O Pastor Roberto Gullón Canedo nasceu em La Coruña, Espanha, onde fez estudos de primeiro e segundo graus. Mais tarde, concluiu um curso paramédico na Universidade de Santia­go de Compostela, e, em 1951, uma época em que não havia seminários adventistas em seu país, devido a perseguições
religiosas, mudou-se para a Argentina, com o propósito de cursar Teologia. Desde então, sua carreira ministerial foi desenvolvida na América do Sul.

Formou-se em 1956, iniciando seu trabalho em seguida como preceptor e professor de Bíblia, atividades que desempenhou durante dois anos. Posteriormente trabalhou como pastor distrital, presidente da Missão Patagônia, presidente da União Incaica, e, ultimamente, como diretor geral da Casa Editora Sudamericana em Buenos Aires, Argentina. Por ocasião da última assembléia da Associação Geral, em Utrecht, Holanda, foi eleito secretário da Divisão Sul-Americana.

É casado com Myriam Rostán, argentina de origem valdense, descendente da primeira família sul-americana que entrou em contato com a mensagem adventista, em 1886.

Da sede da DSA, concedeu a Ministério a seguinte entrevista:

MINISTÉRIO: Como recebeu a indicação para ser o secretário da DSA?

PASTOR GULLÓN: Com um misto de surpresa e preocupação. Já tinha estabelecido alguns planos pessoais; no entanto, a in­dicação recebida alterou tudo. Qualquer pessoa, ao receber uma nomeação dessa nature­za, sente-se pequeno e apreensivo, temeroso. Mas as orações dos amigos e irmãos, e a ajuda do Senhor, providen­ciam a ajuda necessária para a nova tarefa.

MINISTÉRIO: Qual a importância da secreta­ ria, no contexto adminis­ trativo da Igreja e da Missão Global?

PASTOR GULLÓN: A secretaria tem uma parte mecânica, que envolve contabilidade e registros, números e nomes. Mas atrás de tudo isso, existem pessoas, necessidades, angústias, alegrias, triun­fos. No contexto administrativo, a secretaria é a assessora direta da presidência. É o setor que cuida da ortodoxia, da aplicação correta dos regulamentos operativos da Igreja, da ordem eclesiástica e da organização em todos os níveis; muito especialmente no que se refere à conquista e conservação de novos membros.

MINISTÉRIO: Quais são, hoje, os grandes desafios desse setor?

PASTOR GULLÓN: Há um desafio que, em minha opinião, é o maior. Refiro-me ao problema da perda de membros por apostasia. Há, também, o problema dos registros irregulares de membros nas igrejas, devido às correntes migratórias da população adventista, além da necessidade de velar constantemente para que as coisas sejam feitas sempre com decência e ordem. A secretaria deve cuidar também para que em toda a Igreja haja sempre um elevado sentido de autoridade e de responsabilidade de cada membro.

MINISTÉRIO: Que planos o senhor tem em mente para a secretaria da DSA ?

PASTOR GULLÓN: Tão logo sejam concluídas as reuniões de Mesa de fim de ano, e as assembléias de algumas Uniões, começaremos a desenvolver planos específicos para ajudar as igrejas e os Campos no sentido de buscar e conservar as pessoas, e a executar os deveres da secretaria com a maior eficiência possível.

MINISTÉRIO: Como está o crescimento da DSA em tempos de Missão Global?

PASTOR GULLÓN: Nossa Divisão tem sido abençoada por Deus, dentro do contexto da Missão Global. Estamos além das expectativas, mas, sem dúvida, muito aquém daquilo que o Senhor pode e deseja conceder, se tivermos mais fé.

MINISTÉRIO: Houve um tempo em que se falava muito em apostasia, na DSA. Os índices ainda são preocupantes?

PASTOR GULLÓN: Sim. Embora os índices de apostasia tenham diminuído, a situação ainda é preocupante. É um problema típico de nossa Igreja. Temos que trabalhar todos juntos para melhorar neste aspecto.

MINISTÉRIO: A seu ver, quais as principais causas da apostasia, e que medidas práticas devem ser tomadas para minorar o problema?

