Eruditos reconhecem que não há uma solução fácil para o desafio de evangelizar um mundo complexo. Mas existem garantias de êxito
O crescimento da Igreja Adventista ao redor do mundo é verdadeiramente inspirador. Demonstra o poder do Espírito Santo, a fidelidade dos seus membros e pastores, além da credibilidade de uma mensagem que oferece significado, esperança e propósito. Éramos um povo pequeno, mas crescemos a proporções globais. E antes que sejamos tentados a ser presunçosos, necessitamos considerar alguns fatos.
Muitas outras denominações cristãs crescem mais rapidamente do que a Igreja Adventista. Por exemplo, só em 1998, uma denominação adicionou 18 milhões de pessoas às suas fileiras. Outra, que teve sua origem no início dos anos 1900, tem aproximadamente 400 milhões de adeptos.
Nossas conquistas, por mais expressivas que sejam, não devem nos levar a um relaxamento. Pelo contrário, devemos ver nelas uma oportunidade para maiores realizações. Devemos continuar estudando os “como” e “porquês” do evangelismo, como nunca dantes. Este não é tempo para diluir ou comprometer nossa mensagem. Fazer isso é negar a Cristo e a natureza bíblica dos nossos ensinos e nossa identidade.
Difícil, mas não impossível
Evangelizar sempre foi difícil. Quando Paulo realizava suas jornadas evangelísticas, em muitos lugares, suas conquistas batismais foram modestas. Porém, cada batizando era querido e celebrado. Os autores modernos reconhecem que não há uma solução pré-fabricada e fácil para o desafio do evangelismo. Duvido que haja um lugar na Terra onde os nativos creiam que seja fácil evangelizar seus conterrâneos. Na África, no final de uma campanha na qual foram batizadas 2.495 pessoas, foi dito ao evangelista visitante que aquele era um lugar difícil. Embora satisfeito com o resultado, ele ouviu que se tivesse pregado em outro lugar próximo dali, teria batizado duas vezes mais. Em todo lugar o evangelismo é considerado difícil, mas não impossível.
Em algumas regiões do mundo é possível batizar milhares de pessoas após uma série evangelística. Em tais casos, usualmente se faz um trabalho preparatório antes da campanha. Os pastores treinam os membros em várias tarefas, como visitação, pequenos grupos, oração intercessória, publicidade, etc. Tudo isso é fundamental para o êxito do evangelismo público. Noutras regiões, onde o materialismo e o secularismo reinam supremos, as taxas de batismos são menores. Mas é importante lembrar que o investimento de esforço em cada batismo é muito grande. Às vezes gasta-se anos trabalhando com um indivíduo – partilhando uma refeição, partilhando recreação, fazendo amizade – enquanto se espera uma oportunidade para estudos bíblicos regulares. Isso envolve um enorme investimento de tempo, energia, interesse e oração para ajudar as pessoas em sua jornada espiritual.
Mesmo nessas regiões difíceis, estamos buscando desenvolver algum tipo de evangelismo, como plantar igrejas, estabelecer pequenos grupos e usar moderna tecnologia no evangelismo público. Mas o real sucesso ocorre quando um crente, guiado pelo Espírito Santo, põe de lado sua inibição, aplica seus dons e testemunha de Jesus a uma pessoa.
Pressupondo que temos crentes desejosos de evangelizar, a questão que precisa ser respondida é: Como pode o evangelho ser efetivamente semeado em meio a culturas, religiões, visão de mundo e outras orientações diferentes? Gostaria de sugerir algumas soluções.
Seja pastoral
O demônio tem magoado e mutilado muitas vidas. Suas vítimas necessitam de nosso cuidado ministerial. Como Igreja, precisamos evitar ser o “remanescente triunfalista”, que pode dificultar a proclamação da mensagem dos três anjos. Obviamente necessitamos pregar com uma porção de confiança, mas a arrogância intolerante deve ser evitada a todo custo.
O evangelismo pastoral requer um cuidadoso equilíbrio. O pastor necessita mostrar ternura e compaixão ao indivíduo confuso e pesquisador, mas ao mesmo tempo, desafiar sua zona de conforto com a mensagem adventista e a mundivisão bíblica.
Seja corajoso
Evangelizar requer coragem, pois envolve riscos. Ellen White diz: “Tem de haver agora obreiros que avancem tanto na treva como na luz e se mantenham com bravura sob desânimo e esperanças frustradas e, não obstante, ainda trabalhem com fé, com lágrimas e perseverante paciência, semeando junto a todas as águas, confiantes em que o Senhor produzirá os resultados. Deus exige homens de fibra, esperança, fé e perseverança para trabalharem sem rodeios.” –Evangelismo, pág. 63.
