James Webb Young, em seu livro intitulado A Tecnique for Producing Ideas, trata de como produzir idéias em um escritório de propagandas. Alguns dos pensamentos apresentados podem muito bem ser aplicados ao trabalho do pastor, ao este defrontar-se com a necessidade de produzir idéias que o auxiliem no preparo de sermões. Analisaremos, neste artigo, algumas das sugestões de Young.
A argumentação do autor é desenvolvi-da com base na Teoria de Pareto, a qual discute a existência de dois tipos de pessoas: o rotineiro e o especulador. O tipo rotineiro é aquele que se preocupa principalmente em manter as coisas como estão. Devem estar funcionando da mesma maneira todos os dias. Não se preocupa com inovações, criatividade, mudanças. Já o tipo especulador está constantemente buscando novas possibilidades. Deseja experimentar novas coisas. Sua natureza é reflexiva. Pareto inclui nesse tipo todos os indivíduos que nunca estão satisfeitos e especulam sobre como mudar o status quo, em qualquer ramo de atividade.
A teoria admite esses dois grupos, sem esclarecer se há possibilidade de migração das pessoas, de um grupo para o outro.
Dois princípios
O processo da produção de idéias baseia-se em dois princípios: primeiro, uma nova combinação dos velhos elementos. Combinar de uma nova maneira as velhas e seguras verdades bíblicas pode ser um dos trabalhos mais significativos desse processo. Para conseguir maior eficiência no desenvolvimento desse fator, teremos que aplicar alguns métodos que serão discutidos mais adiante.
O segundo princípio envolve a capacidade de ver relações. E parece mais importante que o princípio anterior. Consiste na capacidade de combinar velhos elementos com novos, adicionada à habilidade de estabelecer relações entre o antigo e o novo.
E nesse ponto que as mentes se diferenciam em maior grau quando se trata de produção de idéias. Para alguns raciocínios, cada fato é um pedaço separado de conhecimento. É o chamado raciocínio estanque. Para outros, os fatos se entrelaçam numa cadeia de conhecimento, onde é possível enfatizar-se relações, similaridades, contrastes, extrapolações. Quando relações são detectadas, elas conduzem ao surgimento de um princípio geral. Esse, quando entendido, dá a chave de uma nova aplicação, uma nova combinação, e o resultado é uma idéia.
Conseqüentemente, o hábito mental que nos leva à busca das relações entre elementos, toma-se da maior importância na produção de idéias. Não há dúvida de que esse hábito precisa e pode ser cultivado.
Na produção de idéias, a mente segue uma técnica definida, consciente ou inconscientemente. Ela pode ser cultivada e aumentar, Conseqüentemente, a habilidade em produzir idéias. Essa técnica mental compreende cinco fases, que, em algum momento da vida, já foram utilizadas por nós. A mente segue estas cinco fases em ordem definida, não havendo a possibilidade de que uma seja completada antes da outra.
Primeira fase
Na primeira fase, a mente precisa recolher material. Embora pareça óbvio e simples, essa tarefa pode ser tão penosa que alguns a evitam a maior parte do tempo. Preferem distrair-se com outras coisas. Esperam que lhes chegue a maravilhosa e tão desejada iluminação. É claro que o Espírito Santo nos auxilia, mas é aqui que podemos cair na mesma tentação do aluno que ora, pedindo auxílio para o exame a que será submetido, depois de haver passado a tarde ou o dia anterior envolvido com brincadeira e diversão.
Esse é momento de trabalho sistemático e presistente, no sentido de recolher matéria-prima. O material a ser recolhido pode ser classificado como específico e geral.
Devemos conhecer a natureza humana, suas fases com as respectivas tendências e provações. Devemos conviver tão intimamente com o povo, que possamos sentir suas necessidades, preocupações, lutas, tristezas, bem como suas realizações, alegrias e vitórias.
No trabalho pastoral, os materiais específicos estão ligados a nossa denominação, às características de nossa congregação ou departamento, ao nosso público alvo. E aqui devemos ter em mente a relação produto-consumidor. O produto refere-se ao conteúdo a ser transmitido. Em nosso caso, é o conhecimento da Bíblia, dos escritos de Ellen White, da história denominacional e congregacional, Manual da Igreja e, sobretudo, de algo que não será ressaltado em nenhuma produção literária humana, que é uma relação pessoal com Cristo.
O consumidor é o ouvinte. Devemos conhecer a natureza humana, suas fases com as respectivas tendências e provações. Devemos conhecer algo sobre personalidade e temperamento. Devemos conviver tão intimamente com o povo, que possamos ler suas necessidades, preocupações, lutas, tristezas, bem como suas realizações, alegrias e vitórias.
Alguns pastores agem como se todas as pessoas fossem iguais e não existissem grandes diferenças entre os membros. Freqüentemente paramos muito cedo no processo para chegar ao conhecimento do produto e do consumidor. Se em alguma área as diferenças superficiais não são muito claras, concluímos que elas não existem. Se cavarmos fundo, porém, ou formos mais longe, estaremos mais próximos de descobrir que entre cada parte de nosso produto (o evangelho eterno) e alguns consumidores (membros ou interessados) há uma individualidade de relação que pode levar a uma idéia.
