John Smith é um pastor jovem e dinâmico. Ele ama seu trabalho e sua família. Também está comprometido com o crescimento da Igreja e a preservação de sua boa saúde. Mas agora ele se encontra vivendo um dilema. Recentemente a liderança da Associação na qual trabalha designou-lhe mais uma nova atividade: a execução de um programa de plantar igrejas. Além dos atuais deveres de pastor, esse plano envolve o treinamento de leigos em várias congregações, alguns dias fora de casa. Na verdade, terá de ficar longe da família quase todos os finais de semana.
“O plano não é amigável com a família”, diz o pastor. “Minha esposa e meus filhos terão de ficar muitos finais de semana sem a minha presença, o que é uma carga injusta para a saúde emocional deles e a minha.” Apreensivo, John procurou alguns líderes e colegas com os quais conversou sobre o assunto. Que deveria ele fazer?
A família primeiro
O pastor mais inteligente entre nós dará prioridade à sua família. “Coisa alguma pode desculpar o pastor de negligenciar o círculo interior, pelo mais amplo círculo externo”, escreveu Ellen White, no livro Obreiros Evangélicos, pág. 204.
Quando tive a oportunidade de servir como capelão em unidades psiquiátricas, encontrei muitos pacientes internados para tratamento de depressão. Alguns deles eram filhos de pastores. Ao dialogar com aquelas pessoas, descobri que seus pais, pastores, viviam fora de casa a maioria das vezes, e quando retornavam ocupavam boa parte do tempo apenas em reforçar os regulamentos da família. Aqueles jovens pareciam ter certa aversão pelos pais e pela Igreja.
Meu trabalho, então, passou a ser mostrar aos pais ministros que eles estavam matando de fome emocional a seus filhos, na desenfreada corrida para salvar o mundo para Deus. Eu também já fui culpado disso. No início do meu ministério, gastava o sábado inteiro trabalhando pela igreja enquanto minha esposa assumia a total responsabilidade de cuidar das nossas crianças.
Depois de algum tempo uma luz iluminou minha mente para o entendimento de que eu estava roubando minha família e privando-me de todo tipo de bênçãos. Meus filhos chegaram a me pedir para não aceitar convites para refeições especiais durante o sábado, a fim de que nossa família pudesse estar junta. Sempre aceitei que a visitação pastoral rotineira é importante, mas ela não deveria privar minha família do meu amor e companheirismo. O dia de culto é designado para curar e nutrir as famílias, incluindo a família do pastor.
O lugar da esposa
Minha esposa e eu conduzimos certa vez um seminário para pastores, sobre como ministrar a pessoas em crise sem destruir a própria saúde por causa do estresse. Explicamos que boa parte do nosso estresse resulta da vida em lugares e situações doentios. Se o trabalho coloca demandas irreais sobre uma pessoa, sem recompensas, atitudes de afirmação, ou palavras de gratidão, o lado emocional adoece e seus efeitos serão vistos no lar. Apelamos então aos ministros para checar a saúde do seu ambiente de trabalho, buscando assegurar-se do bem-estar da família.
Durante aquele seminário, um jovem pastor abordou-me reservadamente: “Estou muito feliz de que o senhor tenha nos desafiado a reexaminar nosso estilo de trabalho. Tenho empregado todas as minhas energias no trabalho. Como resultado, minha esposa e eu discutimos muito. Chegamos a falar em divórcio, meses atrás. Hoje descobri que meu casamento e família têm prioridade sobre a igreja. Muito obrigado por levar-me a equilibrar minha vida. Começarei hoje mesmo a curar meu casamento enfermo.”
Separe tempo privado suficiente para você e sua esposa. Desfrutem juntos uma boa caminhada. Assistam a um programa musical. Brinquem juntos. Sentem e conversem sobre os pontos altos do casamento. De vez em quando, jantem fora de casa. Programem pequenas “luas-de-mel”. Dê à sua esposa pequenas lembranças, independente de datas especiais. O amor não necessita ter razões para expressar-se.
