Nesta edição, concluímos a entrevista do número anterior com o Pastor Mark Finley, orador do programa Está Escrito, nos Estados Unidos, e que também liderou as campanhas evangelísticas NET 95 e NET 96; esta última centralizada na cidade de Orlando, na Flórida, e atingindo vários países dos continentes americano e europeu.

A entrevista foi concedida ao Pastor Amin Rodor, Th.D., brasileiro que, atualmente, serve como pastor na Associação de Ontário, no Canadá. O Pastor Amin foi o tradutor das palestras da NET 96 para o idioma português.

MINISTÉRIO: Considerando que a modernidade parece ter-se tornado uma força gasta e que a Secularização deixou um vazio no coração humano, o senhor não acha que a Igreja está, agora, diante da possibilidade de uma nova “era apostólica” ?

MARK FINLEY: Pensemos no primeiro século de nossa era, que também era altamente secularizado. A filosofia grega, o poderio militar romano, a falência das religiões tradicionais, tudo isso parecendo ser obstáculo às pretensões evangelizadoras dos cristãos. No entanto, o Espírito Santo manifestou-Se poderosamente e o Nazareno, o Carpinteiro judeu, Jesus Cristo, o Filho de Deus, tocou o coração de muitas pessoas. Onde quer que eles pregassem a Palavra, sacudiam as estruturas prevalecentes. Abalaram os grandes monumentos da Secularização. Pensando no que aconteceu então, acredito firmemente que nós também, como Igreja, estamos entrando em um novo tempo apostólico. Do mesmo modo como o Espírito Santo iniciou o movimento cristão, Ele está agindo de maneira gloriosa para a terminação da Obra de pregação do evangelho.

MINISTÉRIO: No seu modo de ver, está nosso evangelismo traduzindo a mensagem teológica para a linguagem das pessoas?

MARK FINLEY: Acredito, honestamente, que temos limitações reais nessa área. Penso que nós ainda não começamos a explorar, efetivamente, a necessidade de tomar nossa mensagem plenamente relevante e compreensível para as pessoas, apresentando-a na linguagem que elas entendem, através de nossos métodos. Creio que, por exemplo, usando os recursos da tecnologia que estão à nossa disposição, como vídeos, computadores, etc., estamos nos movendo nessa direção. Mas ainda há muito para ser feito. Essa é uma área que realmente deve ser mais explorada.

MINISTÉRIO: Como administrar então a crítica que aponta a existência de uma confusão entre a mensagem, que é inalterável, e o método, que pode ser reinventado e adaptado?

MARK FINLEY: Inicialmente, confesso que não estou nem um pouco preocupado com os críticos de cadeira, aqueles que estão sempre nos dizendo como fazer melhor o evangelismo. Gostaria, sim, que os críticos nos mostrassem seus métodos com resultados concretos e, então, nos demonstrassem como fazer. Mas eu creio, realmente, que o nosso evangelismo estagnou, em alguns aspectos. Acho que nos limitamos aos métodos do passado. A grande necessidade, o grande desafio para qualquer evangelista, hoje, é tomar a mensagem e proclamá-la através de métodos contemporâneos, com relevância, em linguagem inteligível para as pessoas, que as alcance onde elas estão.

MINISTÉRIO: O senhor não vê o perigo de pastores e membros das igrejas ficarem tão dependentes da tecnologia, a ponto de negligenciarem coisas insubstituíveis como, por exemplo, o contato pessoal?

MARK FINLEY: Certo pastor, aqui nos Estados Unidos (e eu estou certo de que os pastores brasileiros são mais inteligentes do que ele), disse à comissão de sua igreja: “Eu não estou muito interessado na NET 96. Sei que ela pode trazer algumas pessoas para a igreja, tem algum potencial para isso, mas não estou muito interessado.” Em seguida, falou para seu ancião: “simplesmente ligue os equipamentos.” Assim orientados, os membros daquela igreja não fizeram nenhum trabalho preparatório, nenhuma atividade que significasse Contextualização do programa à realidade local. As reuniões falharam totalmente. E nem poderia ser de outro modo, a julgar pela atitude do líder. É preciso haver o que eu chamo de contextualização local. Isso significa que a beleza da tecnologia do satélite poupa o pastor local de gastar horas e horas, fazendo o que nós estamos fazendo. Ele fica livre para estar mais presente, orientando as pessoas de seu auditório. O pastor pode estar à porta cumprimentando as pessoas. No momento do apelo, ele pode ir à frente para conhecê-las melhor, terá mais tempo para visitá-las em suas casas, bem como para organizar e dirigir a classe bíblica. A tecnologia libera o pastor porque uma parte do processo já foi realizada. Existe ainda um outro aspecto: a duração do meu sermão varia entre 45 e 60 minutos, incluindo a música e o apelo. Damos então oportunidade ao pastor, para utilizar 15 minutos recapitulando a mensagem da noite anterior. Assim, quanto mais ele estiver envolvido e ver a tecnologia como uma ajuda, não como um substituto, maior será a possibilidade de sucesso.

