É um milagre. Duas pessoas tornarem-se uma; e, depois, três. Deus toma o amor de um homem e uma mulher e o faz gerar vidas. Pai e mãe multiplicam-se num bebê, tornando-se uma família viva e amorosa.
Sim, é um milagre a maneira como uma família vem à existência. E num mundo de alienação e fragmentação como é o nosso, também é um milagre a manutenção da família. Estamos falando de algo mais que viver com o mesmo sobrenome e sob o mesmo teto. Webster define a palavra família como um grupo de pessoas unidas por certas convicções ou uma associação comum. Mas Deus espera mais que isso no lar cristão.
Mais que uma associação mútua, as famílias cristãs partilham uma fé comum num Cristo refletido através de um vínculo de compromissos mútuos. Essa fé e esse compromisso são a cola que sustenta unido o lar e mantém a igreja unida. Afinal, a igreja será forte na proporção em que suas famílias sejam unidas.
Os adventistas do sétimo dia consideram o lar cristão de tal maneira importante para Deus, e vital para a sua Igreja, que uma de nossas 27 crenças fundamentais define o casamento como “divinamente estabelecido no Éden e confirmado por Jesus, como uma união vitalícia entre um homem e uma mulher em amoroso companheirismo”.
O início
Vamos fazer uma viagem de volta ao jardim do Éden. É uma bela tarde de sexta-feira. Adão, o primeiro homem, está explorando as maravilhas de seu lar paradisíaco. Ele está deslumbrado com a emocionante beleza que contempla. Luxuriantes prados verdes, bordados por multicoloridas flores silvestres. Fragrantes matas, riachos gargarejantes, límpidos rios correndo em seus leitos e transformando-se em magníficas cachoeiras.
De todas as maravilhas criadas, os seres vivos são os que mais chamam a atenção de Adão. Amistosos leões que rugem quando ele acaricia sua juba; pássaros entoando canções de louvor; gigantescos elefantes. Todos os animais são seus amigos, mas Adão compreende que ele é diferente; e não é porque seja o único criado à imagem de Deus. Adão é diferente porque é o único que não tem companheira, como todos os animais. E começa a sentir solidão. Embora gloriosamente criado, sente-se incompleto.
Posso imaginar Adão discutindo seus sentimentos com Deus, que lhe assegura compreender muito bem sua necessidade de companhia. E, subitamente, nosso primeiro pai começa a sentir sono. Enquanto ele boceja, tem dificuldade de manter os olhos abertos; e sua cabeça acaba reclinando suavemente nos braços de Deus. Imagino também Deus sorrindo diante da surpresa que planejou, enquanto carinhosamente estende Adão sobre a relva e faz a primeira intervenção cirúrgica da História.
Quando Adão desperta, vê o ser mais encantador que poderia desejar ao seu lado; uma mulher. Deus Se dirige aos dois, colocando-os lado a lado, e, enquanto ambos estão unidos num deleitoso abraço, declara-os marido e mulher. Esse foi o início do casamento cristão. Deus sabia que não era bom para o homem permanecer só; e deu-lhe Eva, uma esposa para que se tornassem uma unidade. Essa unidade de companheirismo é refletida na própria natureza do Criador, através da Trindade divina (Gên. 1:1-3; Col. 2:9 e 10).
Ruína e restauração
Adão e Eva poderiam viver felizes sempre, um com o outro e ambos com o Senhor, mas você sabe o que aconteceu depois. Quando o pecado invadiu o paraíso, causou uma ruptura no relacionamento familiar. Marido e mulher voltaram-se um contra o outro (Gên. 3:12). Também romperam seu relacionamento com Deus, ocultando-se de Sua presença (v. 8). Magoado pela alienação causada pelo pecado, Deus agiu para restaurar a unidade com Seus filhos, existente na Criação. O Verbo Se fez carne, para viver entre nós e restabelecer a comunhão. Não apenas restabelecer nosso relacionamento individual com Ele, mas também com o semelhante, restaurando a conexão familiar. E, além disso, Cristo veio formar uma corporação de famílias conhecida como igreja.
Na noite que antecedeu a Sua morte, Jesus reuniu Seus discípulos para a ceia pascal e lavou-lhes os pés para criar um espírito de comunhão. Então abriu Seu coração ao Pai em favor do Seu povo, orando: “para que eles sejam um, assim como nós.” (João 17:11). Nessa prece Ele incluía toda a igreja do final dos tempos: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em Mim. por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós.” (Vs. 20 e 21).
Jesus fez o sucesso de Sua missão evangelística dependente do espírito de comunhão visto entre Seus seguidores; sua experiência de unidade corporativa nEle. Igualmente declarou ser essa demonstração um teste de Seu êxito pessoal como o Messias: “Eu neles e Tu em Mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo creia que Tu Me enviaste, e os amaste como amaste a Mim.” (V. 23)
Após essa oração intercessória, Cristo desceu ao vale e cambaleou no Getsêmani, onde Sua eterna unidade com o Pai foi deixada de lado. Como o representante da raça humana caída, Ele tinha de permanecer firme onde Adão falhou, experimentando a separação do Pai, resultante do nosso pecado.
Duas peças de madeira foram utilizadas na confecção da cruz na qual foi pregado. Na coluna vertical, o corpo de Jesus foi erguido numa direção que ligava a Terra ao Céu, reconciliando a humanidade com Deus. No travessão horizontal, Seus braços abertos uniam-nos com nossos semelhantes. No ponto onde as duas peças se juntavam, o coração do Salvador estancava e Ele morria. Assim fazendo, Ele “aboliu na Sua carne a inimizade… para que criasse em Si mesmo um novo homem, fazendo a paz” (Efés. 2:15). A humanidade redimida em Cristo – é a oferta salvadora do evangelho. E a unidade da família cristã é prova do que isso significa.