PASTOR GULLÓN: Existem várias causas. Uma delas é o muitíssimo deficiente preparo doutrinário dos candidatos ao batismo. Hoje, um adventista conhece tão pouco a nossa doutrina, que pode abandonar a igreja e unir-se a uma outra sem o menor sentimento de culpa. Outra causa é a falta de atenção personalizada ao novo converso. Os pastores quase não visitam os membros, não se antecipam a suas necessidades “biológicas” espirituais. Deixaram de ser médicos clínicos gerais para se tornarem especialistas. Evidentemente, dessa maneira, são incapazes de perceber os sintomas de desnutrição e anemia. Uma outra causa que poderia ser citada é a falta de sociabilidade entre nós, a falta de confraternização. E, finalmente, em minha opinião, parece que como Igreja estamos perdendo o perfil e o contexto profético que é a razão de nossa existência. Os adventistas atuais não conhecem as profecias, não sabem o por quê, nem como as profecias antecipam o surgimento deste Movimento. Preste bem atenção no que vou dizer: ninguém é verdadeiramente adventista do sétimo dia, enquanto não visualiza a Igreja, não no contexto de 1995, mas no de 1844, quando a História e a profecia convergiram para que surgisse o adventismo. Tudo isso produz uma carência do sentimento de pertinência, de identidade. Aquele sentimento de que minha Igreja é a Igreja, e me pertence, e vice-versa. Sem um forte sentido de pertinência, não é possível baixar o índice de apostasia.

MINISTÉRIO: O senhor concorda que tem havido muito sermão promocional, em detrimento de mensagens essencialmente bíblicas?

PASTOR GULLÓN: Sim, concordo. A maiorida dos pastores não prega. Somente fala. Pode ser até que fale bonito, mas se for perguntado a um ouvinte sobre o que foi fa-lado, este não saberá responder. E o trágico, o verdadeiramente trágico, é que às vezes nem mesmo o próprio orador sabe o que falou. Urge que voltemos à pregação bíblica, à pregação temática e à pregação textual. É necessário eliminar a pregação promocional.

MINISTÉRIO: Quais as implicações do funcionamento da secretaria de igreja, no êxito do trabalho do pastor distrital?

PASTOR GULLÓN: O pastor distrital que deseja ter êxito, não pode prescindir da secretaria da igreja. É a secretaria que funciona como termômetro da vida da igreja. Quantos membros encontrei, ao assumir o distrito? Quantos consegui proteger para que ninguém os arrebatasse de minhas mãos? Quantos foram acrescentados à grei? Quantos assistem à Escola Sabatina? Quantos chegam apenas para o sermão? Quantas irmãs têm esposos não-adventistas? O pastor precisa estar atento a essas indagações. A secretaria bem utilizada é um centro de estatísticas que indica tendências, situações favoráveis ao estabelecimento de um programa, ou medidoras do seu êxito.

MINISTÉRIO: O que o pastor distrital pode fazer para dinamizar essa área da Igreja?

PASTOR GULLÓN: Somente uma coisa: ser pastor. Pastorear, visitar, amar seu rebanho, misturar-se com ele, cumprir o Salmo 23.

MINISTÉRIO: Parece que em muitas igrejas, há mais gente fora (ainda com o nome nos livros). Noutras, parece haver um outro extremo, que é a pressa em excluir membros. Qual a sua orientação?

PASTOR GULLÓN: Nenhuma igreja deve ter pressa em excluir nomes. Tampouco deve ter medo de fazê-lo, quando for necessário. Porém, neste processo, os passos bíblicos e do Manual da Igreja devem ser fielmente seguidos.

MINISTÉRIO: A última assembléia da Associação Geral, votou algumas mudanças no Manual da Igreja. Fale sobre as principais delas e suas implicações na vida da igreja local.

