Dentre os membros da igreja, 72% são mulheres dispostas a ajudar no cumprimento da tarefa missionária
Em viagens feitas a diferentes partes do mundo, fiz uma descoberta: há sérias preocupações quanto ao papel da mulher na igreja, particularmente no que tange à missão evangelística. Tais inquietações são partilhadas não apenas por membros e pastores, mas também por administradores.
Lembro-me de uma ocasião em que, no fim de uma série de palestras, mais de 60 pessoas atenderam ao meu apelo para o batismo, mas os anciãos e o pastor decidiram deixar a cerimônia para mais tarde, quando um evangelista homem daria continuidade às reuniões.
Mas é gratificante observar que, atualmente, alguns líderes em todos os níveis trabalham para corrigir essa indisposição contra a participação integral das mulheres na vida da igreja. Na verdade, muitos departamentos estão buscando maneiras de integrar mais diretamente a mulher no cumprimento da missão. Esse é um passo na direção certa. As mulheres podem dar uma contribuição significativa na disseminação do evangelho.
Mulheres na Bíblia
O Antigo Testamento fala de muitas mulheres que dedicaram seu tempo, vocação e serviço à causa de Deus, estabelecendo um exemplo para as mulheres dos nossos dias. Na verdade, as Escrituras reconhecem que em Cristo homens e mulheres são iguais (Gál. 3:28). Através da História, homens e mulheres têm contribuído muito para o progresso da Obra. Consideremos alguns exemplos bíblicos.
Débora, a profetiza, guiou Israel através de batalhas decisivas e julgou sabiamente o povo de Deus, resultando em 40 anos de paz e liberdade da opressão canaanita (Juí. 4:4-7). Hulda, uma mensageira de Deus, levou a palavra do Senhor a Josias (II Reis 22:14-20). Isabel, mãe de João Batista, ficou cheia do Espírito Santo e anunciou a Maria que a criança que esta carregava no ventre seria o Salvador do mundo (Luc. 1:39-45). Ana, outra profetisa, viu sua fidelidade e devoção a Deus recompensadas quando ela contemplou a criança que seria o Redentor (Luc. 2:36-38).
O ministério terrestre de Jesus foi apoiado também por algumas mulheres que O seguiram e serviram ativamente (Luc. 8:1-3). Na manhã da ressurreição, foi a Maria Madalena que Ele apareceu primeiro. Deus lhe deu o privilégio de anunciar a maravilha da ressurreição aos discípulos (João 20:11-18). Então houve Dorcas que desenvolveu um espírito de compaixão profunda-mente envolvida com a proclamação do evangelho. Entre os companheiros ministeriais de Paulo estavam incluídas muitas mulheres, algumas das quais são mencionadas em Romanos 16. O evangelista Filipe tinha quatro filhas que profetizavam, apoiando a missão da nascente igreja (Atos 21:8 e 9).
Na Igreja Adventista
Durante os primeiros anos da Igreja Adventista do Sétimo Dia, as mulheres desempenharam um papel significativo. Deus escolheu uma jovem para inspirar, aconselhar e guiar o movimento recém-nascido. Durante seus 70 anos de ministério, ela exerceu grande influência em questões de fé, adoração, evangelismo, administração, saúde, família, educação, e muitos outros aspectos do crescimento da igreja. É importante notar que, mesmo entre questionadores do papel e autoridade femininos na igreja, a influência de Ellen White ainda é muito forte.
Raquel Oaks, batista do sétimo dia, nos deu a doutrina da observância do sábado. Quando visitei o Piemonte, a terra dos valdenses, aprendi sobre Catherine Revel, uma das primeiras adventistas do sétimo dia na Europa. Sozinha em sua crença por quase 20 anos, ela permaneceu fiel e testemunhou de sua fé entre os vizinhos. Como resultado desse trabalho, a igreja de Torre Pelice foi organizada em 1885. Uma das primeiras pessoas a motivar os leigos a se envolverem na missão da igreja foi Maria L. Huntley. Ela cria firmemente na necessidade de treinar pessoas, incluindo mulheres, para a disseminação do evangelho em toda parte.