Outrossim deve haver um contínuo recolhimento de material geral. Todas as pessoas que têm grandes idéias são marcadas por dois traços notáveis. O primeiro deles é o interesse por todo tipo de assunto. Cada faceta da vida se lhes afigura fascinante e atrativa. O segundo traço é o fato de que estão sempre folheando livros, jornais e revistas à procura de informações sobre novos campos de conhecimento.
No trabalho pastoral, uma idéia resulta de uma nova combinação de conhecimento específico sobre o evangelho e o rebanho, com conhecimento geral sobre a vida e fatos colhidos pela experiência. O Espírito de Deus sempre auxilia em tais combinações
Segunda fase
Essa é a etapa onde ocorre o que pode-mos chamar de digestão mental. Se foi feita uma boa coleta de material, agora é necessário mastigá-lo. Estejamos lembrados de que o ponto de partida é sempre a reunião de provas bíblicas. E, em seguida, a busca de relações, ou seja as lições nas quais tudo se ajuntará numa combinação perfeita. A oração é fundamental aqui.
Quando as pessoas criativas entram nessa fase do processo, logo serão tidas como ausentes, meio aéreas. Algumas idéias parciais poderão vir à tona. Não importa quão exóticas ou incompletas pareçam, devem ser anotadas. Elas são contornos da idéia central que está chegando, e sua expressão irá ajudar a avançar no processo. Pode acontecer um sentimento de cansaço, durante a realização dessa tarefa, mas a mente também dispõe de um segundo fôlego. Tentemos aproveitar essa segunda camada de energia, não esquecendo de continuar anotando todas as idéias parciais que aparecerem.
Terceira fase
Na terceira fase, a mente precisa descansar do esforço. Dizem os humanistas que essa é a fase em que o problema deve ser entregue ao subconsciente. Nós o entregamos ao bom Deus, que, pelo trabalho do Espírito santo, nos iluminará com pensamentos vindos do Céu. Aqui, devem ser bem aproveitados os períodos de sono, preferivelmente as oito horas recomendadas.
Deixando um pouco o assunto de lado, devemos nos dedicar a outras atividades estimuladoras da imaginação e das emoções. Ouvir música, ler poesias e histórias, pode ajudar muito.
Quarta fase
Cumpridas as três primeiras fases do processo de produção de idéias, elas aparecerão de algum lugar. Às vezes, chegam quando menos esperamos – na hora do banho, no momento de fazer a barba, ou de madrugada. Podem até surgir no meio da noite, quando o sono se vai por alguma razão. Vamos anotá-la sem perder tempo.
Arquimedes descobriu que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, ao mesmo tempo, quando ia banhar-se na banheira e a água derramou-se quando ele entrou. Num ímpeto, saiu correndo despido e griando: “Eureka! Eureka!” É justa-mente esse o nome que deveria ser dado a essa fase – “eureka”.
Quinta fase
Os pregadores têm pouca oportunidade de colocar em prática essa fase, em sua totalidade. Depois de ter passado pelo êxtase do nascimento da nova idéia, é necessário pegá-la e trazê-la à realidade. Ao fazermos isso, perceberemos muitas vezes que não se trata de uma criança tão maravilhosa como parecia ao nascer.
É necessário agora um trabalho paciente para fazer com que as idéias sejam encaixadas nas condições exatas, reais. E aqui muitas idéias acabam se perdendo. Homens de idéias, como os pregadores, nem sempre têm paciência suficiente para atravessar esse período duro de adaptação. Mas essa fase deve ser cumprida.
Não cometamos o erro de sentar em cima da idéia surgida. Devemos submetê-la à crítica de pessoas ponderadas e de pensamento construtivo, como a esposa, por exemplo. Submetamo-la ao crivo perscrutador da Bíblia e dos escritos de Ellen White. Testemo-la em condições de baixo risco e busquemos a opinião de pessoas confiáveis, que entendam o que seja uma experiência de produção de idéias.
Nessa fase, algumas idéias vão se mostrar meras fantasias. Não devemos desistir, porque são muitas as que, depois de adaptadas à realidade, produzirão frutos maravilhosos.
Dar tempo
A pesquisa para o sermão precisa ser iniciada cedo, na semana, ou até com algumas semanas de antecedência para que os elementos possam ser reunidos. Todo esse processo leva tempo para que seja realizado sem prejuízos. As ilustrações, as aplicações e até o conhecimento da realidade da congregação são obtidos durante o trabalho de visitação pastoral, e pela experiência do próprio ministro, ao longo dos dias que antecedem o sermão.
Os ruídos na comunicação podem ser diminuídos com idéias bem digeridas e bem aplicadas às particularidades do rebanho. A mensagem assim preparada não chega distorcida ao adorador, e a adoração a Deus não sofre danos.
Agindo com antecipação, o pregador evita perder a credibilidade tão necessária para alcançar os corações. Sua utilidade como ministro de Deus e sua influência para o bem se multiplicam em favor dos adoradores e interessados na mensagem.
Na prática, podemos observar que existem sermões que jamais poderão ser elaborados antes de termos vivido o suficiente. A experiência como pais, esposos, pastores bem como o ciclo natural dos anos, ajudam a encher o reservatório. Isso somente não ocorrerá se nos recusarmos a viver racional, emocional e plenamente. Dotados de mais experiência, podemos adaptar as idéias já concebidas.
O processo de produção de idéias pode ocorrer nas mais variadas ocasiões, quando se vive em plena criatividade. Por tal processo, têm sido encontradas soluções verdadeiramente geniais para os problemas da vida prática.