Aquela fora uma semana terrível. Três membros da igreja haviam apresentado reclamação contra mim, a reunião da comissão se transforma­ra numa batalha do começo ao fim, um garoto havia tirado a própria vida e meu sermão tinha sido um desastre.

Talvez eu estivesse na profissão errada. Acho que eu não deveria ser um pastor, nem mesmo um líder da igreja. “O melhor”, pensei, “é pegar meu boné e cair fora. Tenho de admitir que falhei.”

A falha de Jesus

Aboa notícia é que Jesus, o maior Pregador e Líder que já existiu, também “falhou”.

Pense um pouco. Ele conta­va com apenas 12 membros em Sua principal congregação. Essas pessoas não só tinham ouvido todos os Seus sermões, quanto vivido com Ele por três anos. Apesar disso, nenhum dos 12 compreendera perfeitamente a mensagem que Ele tenta­ra ensinar.
Além de não te­rem compreendido as repetidas pre­ dições a respeito de Sua morte e ressurreição, parece que nenhum deles havia se convertido antes da crucifi­xão. Um O traiu, outro, o principal discípu­lo, falou palavrões contra Ele e jurou não conhecê-Lo, ao mesmo tempo que todos os demais

prosseguiam “disputando sobre qual deles era considerado o maior”, exatamente no momento em que Ele falava de Sua disposição de morrer por eles. Até mesmo no caminho do Getsêmani, esse era o assunto predileto dos discípulos (Mat. 26:69 a 75; Luc. 22:14 a 53; Mat. 20:17 a 28). Eles não haviam aprendido nem o mais rudi­mentar, entretanto eram os discípulos de que Jesus dispunha para a liderança de Sua igreja.

Falando sobre falhar… Jesus tinha chega- do ao final de Seu ministério sem que qual- quer dos discípulos demonstrasse compreendê-Lo de fato. Foram três anos de doutrina­ção intensiva, sem qualquer conversão no círculo mais íntimo. Três anos de pregação e nenhuma reação positiva do auditório.

Como você se sentiria nessa situação? Seria capaz de dar a vida por essas pessoas? E o pior que esconvertidos represen­tavam apenas a ponta do iceberg da falha de Jesus. Enquanto Ele pendia da cruz, “os que iam passando, blasfemavam dEle, meneando a cabeça, e dizendo: ‘Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-Te a Ti mesmo, se és Filho de Deus! E desce da cruz!’ De igual modo os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam: ‘Salvou os outros, a Si mesmo não pode salvar-Se. É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nEle. Confiou em Deus; pois venha livrá-Lo agora, se de fato Lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus. E os mesmos impropérios Lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com Ele.” (Mat. 27:39 a 44)

Você seria capaz de dar a vida por essas pessoas? Se eu fosse Jesus, teria descido da cruz e mostrado para eles, com todos os de­ talhes, quem era. Com um estalar de dedos teria implodido essa “igreja” teimosa e maledicente, e ainda acho que seria pouco. O melhor mesmo teria sido colocá-los em cima de uma chapa bem quente para que fossem torturados devagarinho e certamente sairíam dali bem ativos para espalhar minha mensagem. Duvido que algum deles se esquecesse dessa lição bem dada!

Para resumir, acho que jamais eu morre­ ria por aqueles discípulos nem pela multidão obstinada. Mas Jesus morreu.

Mesmo ao sair do túmulo, parecia que Jesus havia falhado. Se Sua liderança e minis- tério tivessem de ser julgados simplesmente pelos olhos e padrões humanos, Jesus teria jogado no lixo Seus sermões e entregue Sua credencial.

Não quero ser como Ele

Os cristãos ouvem sempre que devem ser como Jesus. Mas nesse particular acho difícil desejar ser como Jesus. Não quero ser um líder cristão que falha. Não gosto de dias desanimadores ou lidar com pessoas indisciplinadas e teimosas. Tenho vontade de largar tudo e começo até a imaginar como seria melhor o mundo (ou pelo menos o ministério) sem minha interferência.

Simplificando as coisas: eu gosto mesmo é de ter sucesso. Nada como a prosperidade. E não estou querendo dizer sucesso incidentalmente. Desejo o sucesso já, e de forma que possa vê-lo, tocá-lo, senti-lo de todas as formas e, o que é melhor, falar dele e chamar a atenção de todo o mundo: “Olhem para mim!”

