Por volta do ano 700 a.C., Ezequias teve sua saúde restaurada e sua vida miraculosamente poupada pelo Senhor (Isa. 38). Logo em seguida àquela cura espetacular, Merodaque Baladã enviou mensageiros a Jerusalém, para fazer uma visita ao proeminente rei de Israel (Isa. 39). Após os embaixadores caldeus haverem deixado a cidade, o profeta Isaías apresentou uma dura e incisiva mensagem a Ezequias, a qual continha uma série de profecias e ameaças feitas ao rebelde povo de Deus, expressas até o capítulo 39.

A partir do capítulo 40, no entanto, o profeta de Deus passa a apresentar as promessas que descrevem a restauração do Seu povo.

Fiel à sua função de interpretar o significado dos movimentos da História das nações, em relação ao propósito de Deus concernente à missão do povo israelita, através dos olhos proféticos, Isaías divisava grandes transições na História dos povos de seu tempo e até um pouco mais além. Ele pôde ver que a Assíria, tão logo tivesse cumprido seu papel de vara corretora para o povo de Deus, começaria a diminuir seu poderio e influência. E Babilônia, até então inexpressiva em poderio bélico militar, começaria a crescer rapidamente. E cresceria tanto que se tomaria um império mundial. E o Senhor permitiría que Babilônia fosse um instrumento de correção à obstinação do Seu povo.

Libertador

O capítulo 41 do livro de Isaías apresenta uma mensagem de libertação e segurança para o povo de Deus.

Isaías foi levado a contemplar Israel, sob cativeiro babilônico, recebendo a visita de um libertador que, com poder, força e grandeza o livraria das mãos opressoras. O profeta antecipou a queda de Babilônia, o surgimento e crescimento dos reis da Medo-Pérsia e a grandeza de Ciro, o conquistador de Babilônia e libertador de Israel.

Evidentemente, o chefe do novo império era Ciro, o príncipe de Ansã, o pequeno Estado entre Elão e a Pérsia, ao norte de Babilônia, que já demonstrava sua vi-são e seu poder como estadista. Conquistara a Média em 550 a.C. Venceu Creso, na Lídia, em 546 a.C. Em 539 a.C., pouco tempo depois da proclamação da mensagem do profeta no capítulo 41, Ciro conquistou Babilônia.

Ciro é apresentado como um conquistador bondoso e como um libertador dos oprimidos. Segundo a História, ele governou manifestando clemência sobre os povos conquistados. Foi ele quem autorizou a volta dos judeus cativos para reconstruir o Templo de Jerusalém (II Crôn. 36:22 e 23; Esdras 1:1 a 8). Isaías fala dele como “pastor de Jeová” (Isa. 44:28), e ainda como o “Ungido do Senhor” (45:1).

Num estudo exegético, a porção de Isaías 41:1 a 10 pode ser dividida em quatro partes: Introdução (verso 1); primeira estrofe (vs. 2 a 4); segunda estrofe (vs. 5 a 7); e terceira estrofe (vs. 8 a 10).

Introdução

Verso 1: Calai-vos perante Mim, ó ilhas, e os povos renovem as suas forças, cheguem-se e então falem; cheguemo-nos e pleiteemos juntos.

Aqui Deus é apresentado falando na primeira pessoa. Ele está convocando todas as nações para um encontro no qual é apresentado o significado passado, presente e futuro da História. Embora o local do concilio seja a Terra, Deus é apresentado como o Senhor da História. Ele é quem controla a História. Num convite cuja abrangência vai além do Eufrates e do Nilo – “ó ilhas -, as nações são convocadas para um julgamento, ou a discussão de um assunto cujo desenrolar se encontra nos versos 2 a 4.

Primeira estrofe

Verso 2: Quem suscitou do Oriente aquele a cujos passos segue a vitória? Quem faz que as nações se lhe submetam, e que ele calque aos pés os reis, e com a sua espada os transforme em pó, e com o seu arco em palha que o vento arrebata?

Eis a primeira referência no sentido de que do Oriente surgiria alguém para conquistar a vitória. A figura de Ciro, como conquistador, já é visível no horizonte. Ele vence, derruba e abate nação após nação. A resposta para as indagações do profeta traz implícita a certeza de que o Senhor é o responsável pelos tremendos eventos e pelas conquistas de Ciro. A ênfase não está na figura humana e suas realizações, mas em Quem suscitou o conquistador, e, portanto, deveria receber a glória.

Assim como o Senhor prometeu tirar Seu povo de Babilônia e conduzi-lo à sua terra, a promessa da libertação do Israel espiritual e sua entrada na Pátria celeste será finalmente cumprida. Deus está conosco, nada precisamos temer.

Segundo o Comentário Bíblico Adventista del Septimo Dia, vol. IV, pág. 289, “foi Ciro, rei da Pérsia, quem destruiu o império babilônico e libertou os judeus. Deus suscitou a Ciro em justiça, para reconstruir a cidade de Jerusalém e libertar os seus cativos”.

A. R. Crabtree concorda com essa posição. Diz ele: “É muito claro que o profeta reconhece Ciro como instrumento na mão do Senhor para libertar os exilados de Babilônia. E que ele calque a pés os reis. Com pequena mu-dança de vocalização, pode ser traduzido que ele subjuga, ou humilha os reis.” (A Profecia de Isaías, vol. 2, pág.82).