MINISTÉRIO: NET 96 alcançou 48 países e centenas de congregações, em 12 idiomas. Houve ainda a participação dos tradutores, que fizeram alguma adaptação de seus sermões. Como o senhor se viu, pregando a um auditório tão diverso, multicultural e pluralístico? Onde encontrou o denominador comum?

MARK FINLEY: Indubitavelmente, o denominador comum é a Bíblia, a Palavra de Deus, que ultrapassa culturas. Estou certo de que o denominador comum é Cristo, a cruz, que transcende diferenças. Certamente, o denominador comum é o Espírito Santo, que interpreta as palavras no coração de cada indivíduo. A simples mensagem do evangelho tem unido culturas e alcançado milhares de vidas. Se nós fôssemos vendedores seculares, e esperássemos que isso acontecesse, não teríamos nenhuma chance de êxito. Num mundo secular, com uma mensagem secular, isso nunca aconteceria. Mas, com o evangelho, temos uma mensagem comum, um Cristo comum e um Espírito Santo comum. Por essa razão, o sucesso não apenas seria possível, mas está sendo real.

MINISTÉRIO: Uma das limitações óbvias do evangelismo via satélite, é que o pregador não pode estar presente, em carne e osso, na congregação. Como minimizar essa dificuldade?

MARK FINLEY: O que pode ser uma dificuldade, nesse caso, pode também ser visto como uma vantagem. O fato de que o pregador não possa estar presente pode tomar-se um fator positivo. Vou explicar: se eu estivesse presente, em carne e osso, como você diz, talvez suscitasse um certo sentimento de dependência de mim e da equipe, por parte das pessoas. NET 96 coloca ênfase total no pastor e nos membros da igreja local. Eles se tomam, portanto, mais ativamente envolvidos. Mas também há uma outra razão: se convidarmos pessoas para uma série de evangelismo convencional, com um evangelista “ao vivo”, em alguns lugares, o preconceito poderá impedir que algumas pessoas respondam positivamente. Mas quando convidamos alguém para ver simplesmente um programa via satélite, isso, de certa forma, tende a desarmar preconceitos e até gerar curiosidade. “Como poderá este pregador me afetar, se nem mesmo estará presente?”, alguém pode perguntar. Então, aqui, há uma certa fluidez. E isso significa que as pessoas poderão estar mais inclinadas a aceitar um convite para um programa desta natureza, onde elas não se sentirão intimidadas ou pressionadas de qualquer forma. Isso pode contribuir para o sucesso.

MINISTÉRIO: Suas apresentações da NET 96 foram diferentes da NET 95. Qual a razão da mudança?

MARK FINLEY: Na verdade, existem várias razões. NET 96 é minha segunda experiência. E não queria chegar aos telespectadores da Divisão Norte-Americana como um robô, apenas repetindo. Embora tomasse os sermões da NET 95 como base, tentei refazê-los completamente, com novas ilustrações e, em muitos casos, com novos textos bíblicos. Se eu tiver de fazer a NET 97, NET 98, ou qualquer outra, procederei da mesma maneira. A segunda razão para a diferença que você mencionou, está relacionada à minha própria natureza. Não posso estagnar. Sinto necessidade de continuar crescendo, adicionando novo material, mais atualizadas e melhores ilustrações. Uma terceira razão é a existência de certa intencionalidade acerca da NET 96. Estive comprometido com o objetivo de tomar os sermões relevantes para as necessidades das pessoas, e reconheço que muitas delas eram pessoas que traziam o coração partido, cuja vida estava marcada por reveses e sofrimentos. Eu, realmente, planejei tornar a mensagem relevante para aquela mulher que talvez estivesse experimentando o trauma de um divórcio, para aquele homem que perdeu seu emprego, para aquelas pessoas que passavam por um período de incertezas, famílias enfrentando problemas com os filhos. Assim, tentei adaptar a mensagem às necessidades do meu auditório.

MINISTÉRIO: Certos evangelistas modernos aparecem no início do show e desaparecem no final, pela saída dos fundos, diretamente para o quarto do hotel. Alguns até são protegidos por guarda-costas, alegando que não pregam para indivíduos mas para as massas. O que o senhor acha disso?