Essas pequenas mas significativas atitudes conservará seu pasto mais verde do que o proverbial pasto do outro lado da cerca. Seus filhos se sentirão seguros e amados à medida que perceberem que seus pais se amam cada vez mais.
Agenda
Estabeleça sua própria agenda. Se você não o fizer, outros o farão em seu lugar. E a agenda que eles estabelecem nem sempre é a mais saudável. No início do meu trabalho pastoral, ocorreu de as igrejas fazerem minha agenda. Três meses de cada ano eram ocupados com visitas a departamentos de polícia, tentando conseguir permissão para recoltar. Então, acompanhava os membros da igreja às ruas, onde eles distribuíam flores aos transeuntes em troca dos donativos. Eu recolhia o dinheiro e reabastecia o suprimento de flores.
Durante aqueles meses, eu lutava para concluir o preparo dos sermões, usualmente acabados na sexta-feira à noite. Depois, ao pregar no sábado pela manhã, freqüentemente me sentia confuso para enfrentar o auditório. Finalmente, reuni coragem para fazer minha própria agenda. Desse modo, pude cumprir todo o programa sem me sentir estressado. Minha esposa e meus filhos experimentaram o benefício de não terem um esposo e pai implicante e mal-humorado. E tivemos todos melhor saúde.
Elaborar a própria agenda de trabalho requer uma teologia ministerial claramente desenvolvida. Examine o conceito do pastorado através da Bíblia. Preste atenção ao contexto no qual o ministério é discutido. Aplique os princípios à sua situação.
Eugene Peterson, no livro O Pastor Contemplativo, argumenta que a preparação do sermão é fácil quando o pregador se deixa encharcar pelas Escrituras. Deve haver água no poço, se você deseja oferecê-la a seus ouvintes. Desde que eu entendo o meu papel de arauto, nutridor, professor e conselheiro, alegro-me em gastar todas as manhãs bebendo e banhando-me no poço da Água da Vida. Quando assumo o púlpito, hoje, vou tranqüilo, confiante em que Deus ajudou-me a esboçar e me ajudará a apresentar o que o povo necessita ouvir.
Jesus gastou muito tempo em lugares quietos com o Pai. Só então saía e misturava-Se com o povo onde ele estava e o alcançava com Seu amor e compaixão. Depois, voltava à quietude da comunhão com o Pai, dEle recebendo mais e mais. Costumo chamar essa experiência de “o ritmo do pastor”. Demore-se no calmo retiro da comunhão diária, para que tenha o que repartir com os filhos de Deus.
Planejamento
Não tem o menor sentido correr em círculos. O máximo que se consegue é cansaço e frustração. Você necessita ter um plano. Isso é diferente de ter uma agenda. Sua teologia ministerial deve levá-lo a planejar para todo o ano. Como fazer isso? Certamente não é correndo em círculos.
Geralmente eu separo uma ou duas semanas cada seis meses para ajustar meus alvos e metas para os próximos seis meses e estabelecer os alvos para os seis meses depois desses. Isso mantém meu planejamento anual atualizado e realístico. E também planejo minhas férias e o tempo regular dispensado à família. Afinal, isso faz parte dos meus alvos.
Tranqüilidade
Deus constantemente está desenvolvendo o processo de tocar e causar impacto na vida das pessoas. Quando eu as visito, necessito lembrar de que antes de mim, o Espírito Santo já está ministrando às suas necessidades. Enquanto estou concretizando a visita, o Espírito Santo está presente, dando-me as palavras que devo dizer. Quando eu saio da casa visitada, o Espírito Santo continua trabalhando com a impressão deixada por mim, através das minhas palavras, meu sorriso, minhas lágrimas, meu silêncio ou meu abraço, ministrando de uma forma que eu jamais poderia fazer permanecendo ali.
Tudo o que eu preciso fazer é permitir que Deus me use como um mero instrumento; e então confiar que Ele construirá uma mansão de santidade em lugar de uma cabana de pecaminosidade.
