Um dos mais preciosos capítulos da Bíblia é o 17o do Evangelho de João. Ele relata a oração de Jesus por Seus discípulos e por aqueles que viriam a crer nEle pela palavra dos discípulos.

Cristo vivia a expectativa da dramática conclusão de seu ministério terrestre. Esperavam-No a solidão do Getsêmani, o beijo traidor de Judas, a separação do Pai, o balcão de julgamento de Pilatos, a negação de Pedro, os açoites e solavancos, a coroa de espinhos, a cruz, o calvário e a sepultura. Mas Ele olhou além de tudo isso e orou por você e por mim.

A oração começa falando da glória e do fim da missão. Diz que os discípulos aceitaram a revelação e a missão (vs. 1-8). A hora é o momento em que a missão chega à sua plenitude; e é o momento em que se manifesta a ação de maior poder que Cristo realizou em toda a Sua missão. Nesse sentido é a hora de Sua glorificação e a hora em que glorifica o Pai. Ele não marchou para a morte como um soldado hesitante, mas como um general conquistador. A hora da Sua morte foi a hora da magnificente glória, porque foi a clara demonstração, diante do Universo, do amor do Pai.

O primeiro pedido mencionado na oração está relacionado com Seus discípulos; e roga ao Pai que os guarde em Seu nome e que os santifique em Sua verdade (vs. 9-19). Jesus como que diz: “Eu não oro para que Meus seguidores se fechem atrás dos muros de algum monastério, mas para que, em meio ao feroz ataque de Satanás, seu coração e mente sejam transformados, através da santificadora influência da Minha Palavra. Oro para que, através da Minha Palavra, sua mente seja protegida do mal que há no mundo.”

Jesus está dizendo, nesse pedido, que, em meio às idas e vindas da vida moderna, quando valores são distorcidos e prioridades confundidas; num mundo onde a manipulação de consciências e chantagem de pessoas parecem marca registrada das ações dos homens; onde a obsessão pelo exercício do poder supera o prazer de servir por amor; onde o certo é errado e o errado é tido como certo, devemos ter a mente e o coração cheios das verdades da Sua Palavra. Que os princípios aí enunciados sejam o nosso escudo; e o “está escrito”, a nossa defesa; o referencial para todas as nossas atitudes e decisões na vida pessoal, familiar e vocacional.

Embora no mundo, não somos do mundo. Ele é nosso ambiente, mas não é nossa morada. É o objeto de nossa atividade missionária, mas não devemos ser mundanos nem agir segundo seus princípios e maneirismos.

O outro pedido de Jesus está relacionado com os que creram pela palavra dos discípulos (vs. 20-26). Ele ora pela unidade de Seus filhos. Unidade doutrinária, missionária, organizacional, de fé, de esperança e de comunhão. É uma unidade de crença e salvação da qual haveria de fluir certa harmonia de propósitos, desígnios e objetivos, em lugar de aspirações pessoais egoístas. Tal unidade tem objetivo evangelístico: “Para que o mundo creia que Tu Me enviaste.” A maior evidência de que Cristo veio ao mundo é vista na transformação operada em nosso coração, eliminando barreiras e preconceitos; aparando arestas e diferenças; motivando-nos à aceitação mútua, como irmãos no sangue de Cristo.

A verdadeira unidade da Igreja, em que os crentes vivem em harmonia, norteados para propósitos comuns e elevados; onde cada membro ame os demais, assistindo-se mutuamente, e buscando o bem mútuo, é uma poderosa lição objetiva, aos olhos do mundo inteiro, acerca da validade da missão de Cristo. Prova que Sua missão Lhe fora confiada verdadeiramente pelo Pai.

No verso 24, Jesus alcança o clímax de Sua oração. Ele sabia que além do sofrimento, da rejeição e morte na cruz, haveria a manhã da ressurreição, o romper das cadeias da sepultura. Sim, haveria a vitória, a gloriosa ascensão. Após o Céu e o Universo terem sorvido o cálice amargo do Getsêmani e do Calvário, o Senhor vitorioso sobre o pecado e a morte; o Salvador ressurreto que esmagou a cabeça da serpente, entra no glorioso esplendor do Céu.

É aí que Ele espera receber-nos, para que gozemos Sua companhia pelos séculos da eternidade. Enquanto isso não acontece, devemos continuar diligentes no cumprimento da tarefa que Ele nos confiou, animados pelas palavras da Sua inspiração: “Sê paciente, soldado cristão. Ainda um pouco, e Aquele que há de vir virá. A noite de fatigante esperar, de vigia e tristeza, está quase passada. Em breve será dada a recompensa; o dia eterno há de raiar.” – Serviço Cristão, pág. 275. – Zinaldo A. Santos.