MARK FINLEY: A menos que seu coração esteja tão quebrantado como o coração de Deus, pelos perdidos, você nunca poderá alcançá-los. Quando o evangelista se coloca à saída, cumprimentando as pessoas, ele conhece o homem que está morrendo de câncer, encontra a menina que passa por uma radioterapia, tem a oportunidade de encontrar-se com a mulher que se aproxima e chora porque o marido a deixou, ou porque o filho é viciado em drogas. Ele vê a garota que sofreu abuso sexual, ou o homem que está sendo levado às barras do tribunal. Tal experiência molda a pregação. Mesmo que o pregador não use ilustrações relacionadas com essas pessoas em particular, por respeito à sua privacidade, quando ele prega, inevitavelmente pensa nelas e em suas necessidades. As melhores ilustrações são obtidas no contato pessoal. E o estímulo que você recebe para a pregação, a partir das necessidades das pessoas que você encontra, é insubstituível. Como pregador, eu não gostaria de viver uma vida isolada, porque aí me tomaria irreal, remoto, distante, sem emoção. Muito da pregação tem a ver com paixão. Devemos pregar possuídos de paixão. E isso você só desenvolve estando entre as pessoas. Afinal, esse foi o princípio modelado no ministério de Jesus Cristo. Ele estava entre as pessoas. Misturou-Se com elas. Associou-Se a elas.

MINISTÉRIO: Que lições da NET 95 lhe foram mais significativas para a NET 96?

MARK FINLEY: Uma das coisas que aprendi foi a necessidade de aconselhar-me com aquelas pessoas que se comunicam comigo, por telefone ou fax, oferecendo sugestões ou conselhos. Aprendi que, embora deva ter senso de segurança e saber para onde estou indo, não sou o único sábio, nem o mais sábio. E, você sabe, estando na minha posição, recebo conselhos de centenas de pessoas. Ouço todas as idéias, descarto muitas, mas há um senso de que há vozes que estão vendo e percebendo as coisas de maneira diferente daquela pela qual eu vejo e percebo, às quais preciso dar atenção. Essa foi uma grande lição. Também aprendi a ser mais agressivo. Não devo ser tímido, mas fazer apelos fortes e permitir que Deus toque os corações através desses apelos, reconhecendo que Ele fará justamente isso. O trabalho pertence a Ele. Finalmente, aprendi a relaxar. Na campanha anterior eu estava mais tenso. Agora me senti mais calmo. Alguém até perguntou se eu pensava nos 48 diferentes países, durante a pregação, e eu respondi que não pensava. Apenas me concentrava na mensagem que pregava. Essa atitude me deixou mais livre.

MINISTÉRIO: Certamente o senhor deseja partilhar uma mensagem ou fazer um apelo aos nossos leitores. Qual seria essa mensagem?

MARK FINLEY: Sem dúvida, experimentamos grandes bênçãos na campanha evangelística NET 96. Num dos batismos, tivemos no tanque um juiz cubano, que havia sentenciado à prisão, muitos cristãos e pregadores adventistas. Era ateu, marxista. Tinha especial prazer em odiar os adventistas do sétimo dia. Imigrara de Cuba para os Estados Unidos e, quando chegou como refugiado, era um homem sem rumo, vagando pelas ruas, sem dinheiro. O filho de um pastor adventista o reconheceu e o convidou para ir à sua casa a fim de participar de uma refeição. O pastor deixou que ele permanecesse em seu lar e começou a falar de Cristo para ele. Esse pastor adventista cubano apresentou o juiz a um outro colega de ministério, também cubano, e este o reconheceu como o juiz que certa vez o condenara a quatro anos de prisão. Finalmente, a emoção de ver ambos, o pastor e o juiz, no tanque batismal, foi intensa. Ver aquele juiz ser batizado pelo mesmo pastor que ele havia castigado. Uma maravilha! Ver o poder de Deus transformando vidas é algo para o que não existe comparação. Evangelismo é vida. Qualquer igreja que não esteja evangelizando, está morrendo. Qualquer pastor que não esteja envolvido em evangelismo está parado no tempo e perdendo a oportunidade de ver sangue novo jorrando para dentro da igreja, jovens e adultos se convertendo. Está perdendo a chance de ter uma igreja possuída de visão e consciente de sua missão. Qualquer igreja que não esteja envolvida em evangelismo, estará dividida em conflitos internos, debatendo-se sobre questões insignificantes. E eu considero que meu grande gozo não é apenas fazer evangelismo, mas ver outros pastores experimentando essa alegria; ver leigos vivendo a maravilha dessa descoberta. Ver a Igreja redirecionada para o propósito para o qual ela existe. Porque afinal, a Bíblia diz que “o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido.” (Luc. 19:10). Deus tinha um Filho unigênito e Ele O enviou numa missão evangelística. Certamente não podemos fazer nada melhor do que isso.