Em 1876, um cavalheiro de nome Nelson Barbour encontrou uma boa saída para o segundo desapontamento sofrido pelos russelitas. Jonas Wendell havia marcado a data de 1874 para a segunda vinda de Jesus, mas nada aconteceu, como era de se supor. “Baseando-se na tradução bíblica Diaglótico Enfático, que traduz a palavra ‘vinda’, de Mateus, por ‘presença’”,1 Barbour começou a ensinar que Cristo veio realmente na data indicada pelo seu antecessor, mas de maneira invisível. A interpretação ensinada por Nelson Barbour foi prontamente aceita por Charles Russel que, em 1879, passou a escrever sobre o assunto, como tendo ocorrido em 1874.2
A palavra grega que a Diaglótico Enfático usou para “presença”, foi parousia. Em português, tem ela som parecido com o da língua original. Há, contudo, duas coisas relacionadas com esse vocábulo, ao considerarmos o assunto da segunda vinda de Jesus, as quais merecem atenção. Uma delas é que, embora parousia possa ser traduzida por “presença”, não é esse o seu único significado. A outra é que nem todos os textos que falam da segunda vinda de Cristo, usam a palavra parousia. Embora possa ela figurar em um bom número de textos, muitos outros há que tratam igualmente do retomo de nosso Senhor a este mundo, os quais dizem de maneira clara que a volta de Jesus será visível, gloriosa e em uma ocasião futura; e, neles, não existe a palavra parousia, mas outros vocábulos.
Um exame dos principais textos bíblicos que tratam da segunda vinda de Jesus, mostra que nem todos eles usam a palavra parousia.
Alguns dicionários chegam a atribuir à palavra parousia cinco e até mais significados, não sendo justo, portanto, apegar-se apenas ao de “presença”. O de Isidoro Pereira, por exemplo, define a palavra como “Presença, atualidade, ocasião favorável, chegada, advento.”3 Souter a define como “Visita real, chegada de um rei.” e Thayer assim a define: “Futura, visível volta de Jesus, o Messias, do Céu para ressuscitar os mortos, realizar o juízo final, e estabelecer formal e gloriosamente o reino de Deus.”
Embora à semelhança dos demais já citados, F. Wilbur Gingrich e Frederick W. Danker comecem definindo a palavra parousia como “presença”, dão-lhe, também, estes significados: “Vinda, advento – a) de seres humanos; b) de Cristo e Seu advento messiânico no fim desta era.”4
Após verificarmos os vários sentidos dados à palavra parousia, vejamos agora alguns textos bíblicos nos quais figura essa palavra, para em seguida examinar outros em que ela não aparece, embora também falem da segunda vinda de Jesus.
Um dos textos em que ela aparece é Mateus 24:3. Este verso declara que Jesus Se encontrava no Monte das Oliveiras, e que Seus discípulos dEle se aproximaram, pedindo-Lhe que lhes dissesse quando se cumpririam as coisas que acabara de dizer-lhes; Queriam saber também que sinal teriam da vinda do Senhor e do fim do mundo. No original, a palavra utilizada para vinda, neste verso, foi parousia.
A mesma coisa ocorre com I Coríntios 15:23. Em praticamente todo este capítulo, o apóstolo Paulo trata da ressurreição dos mortos. No verso 23, explica ele como se dará esse acontecimento. “Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, em Sua vinda.” No grego, foi usada para vinda a palavra parousia.
I Tessalonicenses 4:15 a 18 constitui-se um dos mais belos e confortadores textos bíblicos. Muitos fiéis têm nele renovado as suas esperanças de rever entes queridos que foram chamados ao descanso. A morte passa a não ter os aspectos sombrios que comumente possui quando a pessoa falecida não dorme o sono dos justos. Com base na palavra do Senhor, o apóstolo declarou aos cristãos de Tessalônica que aqueles que se encontrarem “vivos para a vinda do Senhor” (verso 15), não irão para o Céu antes que os que estão dormindo no Senhor ressuscitem. A palavra usada pelo apóstolo Paulo, na expressão “vinda do Senhor”, também foi parousia.
Essa foi também a palavra que ele usou sua segunda carta aos tessalonicenses. Em II Tess. 2:1, escreveu ele: “Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com Ele…” Nesse apelo para que os seus leitores não desistissem facilmente do seu entendimento, falou da vinda do Senhor, utilizando a palavra parousia.
