual tribulação e a quais dias Ele Se referia?

Existem duas precedentes tribulações mencionadas no Monte das Oliveiras. Uma tribulação preliminar, ou perseguição (vs. 9 e 10), e, posteriormente, depois do aparecimento do “abominável da desolação” (v. 15), a “grande tribulação” (v. 21). A mesma palavra grega é usada para as duas tribulações, ou seja, thilipis. Historicamente, isso se enquadra muito bem com a perseguição preliminar empreendida pelo Império Romano e com a grande tribulação ocorrida durante a Idade Média.

O Apocalipse

A situação envolvendo sinais cósmicos no livro de Apocalipse é mais complexa. Em primeiro lugar, há uma série de sinais cósmicos na qual a lista torna-se mais e mais longa depois de cada sucessivo julgamento, conforme exemplificado em Apoc. 4:5; 8:5: 11:19; e 16:17-20. Nenhuma dessas passagens assinala o mesmo evento. O primeiro caso acontece no tempo da ascensão de Cristo. O segundo ocorre no início das sete trombetas. O terceiro, no princípio do juízo pré-advento, em 1844. e o quarto depois do término do tempo de angústia, justamente antes da destruição da Terra e da segunda vinda de Cristo.

Outros sinais cósmicos surgem junto com o juízo e as pragas. Na quarta praga, o Sol queima os homens, notando-se aí o reverso do seu escurecimento (16:8). Na quinta praga, o trono da besta é envolvido por trevas, justamente o contrário do que acontece na praga anterior. Dessa forma, pelo menos seis casos de juízo no livro de Apocalipse são acompanhados por elementos cósmicos, ou trabalham com eles.

A seqüência sob o sexto selo, portanto, não será idêntica a qualquer um, nem todo o conjunto de sinais cósmicos no livro. O terremoto, o escurecimento do Sol, a queda das estrelas, tudo isso tem seu próprio ponto de referência. Esse ponto vem primeiramente no quinto selo, onde os mártires da perseguição perguntam: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra?” (Apoc. 6:10). Os sinais revelados no próximo selo ocorrem, em parte, para responder a essa questão. Eles assinalam o julgamento do poder causador da perseguição. E também assinalam o juízo iniciado em 1844, quando a causa dos fiéis seria reivindicada pelo “Ancião de dias” (Dan. 7:22).

Uma feição despercebida do sexto selo é a que menciona dois terremotos, um no início da série e outro no fim. Esse é descrito em termos diferentes: “E o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos dos seus lugares.” (Apoc. 6:14). Isso é um verdadeiro cataclismo. Esse mesmo terremoto é identificado em Apocalipse 16:18 e 20, com o emprego de quase os mesmos termos. Ele ocorrerá no fim das pragas e será o maior que o mundo terá testemunhado, como diz o próprio texto.

A mesma coisa não pode ser dita a respeito do terremoto no início da seqüência do sexto selo. Esse é descrito apenas como um grande terremoto, mas não o maior.

Três aspectos

O problema aparece quando se faz a identificação daquele primeiro terremoto como o terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755. Por que não alguns outros maiores terremotos posteriores? Por que não se levar em conta algumas outras maiores chuvas de meteoros, ocorridas depois de 1833? A resposta a essa pergunta é tríplice: é preciso levar em conta os aspectos de geografia, sequência e sincronismo.

Os maiores terremotos na China, desencadeados depois de 1755, não envolvem as nações da Europa ocidental, sobre as quais a ação do livro de Apocalipse está centralizada. O foco bíblico é sobre o Oriente Próximo e a Europa. A Índia não está incluída entre as nações de Daniel 2. Os terremotos da China não aparecem na jurisdição geográfica da área de ação coberta pelo Apocalipse.

A questão da sequência envolve as séries de eventos preditos no sexto selo. Nenhum dos terremotos na China foi seguido por um dia escuro ou uma chuva de meteoros. A sequência é específica: terremoto, escurecimento do Sol queda de estrelas, não escurecimento do Sol, terremoto, queda de estrelas, ou queda de estrelas, escurecimento do Sol, terremoto.

O aspecto de sincronismo, o terceiro fator que torna única essa sequência de sinais cósmicos, tem a ver com o lugar no qual eles ocorrem no esquema profético da História. Tal sequência pode ser alinhada da seguinte maneira:

• Um grande terremoto, em 1755.

• O dia escuro, em 1780.

• O juízo sobre a besta, em 1798.

• A queda das estrelas, em 1833.

• Início do juízo pré-advento, no Céu, em 1844.

Geografia, sequência e sincronismo tornam peculiar essa cadeia de acontecimentos, insuperável por quaisquer outros terremotos ou chuva de meteoros ocorridos em outros tempos. Outras profecias apocalípticas preenchem todo o espectro de eventos entre esses sinais e a segunda vinda de Jesus.

Sinais cósmicos serão aplicados à segunda vinda de Cristo, mas, com exceção do último terremoto, eles não são os sinais cósmicos descritos no sexto selo. Em lugar disso, são descritos por Ellen White, no livro 0 Grande Conflito, págs. 636 e 637. Ali ela se refere ao terremoto que ocorre por ocasião da sétima praga. Também fala do desaparecimento de ilhas e montanhas. Dá um sinal cósmico conectado com o Sol, mas trata-se desse astro brilhando à meia-noite.

Esses não são os sinais cósmicos do sexto selo os quais ela descreve no capítulo 17 do mencionado livro. Uma sequência profético-histórica de eventos tem lugar entre esse tempo no passado e o futuro grande evento. Nós vimos o precedente histórico, e esperamos pelos futuros sinais cósmicos.

WILLIAM H, SHEA, Ph.D., jubilado, ex-diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral da IASD