O Pastor Elizeu Correia Lira nasceu em Vitória, ES, e concluiu o curso teológico no Instituto Adventista de Ensino, em 1984, depois de tê-lo iniciado no Educandário Nordestino Adventista. Trabalhou como professor de Bíblia em Maringá, PR, e distrital na Associação Espírito-Santense. Em 1991, veio para a Casa Publicadora Brasileira, como redator, período no qual serviu como editor da revista Ação Jovem, e editor associado das revistas Vida e Saúde, Nosso Amiguinho e Superamigo. Revelou-se também amante do estudo e da pesquisa. Em maio deste ano, aceitou um chamado para ser pastor distrital em Guarapari, ES.
É casado com Rosângela Rocha Lira, também formada em Teologia e que presta serviços à Casa Publicadora Brasileira como tradutora. O casal tem um filho: Everton, de seis anos.
Às vésperas de sua viagem para a Associação Espírito-Santense, o Pastor Lira falou a Ministério, mesmo envolvido nos trâmites da mudança.
MINISTÉRIO: Passados cinco anos, como o senhor avalia o trabalho do redator, no contexto missiológico da Igreja?
PASTOR LIRA’. O redator é fundamental para a Igreja. Ele é um elemento formador de opinião, graças à visão ampla que ele tem das coisas da Igreja. Isso como fruto da experiência que, em nosso caso, alguns possuem como ex-pastores distritais e até como departamentais. Tudo isso dá ao redator condições de participar mais diretamente do processo de crescimento da Igreja. Acho até que ele deveria ter mais participação no planejamento e na formulação de estratégias missionárias.
MINISTÉRIO: Parece haver um pensamento segundo o qual o redator, por não realizar séries de conferências, não precisar correr atrás de alvos de batismos, viveria um pouco à margem da missão evangelizadora. Como vê isso?
PASTOR LIRA: O redator não deixa de ser um pastor. Por seus escritos, ele motiva a Igreja para o trabalho, produz material evangelístico e alcança pessoas de fora da Igreja. Seu púlpito é mais abrangente, seu auditório é mais vasto. Portanto, ele está diretamente envolvido com a Missão Global. Ademais, é bom lembrar que os redatores da Casa Publicadora Brasileira ajudam às igrejas que freqüentam, como anciãos e pregadores, realizando pequenos esforços evangelísticos, dentro da sua esfera.
MINISTÉRIO: Que fatos considera marcantes em seu trabalho como redator?
PASTOR LIRA: Quando cheguei à CPB, eu tinha pouco tempo de trabalho pastoral. A oportunidade de contato com líderes experientes, tanto aqui na editora como de outras instituições e outros Campos, foi um fator que me enriqueceu muito. A necessidade de estar sempre pesquisando mais acuradamente também foi muito importante. Mas há um outro fator muitíssimo significativo: a resposta do público ao trabalho. É preciso avaliar melhor o alcance do trabalho do redator. Certamente só a eternidade o fará em sua plenitude, mas os frutos estão aí. Certa vez, escrevi um artigo na revista Decisão, sobre a questão da mortalidade da alma. Um leitor, espírita, escreveu lá de Rondônia, contradizendo a argumentação. Enviei-lhe mais subsídios, o rapaz mudou sua maneira de crer e foi batizado. Atualmente está concluindo o curso teológico no Iaene.
MINISTÉRIO: Quais são seus sentimentos e expectativas em relação ao novo trabalho?
PASTOR LIRA: Eu estou realmente vibrando. Sinto o entusiasmo e a expectativa de quem está saindo do seminário para assumir o primeiro distrito. A vibração é tanto maior em virtude de tudo aquilo que aprendi nestes últimos cinco anos. Não vejo a hora de poder colocar em prática muitas idéias e experiências que foram acumuladas durante esse tempo.
MINISTÉRIO: Como espera voltar a conviver com alvos de batismos?
PASTOR LIRA: Bem, depois de cinco anos sem liderar um distrito pastoral, alguma coisa mudou em minha mente. Sempre existe a possibilidade de modificar certas posições, em cinco anos. Continuo vendo os alvos, especificamente o alvo de batismo, como algo válido. Mas um pastor não pode ter uma visão unilateral, apenas numérica. Vou investir meu melhor esforço para alcançar todos os alvos, mas não pelos números em si mesmos. A motivação é diferente.
MINISTÉRIO: Que significa ser um pastor de sucesso, em sua concepção?
PASTOR LIRA: Eu sei que, para muitas pessoas, ser um pastor de sucesso é construir igrejas, batizar muita gente. Mas essa pode ser uma visão materialista, calcada em números e estatísticas, que impede o pastor de realizar um trabalho mais profundo em favor do ser humano. Eu creio, no entanto, que um pastor de sucesso é aquele que se entrega à direção do Espírito Santo, que partilha com os membros, apascentando-os, guiando, orientando. Isto é ser pastor na essência da palavra.
MINISTÉRIO: Como vê o púlpito adventista hoje?