Em nossos dias, a participação das mulheres no evangelismo pessoal e público têm aumentado de um modo maravilhoso. Em 1975, Betty Holbrook e seu esposo, Delmar, foram eleitos diretores do Ministério da Família na Associação Geral. Eles formavam uma equipe ministerial que inspirou muitos obreiros. Marie Spangler e Ellen Bresee começaram, em 1984, um plano piloto para a Afam internacional, viajando com seus respectivos esposos e ministrando às famílias pastorais ao redor do mundo.
Em 1990, a Associação Geral indi-cou Rose Otis para ser a primeira diretora do Ministério da Mulher, a fim de treinar e orientar as mulheres adventistas de todo o mundo em diferentes ministérios, incluindo evangelismo pessoal e público.
A mulher no evangelismo
Jesus deu a grande comissão a todos os Seus seguidores, entre os quais estão as mulheres (Mat. 28:19 e 20). A compreensão de Pedro a respeito da proclamação do evangelho era tanto profética como universal: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do Meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os Meus servos e sobre as Minhas servas derramarei do Meu Espírito naqueles dias, e profetizarão” (Atos 2:17 e 18).
Atualmente as mulheres representam 72% dos membros da igreja. Estão esperando apenas ser desafiadas e treinadas para tomarem-se parceiras no cumprimento da tarefa missionária. Os pastores com visão sabem como valorizar as mulheres em suas congregações e como lhes dar oportunidades para desenvolver seus talentos como professoras de crianças e jovens, diretoras de música, diretoras do Ministério Pessoal, e líderes em outras áreas de serviço. Mulheres treinadas e motivadas para testemunhar podem alcançar outras mulheres em seus lares, onde um evangelista homem às vezes não pode entrar.
Talvez, ainda não compreendemos a grande necessidade de educar os membros de algumas igrejas a verem com naturalidade as mulheres participando ativamente nos cultos. A presença de mulheres na plataforma de culto é um testemunho de nossa apreciação por elas. Sua colaboração e participação deveriam ser bem aceitas e reconhecidas. O melhor ensino que podemos oferecer aos nossos irmãos é nosso exemplo na prática daquilo que cremos, como líderes. Louvo a Deus pelos pastores que têm uma atitude cristã em relação às mulheres.
O parecer de Ellen White
Embora vivendo entre os séculos 19 e 20, Ellen White estava à frente do seu tempo quando falou sobre a participação das mulheres na pregação do evangelho. Diz ela:
“O Senhor tem uma obra para as mulheres da mesma maneira que para os homens. Elas podem ocupar seus lugares em Sua obra nesta crise, e Ele atuará por meio delas. Uma vez que se possuam do senso do dever, e trabalhem sob a influência do Espírito Santo, terão a posse de si mesmas que este tempo requer. O Salvador fará refletir a luz de Seu rosto sobre essas abnegadas mulheres, e dar-lhes-á poder que ultrapassa ao dos homens. Elas podem fazer nas famílias uma obra que os homens não podem fazer, obra que alcança a vida íntima. Podem chegar bem perto do coração daqueles que estão além do alcance dos homens. Seu trabalho é necessário.” – Evangelismo, págs. 464 e 465.
É isso que tem guiado o meu compromisso com a missão. Tive o privilégio de nascer em um lar cristão e vi meu pai fazer evangelismo. Em muitas ocasiões ajudei-o como cantora, durante as reuniões. Posteriormente, na universidade, dediquei meus talentos ao louvor de Deus. Também tenho a alegria de ser esposa de pastor e colaboro com meu esposo cantando em suas campanhas evangelísticas.
Deus me permitiu trabalhar com evangelistas internacionais conhecidos, aprendendo com eles muitas formas de apresentar o evangelho e conduzir pessoas aos pés de Jesus. Mas foi somente em 1990, quando fui convidada a dirigir uma semana de oração para jovens em Nova York, que senti-me chamada para o evangelismo público. Em 1995, renunciei ao meu trabalho na Associação Geral, para dedicar-me inteiramente a essa tarefa.
Deus me mostrou, de uma forma pessoal, que as mulheres não precisam ter seus talentos sepultados. Elas têm um papel a desempenhar na vida da igreja, e o Senhor está desejoso de usá-las em Sua colheita. O Espírito Santo capacitará cada uma que, à semelhança de Isaías, responder: “Eis-me aqui, envia-me.”
Adly Campos, Evangelista voluntária, presidente da Sociedade Internacional Para o Bem-estar da Família, com sede nos Estados Unidos