Não quero ser como Jesus. Não desejo imitar um líder que falhou. Minha vontade é ser maior do que Jesus. Tudo o que eu tocar deve se transformar num sucesso brilhante. O único problema com esse desejo é que ele não tem como se concretizar. Tenho de enfrentar os mesmos problemas e o mesmo tipo de pessoas que Je-sus enfrentou. E a dura realidade é que geralmente obtenho os mesmos resultados que Ele. Eu também falho.

Sucesso além do fracasso

Entendo que aparentes fracassos não podem ser confundidos com fracassos definitivos. Ainda me lembro da primeira série de conferências que dirigi. Foi na cidade de Corsicana, Texas, Estados Unidos. Era uma cidade com 26 mil habitantes, e possuía uma igreja adventista com 12 membros. Quase todos eles tinham cerca de 70 anos ou mais.e só havia um homem. Eu estava com 26 anos. Não tenho nada contra as mulheres nem nada contra as pessoas idosas. Mas fiquei desesperado procurando um casal de jovens para que servissem como ponto de contato com os jovens que eu esperava converter.

Logo descobri que havia um moço adventista estudando naquela cidade. Visitei-o no dormitório, orei com ele, e insisti para que freqüentasse as reuniões. Ele nunca foi. Falhei nesse ponto e, por alguma razão, essa falha me marcou muito.

Nessa época, aliás, eu estava às voltas com diversos fracassos. O resultado foi que na primavera de 1969 decidi entregar minhas credenciais ministeriais. Diferente de Jesus, eu desisti de tudo. Até do adventismo e do cristianismo.

Poucos anos depois, certo dia peguei o carro e sai para ir até uma confeitaria comprar algumas coisas para minha mulher, em Keene, no Texas, perto de onde há um colégio adventista. Já estava saindo da confeitaria quando fui parado por um jovem.

— O seu nome é George Knight?

— Sim.

— Não se lembra de mim?

— Em geral, não gosto de admitir que não me lembro, mas nesse dia estava tão chateado que fui logo dizendo que não o reconhecia.

— O senhor me visitou no dormitório, em Corsicana. Aquela visita mudou minha vida. Agora estou fazendo o curso de teologia.

Não contei a ele o que eu havia feito. Naquele momento, compreendi que eu tivera sucesso, sim, mas não sabia. Eu havia plantado as sementes e elas germinaram sem que eu me apercebesse disso.

O meu problema foi (e ainda é) querer semear, regar, cultivar e colher, tudo, em apenas três semanas. Não tinha paciência nem queria tolerar a espera, que me parecia um fracasso. Só me interessava o sucesso imediato. Eu não queria ser como Jesus. Na verdade, desejava ser melhor do que Ele.

O que aprendi, desde aquela época, foi que uns plantam, outros regam e outros colhem. Tenho que repetir para mim mesmo, com freqüência, que o Espírito Santo é quem silenciosamente atua nos corações em cada estágio, e isto é o que importa — a obra do Espírito na alma das pessoas a quem prego.

Eu estava julgando mal o ministério de Cristo e, por isso, sob qualquer critério exterior, me parecia que Ele falhara. Embora Ele tenha plantado e regado, foi somente após Sua ressurreição e o Pentecostes que o fruto começou a sazonar por toda a parte. Essa é também a nossa experiência no ministério.

Promessa especial

Uma das mais significativas promessas, dentre as escritas por Ellen G. White, tem a ver com esse assunto. Falando da manhã da ressurreição, destaca que o anjo que cuidou de nós em vida irá nos informar sobre “a história da interposição divina na vida individual, e da cooperação celeste em toda a obra em prol da humanidade.

“Todas as perplexidades da vida serão então explicadas. Onde para nós apareciam apenas confusão e decepção, propósitos frustrados e planos subvertidos, ver-se-á um propósito grandioso, predominante, vitorioso, uma harmonia divina.