PASTOR GULLÓN: Bem, houve algumas alterações puramente editoriais, questões de nomenclatura, e outras de critério. Duas dessas mudanças poderão ajudar a solucionar o problema da perda de membros por migração; uma tem a ver com o membro que se muda para outra localidade, e outra refere-se à admissão de membros por profissão de fé. Também será permitido às igrejas decidirem se querem nomear oficiais por um ou por dois anos. Uma outra alteração está relacionada com treinamento e capacitação dos anciãos locais. Outrossim fortaleceu-se a posição bíblica quanto ao noivado e casamento, ressaltou-se nossa posição a respeito do casamento entre adventistas e não-adventistas. Ficou definido, no capítulo relacionado ao divórcio, que o adultério e a fornicação não são as únicas causas bíblicas para o divórcio, mas também as perversões sexuais e as práticas homossexuais.

MINISTÉRIO: Se o senhor chegasse hoje numa igreja, que critérios utilizaria para avaliar uma secretaria, classificando-a como bem organizada?

PASTOR GULLÓN: Se uma secretaria possui uma lista de membros em dia, com seus endereços e outros dados principais, se ela “conhece” pessoalmente todos os membros e pode fornecer os dados que forem solicitados, respondendo questões que exemplifiquei anteriormente, posso dizer que a classificaria como bem organizada. É impossível um pastor trabalhar eficientemente sem o auxílio da secretaria e da tesouraria da igreja.

MINISTÉRIO: O que o senhor espera dos pastores da Divisão Sul-Americana, notadamente do Brasil ?

PASTOR GULLÓN: Que amem seu rebanho. Que chorem e orem com ele e por ele. Que sejam pastores no sentido mais profundo da palavra. Que sejam pastores que entrem pela porta, em lugar de saltar por cima do muro. E que se valham do auxílio que pode proporcionar uma eficiente secretaria de igreja.

MINISTÉRIO: Como o senhor avalia o comportamento da Igreja Adventista atualmente frente a um mundo cambiante, no limiar de um novo século?

PASTOR GULLÓN: Às vezes penso que temos uma tendência masoquista, de auto depreciarnos. Aquele pensamento de que lá fora as coisas são feitas com mais eficiência. Eu penso que, dentro das circunstâncias mundiais, a Igreja tem uma capacidade fantástica de adaptação, e continuará cumprindo o propósito de Deus, ao nos aproximarmos do fim do século. Depois de tudo, as profecias bíblicas apontam o triunfo da Igreja: Ela “saiu vencendo e para vencer”, diz o Apocalipse.

MINISTÉRIO: Quais, em sua opinião, os maiores problemas que enfrentamos como Igreja, hoje, e como superá-los?

PASTOR GULLÓN: O maior desafio, sem dúvida, é a luta para não nos deixarmos vencer pelas forças internas de subversão, que tentam destruir a unidade e a universalidade de nosso Movimento. Algumas dessas forças são especulativas, teológicas. Outras são de ordem administrativa, estrutural. Te-mos que continuar sendo nós mesmos, com profundo sentido de nossa identidade e de nossa missão.”

MINISTÉRIO: Colocando-se no lugar de um membro leigo, como gostaria que fosse o seu pastor?

PASTOR GULLÓN: Eu também fui membro leigo. Gostaria que meu pastor tivesse a capacidade de amar, a capacidade de olhar-me nos olhos e ver meu interior, para ajudar-me, para adiantar-se às minhas inquietações e necessidades espirituais.

MINISTÉRIO: Em algumas regiões, o alvo de batismo parece ser o critério de maior peso na avaliação do sucesso de um pastor. O senhor concorda com essa visão?

PASTOR GULLÓN: É impossível avaliar o sucesso de um pastor somente por um item, seja ele alvo de batismo ou qualquer outro. É o conjunto da vida e obra do pastor que permite uma avaliação justa. Assim como é impossível para um professor avaliar um aluno apenas pelas respostas dadas numa prova, também é impossível avaliar um pastor apenas com base no alvo de batismos. Para o professor, o que conta mais alto é a nota do “conceito” que surge em sua relação com o dito aluno. Para avaliar um pastor, o que mais conta é a nota do “conceito”, atribuída pelos membros e líderes.

MINISTÉRIO: Que mensagem especial gostaria de dar aos pastores e anciãos do Brasil?

PASTOR GULLÓN: Que tudo o que lhes venha à mão para fazer, façam-no conforme suas forças. Que não descuidem da devoção pessoal, o estudo pessoal e a oração. E que amem o povo sob seus cuidados.