Em seu livro Evangelism Made Slightly Less Dificult, Nicck Pollard diz que as pessoas desenvolvem sua própria visão de mundo primariamente de uma larga variedade de fontes e procuram adaptá-la ao seu estilo de vida. “São atraídas a crer, não porque acreditem ser a verdade, mas porque justifica algum comportamento que consideram particularmente apelante”, diz Pollard.
Essas pessoas necessitam ser desafiadas apropriadamente. O pecado existe e o juízo é uma realidade. Michael Green diz que “muitos agnósticos não são genuínos. Vestem uma capa conveniente para seu egoísmo. Não é que não possam crer em Deus. Não ousam fazê-lo porque isso seria um grande desafio à sua maneira de viver”. – Evangelism Through the Local Church, pág. 127.
Embora se requeira coragem para desafiar as pessoas a uma diferente visão de mundo, a habilidade para ouvir, tato e sensibilidade também são essenciais.
Prioridade número um
A nutrição espiritual é tão importante como a conversão de uma pessoa. Mas será que estamos priorizando devidamente esses dois componentes do crescimento da igreja? Examinemos o orçamento de nossas igrejas e Associações, e a quantidade de pessoal no escritório. Será que refletem positivamente nossa preocupação de nutrir e converter pessoas? Por mais doloroso que seja esse processo, ele necessita ocorrer regularmente, se verdadeiramente queremos cumprir a missão.
Essa avaliação, particularmente em regiões onde a Igreja não cresce muito, suscita outra questão: “é o evangelismo uma prioridade para a Igreja ou não passa de teoria?” Um dos perigos que enfrentamos é a atitude, verificada em algumas partes do mundo desenvolvido, de que o evangelismo é algo fora de moda, praticado por indivíduos que não conhecem outra coisa melhor. Se isso prevalecer, representará o fim do movimento.
Sonhe e experimente
Todo empreendimento de sucesso começa com um sonho, assim como, inicialmente, todos os sonhos e experimentos são criticados.
A Igreja cristã e a Igreja Adventista tomaram algum tempo antes que sonhassem a experiência de enviar missionários a campos e culturas estrangeiros. A tentativa deu certo e continua ainda hoje. Tentar uma experiência é estressante, mas pode se tornar excitante. Estamos no tempo quando nossos jovens sonharão sonhos e nossos jovens terão visões (Joel 2:28).
Mantenha o que funciona
Através dos tempos, temos realizado muitas atividades para disseminar o evangelho. Algumas delas ainda são efetivas, mas toda atividade precisa ser revisada periodicamente. Embora devamos ser abertos a novas possibilidades, precisamos conservar o que já foi testado e comprovado.
Lembrei-me dessa necessidade ao pensar nos horrores de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Ravi Zacharias, um autor prolífico sobre evangelismo e apologética, tentou explorar aquele atentado referindo-se às profecias de Daniel 2 e 8, apelando a seus leitores para buscar segurança na vinda de Cristo. A Igreja Adventista certamente não tem o monopólio daquelas profecias; mas ousaríamos negligenciar a relevância delas para hoje?
Embora pareçam lugar-comum para algumas pessoas, sua aplicação relevante e correta continua a ser determinante para levar pessoas a aceitar o evangelho. Em muitas partes do mundo, os seminários proféticos são um recurso valioso nesse sentido.
Capacitação e treinamento
São necessários apropriado treinamento e recursos para equipar os missionários. Não existe nada melhor, em treinamento, do que colocar o aprendiz para trabalhar junto com o instrutor. Aprendemos mais praticando do que ouvindo só a teoria.
Treinamento e recursos são valiosos. Entretanto, uma cega confiança na “última novidade” ou em algum novo equipamento pode dissolver o espírito da capacidade de fazer e finalmente ser contraproducente no trabalho de semeadura.
Lembre-se de que não está só
É muito fácil para o semeador sentir-se só e isolado, ao trabalhar em lugares com valores e visão que lhe são diferentes. Mas esse não precisa ser o caso, se o evangelista abraça a comunidade de crentes e a envolve no trabalho como seus parceiros.
“Deus exige homens de fibra, esperança, fé e perseverança para trabalharem sem rodeios.”
Anthony Kent, Secretário ministerial da Divisão do Sul do Pacífico