Henry J. M. Nouwen fala a respeito de pastores preocupados, como pessoas que têm o coração no lugar errado. Ele os descreve como malas abarrotadas sem espaço para o Espírito. Têm alguma direção, mas nunca se deixam dirigir pelo Espírito. Em lugar da correria e do estresse, os pastores podem ter mais saúde, ao lembrar que não podem fazer tudo. A obra é de Deus. Nós apenas somos Seus instrumentos.
Senso de humor
Um coração alegre é como um bom remédio. Humor e riso devem estar presentes na vida e no lar do pastor. Duas vezes por semana eu costumava visitar um fazendeiro que estava pouco a pouco perdendo a guerra contra um câncer. Em cada visita nós jogávamos uma partida de dominó. Toda vez ele vencia. Durante a partida, George contava as anedotas mais engraçadas que eu jamais tinha ouvido. Um desses dias, rimos até chorar. Então George jogou a cabeça para trás, e disse bem alto, como num desabafo; ”Oh, se eu não pudesse rir, certamente morreria!”
Norman Cousins ensinou-nos o valor de uma boa gargalhada, quando lhe sobreveio uma rara doença, pelo fato de ela provocar o balanço do corpo. Ele instilou essa idéia na mente dos médicos, incentivando-os a construir salas de riso nos hospitais. Um coração alegre produz tanto benefício como um remédio. E os pastores necessitam regularmente de boas doses desse medicamento.
Conheço um pastor que, ao chegar a uma nova congregação, disse aos seus membros: “Terça-feira é nosso dia da família. Eu gostaria de não receber nenhum telefonema, nenhum chamado nesse dia, a menos que haja uma genuína emergência. Em troca, se vocês disserem qual o seu dia da família, prometo que não vou procurá-los nesse dia.”
Essas palavras podem soar um tanto grosseiras, mas elas dizem à congregação não apenas o que esperar do pastor, mas algo mais a respeito da importância da família.
Depois de cada final de semana intenso, nosso dia da família sempre foi o dia mais saudável. Fazia uma pausa no trabalho e me dedicava estritamente à saúde sentimental, social, física e espiritual dos meus familiares.
O pastor e sua família precisam seguir bons princípios de saúde. Necessitam ter um estilo de vida saudável. Bons hábitos de saúde física certamente influenciam a saúde espiritual e emocional. Quando algum tipo de estresse golpeia a vida da igreja, estaremos capazes para conduzi-lo melhor, se tivermos adotado bons hábitos de saúde.
Os livros Conselhos Sobre Saúde, Conselhos Sobre o Regime Alimentar, A Ciência do Bom Viver, e Temperança, de Ellen White, devem ser lidos com muito cuidado e interesse pelos pastores. Alguns estão perdendo muito ao negligenciar seu estudo.
Chegando em casa, após um dia de visitação, um pastor foi recebido pela esposa, e lhe perguntou: “Como foi o seu dia?”
Ela respondeu: “Eu poderia ter terminado de lavar a roupa, mas tive de gastar toda a manhã ouvindo queixas dos irmãos, ao telefone. Por que eles têm de me incomodar? Eu não sou o pastor.”
Essa esposa, e outras em situações semelhantes, necessitam aprender a transferir rapidamente as ligações para o pastor. Ele saberá conduzir as queixas, os problemas e outros assuntos referentes à congregação. Esses assuntos não precisam cair sobre outros membros da família. Basta dizer, simplesmente: “Sinto muito, mas não posso ajudá-lo nisto. Assim que o pastor chegar entrará em contato com você. Deixe, por bondade, o número de seu telefone.”
Tive a oportunidade de visitar, certa vez, a casa de um pastor durante a hora da refeição. Por duas vezes, ele teve de atender ao telefone; por duas vezes, interrompeu sua refeição. Resolver problemas da igreja e comer, ao mesmo tempo, são coisas que não combinam. Aliás, hoje, com as secretárias eletrônicas, esse problema não precisa existir; basta que uma seja instalada ao aparelho telefônico. Ou então, aprenda o pastor a propor gentilmente o adiamento da conversa até que a refeição seja concluída.
