“Era ele da idade de trinta e dois anos quando começou a reinar e reinou oito anos em Jerusalém. E se foi sem deixar de si saudades; sepultaram-no na Cidade de Davi, porém não nos sepulcros dos reis.” (II Crôn. 21:20).
O pensamento de que alguém “se foi sem deixar de si saudades” não é muito simpático, seja em conversação, menção despretenciosa, nem para a pregação. Mas o Espírito Santo permitiu que o autor do livro das Crônicas o escrevesse. E assim como todas as coisas contribuem para o bem; como “tudo quanto outrora foi escrito, para nosso ensino foi escrito”; da mesma forma como toda a Escritura é útil para ensinar, podemos extrair algo bom da frase: “E se foi sem deixar de si saudades”.
O personagem envolvido chama-se Jeorão, filho primogênito de Josafá. Seu reinado foi curto, oito anos apenas. A administração, o reinado ou o pastorado, de Jeorão ficou muito a desejar. Era um líder, um rei e pastor do rebanho de Deus. Mas sua folha de serviços é sobremodo lamentável.
Tão logo assumiu o poder, sentindo-se fortalecido, matou a todos os seus ir-mãos, à espada, como também a alguns dos príncipes de Israel. Fez uma escolha infeliz no que diz respeito a seu casamento, tomando a filha de Acabe com Jezabel para sua esposa. Ora, Jezabel foi uma das mulheres mais ímpias e mundanas apresentadas nas Escrituras. Querendo conquistar Jeú. diz a Bíblia, pintou os olhos, arrancou as sobrancelhas, pendurou argolas nas orelhas e no nariz, braceletes nos braços e nos tornozelos. Essa senhora fazia todos os lançamentos da última moda em Israel; mantinha um lucrativo negócio com a idolatria. Não é sem razão que o verso seis, logo após mencionar o casamento de Jeorão, registra que ele fez o que era mau aos olhos do Senhor.
Os versos 11 e 13 relatam que Jeorão conseguiu que fossem corrompidos os moradores de Jerusalém e alcançou também Judá. Seu curto reinado terminou de maneira trágica. Foi acometido de uma enfermidade tão terrível, que suas entranhas foram expostas.
Segundo um costume da época, os reis, ao morrerem, recebiam uma sepultura especial, num local chamado “sepulcros dos reis”. Mas quanto ao sepultamento de Jeorão, há três destaques negativos: 1) o povo não lhe queimou aromas; 2) não foi sepultado nos sepulcros dos reis; 3) foi-se sem deixar saudades.
A Bíblia refere-se ao sepultamento de outros líderes. Manassés foi sepultado no jardim de sua casa. Ezequias, quando faleceu, “foi sepultado no mais alto dos sepulcros dos filhos de Davi” (II Crôn. 32:33). Josias foi sepultado nos sepulcros de seus pais. “Todo Judá e Jerusalém prantearam a Josias. Jeremias compôs uma lamentação sobre Josias; e todos os cantores e cantoras, nas suas lamentações, se têm referido a Josias, até ao dia de hoje…” (II Crôn. 35:24 e 25).
“E se foi sem deixar de si saudades.” Não tenho a menor idéia de quantas vezes você foi transferido de um para outro local de trabalho. Ou será que tiveram de transferi-lo? Nosso povo é um povo bom; no entanto, é observador do comportamento dos líderes em qualquer nível. Que senti-mentos externam nossos irmãos quando o carro com a sua mudança toma o rumo da BR? “Já vai tarde”? “Finalmente!”? “Puxa, como demorou!”?
Nossos irmãos têm várias maneiras de exteriorizar se você vai ou não deixar saudades; Deixam de se envolver no programa da igreja, passam a visitar outras congregações, ausentam-se das reuniões da Comissão e de negócios, retêm os dízimos, etc.
Cuidado, companheiros, com nosso es-tilo de vida e o de nossa família. Cuidado com o visual, a dupla personalidade – no púlpito, um comportamento. Fora dele, outro completamente diferente. Cuidado, muito cuidado, com o alimento que é oferecido ao rebanho.
Qualquer um de nós pode trazer à memória saudosas lembranças de alguns bons líderes: Roberto Rabello, quem o esquece? Jerônimo Garcia, Rodolfo Belz e José Amador dos Reis. São apenas alguns. E os leigos? Haroldo Lobo, do Rio de Janeiro, Albertina Simon, do IAE, e muitos outros também. Hebreus 11 apresenta uma relação de saudosos homens e mulheres.
Era o encontro de despedida do pastor. Outro logo viria. Um irmão, ao apertar a mão do líder que deixava aquela congregação, disse: “Que pena, você já vai.” O transferido pastor respondeu-lhe: “Não se preocupe, virá outro muito melhor do que eu.” E o irmão retrucou: “Eu já ouvi essa história muitas vezes…”
Vivamos, companheiros, de tal maneira que se o Senhor tivesse de escrever outro capítulo 11 do livro aos Hebreus, ali estivéssemos você e eu.
— José C. Bessa Filho, secretário ministerial jubilado.