PASTOR LIRA: Certamente precisa melhorar. Muitos ouvintes estão carentes de uma mensagem que alimente, fortaleça, conforte, instrua e enriqueça a vida espiritual. Há muita mensagem promocional e isso não alimenta o rebanho. Noutras vezes são pregados sermões muito teológicos, que não atingem à realidade prática dos membros das igrejas. Isso faz lembrar uma declaração feita por um grande pregador do passado: “As ovelhas olham para cima e saem famintas.” Precisamos de mensagens objetivas, bíblicas, cristocêntricas e contextualizadas.
MINISTÉRIO: O que o levou a escrever um livro sobre Nova Era?
PASTOR LIRA: É uma boa pergunta. A certa altura, lendo e ouvindo sobre o assunto, comecei a me indagar: se este é um assunto relevante, se outras denominações religiosas estão produzindo material de esclarecimento sobre o tema, se corremos o risco de ver introduzida, em nossos arraiais, sua perniciosa influência, por que não se fazer algo? Assim, procurei estudar e pesquisar mais sobre o asssunto e partilhar com o público o resultado disso.
MINISTÉRIO: Para algumas pessoas, está sendo atribuída à Nova Era mais importância do que se deveria atribuir. Que acha desse pensamento?
PASTOR LIRA: Quando, por volta de 1875, foi criada a Sociedade Teosófica dos Estados Unidos, Ellen White combateu vigorosamente a questão. Ela disse ter sido instruída a combater os ensinos que desvirtuam a personalidade de Deus. Da mesma forma, não podemos permanecer indiferentes ao perigo que representa a Nova Era. Somos chamados a ser atalaias, e necessitamos dar o sonido à trombeta, no momento certo. Por sua sutileza e alta dose de mistura da verdade com o erro, não podemos minimizar a grandeza do perigo que a Nova Era representa. Embora não devamos ir a um outro extremo: o de afirmar que tudo é Nova Era.
MINISTÉRIO: Qual é a mensagem central da Nova Era?
PASTOR LIRA: A mensagem central da Nova Era está fundamentada no panteísmo, que, como sabemos, apregoa que Deus está presente em todas as coisas, não como Ser pessoal, mas como energia. Tudo faz parte de Deus, logo tudo é Deus. E o chamado princípio monista, uma unidade não diferenciada. O ser humano seria então uma extensão dessa divindade. O problema desse conceito é que ele leva o ser humano a crer que não precisa de Deus. Ele também é Deus e só precisa estar consciente disso. O homem desvia então seu olhar de Deus, para si mesmo.
MINISTÉRIO: Na prática, que aspectos da vida humana estão sendo mais afetados pela Nova Era?
PASTOR LIRA: As pessoas estão sendo levadas a buscarem a solução dos seus problemas em si mesmas. A confiarem em si mesmas, através do chamado desenvolvimento potencial. E aí entra a sedução pela mídia, a pregação falsamente psicológica, visualização, neurolingüística, etc. Há uma superestimação do potencial humano. Muitas religiões cristãs estão sendo contaminadas por esse veneno, notadamente aquelas que advogam a chamada teologia da prosperidade, segundo a qual o homem pode conseguir tudo o que deseja, bastando para isso, mentalizar e visualizar positivamente. Ele não tem porque ficar doente ou ser pobre. Mas, evidentemente, essa não é a visão cristã de fé. Fé é confiança em Deus, a despeito das circunstâncias. Além disso, também podemos ver o crescimento do espiritismo. Seus ensinamentos estão abertamente veiculados em muitos programas de TV, como novelas e minisséries; personalidades do mundo político, empresarial e artístico pregam o espiritismo. Segundo dados recentes, publicados pela revista Veja, existem 25 milhões de espíritas no Brasil.
MINISTÉRIO: Estaria a Igreja Adventista, de alguma forma, também ameaçada por tais influências?
PASTOR LIRA: Precisamos estar vigilantes. Não raro, presenciamos uma ênfase exagerada em resultados imediatos, baseada em motivações que não têm o apoio bíblico. Parto do seguinte princípio: a base da verdadeira religião, da religião bíblica, leva o ser humano a olhar para a cruz, para Jesus. Por conseguinte, todo conceito que não esteja centrado na cruz, em Cristo, é falso. Então, seria o caso de nos perguntarmos: quais são os nossos reais motivos? Ou, que motivações procuramos despertar nos membros de nossas igrejas, a fim de envolvê-los no trabalho missionário? Na grande batalha em que estamos envolvidos, precisamos atentar para o fato de que, do outro lado, não existe somente erro, mas erro e verdade misturados. E, às vezes, tentando imitar algo bom, trazemos também um pouco do ruim.
MINISTÉRIO: Qual é o papel da Nova Era, segundo a visão escatológica adventista?