Se não são tomadas providências para que a família seja preservada desses telefonemas, especialmente durante o horário das refeições, o culto doméstico, ou durante um momento em que se desenvolve uma conversa particular, de família, todos se sentirão frustrados e ressentidos, não apenas com a intrusa ligação em si, mas com o trabalho do pastor e a própria igreja.
Fomos feitos para ser criativos. Quando falhamos em usar nossa criatividade, perdemos o interesse no ministério. Tendemos a ser enfadonhos e deficientes em nosso trabalho. Tornamo-nos abertos ao desencorajamento e à depressão.
Sentado no chão do meu escritório, meu filho estava escrevendo os prós e os contras das muitas opções profissionais. Depois de algum tempo, levantou os olhos e me perguntou: “Pai, o que você acha se eu lhe disser que gostaria de ser um pastor?”
“Bem, Jeff”, eu respondi, “ se você planeja ser um pastor rotineiro, eu não ficaria muito satisfeito. Já temos muitos desse tipo – ministros enfadonhos. Mas se você planeja ser um ministro criativo, inovador, que não receie tentar novas coisas, eu ficarei muito feliz.”
Você não pode ser efetivo no ministério, a menos que coloque sua marca pessoal em cada coisa que faz. Pastores sem criatividade perdem o entusiasmo e não são produtivos. Desenvolvem atitudes que prejudicam sua própria saúde emocional e de suas respectivas famílias.
A criatividade no ministério promove o sucesso e a boa saúde.
Meus filhos e eu participamos de um retiro de pais e filhos, alguns anos atrás. A maioria das atividades era brincadeiras e jogos. Naquela ocasião, fizemos uma notável descoberta: os pais não se sentem à vontade jogando e brincando. Os filhos participavam com muito vigor, mas os pais eram muito desajeitados. Acho que se esqueceram de como brincar. Só com alguma insistência, eles gradualmente se permitiam ser crianças de novo.
Adultos crianças são um deleite para Deus. Ele não nos quer entediados e difíceis. Sempre digo às pessoas que Jesus certamente gostava de brincar, porque as crianças faziam questão de estar com Ele. Não posso provar isso teologicamente, mas parece lógico para mim.
Quando fui capelão, algumas vezes ficava tenso por causa de alguma emergência mais séria. Nesses momentos eu costumava ir para o setor de pediatria do hospital. Ali fazia aviões de papel e ensinava as crianças a lançá-los pelo quarto. Se elas podiam caminhar, nós íamos para a varanda e fingíamos que estávamos aterrisando grandes jatos num aeroporto qualquer. As enfermeiras algumas vezes reclamavam comigo por desarrumar as coisas, mas minhas brincadeiras me tornaram um capelão saudável. Espero que tenham beneficiado também às crianças.
Brincar afia nossa mente. O exercício agita as endorfinas que expulsam o desencorajamento.
Desacelere. Trabalhe sem correria. Pregue sem gritaria e de modo mais conversacional. A pressa destrói a criatividade. Trabalhando com equilíbrio, você fará mais e melhor. Proteja-se do estresse e doenças relacionadas com ele. Evite sobrecarga de adrenalina.
Se Deus o chamou para o ministério evangélico, você está trabalhando com Ele e para Ele. Embora receba o salário de uma Igreja institucional, recebe ordens do Supremo Pastor. Estude os métodos de Jesus. Aprenda Suas atitudes em relação ao povo. Observe-O tomando tempo para atender pecadores. Veja-O cuidando de pessoas marginalizadas e esquecidas pelos líderes da época. Ouça os gritos de alegria daqueles a quem Ele curou. Então ore para que Deus o ajude a desenvolver um ministério caracterizado pelo amor terno e cuidadoso. Tome tempo para estar com as pessoas. Ouça suas mágoas. Cuide delas genuinamente e cure-as com o evangelho.
E experimente a verdadeira saúde física, mental e espiritual. ☆
LARRY YEAGLEY, pastor da igreja adventista de Charlotte, Michigan, Estados Unidos
“O pastor mais inteligente dará prioridade à família.“