“Ali, todos os que trabalharam com um espírito desinteressado contemplarão os frutos de seus labores. Ver-se-á o resultado de todo princípio correto e nobre ação. Alguma coisa disto aqui vemos. Mas quão pouco dos resultados dos mais nobres trabalhos deste mundo é o que se manifesta nesta vida aos que os fazem! Quantos labutam abnegadamente, incansavelmente por aqueles que ficam além de seu alcance e conhecimento! Pais e professores tombam em seu último sono, parecendo o trabalho de sua vida ter sido feito em vão; não sabem que sua fidelidade descerrou fontes de bênçãos que jamais poderão deixar de fluir; apenas pela fé vêem as crianças que educaram tornarem-se uma bênção e inspiração a seus semelhantes, e essa influência repetir-se mil vezes mais. Muito obreiro há que envia para o mundo mensagens de alento, esperança e ânimo, palavras que levam bênçãos aos corações em todos os países; mas, quanto aos resultados, nada sabe, afadigando-se ele em solidão e obscuridade. Assim se concedem dons, aliviam-se cargas, faz-se trabalho. Os homens lançam a semente, da qual, sobre as suas sepulturas, outros recolhem a abençoada messe. Plantam árvores para que outros comam o fruto. Aqui estão contentes por saberem que puseram em atividade forças para promover o bem. No além serão vistas a ação e reação de todas estas forças.” (Educação, págs. 305 e 306).

Que promessa maravilhosa! Que realidade surpreendente!

Temos de entender que, como pregador e líder, o fracasso de Jesus foi apenas aparente. Ele obteve o maior sucesso de todos os tempos. Foi capaz de perseverar no mo-mento do maior desânimo porque via além da mera evidência física.

Um dia com Jesus

Muito obreiro há que envia para o mundo mensagens de alento, esperança e ânimo, palavras que levam bênçãos aos corações em todos os países; mas, quanto aos resultados, nada sabe, afadigando-se ele em solidão e obscuridade.

Devemos realizar nosso ministério com a mesma visão das coisas. Temos de encarar nosso ministério e liderança conforme a visão do Espírito Santo que acompanhava a vida e ministério de Jesus. Por causa dos objetivos dos evangelhos, acabamos ficando com a impressão de que os três anos passados por Jesus com os discípulos foram feitos só de milagres, grandes sermões e sucesso espantoso.

Entretanto, eu acho que o ministério diário de Jesus tinha uma aparência bem diferente para quem estava metido nas sandálias dos discípulos. Para eles, a maior parte dos dias com Jesus eram dias de muito calor, poeira e cansaço. Por que Jesus quer continuar caminhando? Ele não percebe que já estamos caindo de fome? E eu tenho que agüentar esse falador chamado Pedro, aqui do meu lado, além de Tiago e João, que tiveram a coragem de trazer sua mãe (provavelmente tia de Jesus) para ver se conseguem uma posição privilegiada no reino, e até esse atrevido Judas e o resto dos queixosos e resmungões?

Olhando de perto, os dias deles não eram muito diferentes dos nossos. Então, nós (da mesma forma que Jesus) temos de olhar para além das perspectivas diárias recheadas de motivos para desânimo, conforme encontramos na igreja e em nossa vida e verificar que Deus está atuando nos bastidores, a despeito das falhas e fraquezas humanas.

Nossa responsabilidade

Nossa responsabilidade não é ficar preocupados com a vitória final, mas fazer a nossa parte a cada dia. Posso me recordar de mais de 20 anos atrás, quando estava começando como professor da Universidade Andrews. Eu era um jovem e deslumbrado filósofo educacional com idéias revolucionárias e a firme esperança de reformular tudo e colocar as coisas no eixo. Mas as reformas não caminharam na velocidade que eu esperava. Para ser sincero, a maior parte das coisas não sofreu alteração desde a minha chegada. E eu estava com vontade de largar tudo e fazer algo verdadeiramente útil!

A sorte é que agora já aprendi um pouco a respeito dos “fracassos” de Jesus. Finalmente caí de joelhos diante de Deus e me consagrei à Obra, desde que Ele me ajudasse a impressionar pelo menos uma alma por ano com o Seu evangelho de amor e verdade.

Ele tem cumprido Sua parte nesse acordo. Em alguns anos, tenho até conseguido impressionar a bem mais do que uma pessoa com as maravilhas da graça divina. Através dos anos, a maior inspiração de meu ministério tem sido o exemplo de Jesus, o líder que fracassou, mas chegou ao sucesso de maneira tão maravilhosa.