PASTOR LIRA: Se prestarmos bem atenção, a Nova Era começou no Eden quando Satanás negou uma afirmativa de Deus e, em seguida, fez uma proposta de clarividência e iluminação: “Não morrereis.” Ao contrário disso, “sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”. Chegamos ao final da História, e a mesma proposta reaparece com novas e atraentes roupagens. A Nova Era será um elemento de união de todos os poderes da Terra. E, quando falo de todos os poderes, estou falando mesmo de poderes religiosos, políticos e econômicos. E, com essa união, à luz do Apocalipse, é fácil saber o que ocorrerá.
MINISTÉRIO: Então a atual globalização econômica tem a ver com a Nova Era?
PASTOR LIRA: Sim, tem a ver. Tanto é assim que expoentes da globalização, como Alvin Toffler e Peter Drucker, e teólogos como Leonardo Boff, defendem essa união de forças, classificando-a como “uma nova civilização”. Ora, o Apocalipse fala da união de três “espíritos imundos” que vão ao encontro dos reis da Terra, que, segundo o Dr. LaRondelle, teólogo adventista do sétimo dia, não são apenas governantes religiosos, mas também políticos. É justamente isso o que a Nova Era prega: a unificação político-religiosa do mundo. Isso vem apresentado através de vários nomes: globalização, nova ordem mundial, mundialização. Tudo como parte de um cenário que está sendo montado para a última batalha.
MINISTÉRIO: Há quem associe o progresso da informática à Nova Era. Isso não cheira a alarmismo?
PASTOR LIRA: Não podemos ser alarmistas. Nem precisamos sê-lo. A informática invadiu a nossa vida e coisas fantásticas podem ser realizadas através do computador, inclusive evangelismo. Mas sem sombra de dúvida, tudo isso já permite uma unificação global. Hoje, através de satélites, infovias, estamos ligados ao mundo. A informática é um instrumento que pode ser usado tanto para o bem, como para o mal; e certamente será um ingrediente que favorecerá o processo. Mas não vamos jogar fora nossos computadores, por causa disso.
MINISTÉRIO: O que representa maior perigo para a Igreja: a Nova Era ou o institucionalismo ?
PASTOR LIRA: As duas coisas são perigosas. Mas o institucionalismo atravanca a marcha da Igreja. É um inimigo, digamos, interno. Contra os inimigos externos, no caso a Nova Era, nós nos precavemos e nos preparamos para enfrentar. Os inimigos internos nos apanham, às vezes, de surpresa. Esse é o grande perigo. O institucionalismo nos torna insensíveis ao valor da pessoa humana, e isso desvirtua a missão. Desconsiderar o valor da pessoa humana, significa contrariar o evangelho. Cristo veio salvar pessoas; não coisas. Levará pessoas para o Céu. No final, os institucionalistas correm o risco de ouvir de Seus lábios a sentença: “Vocês fizeram muitas coisas em Meu nome, mas não vos conheço.” Deus nos livre do institucionalismo.
MINISTÉRIO: Que instrumentos podemos, como pastores, utilizar para proteger a Igreja dessas ameaças?
PASTOR LIRA: Há os que pensam que a Igreja deve receber um “choque de modernidade”. Logicamente, devemos acompanhar os avanços do mundo, no sentido de contextualizar a nossa pregação e atuação missionária. Mas o de que mais necessitamos, realmente, é de um choque do Espírito Santo. A Igreja necessita ser despertada. Falando dos enganos finais, Ellen White diz que “a Igreja precisa despertar para os poderes sutis dos instrumentos satânicos que importa enfrentar. Firmai os pés na plataforma da verdade eterna da Palavra de Deus.” Se a Igreja precisa despertar, então, nós os líderes, temos uma urgente tarefa a fazer. Aliás, ao estudar e falar sobre esses assuntos, posso afirmar que a Igreja tanto necessita como está desejosa de ser orientada. Repito que não devemos ser alarmistas, mas também não podemos ser apáticos e indiferentes. Lembro ainda que essa mensagem deve ser cristocêntrica. Se enfatizarmos apenas o aspecto escatológico, podemos criar pânico.
MINISTÉRIO: O senhor pretende continuar escrevendo sobre Nova Era?
PASTOR LIRA: Mais do que nunca. Logicamente, dentro da disponibilidade de tempo que me permitirão as atividades de pastor distrital. Já estão preparados os originais de um novo livro, intitulado A Nova Era e o Armagedom.
MINISTÉRIO: Qual sua mensagem especial para os leitores?
PASTOR LIRA: Aos colegas redatores, eu gostaria de incentivar a que continuem animados e firmes na execução deste importante trabalho de orientar, instruir, informar e alimentar a Igreja. Procurem ocupar o espaço que lhes cabe na Missão Global. Aos demais pastores e anciãos, que estamos na liderança das igrejas, lembro a necessidade de nos alimentarmos do Pão da Vida, através de intensa comunhão com Deus e Sua Palavra, a fim de que possamos nutrir devidamente o rebanho que nos foi confiado. Disso, não podemos prescindir, sejam quais forem as exigências externas do trabalho. Enfim, pastores, administradores e líderes, em qualquer instância, devemos estar unidos, comunicando-nos de maneira saudável e cristã. As igrejas precisam ser inspiradas também pelo exemplo do nosso relacionamento.