A Rede Globo de Televisão cobra nada menos que um milhão de dólares pela veiculação de dez comerciais de 30 segundos, em horário nobre, em rede nacional. É muito dinheiro ganho em apenas cinco minutos. Mas existem empresas que pagam essa quantia, porque precisam vender seu produto. Elas pagam pela “atenção” humana. Evidentemente essa atenção que o ser humano demonstra quando alguém fala, vale muito; e existe um princípio psicológico segundo o qual o valor da atenção de uma pessoa é proporcional à quantidade do esforço que ela disprendeu no processo de prestar atenção.

Pense, por exemplo, numa senhora que foi obrigada a levantar cedo no sábado pela manhã, para aprontar os filhos e atender o esposo incrédulo, antes de sair para a igreja. Pense nas dificuldades que ela enfrentou para tomar o ônibus, carregando os filhos pequenos. Venceu todas as barreiras e chegou à igreja para ouvir a mensagem.

Agora pense numa outra senhora deitada confortavelmente na poltrona da sala, apertando o controle remoto para ligar a televisão. Qual das duas empreendeu maior dose de esforço? Qual das “atenções” é mais valiosa? A Globo cobra 100 mil dólares por 30 segundos de atenção da segunda mulher, cujo esforço foi apenas apertar o botão do controle remoto. Você, como pregador, não paga nada pela atenção da pessoa que, vencendo muitas barreiras, senta-se no banco da igreja para ouvi-lo.

Jesus e as multidões

Algo está faltando na pregação moderna. Podemos senti-lo ao ver as igrejas vazias, nos cultos de domingo e quarta-feira à noite. Podemos observá-lo ao tomar conhecimento da quantidade de dinheiro gasto em propaganda, na tentativa de encher os auditórios.

Diante disso, às vezes, me pergunto: o que havia na pregação de Jesus, que jamais fazia propaganda de Suas reuniões e mantinha Seu auditório sempre repleto? Quantas vezes Ele sentia-Se cansado, pegava o barco e atravessava para o outro lado do lago a fim de descansar; e, quando ali chegava, a multidão já havia corrido pelo continente e se encontrava pronta para ouvi-Lo outra vez! Que segredo tinha a pregação de Jesus, que até as crianças se esqueciam de comer para poder ouvi-Lo? Lembra-se do garoto que levou os pães e os peixes? Ele estava com o lanche na cesta. Havia passado horas desde que saíra de casa, mas a pregação do Mestre era tão cativante que ele se esqueceu do lanche.

Por que as crianças correm de um lado para outro, às vezes, quando estamos pregando? Por que as pessoas dormem durante a pregação? Por que olham constantemente para o relógio como que suplicando que o sermão logo termine? O que falta em nossa pregação?

Estamos introduzindo um curso objetivo de pregação que será desenvolvido em 12 números subseqüentes de Ministério. Não pretendemos seguir a linha tradicional dos livros de homilética. Falaremos da nossa experiência pessoal. Daquilo que deu certo, ou não funcionou em nossa pregação, nestas três décadas de ministério. Partilharemos os momentos felizes e tristes; falaremos das ocasiões em que deixamos o púlpito frustrado, sentindo que havia falhado, e daquelas ocasiões felizes em que pudemos ver as bênçãos divinas na vida de milhares de pessoas, através da pregação.

Aprendemos alguma coisa ao longo dos anos, pregando e ouvindo pregar, lendo e observando, errando e acertando. E, achamos que chegou o momento de escrever algo para ajudar os pregadores mais jovens que estão surgindo.

Alguns conceitos parecerão contraditórios. Pode ser que nem se encaixem num programa acadêmico. Mas funcionaram e continuam dando certo. Então, por que não experimentá-los?

Crescimento é o alvo

Você pode crescer em sua tarefa de pregador. Esse crescimento é similar àquele que deve ser experimentado em qual-quer área da vida. Quanto mais uma pessoa pratica natação, melhor nadadora ela se torna. Quanto mais dirige um veículo, melhor motorista consegue ser. Mas, para crescer, é preciso dedicar tempo e esforço. Talvez aqui esteja o motivo pelo qual muitos pastores não progridem como pregadores.

A maioria dos pastores vive ocupada. Há tanta coisa para fazer, desde a manhã até a noite. Alguém disse que o pastor vive tão ocupado como um gato de um só olho, que tem a obrigação de vigiar dois camundongos em extremos opostos. Só que a vida tem demonstrado que, quando dizemos: “não tenho tempo”, na realidade, não estamos descrevendo um fato, mas inventando uma desculpa. Por-que é sabido que geralmente temos tempo para aquilo que queremos.

Os ministros adventistas, talvez pela origem profética e pelo senso de urgência da Igreja, tem dado ao longo da História mais importância à missão do que à pregação, esquecendo que a pregação é o instrumento poderoso que Jesus nos deixou para o cumprimento da missão.

Quando Cristo esteve na Terra, nunca aceitou uma desculpa para o descuido da pregação. Certa ocasião, um jovem apresentou o caso da morte de seu pai como motivo para adiar seu dever de pregador, e a resposta do Mestre foi: “Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.” (Luc. 9:60).

Eu não sei que desculpas estamos apresentando hoje a Jesus para não crescer cada dia como pregadores, ou para não dedicar mais tempo e esforço a fim de melhorar nossa habilidade na comunicação do evangelho.

A medida do sucesso

Aparentemente a Igreja dá importância à pregação. Uma das primeiras coisas que se vê, ao entrar-se num templo, é o púlpito, lá na frente, num lugar de destaque. Algumas igrejas até se preocupam em elaborar púlpitos bonitos, de madeira nobre, ou de vidro, com linhas estilizadas e formas modernas. Mas, isso não basta. É preciso avançar; é preciso dar importância ao que vai ser falado daqueles belos púlpitos.

Algo está faltando na pregação moderna. Podemos senti-lo ao ver as igrejas vazias, nos cultos de domingo e quarta-feira à noite.

Você precisa crescer e se tornar um pregador de sucesso. Mas, por favor, não confunda as coisas. O sucesso na pregação não é medido por aplausos, nem pelo número de vezes em que sua fotografia aparece nos jornais e revistas. Esse tipo de “sucesso” pode tornar a pregação barata. Seu objetivo pode se limitar apenas a entreter, agradar, fazer rir. A pregação verdadeira tem como grande objetivo transformar vidas. Pode você ver o brilho nos olhos das pessoas que ouvem seu sermão? Pode você vê-los retornando para casa e reconstruindo seus lares? Pode ver os grilhões de vícios e pecados que os escravizaram completamente destroçados pelo poder do Espírito Santo?

Você pode crescer como pregador. Mas não se atreva a medir seu crescimento pela quantidade de autógrafos que o público lhe solicita. Meça-o pelos maridos que tinham abandonado a família e retomaram para casa. Pelas prostitutas que passaram a viver com dignidade, como princesas, no reino da graça de Deus. Meça-o pelos viciados que puderam dar o grito de liberdade, e por uma igreja que cresce firme, serena, avançando confiante em Jesus para o cumprimento da missão.

O texto sagrado diz que Jesus “designou doze para que estivessem com Ele, e os enviou a pregar” (Mar. 3:14).

Você foi chamado para isso. Portanto, cresça na sua pregação e você verá sua congregação mais fiel, mais consagrada, feliz e cumprindo com alegria a missão de evangelizar o mundo.