Em seu livro intitulado Eu, Um Servo? ‘Cê Tá Brincando! Charles Swindoll expõe maravilhosamente bem a maneira como nós, na prática, encaramos nossa condição de servos: rejeição. Afinal, essa nos parece uma condição de inferioridade. Apreciamos a ostentação de um título, a cadeira do poder, o lugar à cabeceira da mesa, a passarela, os holofotes da fama. Paradoxalmente, o Senhor a quem servimos assumiu a condição de servo. E nisso devemos imitá-Lo.
Certa ocasião, a mãe de dois dos Seus discípulos, Tiago e João, aproximou-se para pedir- Lhe uma promoção para os filhos, no reino que seria estabelecido. A atitude daquela mãe causou certa indignação entre os demais, que desejavam a mesma coisa. Foi então que Jesus lhes mostrou a verdadeira natureza do Seu reino, o contraste entre a Sua filosofia de liderança e a do mundo: “Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tomar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo.” (Mat. 20:25 a 27).
Liderar, segundo o mundo, é algo que está sempre relacionado com ostentação, domínio autoritário, favorecimento aos amigos e retaliação daqueles cujas idéias divergem dos pensa mentos do líder, superestimação das coisas e subestimação das pessoas. Liderar, segundo Cristo, é servir. É trabalhar tendo em vista exclusivamente a glória de Deus e o bem-estar daqueles pelos quais Ele deu a própria vida, na pessoa do Seu filho Jesus. É ter motivos cor retos para as realizações que se planeja, descartando todo resquício de interesse próprio, e de louvor pessoal.
Nos dias de Cristo, “supunha-se que o povo existia para benefício das classes dominantes. Influência, fortuna, educação eram outros tantos meios de empolgar as massas para proveito dos dirigentes. As classes mais altas deviam pensar, decidir, gozar e dominar; às mais humildes cumpria obedecer e servir. A religião, como tudo o mais, era uma questão de autoridade. Do povo esperava-se que acreditasse e procedesse segundo a direção de seus superiores. O direito do homem como homem – de pensar e agir por si mesmo – era inteiramente postergado.
“Cristo estava estabelecendo um reino sobre princípios diversos. Chamava os homens, não à autoridade, mas ao serviço, os fortes a sofrer as fraquezas dos fracos. Poder, posição, talento, educação colocavam seus possuidores sob maior dever de servir aos semelhantes.” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 524).
É isso então. O líder cristão não foi chamado para agir como se fosse o proprietário de qualquer segmento denominacional colocado sob sua responsabilidade. Muito menos foi chamado para manipular consciências, impor idéias e exigir cega obediência. “Não é assim entre vós”, Cristo afirmou, acrescentando: “pelo contrário, quem quiser tomar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo.” Palavras esquecidas essas, na corrida em busca de promoção e na luta pelo apego à função. Mas elas traduzem a única maneira pela qual é possível alguém chegar ao ápice do reino de Cristo: vivendo uma vida de serviço.
Há somente uma casta no reino de Deus: a dos servos. O que importa, na verdade, não é o título que distingue alguém, tampouco a função que ocupa. Mas a atitude de serviço com que desempenha seu trabalho.
Como ministros, devemos trabalhar no sentido de que somente Cristo cresça, que é o de que mais carecemos. E nós diminuamos, que é o que bem merecemos.
– Zinaldo A. Santos.