A palavra família evoca imagens variadas. Para alguns, a palavra representa pais e crianças reunidos na sala, ao redor da mesa, ou ao pé de uma fogueira, celebrando o amor que os une e aos demais familiares. Para outros, a noção de família traz amargas recordações, imagens tristes, as quais tentam esquecer. O que faz a diferença? Falando de maneira prática, como podem nosso casamento e nossas famílias cumprir os propósitos originais de Deus para o lar, e apreciar os benefícios que Ele imaginou?
Princípios
Essas indagações podem ser respondidas através da consideração de alguns princípios que tornam feliz a família.
Desejo mútuo. Deus poderia multiplicar a espécie humana sem criar macho e fêmea. Mas em Sua sabedoria Ele viu que a ligação básica poderia não ocorrer se nós fôssemos únicos e independentes. Assim, fomos criados para necessitar de alguma coisa que só o outro sexo possui. Desde o Éden, macho e fêmea são mutuamente essenciais. A sociedade moderna desconsidera em grande parte esse princípio. Preconceito e discriminação, entre outros males, têm levado muitos homens e mulheres à luta por superioridade. É um triste fato que a competição vista fora do círculo familiar, nas atividades profissionais, no esporte e outros aspectos da vida secular, seja refletida no sagrado relacionamento conjugal.
Entrega completa. O princípio bíblico é deixar para trás qualquer outro relacionamento, seja com os pais, outros interesses amorosos, ou qualquer laço que poderia atrapalhar uma completa entrega ao cônjuge. A palavra hebraica traduzida como “unir”, é derivada de outra cujo significado é “fixar, ligar, grudar, segurar em”. Depois de Cristo, existe apenas uma pessoa na Terra com quem devemos ter esse tipo de relacionamento: nosso cônjuge.
Muitos problemas conjugais surgem porque uma das partes às vezes escolhe uma terceira pessoa como confidente. O primeiro passo em direção à intimidade sexual extraconjugal é partilhar fantasias e problemas que somente poderiam ser comentados com o cônjuge. Intimidade é a cola que mantém unido o casal; e comentar a seu respeito livremente com amigos, distribui a cola entre diferentes relacionamentos.
Expressão de amor. Aproveite cuidadosamente cada oportunidade para demonstrar amor. E não poupe maneiras de expressá-lo. Todos nós diferimos quanto à forma em que necessitamos amor e demonstração de apreço. Seja como for, sempre necessitamos de uma das seguintes manifestações; amor falado, ou expressão verbal de apreciação: toque de amor (abraço, segurar as mãos, carícias); investimento de tempo em algo importante para o cônjuge; um presente de amor, algo que tenha um significado especial, não necessariamente caro.
Armadilhas perigosas
Ao mesmo tempo em que implementamos esses princípios para tornar feliz o nosso lar. devemos evitar certas armadilhas;
Sobrecarga de trabalho. Nossa dedicação ao trabalho não deve ser exagerada de modo que cheguemos em casa exaustos, tensos ou desanimados. Casais que exercem duas atividades, cuidam de crianças, estudam à noite, entre outras, freqüentemente se encontrarão apenas quando estão muito cansados para desfrutar o melhor relacionamento. Isto é, dedicam ao outro apenas o resto do tempo. Lembre-se de que é essencial priorizar o cônjuge, colocando-o sempre como item número um dos seus compromissos.
Ciladas financeiras. Competir com vizinhos ou colegas de trabalho, para ter tudo o que eles têm leva-nos à mesma armadilha do excesso de trabalho. Muitos cônjuges que tentam possuir tudo, enlaçados pelo consumismo característico da época, acabam não tendo nada; até porque, nesse processo, também podem perder o parceiro.
Deixar e unir. Voltemos ao princípio anteriormente mencionado, de entrega completa, segundo o qual devemos deixar pai e mãe e assumir o relacionamento com o nosso cônjuge. Mas é interessante notar que a Bíblia especifica que o homem deve deixar sua família e unir-se à sua mulher. Com os dados psicológicos que possuímos hoje, a respeito da importância do relacionamento e da unidade entre mãe e filho, concluímos que Deus previu, implicitamente nessa ordem, a necessidade de o filho se tornar o elo entre sua mãe e sua esposa. Jamais deveria alimentar, pelo menor gesto, a folclórica refrega entre noras e sogras.
Invasão de privacidade. Respeite cada um o espaço do outro. Não sufoque o parceiro com demonstrações de ciúme ou promoção de baixa auto-estima. Em virtude das diferenças de personalidade, cada um necessita uma diferente quantidade de espaço pessoal. Esteja seguro de não estar invadindo essa privacidade.
Jóias do paraíso
O casamento e o sábado são duas jóias do Éden que ainda permanecem, para nosso deleite. As duas instituições são presentes de Deus, e têm sido implacavelmente atacadas pelo inimigo. Mas, através de Cristo, ainda podemos experimentá-las em sua forma mais pura e deleitosa.
Temos o período sabático apenas um dia durante a semana; mas nossa família está conosco todos os dias. Preservá-la unida não significa apenas viver juntos sob o mesmo teto, mas em unidade de espírito. Isso requer abundante graça e sábia direção divinas. Que Ele nos ajude a valorizar a família como Ele mesmo o faz, de modo que possamos ser um com Ele e um com nosso cônjuge.