É interessante notar que, em todos estes textos, nenhuma indicação há de que Cristo estaria presente em um lugar qualquer, sem que fosse visto por olhos humanos. Pelo fato de Sua vinda estar ligada a fenômenos como a ressurreição dos mortos, que somente ocorrerá no momento da volta de Jesus, torna-se difícil conciliar Sua simples presença, com o Seu efetivo aparecimento nas nuvens do Céu.
Um exame dos principais textos bíblicos que tratam da segunda vinda de Jesus, mostra que embora muitos deles contenham a palavra parousia, esse termo está ausente nos demais. Outras palavras são usadas em seu lugar. É o caso, por exemplo, de Mateus 24:30. Como sabemos, após falar de vários fenômenos que ocorrerão no Céu sideral (verso 29), Jesus acrescentou: “Então aparecerá no Céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da Terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do Céu.” No grego, a palavra empregada no Evangelho de Mateus, para “vindo”, na expressão “vindo nas nuvens do Céu”, foi erkómenon, particípio do verbo erkomai.
O mesmo verbo, no infinito (erketai), encontra-se em Lucas 17:20. Nesse verso, os fariseus interrogaram a Jesus sobre a vinda do Seu reino. Ele respondeu que este não vem com aparência exterior. Naturalmente, Seus interlocutores se referiam ao reino temporal de Jesus, como o revela o contexto, e o Salvador lhes falou do reino da graça. Em João 14:3 e Apocalipse 22:20, passagens que falam da segunda vinda de Cristo, o mesmo verbo é encontrado nos tempos futuro e presente. Respectivamente, erkomaikai e erkomai.
Melhor do que ficar marcando e desmarcando datas para a volta de Cristo, é esperar que Deus cumpra o Seu propósito quando achar conveniente. E orar por isso.
Em Atos 1:11, Lucas usou a palavra eleúsetai, para dizer que Jesus virá novamente a este mundo. “Varões galileus, por que estais olhando para o Céu?” perguntaram os anjos. E continuaram: “Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir.” (grifo suprido). O mesmo verbo, respeitados os tempos e modos em que foram empregados no texto bíblico, é encontrado em Mateus 25:31; Luc. 18:8; Judas 14; I Cor. 11:26. Aparece também em Mateus 11:18 e 19, onde Jesus conversa com os fariseus sobre João Batista e censura-lhes a incoerência.
Jesus definiu também a Sua vinda como manifestação. Depois de predizer as condições que prevalecerão antes do Seu regresso ao nosso planeta, disse Ele em Lucas 17:30: “Assim será no dia em que o Filho do homem Se há de manifestar.” A palavra original, aqui traduzida por manifestar, é apokaliptetai, mostrando assim a variedade de termos utilizados para descrever aquele que será o maior de todos os acontecimentos da história terrestre.
Finalmente, mais um texto sobre o breve regresso de Jesus à Terra, no qual a palavra parousia está ausente. Trata-se de Tito 2:14. Nele, Paulo fala ao seu colaborador sobre a maneira de aguardar o que chama de “bem-aventurada esperança, e a glória do grande Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo”. O termo usado pelo escritor, para “aparecimento”, foi epífaneian, palavra que pode também ser traduzida por manifestação e vinda.
Os discípulos de Jesus conheciam outra palavra para significar presença. O apóstolo Pedro a usou no dia de Pentecostes. Trata-se da palavra prosotou. Ao exortar os judeus para que se arrependessem de ter matado a Cristo, em Atos 3:19 e 20, disse ele: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos de refrigério pela presença do Senhor.” O substantivo prosotou, usado por Pedro, refere-se à presença de Cristo no coração. Os arrependidos seriam refrigerados interiormente. Cristo lhes traria conforto e paz à mente culpada. Sua presença na alma, expulsaria a condenação de terem praticado tão grande delito. Trata-se de uma presença que deve ser entendida como permanência, o que difere de parousia, que tem o sentido de vinda.
O que fica bastante claro, ao examinarmos todos esses textos, é que exige muito esforço marcar data para a vinda de Cristo, com base em certas porções bíblicas, e depois buscar nova interpretação para que justifique o erro cometido. Melhor do que tudo isso, é esperar que Deus cumpra o Seu propósito quando achar conveniente. Orar por isso, constitui uma boa ocupação de nossa parte.
Referências:
- 1. Azenilto G. Brito, O Desafio da Torre de Vigia, pág. 23.
- 2. Ibidem.
- 3. Isidoro Pereira, Dicionário Grego-Português, Português-Grego, pág. 429.
- 4. William C. Taylor, Dicionário do Novo Testamento