Ao longo de 150 anos de história, temos, como Igreja, perseguido o nosso objetivo: anunciar a tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14 a cada criatura, de cada grupo étnico, em todo o mundo. Existem 24 mil desses grupos, dos quais doze mil não foram alcançados pela cristandade, e um número ainda maior precisa ser evangelizado. Esta é a nossa tarefa. Compreenderemos melhor a causa dessa situação, tendo um esclarecimento sobre nossa visão missionária através da história.
Porta fechada.
Inicialmente, essa visão, mantida por nos-sos pioneiros era muito limitada. Após a experiência de 22 de outubro de 1844, prevaleceu por algum tempo o ensinamento de que a possibilidade de salvação terminara para todos os que rejeitaram a mensagem milerita, anunciada desde 14 de agosto de 1831 até o grande desapontamento. Essa visão missiológica, conhecida como Teoria da Porta Fechada, foi ensinada por Apollos Hale e Joseph Turner a partir de janeiro de 1845.
Os líderes do movimento adventista de então creram, temporariamente, em tal doutrina. Alguns, como José Bates, acreditavam que para os judeus a oportunidade ainda estava aberta, mas somente para eles, além dos mileritas. Para Bates, a porta da salvação estava fechada a todos os outros cristãos. Assim os nossos pioneiros compreendiam a missão.
Um fator que muito contribuiu para que houvesse uma alteração desse ponto de vista foi a revelação recebida por Ellen White, em 24 de março de 1849, quando ela disse que a porta que foi fechada referia-se à primeira fase do ministério de Cristo no santuário celestial; entretanto, uma segunda porta foi aberta – a do santíssimo, ou a segunda fase da obra intercessória que incluía o juízo do Dia da Expiação. A partir desta época, pessoas que não tiveram relação com o milerismo converteram-se a Cristo e aceitaram as doutrinas características do adventismo.
Por volta de 1854, Bates e Tiago White estavam prontos para aceitar que a porta da salvação somente se fecha quando alguém rejeita individualmente, e para sempre, o apelo do Espírito Santo. Em torno desse período, iniciou-se o trabalho de conferências públicas que atraía milhares de americanos. Nesse mesmo tempo, acontece o trabalho de evangelização entre as minorias étnicas dos Estados Unidos. Somente em 1864, Michael Czechowiski viajou para a Europa, por conta própria, com o objetivo de evangelizar os valdenses.
Dez anos depois, em 1874, J. N. Andrews seria enviado à Europa. Gastamos 30 anos de nossa história para enviarmos o nosso primeiro missionário além-mar. Na década de 1870, o número de adventistas triplicou; contudo havia um perigo subjacente em tudo isso.
Realizações versus devoção
Apesar das importantes realizações dos primeiros trinta anos, tais como a organização da Igreja, o estabelecimento da Obra de Saúde, a evangelização dos Estados Unidos e da Europa, a implantação do sistema educacional, a Igreja Adventista do Sétimo Dia viveu uma séria crise relacionai e teológica. Para conturbar ainda mais a situação da Igreja, a nação norte-americana vivia os perigos de uma guerra civil, que, aliada à uma teologia legalista e ariana e à tendência americana, mais preocupada em fazer do que ser, preparou a crise de Mineápolis, em 1888.
A Igreja voltada para suas realizações esqueceu-se de sua vida devocional. Desde 1856, Ellen White conclamava o povo e os líderes à contrição e ao arrependimento. A grande lição histórica a ser aprendida é que as realizações na Obra do Senhor não substituem a necessidade de comunhão com o Senhor da Obra.
Foram exatamente as realizações, em detrimento da devoção, que conduziram nossa Igreja ao capítulo mais escuro da nossa história, enquanto que, posteriormente, o mais iluminador. Tal situação levou o Pastor Buttler, presidente da Associação Geral, e Uriah Smith, professor de Teologia e diretor da Review and Herald, a pensarem que sua visão teológica era a pura verdade adventista. Achavam que deviam defender o que pensavam ser o marco da fé. Isso, para logo se surpreenderem de que o Pastor W. White e sua mãe, Ellen White, tomaram posição, como muitos outros, contra a liderança de então.
A Igreja daqueles dias nada decidiu quanto aos temas teológicos discutidos, motivo pelo qual não pode ser acusada de rejeição da mensagem de justificação pela fé. Quando, em 1890, Uriah Smith reconheceu seu erro em opor-se aos dois jovens do Oeste -Jones e Waggoner -, Ellen White declarou: “A revelação da justiça de Cristo, em 1888, era o início da luz do anjo cuja glória enchería toda a Terra.” (R&H, 22/11/1892).
Três pilares básicos
Portanto, nós temos intimamente relacionadas a verdade da justiça pela fé, a missão da Igreja e a chuva serôdia (Apoc. 18:1; 14:6-12). A missão somente poderá ser executada com eficiência, e a chuva serôdia somente ocorrerá quando a justificação pela fé for entendida e vivida pelos membros da Igreja Adventista. A eficácia da missão depende da nossa visão a respeito da salvação. Fora dos meios adventistas, também é confirmada a mesma posição.
No Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado em Lausanne, Suíça, o Pastor Billy Graham afirmou que “a razão pela qual os grandes movimentos missionários do século XIX poduziram impacto duradouro no mundo, foi o fato de terem sido internamente fortes. Eles sabiam em quem acreditavam, e estavam resolvidos a proclamá-Lo ao mundo. Precisamos orar para que nós também possamos experimentar esse mesmo tipo de fé e urgência”.
Um desafio
O desafio da evangelização mundial é gigantesco: dos seis bilhões de indivíduos, dois bilhões são cristãos. E desses, oito milhões são adventistas. Isso significa 0,13% da população mundial. Embora acreditemos que outras religiões cristãs também evangelizem o mundo, somente 30% dos cristãos estão comprometidos com a missão, ou seja, apenas 600 milhões.
O nosso maior problema é como sermos eficientes na proclamação do evangelho. A pergunta que se impõe é: Já houve época em que a Igreja foi capaz de evangelizar seus contemporâneos? A resposta é sim. “… Não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes, e que foi pregado a toda a criatura debaixo do Céu, e do qual eu, Paulo, me tomei ministro.” (Col. 1:23).
Assim, nós temos um padrão para o exercício da missão: a Igreja apostólica, onde a teologia e a missiologia se encontram. Essa relação acontece com mais clareza no livro de Atos. Somente nesse relacionamento vamos encontrar a motivação constante, os princípios que norteiam a evangelização e a solução do desafio da evangelização.