Versos 3 e 4: Persegue-os e passa adiante em segurança, por uma vereda que seus pés jamais trilharam. Quem fez e executou tudo isso? Aquele que desde o princípio tem chamado as gerações à existência, Eu, o Senhor, o primeiro, e com os últimos, Eu mesmo.

O assunto é o mesmo do versículo 2, apenas mostrando que Ciro palmilharia em sua conquista caminhos que ele jamais havia percorrido antes. No verso 4, novamente é destacado o fato de que Ciro foi um instrumento nas mãos de Deus para realização de Seus propósitos e de Sua vontade.

Segunda estrofe

Versos 5 a 7: Os países do mar viram isto e temeram, os fins da terra tremeram, aproximaram-se e vieram. Um ao outro ajudou, e ao seu próximo disse: Sê forte. Assim o artífice anima ao ourives, e o que alisa com o martelo ao que bate na bigorna, dizendo da soldadura: Está bem feita. Então com pregos fixa o ídolo para que não oscile.

As pessoas, os reis e as nações, quando ouviram que Ciro marchava em direção a eles, suas pernas tremeram, ficaram possuídos de medo. Quando as nações antigas sofriam derrotas nas guerras antigas, elas julgavam que isso era provocado por causa da fraqueza de seus deuses, em comparação com os deuses fortes dos conquistadores. Nesses versículos, está evidenciada a fraqueza das nações que confiaram em seus deuses, para livramento.

Confusos, os povos se esforçam na produção de imagens mais fortes, mais bonitas e mais preciosas. Cooperam fervorosamente, cada um ajudando o próximo, e dizendo ao irmão: “Sê forte.”

Terceira estrofe

Versos 8 e 9: Mas, tu, ó Israel, servo Meu, tu Jacó, a quem elegi, descendente de Abraão, Meu amigo, tu, a quem tomei das extremidades da Terra e chamei dos seus cantos mais remotos, e a quem disse: Tu és o Meu servo, Eu te escolhí e não te rejeitei.

Na terceira estrofe, nossa atenção é atraída para Israel, o qual é a testemunha de Deus na grande assembléia. O único que poderá testificar sobre o significado dos eventos, porque a ele unicamente foi revelado o segredo. Nos versos 8 a 10, a história da dádiva de Israel é interpretada como tendo sido a obra de Deus. Aqueles que não Lhe pertenciam foram escolhidos para serem Seus servos. A reafirmação das promessas feitas a Abraão era uma certeza para o povo, que logo iria ser levado para o exílio, de que Deus não os abandonaria. E que, mesmo errantes no cativeiro, continuariam sendo servos de Deus se assim o quisessem.

As origens de Israel encontram-se em Abraão e Jacó. As palavras “Meu servo” representam o tema central e dominante nesta parte do livro de Isaías (40 a 66). O servo aqui não significa a figura degradante de um subserviente vulgar e escravizado. Israel possui um elevado status diante de todos os povos, no sentido de que foi chamado para realizar um trabalho especial diante deles. Segundo o Comentário Bíblico Adventista, “o chamado de Ciro não anulou o chamado de Israel. Por essa razão, Deus reafirma a promessa e o chamado feitos aos pais”.

A palavra traduzida como servo é ebed, que combina a idéia de serviço e adoração. A idéia básica é que o ebed não apenas serve a seu mestre, mas também o honra. Longe de ser um serviço prestado por força legal, é um serviço que procede do coração.

“O fato de Ciro ser chamado de servo não anula o chamado de Israel para ser servo, nem sua eleição por Deus. Israel permanece como servo de Deus num sentido especial.” (Exposition of lsaiah, pág. 42).

Verso 10: Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres porque Eu sou o teu Deus; Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a Minha destra fiel.

No início dessa estrofe, Israel ouviu a certeza de seu valor quando Deus disse: “Meu servo, Meu escolhido, Meu amigo”. Agora, num tempo em que o reino do norte tinha sido varrido pelo rei da Assíria, Israel (norte) já não existia, a Assíria era uma ameaça diuturna. E as interrogações, provavelmente surgiam: Seria o restante também atacado? Seriam suficientemente fortes os exércitos, para enfrentar os invencíveis inimigos?

O medo, o temor e o desespero estavam presentes. Aquele povo necessitava urgentemente de uma mensagem de conforto e de esperança. É então que Deus diz: “Eu sou contigo. E isso significava a certeza de que o Senhor estava presente.

Final feliz

 O Comentário Bíblico Adventista traça um paralelo entre o livramento do povo de Deus, das garras da Babilônia literal, com o livramento final dos Seus filhos do cativeiro babilônico espiritual. Do mesmo modo como foi feita a promessa de que o Senhor tiraria Seu povo de Babilônia, e os levaria à sua terra, assim também a promessa de libertação do Israel espiritual e sua entrada na Pátria celeste será cumprida.

Ciro era um “homem justo, reto e de caráter íntegro” a quem Deus chamou e qualificou para operar a libertação dos Seus filhos, destruindo Babilônia. Cristo, “justiça nossa”, supremamente reto e íntegro, brevemente Se levantará, vindo do Oriente para libertar Seu povo, cativo sob a opressão de Babilônia espiritual.

Babilônia, Lídia e Egito se uniram para guerrear contra Ciro, mas não prevaleceram. Nos dias finais, a besta, o falso profeta e o espiritismo unirão suas forças para lutar contra Cristo, o grande conquistador, e serão derrotados.

Nas expressões “Eu sou contigo”, “não temas”, encontramos a certeza de que Deus está conosco. Não há nada a temer. A vitória é certa e não tardará.